Capítulo 24

Depois de se recuperar, Micaela secou as lágrimas e agora tinha que se preocupar com ela e seu filho. Nicolas ir preso não era garantia de que eles estavam seguros, agora ela entendia o porquê de seu marido se portar daquele jeito estranho não querendo que ela saísse de casa. Ela tinha que tomar cuidado.

Passou a mão pela barriga e disse:

- Nós vamos ficar bem!

Depois se levantou e secou as lágrimas novamente, saindo do escritório deu de frente com Natasha que acabara de chegar e parecia bem feliz dada a situação que tinha acabado de acontecer.

- Bom dia, senhora Lambertini. - Cumprimentou ela - Eu soube o que aconteceu, e sinto muito por isso. Saiba que se precisar de qualquer coisa pode me falar.

Depois de Nicolas tanto alertar Micaela sobre aquela mulher, ela agora desconfiava de qualquer coisa que a moça dissesse, além disso, ela podia jurar que Natasha segurava o riso. Sendo assim, Micaela apenas preferiu engolir isso e seguir em frente.

Pela tarde entrou novamente na sala de Nicolas e encontrou Natasha mexendo em alguns papéis.

- O que faz aqui? - Perguntou Micaela de modo rude.

- Eu estava apenas organizando alguns papéis.

Micaela cruzou os braços e respondeu com um semblante irritado:

- Nicolas não está aqui. Então não precisa organizar nada.

- Tudo bem. Como a senhora quiser.

Assim que Natasha saiu do cômodo, Micaela foi para o mesmo lugar onde a loira estivera e começou a checar todos dos documentos que ali estavam. Constatando que tudo estava no seu devido lugar, se deu por satisfeita e saiu trancando a porta e levando a chave consigo.

Para uma segunda-feira o dia tinha sido muito improdutivo, seu cérebro se recusava a acreditar que aquilo tinha acontecido, e por mais que pensasse em mil maneiras de tirar Nicolas da prisão nenhuma delas era boa o suficiente. Não entendia nada sobre leis, a única coisa que ela sabia era que seu marido era alguém que fora ameaçado e teve de suportar tudo calado.

Definitivamente ela precisava fazer algo, não dava para ficar parada. Estudaria todas as possibilidades de ajudá-lo e se preciso fosse aprenderia sobre leis também, livros sobre a constituição era o que não faltavam naquela casa.

De repente Micaela se sentiu cansada e um pouco indisposta, até mesmo seu filho parecia ter sentido a tensão daquele dia, praticamente não se mexera dentro dela.

Estava indo para o seu quarto quando ouviu vozes no corredor, se aproximou e viu Natasha falando com duas empregadas, as moças permaneciam de cabeça baixa enquanto a loira disparava algumas palavras duras:

- Será que vocês não pensam? Nem mesmo conseguem fazer um pequeno trabalho.

- É que não somos acostumadas a isso.

- Não importa! Vocês têm que aprender a serem mais espertas. Caso contrário não servirão de nada.

Micaela se irritou com a cena. Nem mesmo ela tratava os empregados assim, quem era aquela mulher para se impor ali?

Então ela se aproximou rapidamente e perguntou:

- Algum problema aqui?

- Não! - Respondeu Natasha um pouco surpresa e com um sorriso cínico nos lábios - Nada demais.

- Por que estava falando dessa forma com elas então?

- Bom.... É que pedi apenas um pequeno favor a elas. E ainda assim elas fizeram errado.

- O que fizeram?

- A mercadoria que dona Susana pediu chegou hoje, mas veio errada. Elas nem mesmo conferiram!

- Esse não é o trabalho delas, é trabalho seu. Por que transferiu?

- Bom.... Eu estava ocupada....

- Deixasse o que estava fazendo e fosse receber a mercadoria, que é a sua obrigação, e depois era só voltar para o que estava fazendo. Nem mesmo nós falamos assim com as pessoas que aqui trabalham, não vou admitir que você, como funcionária também, fale assim com elas. Aqui todos são iguais e devem ser tratados com respeito.

- Me desculpe. - Respondeu Natasha um pouco incomodada - Eu só queria que fizessem certo.

- Faça certo, mas faça você mesma seu trabalho. - Disse Micaela ríspida, e se dirigindo às moças, completou mais brandamente - Podem ir, meninas. Obrigada pelo trabalho.

Depois que as moças se retiraram, Micaela encarou Natasha e disse:

- Espero que tenha entendido, Natasha. Os únicos aqui que podem exigir alguma coisa somos eu, Nicolas e Susana.

- Entendi perfeitamente. Com licença.

A loira saiu andando pelo corredor e apesar de concordar com Micaela, sua expressão revelara outra coisa, ela não gostara de ser contrariada.

Logo Micaela tomou um banho e esperou até a hora do jantar. Ali sentada em seu lugar à mesa ela divagava sem ao menos prestar atenção ao que acontecia ao redor, mas não perdia nada de interessante, Susana e Gregory jantavam em silêncio e ninguém falava nada sobre o assunto.

E aquele silêncio era ainda pior associado ao lugar vazio de Nicolas. Ela foi trazida de volta para a realidade quando ouviu Gregory dizer:

- Eu vou cuidar de você.

- Perdão. Como disse, Gregory?

- Eu cuido de você e do neném. Nick me disse que quando ele não estiver aqui, eu sou o homem da casa, então eu tenho que cuidar de todos.

- Você é muito gentil, Gregory. Aceitarei sua ajuda de bom grado.

- Pode me chamar quando quiser.

Então ele saiu da sala e só aí Micaela notou que ambos já tinham terminado de comer. Ela se levantou e subiu para o quarto, escovou os dentes e deitou esperando o sono chegar, mas ele não chegou. Era estranho dormir sem Nicolas do lado, sem seu braço a envolvendo, sem sentir seu cheiro.

Se levantou, entrou no closet e pegou uma camisa dele, envolvendo o travesseiro nela e depois o abraçando. Só assim, conseguiu dormir pelo menos um pouco naquela noite.

Pela manhã acordou com o celular tocando, demorou alguns segundo para associar onde estava, pegou o aparelho e olhou o identificador de chamadas. Era sua mãe ligando.

- Bom dia, filha. - Disse ela - Como você está? Acabamos de saber dessa loucura toda. Está passando no jornal.

- Não sei como me sinto agora, mamãe. Parece que tudo é um pesadelo.

- Oh, minha filha, nos desculpe não estarmos aí. Seu pai e eu faremos o possível para voltar logo. Mas temos que esperar toda essa neve sair daqui, estamos presos.

Laura e Heitor tinham viajado para fora do país, estavam comemorando o aniversário de casamento e acharam melhor escolher um destino que sempre quiseram ir. Só não contavam que o inverno daquele país seria tão rigoroso e uma nevasca os deixasse presos no hotel.

- Eu entendo, mãe. - Respondeu Micaela - Não precisa se preocupar.

- Queria te dar apoio nesse momento. Sei que Nicolas foi vítima de tudo isso.

- A senhora já está me dando apoio. Além disso, há outras pessoas aqui, eu vou ficar bem.

- Está bem. Mas se precisar de algo, se precisar conversar me ligue. Vamos fazer o possível para sairmos daqui.

- Certo. Obrigada.

- Te amo, filha.

- Também te amo, mamãe. Tchau.

- Tchau.

Assim que desligou o celular, Micaela respirou fundo buscando forças para enfrentar aquele dia. Não poderia ficar ali deprimida. Logo se levantou e foi em direção ao banheiro para tomar um banho quente.

Saindo colocou uma calça jeans e um cardigã por cima da camiseta, aquele dia parecia que ia fazer frio, apesar da estação ser o verão. Desceu as escadas sem grande ânimo e deu de frente com uma empregada que estava com o telefone nas mãos.

- Ah, bom dia, senhora Lambertini. Eu estava justamente subindo. Telefone para a senhora.

- Quem é?

- Seu primo.

Micaela pegou o telefone, agradeceu e esperou a moça se afastar, depois o colocou na orelha, dizendo:

- Alô?

- Micaela, o que é tudo isso? Você está bem? - Soou a voz de Thomas do outro lado, ele parecia preocupado.

- Na medida do possível, Tommy.

- Não acredito que fizeram aquilo! Nick não teve nenhuma relação com aquela sujeira.

- Explica isso para as autoridades. Para eles, Nicolas é cumplice.

- Já ligou para os advogados?

- Sim, foi a primeira coisa que fiz.

Ele suspirou do outro lado da linha e permaneceu um instante em silêncio, por fim continuou:

- Você quer que eu vá para aí? Posso te fazer companhia.

- Geralmente eu não o tiraria da sua casa, Tommy, mas agora preciso tanto de você!

- Tudo bem. Então pode abrir a porta, por favor?

- O quê?! - Perguntou Micaela estranhando a fala do primo.

- Está meio frio aqui fora.

- Thomas....

Ela correu até a sala principal e abriu a enorme porta, dando de frente com Thomas que já estava ali e com o telefone na mão.

- Tommy! - Bradou ela lhe abraçando forte.

- E aí, pimentinha! - Ele se afastou dela e continuou - Me deixe dar uma olhada em você. Você está linda. Caramba! Como esse menino cresceu. Tem certeza que só tem uma criança aí dentro?

- Absoluta, Thomas. E quantas vezes já lhe disse para parar de me chamar de pimentinha?

- É inevitável.

Então Micaela notou um cachorro que estava junto de Thomas, sentado ao seu lado. O border collie tinha uma linda pelagem preta e branca e parecia muito comportado.

- E quem é esse lindão? - Indagou ela já acariciando o animal.

- Esse é o Husky. Meu novo companheiro.

- Se cansou das antigas, Tommy?

- Jamais. É que eu queria alguém fixo, mas preferia um animal à um compromisso sério.

- Você não tem jeito!

- Podemos entrar agora?

- Ah, claro! Me desculpe. Entrem. Onde estão suas coisas?

- Estão no carro, depois eu pego.

- Como chegou tão rápido? - Perguntou ela fechando a porta.

- O Nicolas me ligou?

- Ligou? Como assim?

- Assim que ele foi preso, ele pediu para fazer uma ligação. Como sabia que você acionaria os advogados ele escolheu me ligar. Disse para eu vir para cá ficar com você.

- Mas.... Já tenho tantas pessoas aqui! Não que eu esteja reclamando de você ter vindo.

- Eu sei, mas sabe como o Nicolas é. Queria que tivesse uma presença masculina aqui, o Gregory é muito pequeno ainda, e antes que você diga que isso é extremamente machista, saiba que ele só quer te proteger. Quer alguém de confiança aqui.

- Sim, eu sei. - Respondeu Micaela fungando e abaixando a cabeça.

Thomas reconhecia aquela expressão no rosto dela, sabia o que aconteceria logo depois, Micaela não conseguiria conter o choro e ia desabar em pranto, assim como tudo estava desabando dentro dela, mesmo que tentasse manter a imagem de calma.

Então ele a abraçou forte oferecendo o consolo de irmão mais velho que ele adotara.

- Eu só queria que ele estivesse aqui. - Disse ela se entregando ao choro e enterrando o rosto no peito de Thomas.

- Se acalma, vamos dar um jeito nisso. Eu mandei dois advogados meus cuidarem do caso também.

- Jura?

- Sim, eles vão trabalhar com os advogados do Nicolas.

- Obrigada, Tommy. - Disse parando de chorar e enxugando as lágrimas.

- Não tem que agradecer.

Ela se desprendeu dele e se abaixou um pouco para acariciar o pelo do cachorro que ainda estava ali.

- Você é muito lindo, Husky! Por que colocou esse nome nele?

- Porque eu queria um Husky Siberiano, mas aí não consegui e coloquei esse nome nele.

- Que original!

Nesse momento Susana e Gregory entraram na sala.

- Thomas! - Bradou Susana o abraçando - Como é bom te ver aqui.

- Obrigado, Susana. É um prazer vê-los também. E você como está, Gregory?

- Estou bem, mas não chega muito perto, posso te passar resfriado.

- Ora, sou imune a isso.

- Por que você veio? - Perguntou o menino curioso.

- Gregory! Não é assim que se fala. - Repreendeu Susana.

- Tudo bem, Susana. - Tranquilizou Thomas - Foi Nicolas que me mandou. Ele pediu para que eu viesse.

- Mas ele disse que eu era o homem da casa agora!

- E eu não tiro esse mérito seu, Gregory. Vim apenas para auxiliar.

- Ah, que bom!

Um empregado apareceu na sala também e logo disse para Micaela:

- Senhora Lambertini, há alguns policiais na portaria. Eles pediram autorização para entrar.

Os presentes ali estranharam eles voltarem lá para isso, mas logo o acesso foi permitido. Micaela esperava os policiais chegarem, na porta, Thomas também estava junto dela.

- Posso ajudar? - Perguntou ela quando eles desceram do carro.

- Sim, nós temos um mandado de busca para o escritório do senhor Lambertini.

- Um mandado de busca? Mas.... Eu posso saber o por quê?

- Recebemos a denúncia de que ele assinou um documento superfaturando obras. Precisamos vasculhar o lugar.

- O quê? Mas....

- Senhora, por favor, apenas nos mostre o lugar.

Ela buscou o olhar de Thomas que parecia tenso com a situação também, mas ele apenas a encarou de volta, os olhos cinzas dele escondiam qualquer emoção. Logo ele disse:

- Micaela, faça o que eles estão pedindo. Eles têm mandado.

- Tudo bem.

Ela os conduziu através do corredor até o escritório de Nicolas, chegando ao local os três policiais ali presentes começaram a revirar tudo. Abriram cada gaveta da escrivaninha, achando vários papéis, mas nenhum correspondendo ao que queriam. Acharam até mesmo a pistola que Nicolas mantinha trancada. E Micaela acompanhava tudo aquilo com uma expressão aterrorizada no rosto. Ela sabia de que tinham ameaçado Nicolas para que de fato assinasse o superfaturamento das obras, mas também sabia que ele jamais faria aquilo, sua ética e moral jamais permitiriam isso, mesmo que ele estivesse sob ameaça. A prova disso foi que ele denunciou os canalhas e acabou por ser preso também. Seria contraditório ele superfaturar tudo e depois entregar aqueles parlamentares nojentos. Ele saberia que encontrariam o documento e ele seria preso do mesmo jeito.

Por isso ela estava confusa. Quem poderia ter denunciado?

Mil teorias se formavam na cabeça dela, quando um dos policiais pediu para que ela abrisse o cofre que ficava em um compartimento secreto ali, rapidamente ela obedeceu e mais papéis foram encontrados ali. Nicolas mantinha os documentos mais importantes trancados. E foi com grande espanto que viu um dos policiais dizer:

- Achei. É esse.

- Parece que temos mais uma acusação sobre o senhor Lambertini. - Respondeu o outro sério.

- Não! - Bradou Micaela - Ele.... Ele não faria isso.

- Sinto muito, mas ele fez. - O policial colocou o documento em um saco plástico e continuou - Muito obrigado.

Logo depois saiu com os outros em seu encalço, deixando Micaela estática no meio daquela sala bagunçada. Aquilo não podia estar acontecendo, em questão de dois dias seu mundo estava desabando, e ela tinha certeza de que tudo aquilo era uma grande armação. Haviam caído em uma grande armadilha e não sabiam como sair agora.

Aquela acusação contra Nicolas só iria complicar tudo, e agora ela se sentia pior ainda por não ter a menor ideia do que fazer ou de como ajudar.

- Micaela. - Escutou a voz de Susana atrás de si - Acho melhor sair daqui.

- Quando isso vai acabar, Susana?

- Temos que manter nossa calma. Não podemos fazer nada agora, apenas deixar nas mãos dos advogados.

- Me desculpa, eu.... Fiquei tão concentrada em mim que nem mesmo pensei em você. Deve estar sendo tão doloroso ver seu filho nisso.

- Não se preocupe comigo. Já passei por muitas coisas nessa vida, vou aguentar.... Apesar de querer meu filho perto de mim novamente.... - Respondeu ela com os olhos cheios de lágrimas - Não é justo ele pagar por algo que não fez.

- Vamos dar um jeito. - Respondeu Micaela.

- Sabe.... Benício sempre teve medo disso. Apesar dele e de Nicolas acharem que eu não sabia que nada que acontecia com eles, eu sabia muito bem. - Respondeu ela se sentando na poltrona atrás da escrivaninha - Por várias vezes eu os vi aqui nesse escritório conversando.... Falavam sobre tudo o que estava acontecendo e Benício sempre dizia para Nicolas não repetir os mesmos erros dele. E eu sei que ele não repetiu.... Não somente pela promessa que fez ao pai dele, mas pela honra que tem. Por isso acredito que logo provarão a inocência dele.

- Tem razão.

Susana se levantou e foi em direção a Micaela para abraçá-la.

- Enquanto isso, nós vamos nos apoiando.

- Pode contar comigo sempre. - Respondeu Micaela apertando forte a sogra.

- Agora vamos sair daqui. Vou pedir para arrumarem tudo isso.

- Vamos.

                  Thomas Belmok

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