Solavancos e Empurrões (versão PT)
— Não acho que essa seja uma boa ideia, Ev.
Charlie disse, sua voz estridente de pânico, aguda em comparação ao ruído de fundo. Uma melodia característica soava através do decrépito sistema de som do parque, complementando a conversa murmurada das pessoas na fila da montanha-russa. Corajosas.
— O que? Você está amarelando justo agora? Depois que vendi a alma para que a mamãe deixasse você vir?
Charlie e Evelyn eram irmãos inacreditavelmente leais um ao outro. Devido a seus pais autoritários e muito rígidos, eu supunha, estabelecer uma aliança entre si era a única chance de eles terem uma adolescência normal. Ev tinha 17 anos, dois anos a mais que Charlie e exatamente três meses a menos que eu. Portanto, como a única maior de idade do nosso pequeno grupo de amigos, eu tinha de ser a voz da razão:
— Vamos para casa.
— Pelo amor de Deus! - Ev olhou para mim com aqueles olhos castanhos e lívidos. Confirmando minhas suspeitas silenciosas de ela ser uma pessoa perigosamente viciada em se arriscar. - Vocês estão com medo? É isso?"
Charlie e eu concordamos com a cabeça, tranquilos.
— Sim.
— Com certeza.
Notei o laranja do sol ao se pôr. Tínhamos passado nossa última tarde de liberdade (antes do início das aulas, na manhã seguinte) comendo nosso próprio peso em doces e indo a todas as atrações disponíveis no parque. Esta era a última, e Ev estava determinadíssima a ir.
— Pessoal, os problemas que fizeram com que a montanha-russa fechasse no ano passado foram todos resolvidos. Caso contrário, ela nem teria sido reaberta!
Charlie e eu trocamos um olhar.
— Uma pessoa quase morreu da última vez - Retruquei.
Ela me deu um suspiro exasperado e apontou para a entrada da atração.
— Olha lá.
O carrinho da montanha-russa cheio de gente gritando estava chegando, desacelerando gradualmente até parar. Seus ocupantes deixaram a atração com seus próprios pés; tontos e descabelados, mas... intactos.
— Tá vendo? Nada de errado. - Ela cruzou os braços. - Você realmente vai perder as aventuras da vida porque está com medo, May?
Eu conhecia Ev há tempo suficiente para entender o que isso significava para ela. A vida isolada que ela e Charlie vinham vivendo. Enganchei uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Ok, talvez... talvez nós devêssemos tentar. Não pode ser tão ruim, né?
* * *
Errado. Terrivelmente errado.
O suor frio gotejava nas minhas costas como gelo, enviando arrepios pelo meu corpo. Eu estava presa ao último carrinho do brinquedo, amarrada no lugar por um pedaço de couro caindo aos pedaços; os irmãos, em um silêncio sepulcral na minha frente.
"Para sua segurança, apertem os cintos de e permaneçam sentados durante toda a viagem..."
A voz impessoal soou através dos alto-falantes, mas eu não tive a chance de ouvir o resto das instruções. O carrinho começou a se mover, subindo alto, bem acima do solo, à medida que a primeira grande queda da montanha-russa se aproximava. Toda a compreensão e coragem que sentira meros momentos atrás? Desapareceram. Eu queria sair. Agora.
— Ok, eu admito! Esta foi uma ideia muito ruim... AAAAAAHHHH
O vento cortou meu rosto como uma faca, enquanto meu grito se juntava às outras vozes assustadas e empolgadas. O carrinho havia mergulhado, rápido como uma bala; seu som em cadência, forte e alto, enquanto as rodas faziam a estrutura de madeira tremer.
Meu coração estava martelando para fora do meu peito. Ousei abrir meus olhos e espiar o caminho tortuoso à frente. Mas assim que a segunda subida começou, fomos jogados para cima com uma força inimaginável.
A ascensão abrupta fez minha cabeça inclinar em... direções estranhas. Eu não conseguia dizer quais. Minha respiração ficou presa na minha garganta e um tipo de dor indistinta ecoou pelo meu corpo, começando na nuca suada; um som alto de estalo em meus ouvidos.
Lembro-me da luz: branca, ofuscante, calmante - logo antes de a escuridão me engolir por completo.
* * *
A primeira coisa que notei quando abri meus olhos foi que já era noite. Um céu estrelado, escuro como breu e iluminado apenas pelas luzes coloridas do parque, apareceu diante dos meus olhos lacrimejantes. Eu estava deitada no chão, a cabeça apoiada na madeira; o restante dos membros, intactos ao lado do corpo.
A segunda era que o lugar estava lotado. Há quanto tempo eu estava desmaiada? Provavelmente tempo suficiente para que todas essas pessoas tivessem chegado. Será que Ev e Charlie tinham visto—
Ev.
Charlie.
Eles não estavam em lugar nenhum.
Ao me levantar do chão e rodar em círculos, olhando em todas as direções possíveis, comecei a entrar em pânico. Onde eles estavam? O que tinha acontecido?
O mar de pessoas abrindo caminho pelas atrações mal parecia me notar. Na verdade, foi o delicado padrão de vigas de madeira que me deu uma pista. Eu estava parada do outro lado da montanha-russa, oposto à entrada.
Eu irrompi pelos corpos em movimento, minhas pernas ganhando velocidade enquanto corria. E corria e corria, dobrando meu corpo, fazendo curvas fechadas. A maioria dos transeuntes agora abria espaço para eu passar, assim que me viam chegando. Mas algumas figuras desatentas me fizeram contorcer e xingar. Eles não conseguiam ver que havia alguém com pressa?
Eu vi o cabelo trançado de Ev primeiro. Difícil não notar o rosa elétrico em meio a todas aqueles tons terrosos. Charlie estava parado ao lado dela, cabeça baixa, de costas para mim. Ela estava ajoelhada no chão, jogada sobre algo que eu não pude ver. Seu corpo contorcendo, como uma minhoca retirada do solo; guinchando, soluçando... Apertei o passo.
— Eeev!- Eu gritei, meus longos passos me levando cada vez mais perto. Ela não ouviu, não ergueu os olhos. Tentei de novo. "Evelyn! O que diabos você está... - Eu a alcancei, uma mão em seu ombro enquanto olhava por cima de sua cabeça; minha voz, nada mais do que um sussurro agora - ... Olhando.
Sob suas mãos trêmulas, uma respiração fraca e estável. Minha respiração. Meu corpo imóvel e frio jogado no chão.
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Nota da autora:
Vamos acabar esse conto com uma musiquinha feliz, SIM?
Da nossa rainha, Charli XCX, claro.
Enquanto vocês ouvem, vou fazer meus comentários, hehe:
1. Obrigada! Obrigada, obrigada obrigada a você, meu leitor. Que dedicou um pouquinho do seu dia à minha história e chegou até aqui. Me deixou muito feliz :D
2. A versão original do conto(que eu escrevi para o concuro em inglês) está no 1° capítulo desse livro, se vocês estiverem curiosos. Mas a tradução está bem boa (na minha opinião), então nem precisa ler a mesma coisa duas vezes hehe.
3. Gente, FALEM COMIGO! O que você eacharam do conto? Reações? Críticas? Comentários? Todos são bem vindos, eu adoro ouvir de vocês.
Nos vemos,
x x Isa
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