Capítulo 11
Não demoraram muito para se arrumarem, tomarem o café e chegarem à sede do Parlamento. Eles foram os primeiros a chegarem e logo tomaram seus lugares, Nicolas na ponta da mesa e Micaela ao seu lado direito. Logo os outros integrantes chegaram e Micaela pôde perceber a troca de olhares raivosos entre Nicolas e Arturo, um parlamentar.
Ela não sabia o que aquele senhor havia feito, mas pela feição que o esposo o encarava, coisa boa que não era.
Se acomodaram todos ao redor da mesa retangular de madeira e logo as cortinas azuis foram fechadas, deixando o ambiente mais escuro para a projeção de um mapa na parede.
Todos se voltaram para a imagem e estudavam um pequeno pedaço de terra pertencente ao país, no entanto essa terra era um pouco isolada, quase como uma ilha no meio do oceano, mas ainda assim propriedade de Vienere Montanaris. O assunto discutido era a separação dessa ilha, que abrigava uma considerável quantia de habitantes. O suficiente para ser considerado um pequenino país. Eles queriam independência.
— Sabem que estaremos abrindo mão de nossas terras! Não podemos perder mais. – Disse um ministro.
— O senhor me desculpe, mas nunca perdemos nada. – Se intrometeu Micaela – Há nove anos quase entramos em uma guerra justamente por terras. Sendo a única solução unir dois países pequenos. Olhem nossa extensão territorial agora. A emancipação de uma pequena ilha não será uma grande perda.
— Talvez para nós não seja mesmo uma grande perda. – Disse outro – Mas e quanto a eles. Não creio que poderiam erguer um país ali. Não poderiam sozinhos.
Nicolas balançou a cabeça discordando e respondeu:
— Me permita discordar, Olavo. Não acredito que uma região que cria o próprio dialeto seja incapaz de sobreviverem sozinhos. Sabemos dos lucros daquele estado, podem muito bem manter uma ótima economia.
— A verdade é que eles estão dispostos a brigarem pela sua independência. E ter rebeldes contra o governo não é bom nem para nós e muito menos para a população. Temos que dar a eles a chance de sobreviverem sozinhos, e resolvermos isso de forma mais racional e amigável possível. – Apoiou Micaela outra vez.
— A senhora Lambertini está certa. – Disse uma senhora – De que nos adianta ir contra a vontade dos habitantes de uma ilha inteira? Nós cumprimos nosso dever, investimos naquele estado da mesma forma que investimos nos outros. Demos a eles a capacidade de se desenvolver e isso quer dizer que fizemos um bom trabalho. Não vamos estragar tudo isso entrando em um conflito.
A reunião se estendeu por mais algumas horas e tudo acabou sem que nada fosse definido, o que faria com que outra reunião fosse marcada.
Nicolas e Micaela resolveram almoçar no centro da cidade mesmo, não queriam esperar para chegar em casa, e apesar de saberem que Telma com certeza prepararia algo bom para eles, sabiam também que àquela hora todos já deviam ter almoçado e tudo já devia estar arrumado. Portanto se dirigiram a um restaurante e lá ficaram por uma hora e meia até decidirem ir embora de vez, mas não antes de tirarem fotos e falarem com algumas pessoas que estavam ali. E Micaela se sentia satisfeita com aquilo, não por ser reconhecida, mas sim por poder fazer parte de um dia na vida das pessoas.
Estavam quase chegando em casa quando Nicolas resolveu dizer:
— Pelo visto o bebê não se mexeu muito hoje.
— Como sabe?
— Geralmente você massageia a barriga para que ele se aquiete um pouco, hoje eu ainda não vi você fazer isso.
Ela não respondeu de imediato, esperou o carro parar em frente à casa e ela saltar para responder:
— Parece que ele entendeu que hoje o assunto era sério.
— Mostrando respeito desde o ventre. Eu gostei.
— Talvez ele estivesse curioso e quisesse ouvir a conversa. – Respondeu ela entrando com Nicolas logo atrás.
— Então provavelmente ele saberá conduzir reuniões como ninguém.
— Oh, pelo amor de Deus! O pobre garoto nem nasceu e você já pensa nisso? Talvez ele estivesse apenas dormindo, o que eu acho mais provável.
Nicolas gargalhou e envolveu a cintura de Micaela com um braço enquanto se dirigiam para a cozinha através do corredor. No entanto o largo sorriso dele desapareceu quando acabaram encontrando uma mulher loira e desconhecida.
Ela era esbelta, o corpo curvilíneo era moldado por uma saia lápis preta, e a camiseta branca com pequenos babados abrigava o busto robusto. Os cabelos desciam até um pouco abaixo dos ombros em leves ondas.
Ela era de fato muito bonita, o rosto era quase angelical e uma expressão de simpatia estava estampada nele. Mas mesmo assim Nicolas não pareceu ter gostado daquela mulher ali. Adotou uma postura totalmente rude, as sobrancelhas desceram um pouco mais o deixando com uma expressão nervosa, as mãos se cerraram em punhos e a respiração estava pesada. O olhar era tão frio que se pudesse congelaria a pobre moça à sua frente.
— Olá, Nick! – Cumprimentou ela em tom de voz polido.
"Oi? Nick? Como assim?" pensou Micaela.
— O que está fazendo aqui? – Perguntou ele rude.
— A sua mãe me pediu para vir!
— Ah, minha mãe? E por que ela ia pedir isso?
— Eu fiquei sabendo da vaga de secretária aqui, então resolvi arriscar....
— Você trabalhando aqui?
— Creio que sim, Dona Susana ainda não me deu uma resposta, mas....
— E nem dará. Não tem chance nenhuma de isso acontecer!
Micaela que até então apenas observava o diálogo entre os dois resolveu intervir:
— Olá, muito prazer!
— Ah, o prazer é meu, senhora Lambertini. – Respondeu a moça simpática.
— Desculpe, essa reação do Nicolas, ele parece um pouco estressado hoje.
— Ah, sem problemas. Eu entendo perfeitamente, deve ser uma grande pressão sobre vocês.
— Algumas vezes.
— Que bom que se conheceram. – Se intrometeu Nicolas ironicamente – Agora espero que vá embora.
— Nicolas! – Repreendeu Micaela – Isso é jeito de falar?
— Eu estou na minha casa, não sou obrigado a aceitar ninguém aqui.
— Ah! Vejo que já conheceram a senhorita Natasha. – Disse Susana se aproximando deles.
Nicolas ainda encarava a moça de forma raivosa e respondeu entredentes:
— Infelizmente.
— Que bom que ainda não foi embora, Natasha. Acabei de falar com a última candidata e ela não está mais disponível. Então creio que a vaga é sua!
— Sério? Muito obrigada.... Senhora Susana? Ou devo chamar de senhora Lambertini?
— Apenas Susana, ou eu e Micaela poderemos nos confundir sobre qual senhora Lambertini você está falando.
— A senhora não sabe o quanto fico feliz com isso.
— Mas nem pensar! – Bradou Nicolas inconformado – Eu não aceito isso.
— Mas o que é isso agora, Nicolas? – Questionou Susana.
— Eu não quero ela aqui.
— Nicolas, pode ao menos ser gentil? – Micaela tentou abrandar a situação.
— Eu já disse uma vez e torno a repetir, a casa é minha e não sou obrigado a aceitar ninguém aqui.
— Filho, será que podemos conversar no escritório? Micaela, poderia mostrar a casa para a Natasha?
— Claro! Vem comigo, Natasha.
Micaela saiu com Natasha enquanto Nicolas as acompanhava com o mesmo olhar raivoso, logo depois ele seguiu a mãe pelo corredor até o escritório.
Ele passou pela porta, mas deixou um pouco aberta, se sentou na cadeira de couro preta, atrás da escrivaninha de madeira envernizada e bufou:
— Pode me dizer o porquê daquele seu comportamento infantil? – Começou Susana nervosa.
— Acho que já ficou bastante claro. Eu não gosto dela.
— Nicolas, eu não te entendo. Nós não podemos nos dar ao luxo de ficar descartando candidatos assim. Principalmente candidatas como ela. Logo o bebê vai nascer e conhecendo Micaela como eu conheço, sei muito bem que ela não irá permitir babá para cuidar dele, ela mesma vai querer cuidar. E ela não pode cuidar de um bebê, uma empresa, ter suas responsabilidades no parlamento e cuidar de assuntos de casa ao mesmo tempo. Ela vai ficar sobrecarregada.
— Pessoas para ajudar é o que mais tem nessa casa.
— Sim, mas preciso de alguém que já saiba lidar com essas questões de administração. Essa moça é ótima, recebi muitas referências sobre ela.
— Não me diga! – Comentou Nicolas irônico, cruzando os dedos sobre a barriga e se encostando na cadeira.
— Por que está tão receoso assim? De onde conhece essa moça?
— Isso não importa agora.
— Sim, importa sim! Você deixa a responsabilidade de arrumar uma nova secretária na minha mão e quando arrumo você simplesmente discorda. Não pode ser por motivo algum!
— Eu só não quero ela aqui.
— Já basta, Nicolas. Você cuida da empresa, do parlamento e concordou em me deixar cuidando das questões de casa para eu não me sentir uma completa inútil. Portanto sou eu quem toma as decisões por aqui e digo que Natasha fica. Você gostando disso ou não. Eu vejo competência nela.
Ele se levantou irritado e respondeu:
— Tudo bem, Dona Susana, faça o que bem entender, mas mantenha aquela mulher longe de mim. – Dizendo isso ele começou a caminhar para fora do escritório e antes de passar pela mãe, parou e completou – E eu não quero ela perto da minha mulher e do meu filho.
Depois disso, Nicolas saiu e bateu a porta com força.
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