Bubblegums and Metalheads: chapter 2

O quarto de Jungkook vibrava com a música alta que saía das caixas de som de seu quarto. Deitado de costas, seus pés batiam ritmados sobre um pedal invisível, enquanto seus braços se cruzavam sobre baquetas igualmente imateriais. A vida era boa naqueles momentos em que nada mais existia além de sua música, tudo se resumia à sensação que o atravessava.

— Abaixa isso, moleque! — o velho gritava de um cômodo distante, possivelmente a sala. — Estou tentando ver o jogo.

— Não grita, querido, você sabe que o esforço não faz bem para o seu coração!

— Abaixaaaaaaa.

..

Como ele ia dizendo: a vida era boa.

Seu teto era composto de um grande espelho que refletia sua imagem, um grande achado no bazaar do motel do final da rua que tinha falido. Com falido, Jungkook queria dizer que os vizinhos, que já não aguentavam mais as sinfonias intermináveis de gemidos no meio da semana, se juntaram para detonar o luga num surto de raiva e histeria coletiva pós jogo de futebol. Viva os pequenos negócios, certo?

A casa de Jungkook era uma coisa simples e aconchegante, o melhor que 20 anos trabalhando em telemarketing haviam conseguido para seus pais. Uma história de amor emocionante: o pai, estressado e com calvície precoce enfrentando uma enxurrada sem fim de ligações num pequeno escritório e clientes mal educados. A mãe, endividada até o topo da cabeça com empréstimos estudantis da faculdade de Comunicação que nunca terminara. Uma ligação e, apenas ouvindo o som de suas vozes, nasceu o amor. Pouco tempo depois, nas areias frias de uma praia deserta em Jeju, se fazia o pequeno Jungkook. Nojento, mas romântico.

Um estrondo na porta do quarto fez Jungkook dar um pulo.

— Abaixe esse som diabólico agora, senão eu JURO que vou entrar aí e acabar com a coisa com um pé de cabra, Jeon Jungkook! — era o pai.

— Querido, o esforço!! — a mãe vinha correndo atrás, seus sapatos fazendo marteladas agudas no chão de linóleo.

— Tá bom! — Jungkook se levantou, esticando os músculos. — Velhote temperamental. — murmurou para si mesmo.

Com a música baixa, o pai e a mãe se foram, os passos pesados e espaçados do pai contrapostos com o tilintar dos saltos finos da mãe.

O celular se acendeu na cômoda. Jungkook se apressou em ver logo quem era. Namjoon, só podia ser.

Babaca🐨: Cara, te inscrevi na mentoria de biologia do 3° ano.

Babaca🐨: Tá aqui os horarios http.doc_biologiaincheon/horários/AdJwS?

Você só pode tá de zueira.

Babaca🐨: Não vou nesse show sozinho.

Babaca🐨: É bom você se esforçar, hein.

Posso saber quem vai ser meu mentor, pelo menos?

Babaca🐨: Rs, adivinha.

??

Babaca🐨: Park Jimin😜😜😜

— Porra.

Jungkook jogou o celular em cima de cama e se voltou para a caixa de som, colocando no último volume.

—JEON JUNGKOOOOOOOOOOK.


As tardes de sexta-feira eram as preferidas de Jimin. Naquele semestre especificamente, Jimin dera a sorte de conseguir a última vaga para o clube de confeitaria após as aulas, e ele amava cada parte disso. Ele gostaria de dizer que isso se dava puramente por seu amor por pães e bolos mas, a verdade que ele não diria nem para Minha ou para qualquer outro amigo era que ele adorava o tempo longe das pessoas de sua turma.

Lógico, ele adorava seus amigos, adora o fato de o adorarem, mas, às vezes... era demais. Havia apenas uma quantidade limitada de atenção e sorrisos que Jimin conseguia dar antes de seu cérebro se explodir e derramar sobre todas aquelas pessoas. Credo, derramar? Horrível de se pensar nisso. Reformulando: antes de... hum... antes de ficar sobrecarregado. É.

Era o fim do 6° período — aula de educação física — e Jimin quase gemeu ao sentir o esguicho de água quente sobre os músculos tensos. O ar era uma mistura de vapor, suor e desodorante de odor desconhecido, algo tipo "homem alpha indestrutível super 3000". Tipo, não, obrigado, prefiro cheirar a algo que exista de verdade? Ele já tivera discussões com Sunghae a respeito disso antes, poderia até fazer um powerpoint sobre todos os motivos pelos quais aquilo era ridículo, mas não importava. O importante era que, dali a meia hora, ele estaria novamente em seu paraíso particular de farinha e açúcar, nada podia estragar seu dia.

Quando pareceu limpo o suficiente, Jimin se enrolou em sua toalha e calçou os chinelos felpudos, já sentindo todos aqueles vapores do vestiário se grudando na sua pele com um manto de umidade.

Dos meninos da sua sala, Jimin se destacava por ser um dos mais baixos e também um dos mais esguios. Ele ainda conservava as bochechas cheias da infância, mas todo o resto era pele e músculos, nada particularmente intrigante, mas era bem desenhado, uma curva aqui e ali, e o mais importante era que ele se sentia bem. Assim que chegou ao seu armário, foi surpreendido com uma mão fria sobre o ombro. Ele se assustou.

— Calma, Ji, sou eu! — Jimin não fazia ideia de por quê aquele garoto estava falando com ele. Era da sua sala, certamente, mas duvidava ter trocado mais do que três palavras com ele nos últimos 3 anos. Talvez fosse amigo de alguém da Kitty Gang, mas eles não eram amigos, sequer sabia o nome dele.

A audácia de lhe chamar por um apelido tão íntimo o irritou.

— Ah. Oi... você. — ele sorriu de boca fechada. Tentando não transparecer seu nervosismo, começou a secar as mechas rosas com uma toalhinha menor que usava para a cabeça (ficava manchada de tinta todas as vezes, mas ele duvidava que alguém reparasse). O outro tinha por volta de 1,80, cabelo castanho liso na altura das orelhas, rosto nem um pouco memorável.

— Sim, é... Então, a Sunji me disse que você estava ajudando alunos com dificuldade e tals, então pensei se você não gostaria de passar hoje lá em casa. Oito e meia, meus pais estão fora da cidade. — o garoto tentou sorrir de forma confiante, por quê os homens eram todos tão convencidos?

— Perdão, acho que não entendi... — Ele tinha entendido, sim, mas queria ver até onde a cara de pau daquele escroto iria. Dissimulando a maior expressão de confusão falsa que conseguia, Jimin piscou.

Tendo o efeito desejado, a expressão do outro murchou para uma versão menos calorosa e mais insatisfeita. Ele trocou o peso dos pés, olhando em volta do vestiário movimentado.

— Você é monitor, certo? Eu sou um aluno e estou precisando de ajuda. — sem comentários. — É seu dever me ajudar. E, sei lá, depois a gente pode ficar de boa, assistir alguma coisa, você que sabe...

Jimin deu um longo suspiro, exalando o ar num gesto dramático enquanto colocava as roupas em silêncio, deixando aquelas palavras ridículas penderem no ar o suficiente para que o garoto se constrangesse. O fato de o vestiário estar cheio de adolescentes observando aquela cena vergonhosa tornava tudo ainda mais fácil para Jimin.

Com calma calculada, ele se virou para encará-lo.

— Primeiro: eu sou um mentor, não monitor. Só alunos com nota final A+ em todos os períodos anteriores de biologia podem se candidatar ao cargo. Você pode imaginar quantos alunos isso dá? Imagino que não, certo? Eu sei que você reprovou em Cálculo.

Perto dali, ouviram-se sons de risadas abafadas.

— E, segundo... — ele se aproximou do outro, deixando seus rostos a centímetros de distância — Eu jamais sairia com um homem que não tem as bolas sequer para me chamar para um encontro decente. Encontre outro coitado desesperado o suficiente.

Os caras em volta uivaram em zombaria. Com isso, Jimin pegou sua bolsa e saiu, se esforçando para andar igual as modelos em seus catwalks. Ele sempre fora meio dado a espetáculos públicos, fazer o quê...

E ali, pertinho da porta, um armário se fechou, e aí... Ele.

Como um deus grego, o garoto mais insuportável de sua sala posava no meio do corredor, uma toalha frouxa pendendo de seus quadris, ao passo que a água escorria pelo abdômen trincado ponteado por tatuagens. Seus braços eram grandes e volumosos, anéis de prata nos dedos que seguravam a toalha para secar o cabelo cortado. Ele parecia uma estrela do rock em toda sua glória, Jimin se viu travando no lugar em choque.

— Perdeu alguma coisa, jujuba? — Jungkook colocou a toalha sobre o ombro, cruzando os braços de forma presunçosa.

Jeon Jungkook era o pior de todos, tão convencido. Ele se achava melhor do que todo mundo porque ouvia música de barulho e usava couro falso, aff.

— Como é?

— Jujuba, você sabe, a personagem. — Jimin franziu o cenho, agarrando a alça da bolsa com mais força, sem saber se de raiva, vergonha ou excitação.

— Muito original. — Jimin murmurou, revirando os olhos antes de passar pela porta.

Os olhos de Jungkook o acompanharam por todo o caminho.


Na segunda-feira, Jungkook acordou com uma terrível angústia lhe assolando o peito. Ele tentou dissipá-la com uma banho gelado, depois demorando bem mais que o necessário para escolher suas roupas. Ainda de cueca, ele soltou os braços em frente ao guarda-roupas:

— Isso é ridículo, Jungkook, não tem motivo pra você agir como um otário agora. — ele se repreendeu.

O relógio no criado-mudo lhe dizia já estar atrasado.

— Foda-se, para de pensar. Você é legal, você é maneiro... — a exortação só fez com que ele sentisse ainda mais vergonha. Ele deu um tapa na própria testa.

Por ser um cara tranquilo e desinibido, Jungkook não tinha experiências vastas com o nervosismo de tentar impres... de tentar estar em sua melhor aparência, cof cof. Para piorar, bem nesse dia, seu cabelo amanhecera mais rebelde que nunca, a franja cobrindo-lhe os olhos a todo momento.

Por fim, ele só colocou as roupas de sempre, tentando não se importar com coisas idiotas, como o formato de suas coxas ou a marcação do peitoral na camiseta branca.

O dia passou como uma fita acelerada, não prestou atenção a nenhuma das aulas, muito menos à tagarelice usual de Namjoon, que geralmente costumava ser uma distração bem vinda, mas que nessa ocasião só aumentara a ansiedade.

Na hora do almoço, enquanto batia os dedos sobre uma lata de refrigerante, Namjoon engoliu uma grande mordida de kimchi antes de lhe apontar os hashis, acusatório.

— Cara, você tá se cagando de medo. — o maior riu.

— O cacete que tô. — era doloroso a forma como Namjoon o lia tão bem. Não era para menos, amigos a vida toda e tudo mais, mas não deixava de ser irritante.

Namjoon crispou os lábios, abafando um riso.

— Verdade, quem se importaria em ficar sozinho com o cara mais gostoso e popular da escola, certo?

— Ele é só mais um metidinho qualquer, não ligo para a opinião de ninguém, ainda menos a dele... — até para seus ouvidos a desculpa não parecia muito boa, mas, ei, era o que ele tinha.

— Ai, Jungkook, só chama o cara logo para sair. Você é apaixonado nele desde a 5° série... Sim, não me olha com essa cara, eu soube no dia em que você correu com ele para a gangorra e me deixou SOZINHO no gira-gira. Traidor. — Namjoon balançou a cabeça em reprovação — Ninguém fala sobre a solidão do homem que perde o melhor amigo para o amor. 

— Pare com essas lágrimas de crocodilo, eu lembro bem que você ficou lá sozinho porque queria ter um momento a sós com a Sunhee, e ela te trocou por um moleque do 6° ano.

— Solidão, solidão... — Namjoon agarrou o peito de forma dramática. — O conselho ainda é válido, dá em cima dele logo que der, assim vocês tem mais tempo para se agarrar no armário de vassouras. — ele assobiou.

— E arriscar levar um soco na cara? JAMAIS.

—AHÁ! Você tem medo do Park Jimin, eu sabia!

— Instinto de sobrevivência, só isso...

— Essa história ainda vai dar o que falar... — disse Namjoon, enfiando um frango frito inteiro dentro da boca.

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