ATO V; construindo o ponto de impacto.

🚨OLHA SÓ QUEM VOLTOU?!🚨

Gente, estamos nos aproximando da parte mais tensa da história, então fico revendo constantemente o que devo colocar nela (frases, palavras, parágrafos inteiros, ...). A cada novo capítulo, a minha curiosidade para saber qual a reação de vocês diante de certos acontecimentos, aumenta.

Por conta disso, neste eu terei especial interesse pelos vossos comentários, assim como tive bastante no anterior. Sendo assim, COMENTEM E VOTEM MUITO, POR FAVOOOOR! E não me matem também, pelo amor de Deus, eu sou sensível.

AVISO: esse capítulo possui cenas explícitas de crise de pânico e pensamentos auto-destrutivos.

Dito isso, tenham uma excelente leitura, cambada!

❝ A maneira como o mundo é feito. A verdade está ao seu redor, fácil de ver. A noite é escura e cheia de terrores, o dia claro e lindo e cheio de esperança. Um é preto, o outro branco. Há gelo e há fogo. Ódio e amor. Amargo e doce. Masculino e masculinidade. Dor e prazer. Inverno e verão. Mal e bom. ❞


Game Of Thrones;

(🧭)

F e l i x

Os Idealzadores dos Jogos apareceram cedo no primeiro dia. Vinte e tantos homens e mulheres, vestidos com túnicas lilases. Se sentam nas arquibancadas elevadas que circundam o ginásio, às vezes andando para nos ver, tomando notas, outras vezes comendo no interminável banquete que foi instalado para eles, ignorando a todos. Mas parecem mesmo, prestar atenção aos tributos do Distrito 12.

Diversas vezes os observei, e vi um deles com os olhos fixos sobre nós. Também fazem consultas aos treinadores durante nossas refeições. Encontramos todos reunidos quando voltamos ao treinamento. Café da manhã e jantar são servidos em nosso andar, mas, na hora do almoço, os vinte e quatro tributos comem na sala de jantar, que localizava-se fora do ginásio.

A comida é arrumada em carrinhos que ficam espalhados pela sala, e todos se servem. Os Tributos Carreiristas tendem a se reunir de modo desordeiro em torno da mesa, como se estivessem demonstrando superioridade, passando a mensagem de que não têm medo uns dos outros, e que os restantes de nós são considerados abaixo da crítica.

A maioria dos outros tributos se sentam sozinhos, como ovelhas desgarradas. Ninguém dirige uma palavra a nós. Seungmin e eu comemos juntos — como Changbin não para de nos orientar — tentamos manter uma conversa animada durante as refeições. Hoje de manhã, houve uma briga que, permitiu que todos fossem liberados mais cedo.

O garoto do Distrito Nove e a garota do Distrito Quatro, entraram em uma briga física, sobre quem havia roubado o último dos machados de arremesso da prateleira, o que terminou em um evento e tanto, com os Pacificadores os separando. Então, todos deixaram o centro, assim que tiveram a chance. Se não fosse pelo fato de que queria testar minhas novas habilidades com o arco. Já, que fazia tanto tempo. A melhor parte, é que me deixaram sozinho na sala.

Bom, quase sozinho. Estava montando os alvos, antes de ouvir a porta se abrindo novamente, com aquele típico som familiar da trava automática. Não me preocupei em olhar, apenas continei pegando o arco do suporte, e dei um passo para trás, encaixando a flecha no arco e lutando um pouco sob o peso do metal; Era muito mais pesado do que me lembrava. Levanto o arco, meus braços estavam doloridos e levemente pesado — eles não poderiam simplesmente fazer um de madeira? Por que eles tiveram que fazer uma estrutura de metal? A outra extremidade da estação de prática, continha alvos espalhados. Eles já estavam arranhados e arruinados pelas facas e lanças jogadas nele.

Os Tributos não deveriam levar itens diferentes para outras estações, mas havia muitas coisas que não deveriam estar fazendo, e que o fizeram. Afinal, em poucos dias haveria vinte e três de nós mortos. Não havia muita ameaça, quando estávamos correndo atrás da morte, de qualquer maneira. Rosnando baixinho, corri para pegar uma flecha, assim, que ouvi o barulho de metal nas proximidades. Até que tentei ser o mais discreto possível, mas de tanta curiosidade, dei uma olhadinha.

Hyunjin encontrava-se na estação de espadas e tiro ao alvo, estava apertando o play e permitindo que manequins de plástico se movessem ao seu redor. Em um piscar de olhos, o outro já havia cortado um braço, antes de virar o calcanhar para cortar o torso de uma boneca. Ele torceu para o lado e decapitou o próximo boneco, após voltar e cortar a cabeça de outro.

Não precisava pensar em como seria se fosse uma pessoa. Pois, descobriria em breve. Em vez disso, foquei em encaixar minha flecha novamente. A pequena sala estava tão sombria, quanto sentia naquele momento. O cheiro de morte e sangue pairava no ar, não que me importasse. Voltando para meu lugar na extremidade oposta da estação, e marcando-a. Consegui tingir o tabuleiro com um baque retumbante, mas como a sala estava silenciosa, soou alto.

— Você precisa levantar mais o braço, Doze. — sua voz me assustou de tal maneira, que acabei deixando cair a segunda flecha que estava segurando.

Aproveito a ocasião, e olho por cima do ombro. Hyunjin nem estava suado, ele girou a espada em sua mão uma vez, antes de jogá-la no chão e se moveu para sentar-se em cima das mesas de descanso, no meio da sala. Projetando o queixo na proa.

— É metal. Pesa mais que você. Coloque o cotovelo um pouco mais para o alto, você precisa compensar o peso do próprio arco.

— Obrigado... eu acho.

O outro não respondeu nada, permanecia mordendo o lábio inferior e recostado na mesa. Hyunjin meio que tinha essa aura. E era difícil de ignorar; isso, e o fato de que ele ameaçou me matar várias vezes. Essa situação dificultou minha concentração. E não parecia que Hyunjin tinha intenção de sair. Pelo contrário, estava ficando cada vez mas confortável, com os joelhos dobrados e batendo o calcanhar no chão.

— Existe uma razão para você estar olhando para mim, como se eu fosse um pedaço de carne?


— Você ainda está segurando errado, docinho.

Em vez de dar alguma satisfação, apenas baixei o arco. Cruzei os braços de forma graciosa, estreitando os olhos para ele e murmurando.

— Olha, Dois. Eu realmente não estou com humor, então se você vai ficar aqui sentado me assistindo, e me fazendo de bobo, então eu...

— Pegue!

Meus olhos se arregalaram quando o tributo pulou da mesa, como se não tivesse ouvido uma única palavra que eu tinha acabado de dizer. Apontou para o arco, com uma peculiaridade em sua testa.

— Pegue. Vamos, faça isso!

Engolindo em seco, corri para pegá-lo, agarrando o arco e a aljava, ignorando o fato de que meu estômago estava nadando ansiosamente, quando Hyunjin se aproximou, suspirando. Ele sempre teve um perfil impecável, aos meu olhos.

Perfeitamente moldado, olhos grandes, aquele lindo nariz, a pintinha perfeita, queixo que deixou-me com ciúmes — e isso era apenas o rosto dele. Eu poderia falar para sempre sobre a relação ombro-cintura ou das suas coxas muito fortes e construídas.

Balancei a cabeça em negação, percebendo que provavelmente era um pouco estranho, que admirasse tanto o corpo do outro tributo, quando só conseguia escolher algumas características que realmente gostava em Hyunjin ou em meus hyungs.

Também, não conseguia parar minha mente, que vagava para... outras... partes do corpo de Hyunjin, partes que realmente não tinha o direito de estar pensando. Balancei a cabeça novamente, para limpar a mente dos pensamentos que estavam começando a nublar meu pobre cérebro.

— Um pouco mais alto, Felix.

Sentia minhas mãos tremerem quando ele ficou atrás de mim. Fechando os olhos, conseguia imaginar o calor dos seus lábios movendo-se ao longo do meu pescoço, descendo em direção ao ombro e subindo até a orelha. Era tão errado imaginar algo assim. Porém, não estava conseguindo me conter.

— Por favor... — Hyunjin fez uma breve pausa.

Podia sentir o calor de seu corpo, sua voz era tão profunda, que as vibrações dela me sacudiram, quando o mais velho acrescentou.

— Cotovelo direito mais para trás, repita isso por todo o caminho, hm?

Palmas grandes e quentes se enrolaram em torno do meu cotovelo, para manter o braço reto e equilibrado. Realmente acho que poderia estar ficando louco, seja pela monotonia da rotina da vida cotidiana ou pelo absurdo de minha própria dureza crescente. Eu não estava conseguindo nem respirar, só de saber que essas mãos bonitas iriam me estrangular, em menos de uma semana. Não podia estar gostando dessa sensação de embaralhamento.

— Agora, solte e deixe-a ir.

Disparo a flecha, ao mesmo tempo em que a porta automática se abre novamente, Changbin estava usando o melhor par de calças de couro mais justas que possuía. Ele também usava uma camisa de seda vermelha solta, extremamente larga que mostrava seu pescoço, clavícula pálidas e leitosos em algumas partes de seu ombro. Gostaria de atacá-lo e devorá-lo, agora.

Céus, no que estou pensando?

Quando finalmente olhei para o rosto de Changbin, quase que instantaneamente, colapsei. Os olhos castanhos do outro, mantinham um olhar penetrante e lascivo sobre mim, e seu rosto estava quase nu, exceto pelo delineador fino e brilho labial rosa morango. Seu cabelo preto estava bagunçado de forma fofa, o que quase o fazia parecer inocente. Larguei o arco no chão, assim que vi o mentor se aproximando.

— Hyung!

Hyunjin pressionou os lábios em uma linha reta e observou meus movimentos descoordenados, enquanto eu corria para abraçar o hyung. Changbin estreitou o olhar para Hyunjin, enquanto passava um braço ao redor da minha cintura, e me puxava para mais perto.

— O que vocês dois estão fazendo?

— Atirando! — Hyunjin falou lentamente, levantando uma sobrancelha para ele.

Não é fácil encontrar um assunto. Falar de casa é doloroso. Falar do presente é
insuportável. Changbin relaxou um pouco e olhou para o alvo. Em seguida, olhando para Hyunjin, antes de responder.

— Bom trabalho. Acertou no alvo!

Fiz um som confuso no momento que olhava para o tabuleiro. Foi um alvo. Olhei para Hyunjin e nos encaramos por um longo minuto. Eu deveria agradecer? Não tinha certeza se deveria agradecer a alguém que queria me matar. Mesmo assim, abaixei um pouco a cabeça e disse em um murmúrio.

— Obrigado, Hyunjin.

— Não desça tão fácil, Doze.

Faço um som que está entre um ronco e um riso. Então, me controlo. Ficar tentando manter a aparência de amizade, quando na verdade estou sentindo um misto de atração, está confundindo minha cabeça. Pelo menos, quando entrarmos na arena, saberei como será nossa relação.

— Vou tentar não fazer isso, hyung.

[...]

Todos os anos, os tributos têm uma chance de receber uma classificação entre um e doze de sua probabilidade de sobreviver. Era um ranking ridículo, uma última chance para os patrocinadores fazerem suas apostas. O Distrito Doze foi o último. Começaram a nos chamar na hora do almoço para nossas sessões particulares com os Idealizadores dos Jogos.

Distrito após Distrito, primeiro o tributo masculino, depois o tributo feminino. Como de costume, o Distrito 12 está destinado a ser o último. Esperamos na sala de jantar, sem ter certeza sobre para onde iríamos. Ninguém volta depois que sai. À medida que a sala fica vazia, a pressão para parecer amigável se acentua.

Os Idealizadores já estavam sentados há horas, vinte e três demonstrações. Devem querer ir para casa, já devem ter bebido muito vinho. Durante essas semanas, notei que eles gostavam muito disso no Capitol — álcool. Já, tinha visto Changbin trazer carrinhos inteiros para seu quarto antes, mas fez vista grossa.

Porque normalmente Jisung estava o seguindo, e repreendendo. Esperamos na sala de jantar, sem ter certeza sobre para onde iríamos. Ninguém volta, depois que saem. À medida que a sala fica vazia, a pressão para parecer amigável se acentua. Ficamos sentados em silêncio até que convocam Seungmin. Ele se levanta.

— Lembre-se do que Changbin disse: para não esquecermos de arremessar os pesos. — as palavras saem de minha boca sem permissão.

— Obrigado. Vou me lembrar disso — diz ele. — Você... vê se acerta bem na mira.

Balanço a cabeça, concordando. Não sei nem por que eu disse alguma coisa. Embora prefira que Seung vença, se for para eu perder, e não os outros. Melhor para nosso distrito. Depois de mais ou menos quinze minutos, eles chamam meu nome.

Lee Felix. Doze, Tributo Masculino.

O interfone proferiu, provavelmente disparando por toda a instalação. Aliso os cabelos, ajeito os ombros e caminho em direção ao ginásio. Imediatamente, percebo que estou encrencado. Estão aqui faz muito tempo, os Idealizadores dos Jogos. Sentados assistindo a outras vinte e três apresentações. Tomaram muito vinho, todos eles. Querem mais do que qualquer outra coisa voltar para suas casas.

Não há nada que eu possa fazer. A não ser prosseguir com o plano. Caminho até a estação de arco e flecha. Oh, as armas! Há dias estou ansioso para botar as mãos nelas! Arcos feitos de plástico, de metal e de materiais que nem conheço. Flechas com penas cortadas em linhas uniformes e perfeitas. Escolho um arco, testo a corda e ponho a aljava correspondente no ombro.

Tem uma série de alvos a distância, mas é limitada demais. Olhos de touro tradicionais e silhuetas humanas. Caminho em direção ao centro do ginásio e escolho meu primeiro alvo. O boneco usado antes para o treinamento com faca. No momento exato em que puxo a flecha percebo que há algo errado. A corda é mais apertada do que a que eu costumava utilizar em casa.

O arco é mais rígido. Acerto alguns centímetros longe do boneco e perco a pouca concentração que tinha. Por um instante, sinto-me humilhado. Merda, havia errado por meros centímetros. Então, volto ao olho de touro. Atiro novamente e mais uma vez, até dominar as novas armas. De volta ao centro do ginásio, tomo minha posição inicial e espeto o boneco bem no coração. Depois, rasgo a corda que segura o saco de areia do treinamento de boxe e ele se abre caindo no chão.

Sem parar, posiciono-me de joelhos e mando uma flecha na direção de uma das luzes que ficam penduradas no teto do ginásio. Uma chuva de fagulhas explode no artefato. A mira foi excelente. Eu me viro para os Idealizadores dos Jogos. Uns poucos estão indicando aprovação, mas a maioria está fixada no porco assado que acaba de chegar ao banquete deles.

De repente, fico furioso pelo fato de que, mesmo com minha vida por um fio, eles não prestam a mínima atenção em mim. Por meu espetáculo estar sendo preterido por um porco morto. Meu coração começa a bater. Sinto meu rosto queimando. Sem parar para pensar, puxo uma flecha da aljava e mando na direção da mesa dos Idealizadores dos Jogos.

Ouço gritos de alerta à medida que as pessoas se afastam da mesa aos trancos e barrancos. A flecha espeta a maçã na boca do porco e a prende à parede. Todos me encaram sem conseguir acreditar. Seneca Crane foi o Head Gamemaker nos últimos anos. Sabia que era um curinga, não fazia ideia de como seria o Jogo desse ano. No ano passado, foram jogados em uma cidade em ruínas. O vencedor daquele ano bateu na cabeça de outro com um tijolo.

— Obrigado, pela consideração de vocês! — Então, faço uma leve mesura e caminho diretamente para a saída sem ter sido dispensado.

Enquanto sigo em direção ao elevador, levo o arco e a aljava junto comigo. Passo correndo pelos Avoxes boquiabertos que guardam os elevadores e aperto o número doze com o punho cerrado. As portas deslizam e eu subo. Consigo chegar ao meu andar antes que as lágrimas comecem a escorrer por meu rosto.

No segundo em que entro na sala de espera, percebi que havia pessoas esperando por mim. Muita gente, mas não sabia o que fazer, apenas agarrei quem estava mais próximo. Aí, sim, começo a soluçar. Agora consegui! Agora arruinei tudo! Se é que eu tinha alguma chance ínfima, ela desapareceu por completo no instante em que lancei aquela flecha na direção dos Idealizadores dos Jogos.

O que será que eles vão fazer comigo agora? Vão me prender? Vão me executar? Vão cortar minha língua e me transformar em um Avox para servir aos futuros tributos de Panem? O que passou pela minha cabeça naquele momento? Atirei nos Idealizadores dos Jogos? É claro que não, atirei naquela maçã porque estava com muita raiva, por estar sendo ignorado. Eu não estava tentando matar nenhum deles. Se estivesse, eles estariam mortos!

— Hyung! E-Eu não fiz por mal. Eu apenas... a flecha, e-eu bati e atirei neles. Não posso acreditar, eu só...

— Oh, você está está tremendo! — Jisung estava ficando preocupado, movendo-se para agarrar meu rosto.

A endorfina é considerada a morfina do corpo, um tipo de analgésico natural. Um hormônio gerado naturalmente pela glândula hipófise no cérebro, e quando é liberado na circulação sanguínea, opera proporcionando as sensações de prazer, bem estar, bom humor, motivação e felicidade.

Agindo em células nervosas específicas, atuam como uma breve euforia, mascarando perfeitamente o estresse e a dor. Era como se uma orquestra inteira tocasse naquele instante dentro da minha cabeça, sentia com clareza. Por rápidos segundos, tudo que estava em volta ficou em câmera lenta, e então fechei os olhos, recapitulando meu último treino.

Trinta segundos.

Parecem poucos, curtos e, até mesmo, irrelevantes. O que são trinta segundos dentro das vinte e quatro horas de um dia? Dos setes dias de uma semana? Dos trinta e um dias de um mês? Os trinta segundos se tornam insignificantes e despercebidos.

Estamos tão acostumados a só seguir em frente, deixar o tempo nos levar, manter-se em um fluxo constante. Tão preso a nossas rotinas, que não nos atentamos aos momentos que se passam. Ao ponteiro do relógio girando sem parar no costumeiro tic-tac.

Trinta segundos não são nada, realmente.

O desespero foi se instaurando aos poucos. Uma dor imensurável percorreu por todo meu corpo. Quis gemer de dor, quis gritar. Queria falar algo, chamar pelo nome de meus pais, de meus hyungs, tudo ao mesmo tempo, mas a voz não conseguia sair. Uma simples menção de produzir algum som fez minha garganta estremecer.

Não podia acreditar nisso. De jeito nenhum. Agarrei as bordas da camisa de Jisung, enquanto escutava Christopher chamando por mim. Eu estava lívido. Tão lívido que achava que nunca mais sentiria algo assim. Era a mesma fúria. Podia ouvir todos tentando me alcançar. E isso aumentava ainda mais minha raiva, porque não conseguia nem fugir. Podia sentir a respiração acelerar. Ao mesmo tempo, sentia como se não pudesse respirar, sentindo meu peito pesado.

Ah, o que isso importa? Eu não venceria esses Jogos mesmo. Quem se importa com o que eles possam fazer comigo? O que realmente me assusta é o que eles poderiam fazer com minha mãe. Como ela poderia sofrer agora, por causa da minha
impulsividade. Será que eles vão tomar os poucos pertences dela, ou mandar minha mãe para a prisão? Ou será que vão matá-la?

Eles não a matariam. Será que mataria? Por que não? Por que se importariam com ela? Eu deveria ter ficado lá e ter pedido desculpas. Ou rido, como se tudo não tivesse passado de uma grande piada. Aí, quem sabe eu teria conseguido algum perdão. Mas, em vez disso, dei o fora do local da maneira mais desrespeitosa possível.

— Felix. — Bang Chan agarrou meus ombros. — Respire. Eu preciso que você respire, querido.

— O que está acontecendo? — Seungmin perguntou, correndo até nós dois, tendo ouvido Christopher gritando atrás de Jeogin.

— Ele está tendo um ataque de pânico! — Minho respondeu, enquanto contava meus batimentos cardíacos.

— Felix. Escute o Chan! Vamos, respire. Inspire e expire. — Jisung estava tentando me instruir, os dedos correndo por todo o cabelo.

Estava tentando respirar, mas não conseguia. Sentia como se estivesse sufocando, meu coração batendo forte demais. De repente, senti-me tonto, quando uma sensação arrepiante começou na base do pescoço, varreu meu couro cabeludo até a frente do rosto, e minha visão começou a ficar turva.

Todos sabiam que as pessoas com as pontuações mais baixas, foram mortas no banho de sangue, nos primeiros minutos do início dos Jogos. Foram massacrados, enquanto todos os outros fugiam. Não queria que fosse eu. Ser um dos primeiros perdidos na matança e esquecido.

— Bebê. Oi, querido... você precisa voltar, hm? — Jisung sussurrou, os dedos cavando nos cachos, colocando o queixo no topo de minha cabeça, os olhos escaneando os rostos dos outros. Todos ficaram em silêncio.

— Hyung! — Hyunjin soltou o pulso de Jeogin. Agarrando meu torso, quando viu minhas orbes rolarem para trás de minha cabeça. — Ele está desmaiando!

[...]

— Ei, pequeno cachorrinho.

Acordo cansado, não me lembrava de ter chegado, aqui. Honestamente, não me lembrava de muito além de chorar, então não tinha certeza de como havia voltado. Fico enroscado na cama, golpeando os lençóis de seda, observando o sol se pôr sobre a frívola e artificial Capital.

— As coisas da Capital são estranhas, hyung. — sussurrei, tentando alcançar o controle remoto em cima da mesa. — Eles têm tudo isso e nós temos o quê? Carvão?

— Temos a poluição do ar, bobinho.

Solto uma pequena risada, mas saiu mas como um bocejo, e Changbin riu algumas vezes, enquanto chegava cada vez mais perto. Perto o suficiente para acariciar uma mecha de cabelo. E surpreendentemente, eu nem parecia realmente confuso.

Provavelmente ainda estou muito cansado, para parecer confuso. A princípio, espero guardas aparecendo para me levar. Mas, à medida que o tempo passa, a coisa parece menos provável. Se os Idealizadores dos Jogos querem me punir, podem fazê-lo em público. Podem esperar até que eu entre na arena para em seguida atiçar animais selvagens atrás de mim.

Pode apostar, que se encarregarão de garantir que eu não tenha comigo um arco e flecha para me defender. Antes disso, entretanto, vão me dar uma nota tão baixa que nenhum patrocinador em sã consciência vai querer me bancar. É isso o que vai acontecer hoje à noite.

Como o treinamento não é aberto ao público, os Idealizadores dos Jogos anunciam um placar para cada jogador. Isso dá ao público um ponto de partida para as apostas que ocorrerão ao longo dos Jogos. O número, que vai de um a doze - um sendo irremediavelmente ruim e doze sendo inalcançavelmente alto —, significa o quanto um tributo é promissor.

A marca não garante que determinado tributo vencerá. É apenas uma indicação do potencial que o tributo demonstrou durante o treinamento. Com frequência, devido a algumas variáveis na realidade da arena, tributos com marcas bem altas perdem quase imediatamente. E, alguns anos atrás, o garoto que venceu os Jogos só recebeu uma nota três. Ainda assim, o placar pode ajudar ou prejudicar um determinado tributo em termos de patrocínio.

Estava com a esperança de que minha habilidade com o arco e flecha pudesse me angariar um seis ou um sete, mesmo eu não sendo particularmente forte. Agora, tenho certeza de que vou ter o placar mais baixo entre os vinte e quatro tributos. Se ninguém me patrocinar, minhas chances de permanecer vivo decrescem a quase zero.

— Sabe, não precisa se preocupar com a pontuação. — Changbin disse, a voz profunda e rouca. Ao mesmo tempo, em que penteava meus cabelos com os dedos. — Quem eles vão punir, você? Acho que isso já é punição suficiente.

— É, acho que sim.

— Os placares serão transmitidos hoje à noite, quer vir? Você deveria comer alguma coisa, também.

Olhei para ele por um minuto inteiro, com as pálpebras sonolentas, abrindo e fechando lentamente.

— Não, estou com sono.

— Tem certeza? E se o hyung carregasse você no colo?

— Pode ser.

Sinto meus lábios franzindo.

Changbin estendeu a mão para mim em um instante, fazendo uma careta para os ossos duros que pressionaram sua pele, quando me pegou. Realmente deveria estar apenas pele e osso. Mas ainda parecia melhor do que o garoto que foi deixado aqui, com certeza. Soltei um som cansado, os braços envolvendo seu pescoço, permitindo que acomodasse minha cabeça em cima de seu ombro.

— Você está tão magro, querido. — Changbin se preocupou. O que era irônico, considerando que ele era o mais magro de todos.

— O Pão custa... — parei por um momento, com a voz baixa, a respiração soprando na bochecha de Changbin. — Dez moedas.

— Ah, eu não saberia, — o mentor fez uma pausa. — Whisky custa vinte moedas, e isso é tudo que eu sei.

Isso faz com que me sinta um pouco melhor. Solto uma pequena risada, com as unhas arranhando sua nuca e as pernas enroladas em suas costas. Changbin suspirou em meu cabelo, acariciando minha bochecha contra os cachos macios, enquanto apertava o botão da porta eletrônica com o cotovelo.

Talvez fosse ignorância dele, como alguém que era rico, comentar sobre a magreza em que estava ou insinuar que deveria comer mais. Mas, Changbin já havia estado em minha posição antes, e me lembrei de como era a fome. Agora entendia, por que tinha a sensação de querer fazer essas coisas.

Eu só queria que não tivesse que ser assim.

— Hyung não deveria beber tanto, é ruim para você.

— Mhm.

— Está cheirando à álcool, — sussurrei baixinho, em seu ouvido.
— e meu nariz ainda está sensível.

Changbin fez uma careta, se desculpando baixinho. A maioria estão esperando na sala, mas gostaria que não tivessem aparecido porque, por algum motivo, a possibilidade de decepcioná-los me desagrada.

É como se eu estivesse jogando no lixo, de maneira irrefletida, todo o bom trabalho que eles fizeram comigo. Evito olhar para todos. O gosto salgado na minha boca, me faz lembrar de minhas lágrimas.

— O bebê está acordado? — Jisung murmurou. — Oi, amor. Você dormiu bem?

Grunhi um som, exausto e sonolento, braços e pernas apertados ao redor de Changbin, de uma forma que dizia, por favor, não vá. Em vez disso, o mentor escorregou para o chão, os olhos fixos na televisão que estava sem som, murmurando.

— Estamos prontos.

O locutor dos Jogos, era Caesar Flickerman, desde que conseguia me lembrar, seu cabelo colorido brilhante era difícil de esquecer, e sua voz excêntrica rangeu em meus ouvidos.

— Como vocês sabem, os Tributos são classificados em uma escala de um a doze, após uma avaliação cuidadosa, — disse Caesar Flickerman. — os Gamemakers gostariam de começar avaliando... Do Distrito 1, Marvel com uma pontuação de 9.

Ele merecia aquele placar, era perigoso.

— Do Distrito Dois, Hyunjin com uma pontuação de 11! — continuou Caesar.

Saí de forma ríspida dos braços de Changbin. Houve um protesto nas proximidades, e Minho estendeu a mão para segurar-me, mas tudo caiu em ouvidos surdos, quando me movimentei para o canto mais distante da sala.

Foi um pouco ridículo, em retrospectiva, porque o tributo do Distrito Dois havia dormido. Ele estava dormindo contra o ombro de Bang Chan, a ponto de parecer um morto, não era como se Hyunjin fosse pular, e avançar contra mim neste segundo, mas parecia que sim.

Primeiro eles mostram uma foto de um tributo e em seguida começa a piscar a nota abaixo do rosto. Os Tributos Carreiristas, naturalmente, conseguem notas entre oito e dez. A maioria dos outros jogadores tem média cinco. O Distrito 12 aparece por último, como de costume.

— E... do Distrito Doze, Seungmin. Com nota 8.

Seungmin conseguiu um oito, o que indica que pelo menos alguns Idealizadores dos Jogos estavam prestando atenção nele. Enterro as unhas nas palmas das minhas mãos quando meu rosto surge na televisão, à espera do pior. Então o número doze começa piscar na tela.

— Uau... Felix deve ter feito algo espetacular, — o rosto de Caesar caiu. 12! Os primeiros 12 já dados! Para um tributo do Distrito Doze, também. Não posso deixar de me perguntar o que ele fez para conseguir isso!

Doze!

— Deve haver algum engano. Como... como isso poderia acontecer? — pergunto a Changbin.

— Acho que eles gostaram do seu temperamento. — responde ele. — Eles organizam um show. Precisam de jogadores com sangue quente.

— Felix, o garoto quente. — diz Minho, e me dá um abraço. — Ah, espera só o seu vestido de entrevista. Não quero nem saber!

— Mais... chamas? — eu pergunto.

— Mais ou menos. — diz ele, de modo malicioso.

Estava vagamente ciente de que havia aplausos acontecendo ao meu redor, que era alto o suficiente para ser ouvido no andar de baixo, provavelmente, mas me sentia mal. Como se fosse vomitar.

— Felix, amor! — Jeogin gritou, movendo-se para segurar minhas mãos. — Você tirou um 12! Isso é incrível! Não é incrível?

Não. Não, não é incrível.

Sentia medo de que, se olhasse para Hyunjin, confirmaria isso, então não fiz. Ao invés disso, Seungmin e eu congratulamos um ao outro, mais uma situação estranha. Nós dois fomos bem, mas o que isso significa para o outro? Escapo rapidamente para meu quarto e me enfio debaixo das cobertas.

O estresse do dia, particularmente o choro, me deixara esgotado. Caio no sono, enlevado, aliviado, e com o número doze ainda piscando em minha mente. De madrugada, deito-me na cama por um tempo, observando o sol nascer em uma bela manhã. É domingo.

Não consigo evitar comparar o que acontece entre mim e Hyunjin, ao que estou fingindo que acontece entre mim e todos os outros. Como o fato de eu nunca questionar os motivos de Seungmin ao passo que não faço nada além de duvidar a respeito dos 6.

Não é uma comparação justa, na verdade. Nos juntamos por uma mútua necessidade de sobrevivência. Hyunjin e eu sabemos que a sobrevivência do outro significa nossa própria morte. Como desviar de um golpe como esse?

Jisung está batendo na porta, lembrando-me de que tenho outro "grande, grande, grande dia!" pela frente. Amanhã à noite acontecerão nossas entrevistas televisionadas. Aposto que toda a equipe deve estar com as mãos cheias nos preparando para a ocasião.

Eu me levanto e tomo uma chuveirada rápida, tendo um pouco mais de cuidado com os botões que aperto, e me dirijo à sala de jantar. Todos estão amontoados em volta da mesa falando com vozes baixas. Isso parece esquisito, mas a fome vence a curiosidade e encho o prato antes de me juntar a eles.

O cozido hoje foi feito com tenros pedaços de carneiro e ameixas secas. Perfeito sobre o leito de arroz selvagem. Eu já bati quase a metade do prato quando percebo que ninguém está falando nada. Dou um gole longo no suco de laranja e enxugo a boca.

— O que está acontecendo? Você vai nos treinar para a entrevista de hoje, não é?

— Exato. — confirma Changbin.

— Não precisa esperar eu terminar. Consigo ouvir e comer ao mesmo tempo.

— Bem, houve uma mudança de planos. A respeito de nossa estratégia atual — começa Bang Chan.

— O que é? — pergunto. Não estou certo de qual é nossa estratégia atual. Tentar parecer medíocre na frente dos outros tributos é a única parte que me lembro dessa discussão.

Changbin dá de ombros.

— Seungmin pediu para ser treinado separadamente.

(🧭)

Depois desse capítulo eu acho que não tem nenhuma alma viva na verdade, porque eu tô mortinha aqui, estirada no chão depois de escrever... acabou a palhaçada dos oito, será? porque Felix ainda é muito geniosokkkkkkkk tenhamos fé, tá mais perto que nunca.

Obrigada pelos votos aaa eu não sei nem como me expressar direito, só sei que tô muito feliz e é graças a vocês. Espero que tenham gostado do capítulo, ele foi meio gatilhado de escrever mas gostoso de compartilhar com vocês.

O próximo capítulo é a entrevista e em seguida os jogos! Então se preparem, porque muita coisa tá vindo por aí, e quando eu digo muita coisa é porque é muita coisa mesmo, como dor sofrimento e muito mais. Enfim, até o próximo capítulo, xuxus!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top