O percurso por dentro do castelo até à Torre Norte era longo. E na opinião de todos, era longo demais.

- Tem...de...haver...um... caminho...mais... rápido.- disse Ron quase sem fôlego, enquanto subiam o sétimo lanço de escadas emergidas num lugar desconhecido onde havia apenas um grande quadro de uma extensão vazia de erva, pendurado numa parede de pedra.

- Acho que é por aqui.- disse Hermione, espreitando pelo corredor vazio do lado direito.

Subiram uns últimos degraus e se encontraram num pequeno patamar onde a maior parte dos alunos se encontrava já reunida. Não havia portas. Harry deu uma leve cotovelada a Joana, que olhava em volta procurando uma porta, e apontou para o teto, onde havia um alçapão circular com uma placa de bronze.

- Sybill Trelawney, professora de Adivinhação.- leu Joana.- Como será que nós vamos chegar ali em cima?

Como que respondendo àquela pergunta, o alçapão se abriu e uma escada prateada desceu até aos seus pés. Ficaram todos em silêncio.

- Depois de você.- disse Harry sorrindo.

Joana subiu, a escada em primeiro lugar. Deu consigo na mais estranha sala que vira em toda a sua vida. Na verdade, parecia tudo menos uma sala de aula.
Era uma mistura de sótão com uma sala de chá antiquada. Havia pelo menos vinte mesinhas redondas rodeadas de caldeirões. Era tudo iluminado por uma luz difusa, carmesim. As cortinas das janelas estavam corridas e os inúmeros candeeiros cobertos com lenços vermelho-escuros. O calor era sufocante e o lume que ardia na lareira espalhava no ar uma espécie de perfume doentiamente pesado, ao mesmo tempo que aquecia uma grande chaleira de cobre.
Nas prateleiras que cobriam as paredes circulares amontoavam se penas de aspeto poeirento, restos de velas, muitos baralhos de cartas quase se desfazendo, inúmeras bolas de cristal prateadas e muitas chávenas de chá.

- Onde está ela?- perguntou Harry surgindo ao lado de Joana e olhando em volta.

Uma voz surgiu imediatamente do meio das sombras, uma voz suave e imprecisa.

- Bem vindos.- disse.- Que bom ver vocês todos finalmente no mundo físico.

Ron com o susto deu um pequeno salto pisando pé de Hermione que gemeu de dor e deu um tapa em seu braço em reclamação.

A primeira impressão de Joana foi de ter visto um enorme inseto brilhante.
A professora Trelawney se aproximou do lume e viram que era extremamente magra. Os óculos enormes aumentavam os seus olhos, multiplicando várias vezes a sua dimensão natural, e estava enrolada num xaile transparente com lantejoulas. Vários fios e contas prendiam lhe delicadamente do pescoço frágil, enquanto as mãos e os braços ostentavam pulseiras e anéis.

- Sentem, meninos, sentem.- disse e todos eles subiram desajeitadamente para as cadeiras ou se afundaram nos pufes. Joana, Harry, Hermione e Ron sentaram se em volta da mesma mesa redonda.

- Bem-vindos à aula de Adivinhação.- saudou a professora Trelawney que se sentara numa poltrona de braços em frente do lume.- Eu sou a professora Trelawney. É provável que nunca me tenham visto. Eu desço poucas vezes, pois a confusão da escola obscurece a minha Visão Interior.

Ninguém abriu a boca em resposta a esta extraordinária afirmação. A professora Trelawney compôs delicadamente o xaile e continuou

- Então vocês escolheram estudar Adivinhação, a mais difícil de todas as artes mágicas. Devo prevenir todos vocês, logo de entrada, de que se não forem dotados de Visão, não poderei vos ensinar grandes coisas nesta área... Os livros não vos levarão longe.

Ao ouvir estas palavras Joana olhou, sorrindo divertida para Hermione que estava estarrecida com a ideia de os livros não poderem ajudar naquela disciplina.

- Muitas Feiticeiras e Feiticeiros, bastante talentosos na área dos estouros, se mostraram incapazes de penetrar nos mistérios velados do futuro.- prosseguiu com os seus olhos enormes e brilhantes.- É um dom que muito poucos possuem. Você, garoto.- disse se dirigindo a Neville, que quase caiu do pufe abaixo.- A sua avó está bem?.

- Acho que sim.- respondeu Neville ficando nervoso pela pergunta.

- Eu, no seu lugar, não teria tanta certeza, filho.- afirmou a professora Trelawney com a luz do fogo a brilhar nos seus brincos esmeralda.

Neville engoliu em seco. A professora Trelawney prosseguiu tranquilamente.

- Abordaremos este ano os métodos básicos da Adivinhação. O primeiro período será dedicado à leitura nas folhas de chá. No período seguinte vamos evoluir para a quiromancia. A propósito, minha querida.- Se dirigiu a Parvati Patil.- Cuidado com o homem de cabelos ruivos.

Parvati olhou de esguelha para Ron e afastou a cadeira e Harry riu baixo ao ver isso.

- No terceiro período,- continuou a professora Trelawney.- passaremos às bolas de cristal, se já tivermos terminado os presságios de fogo, claro. Infelizmente, as aulas serão interrompidas em fevereiro por um surto de gripe em que eu própria ficarei afónica. E, pela Páscoa, um de nós nos deixará para sempre.

Um silêncio angustiante se seguiu a essa afirmação, mas a professora Trelawney pareceu não dar por isso.

- Será que poderia, minha filha,- pediu a Lavender Brown que estava mais próxima dela e se encolheu na cadeira.- me passar o bule de prata maior?

Lavender se levantou, com um ar aliviado, retirou o enorme bule da prateleira e o pousou sobre a mesa em frente da professora.

- Obrigada. A propósito, aquilo que receias sucederá na sexta feira, 16 de outubro.

Lavender estremeceu pelo aviso mas não falou nada.

- Ora bem, quero que se dividam em pares, que retirem, cada um, uma chávena da prateleira e venham ter comigo para eu a encher. Em seguida vão se sentar e beberão o chá até que fiquem apenas as folhas no fundo. Agitem a chávena três vezes com a mão esquerda e, em seguida, voltem ela ao contrário e esperem até o resto de chá escorra até à última gota. Depois darão a vossa chávena ao vosso colega para ele ler. Interpretarão os sinais utilizando as páginas cinco e seis do livro Aclarando o Futuro. Eu circularei pelo meio de vocês, ajudando e dando informações.

Mal as chávenas de Joana e Hermione ficaram cheias elas fizeram atentamente tudo o que a professora dissera.

- Pronto.- disse Hermione, enquanto abriam ambas as páginas do livro.- O que vê na minha chávena?

- Bem...- disse Joana analisando a chávena com a maior concentração possível.- Há aqui o que parece um pequeno ponto de exclamação torto e um pedaço de pergaminho. E vendo o que o livro indica, vai descobrir algo importante num trabalho.

- Ah, isso já aconteceu tanta vez.- disse Hermione com desdém.- Agora eu....- Hermione ficou a olhar para a chávena de Joana uns segundos a tentar decifrar as imagens que as folhas- Bem, acho que isto aqui tem um Sol, por isso... Vai se sentir feliz. Mas também tens aqui uma nuvem, por isso vai se sentir triste ao mesmo tempo.

- Coisa tão específica.- ironiza.

E depois de lerem um pouco o livro e de tentarem decifrar mais alguma coisa ouviram a professora Trelawney dizer a Harry que estava com Ron na mesa à frente delas

- O falcão... Meu filho, tem um inimigo mortal.

- Mas isso todos sabem.- replicou Hermione num murmúrio audível. A professora Trelawney olhou fixamente para ela.- Pois sabem.- repetiu Hermione- Todos sabem do Harry e do Quem-Nós-Sabemos.

Joana ficou a olhar para ela com um misto de espanto e admiração. A professora Trelawney preferiu não responder. Baixou os seus enormes olhos para a chávena de Harry e ficou a girá-la.

- Uma moca... Um ataque. Oh! Não, esta chávena não é feliz

- Eu pensei que fosse um chapéu de coco.- disse Ron embaraçado.

- A caveira... Perigo no seu caminho, meu filho.

-" E novidades?"- pensou Joana.

Estavam todos a olhar transtornados para a professora Trelawney que deu mais uma volta à chávena e se sobressaltou soltando um grito.

Se ouviu logo outro ruído, de loiça a partir. Neville tinha partido a sua chávena. A professora Trelawney se afundou num cadeirão vazio, com a mão cintilante sobre o coração e os olhos fechados.

- Oh!, Meu pobre garotinho, meu pobre rapazinho. Não, é melhor não te dizer, não me pergunte.

- O que é, professora?- perguntou imediatamente Dean Thomas. Todos se tinham posto de pé e lentamente rodearam a mesa de Harry e de Ron.

- Meu filho...- os enormes olhos da professora Trelawney abriram se dramaticamente-... você tem o Cruel...