No sábado de manhã Micaela acordou com Susana a chamando.

- Tem que falar com o Nicolas.

- Por que, Susana? O que aconteceu? - Perguntou Micaela ainda sonolenta constatando que Nicolas já não estava ali.

- Ele está na academia. Está esmurrando o saco de pancadas e não fala com ninguém. Sabe-se lá quanto tempo ele está lá, estou começando a ficar preocupada.

- Eu não acredito nisso.

- Tente falar com ele, por favor.

- Já vou descer.

Cinco minutos depois ela adentrava a academia. Era um cômodo pequeno que ficava em um canto da casa, duas paredes eram inteiramente de vidro dando uma ampla visão do jardim. Ali ficavam alguns aparelhos como a esteira, a bicicleta, alguns pesos e um saco de pancadas que Nicolas socava com fúria.

As sobrancelhas estavam quase unidas, a expressão concentrada e o suor escorria pelo rosto e molhava a camiseta cinza, logo Micaela reparou que Nicolas não usava nada mais do que algumas ataduras nas mãos e ela sabia que sem as luvas ele corria um risco de se machucar, ainda mais quando ele socava com tanta força.

Ela resolveu ir direto ao ponto e dizer a única palavra que fazia Nicolas parar o que estava fazendo para ouvi-la.

- Nick!

Como previa ele logo parou e a olhou surpreso por vê-la ali.

- O que faz aqui?

- Vim pedir para você parar com essa loucura, Nicolas. Sua mãe já está preocupada!

- Eu só estou me exercitando!

- Chama isso de exercitar? Está aqui desde muito cedo e sequer deu atenção para as pessoas que vieram aqui.

- Eu estava concentrado.

- Tão concentrado que nem sentiu suas mãos doerem, não é? - Disse ela apontando para as mãos dele.

- Isso aqui não é nada.

Micaela suspirou cansada, não sabia mais o que fazer. Ela estava ali para ele, ela prometera sempre o ajudar, sempre ser um ombro amigo, ser consolo.... Mas parece que Nicolas não queria isso. Ele preferia ficar guardando e remoendo aquilo que claramente não estava fazendo bem a ele.

- Nick.... Eu não sei mais o que faço.

- Como assim?

- Você quer sofrer sozinho e guarda tudo para si, mas não percebe que mesmo assim você está nos fazendo sofrer junto com você. E sabe o que é pior? Nós estamos no escuro, na ignorância dos fatos que acontecem com você e isso machuca mais porque não sabemos o que podemos fazer para poder te ajudar!

Os olhos dela estavam cheios de água e o choro estava sendo segurado.

- Amor.... - Disse ele se aproximando dela - Quando eu digo para que não se preocupe, é porque realmente não deve se preocupar. Não está acontecendo nada comigo, eu só preciso de um espaço.

- Tudo bem. Se é assim que você quer....

- Quando eu estiver pronto para falar, vou falar para você. Só não fique chateada comigo.

- Não irei ficar.

- Então me dá um beijo.

Micaela sorriu e ficou na ponta dos pés para lhe dar um beijo carinhoso. Logo Nicolas tirou as ataduras das mãos e ela não pôde deixar de reparar o quanto aquele local estava vermelho por causa do sangue que começava a sair.

Quando a tarde caía, Inácio e Giih vieram fazer uma visita para os Lambertini e Micaela tratou de pedir um café bem caprichado para as visitas, depois foi até o escritório de Nicolas chamá-lo.

- Nicolas, o Inácio está aí junto com a Giih. Pedi para servirem um café.

- Eu já vou, amor. - Respondeu ele tomando um gole de café sem tirar os olhos dos papéis na sua mesa - Só me deixa terminar aqui.

- Mas olha o tanto de documentos que tem aí, Nicolas! Você vai demorar para terminar tudo.

Ele olhou para a pilha de papéis à sua esquerda, bocejou e coçou os olhos cansados para depois olhá-la com um sorriso forçado.

- Eu não irei ver tudo. Diga a eles que já estou indo.

- Tudo bem. Não demore.

- Não irei. - Respondeu ele afastando um outro copo de vidro vazio de perto dele.

Ela voltou para a sala de visitas e Susana e Gregory haviam se juntado a Inácio e Giih. Greg estava um pouco gripado então a toda hora espirrava ou tossia, enquanto isso Inácio apenas observava o garoto. A mania de médico estava presente até mesmo nos dias de folga.

Se passou meia hora, uma hora, uma hora e meia e nada de Nicolas aparecer. Sendo assim Micaela resolveu ir ao escritório novamente e o encontrou dormindo sobre os documentos, a cabeça e os braços estavam em cima da mesa e o corpo meio desajeitado na cadeira. Ela suspirou e se aproximou lentamente dele, quando chegou perto colocou a mão em seus ombros os chacoalhando de leve e chamando:

- Nicolas, acorda. O Inácio ainda está te esperando.

Mas ele sequer se mexeu, então Micaela voltou a insistir o chacoalhando mais forte.

- Nicolas, por favor, acorda.... Nicolas?... Nicolas?

Cada vez que Micaela o chacoalhava e ele não respondia muito menos esboçava qualquer reação, o coração dela parecia bater mais forte. Aquilo não era normal, Nicolas nunca teve um sono tão pesado como aquele e mesmo assim ela ainda tinha uma esperança de que ele ia acordar. As imagens do mal-estar dele no dia anterior dançavam em sua mente e ela ficava cada vez mais desesperada. Logo ela o chacoalhava mais forte e às vezes o estapeava, mas nada acontecia.

- Nick! Acorda!... Vamos, amor, acorda!... Por favor, por favor!

As lágrimas logo brotaram e molharam o rosto dela, as mãos tremiam e a voz ficou embargada a deixando um pouco mais descontrolada a cada segundo, enquanto ela dava tapas nas costas de Nicolas tentando o acordar.

- Por favor, você tem que acordar!... Nick....

Foi então que ela lembrou de Inácio, então se dirigiu para a porta e de lá gritou:

- Inácio, me ajuda aqui!

Micaela voltou para junto de Nicolas e em poucos minutos Inácio, Giih, Susana e Gregory estavam no escritório.

- Micaela, o que aconteceu? - Perguntou Inácio.

- Ele não acorda! - Respondeu Micaela em meio ao choro.

- O que aconteceu com o Nick? - Gregory se aproximou preocupado.

Susana percebeu que o local já estava cheio e mesmo estando muito preocupada com Nicolas, resolveu sair da sala levando Gregory com ela, não queria que o caçula presenciasse aquilo, sabia que Inácio daria um jeito na situação e Giih poderia ficar com Micaela.

- Me deixe dar uma olhada.

Inácio se aproximou de Nicolas enquanto Giih puxou Micaela para o lado e a abraçou tentando acalmá-la. O médico verificou o pulso de Nicolas e a respiração.

- Qual é, Nick, vamos lá, acorda! - Disse ele.

Mas o resultado era o mesmo, Nicolas permanecia inconsciente.

- O que está acontecendo, Inácio? - Perguntou Giih.

- Ele está dormindo!

- Mas por que não acorda? - Inquiriu Micaela mais calma.

- Meu palpite é que ele esteja sob influência de algo.... Como....

Inácio parecia procurar algo a seu redor, logo olhou embaixo da mesa de Nicolas e se abaixou para pegar algo, quando se levantou deixou duas garrafas vazias de tequila em cima da mesa e fez uma expressão nada agradável. Micaela observou aquilo e suspirou cansada, deu as costas para Inácio e Nicolas enquanto Giih ainda estava a seu lado afagando seu braço. Ela não poderia descrever o que sentia naquele momento, se era alívio por ele estar apenas dormindo, se era raiva por ele ter bebido tanto e ter sido tão irresponsável ou se era cansaço de tentar entendê-lo e nunca conseguir.

- Micaela, me desculpe ser indiscreto, mas está acontecendo algo no casamento de vocês? - Perguntou Inácio.

- Não! Está tudo bem entre a gente.

- Faz alguns dias que liguei e ele não parecia bem.

- Ele anda meio estranho ultimamente e quando pergunto se aconteceu algo ele desvia do assunto dizendo que está tudo bem.

- Mas já tentou conversar com ele? - Perguntou Giih.

- Até parece que não conhece seu amigo, Giih. Ele não quer conversar, deixou isso bem claro. Está escondendo algo e não quer me contar.

Inácio suspirou sem saber o que dizer a Micaela, por fim falou:

- Pode pedir a algum segurança para vir aqui e me ajudar a levá-lo para o quarto? Não podemos deixá-lo aqui.

- Tem alguns quartos aqui embaixo, creio que seja melhor colocá-lo lá. Vou chamar alguém.

Micaela saiu do escritório e poucos minutos depois os rapazes deixavam Nicolas sobre a cama em um quarto no andar de baixo.

- Se precisar de qualquer coisa pode me ligar a hora que for. - Disse Inácio antes de ir embora - Eu venho correndo para ajudar.

- Também estou à disposição. - Completou Giih.

- Muito obriga, gente. Vocês são incríveis.

- Fica bem! Boa noite.

- Boa noite, Inácio.

Quando Micaela fechou a porta e retornou para o quarto, encontrou Susana a esperando.

- Você quer ajuda, querida?

- Aceito. Me ajude a tirar a camisa dele, é melhor para ele dormir mais confortável.

- Certo.

As duas trabalharam nos botões da camisa e rapidamente tiraram a peça, trabalho que somente duas pessoas fariam, Nicolas era grande e apenas Micaela não conseguiria despi-lo sozinha. Logo depois Susana deixou o quarto, mas antes fez questão de deixar claro que Micaela poderia chamá-la a hora que fosse.

Sendo assim Micaela se viu sozinha no quarto e por um momento permaneceu olhando Nicolas dormir, se aproximou devagar e tirou os sapatos e as meias e depois o cobriu, alisou seus cabelos por um instante e logo depois saiu do quarto para buscar as roupas e tomar um banho, não iria conseguir dormir no quarto deles sozinha, estava preocupada demais para isso.

"Ei, pessoal, como estão? Climão esse, não acham? O que será que Nicolas vai dizer para Micaela quando ele acordar? Qual será a reação dela? Vamos aguardar e ver como isso acaba. Obrigada pela leitura e não esqueça de clicar na estrelinha aí embaixo. Beijos!"