Bubblegums and Metalheads: chapter 1
Classificação: +16
Tags: Kitty Gang Jimin, Metal Jungkook, Ensino Médio, Trauma bond, coming-of-age, enemies to lovers
Pode conter temas sensíveis a alguns leitores.
Espero que gostem <3
Capítulos: 1 de ?
Tem sorrisos que nos marcam profundamente.
Se enterram dentro do nosso peito, se escondem em cantos escuros e não habitados, apenas esperando uma fagulha para acender a chama adormecida dentro de nós. O sorriso de Park Jimin era tão valioso quanto o surgimento de uma supernova, tão brilhante quanto, tão branco, e reluzente, e perfeito e...
- Foda-se, quem liga.
Jungkook resmungou baixinho.
Era final de tarde. Uma quarta-feira comum. Com alguma sorte, ele teria assustado o pirralho primeiranista o suficiente para que ele o substituísse na limpeza da sala. É, com certeza, Jungkook estava certo de que ele quase se mijara nas calças quando o encurralar no corredor entre o 3° e 4° período.
Não era nem tanto pela limpeza em si, mas Jungkook fora assinalado para limpar a caixa da tartaruga de estimação da turma, Garret, e aquela coisa estava FEDENDO. Sem chance.
O verão de agosto era um manto de calor constante sobre os ombros de Jungkook, gotas de suor discretas se acumulavam na ponta do cabelo desgrenhado, desciam em linha pela base da nuca, insuportável. De um jeito quase fantástico, Park Jimin, sentado algumas cadeiras à frente, parecia não se abalar. Jogado de qualquer jeito na cadeira, com a cabeça apoiada nos braços, quase como um travesseiro de músculos, Jungkook o observava sob cílios trêmulos.
Park Jimin era um dos, senão O aluno mais popular da Escola Estadual de Incheon. Com o cabelo rosa da cor do chiclete tutti-frutti que sempre mascava, a boca vermelha de gloss, e uma blusa de manga curta branca e lilás, ele era a visão completa de um vômito de arco-íris. Horrível.
Naquele momento, ao passo que Jungkook tentava aproveitar o horário vago do 5° período para dormir, ele era incessantemente interrompido pelo som de risadas altas e estridentes. A Kitty Gang - como se denominava a panelinha de Jimin - era o grupo de almofadinhas ricos mais irritante e prepotente que Jungkook já vira.
- Alô, Terra para Jungkook - Namjoon acenou as mãos na frente de seu rosto enfaticamente.
- Como eu ia dizendo, os Mechanic Beasts vêm pra Incheon no final do mês. Vamos pegar pista ou pista premium? - ele apontou com o dedo para o pôster na mesa de Jungkook.
Jungkook suspirou fundo e se espreguiçou, tirando os olhos de Jimin para finalmente encarar o amigo.
- Desculpa, não.
Namjoon piscou.
Desde crianças, os dois compartilhavam um fascínio (e ousariam dizer obsessão) pela banda de metal. O som pesado, misturado a melodias leves e aparentemente desconexas era a marca registrada da banda.
- Como assim, "não"? É o Mechanic Beasts!
- Não vai dar, cara, tô bombando em biologia. Meu velho não vai liberar a grana nem ferrando. - ele deu um riso sem humor.
- Sua vó te deu dinheiro de aniversário, deixa de merda. - o outro resmungou,
- Há. Infelizmente tive que gastar com o conserto da Bela Dama, 3 cordas pro lixo e minha dignidade afetada.
Apesar de bom guitarrista, era fato que Jungkook não era muito cauteloso com seus instrumentos. Seja pela raiva ou por se deixar levar no momento, guitarras frequentemente encontravam o triste destino de destruição total na mão do moreno.
- DE NOVO, JUNGKOOK?! - ele gritou.
Na mesma hora, a sala se calou e todos viraram para encará-los. Jungkook se esforçou para não reparar no biquinho que Jimin fazia, como se estivesse prestes a dizer algo.
- Foi mal, gente.
- Droga, cara. Se eu tivesse, você sabe que eu emprestaria, mas também acabei quebrando uma das varas de pesca do meu pai, e aí você já sabe... - os Kim eram famosos por seu clube de pesca na parte litorânea da cidade. Apesar de ter crescido e aprendido muito sobre a área, Namjoon não tinha a menor habilidade com peixes.
Jungkook deu de ombros.
-É uma merda, mas é o que é.
- Não, não vamos nos dar por vencidos tão fácil. Deve ter um jeito. Você acha que, se for bem na prova final, o Sr.Jeon te libera a grana do ingresso? - ele riu.
- Eu tirei D- no último teste. A essa altura, só um milagre...
- Já tentou as monitorias? Os alunos explicam muito bem, tive que ir um tempo atrás por causa de uma lista de física...
- Vou pensar sobre.
Na mesma hora, o sinal bateu, marcando o começo da última aula do dia.
Como sempre, Jungkook nunca prestava muita atenção, não era como se aquela merda fosse servir de qualquer coisa. Seu destino estava na estrada, nas turnês que ainda faria com sua futura banda de rock, e não aprendendo sobre triângulos e besteiras do tipo. Ele rabiscava qualquer coisa no caderno, se dividia entre se perder olhando para a janela ou passando bilhetes mal-educados para Namjoon, tentando não desviar os olhos teimosos para o arco-íris ambulante na frente da sala.
Não que ele tivesse uma queda por Jimin, ou algo do tipo. Nada a ver, sabe, até porque ele nem era seu tipo, com aquelas bochechas rosadas, as pernas esguias e torneadas, o quadril bem demarcado e a bunda-
Não. Realmente nada a ver.
Jungkook tossiu, tentando esconder as bochechas levemente vermelhas.
- Algum problema, Jungkook? - O professor gritou da frente. Argh.
- Nenhum problema, meritíssimo! - Ele sorriu, descarado. O professor revirou os olhos com asco.
- Mais uma interrupção e é diretoria para você. Ou enfermaria, tanto faz. Mas você estará fora desta sala, se não se comportar. - Jungkook assentiu, se segurando para não enfrentar o mais velho.
Eram todos limitados, aquela gente, aquele mundo pseudo-intelectualizado que não lhe cabia. Cresciam numa família de subúrbio, iam para a faculdade aprender nada sobre muita coisa e então pegar diplomas para replicar as mesmas besteiras datadas para a geração mais nova. Com alguma sorte se casavam e durava o suficiente para que tivessem um filho, seguido de um longo e estressante processo de divórcio, óbvio. Era um golpe, essa vida toda. Jungkook deixou de acreditar nessa vida pré-montada há muito tempo.
O resto da aula correu sem grandes eventos. Ao final, Jungkook se demorou para pegar suas coisas, fazendo questão de ser o último a sair. Como esperado, ao lado da porta, um primeiranista, Jihoon (?), tremia encostado na parede.
- Faça direitinho, viu? - Jungkook afofou o topo da cabeça do garoto, dando uma risadinha.
O garoto assentiu, quieto, entrando na sala com a maletinha de limpeza, mas, acabando com sua alegria, Jungkook avistou uma mancha colorida na visão periférica.
- Droga.
No final do corredor, fechando seu armário, Park Jimin o encarava, tez fria e impenetrável. O que estaria pensando? Mal de Jungkook, com certeza, embora sua expressão deixasse muito pouco para imaginar. Havia um certo magnetismo na forma como ele parecia não se abalar com nada, quase como se Jungkook não existisse, como se ele nem fizesse parte de seu mundinho perfeito.
Pop!
A bolha de chiclete tutti-frutti estourou, sendo recolhida rapidamente pelos lábios de Jimin.
Era a terceira vez que Park Jimin chorava naquela noite.
Centenas de cacos de porcelana esculpida se amontoavam ao redor de seus pés, água e pétalas amassadas formando uma massa ensopada, penetrando no carpete.
Jimin se abaixou com cuidado, tentando não encostar nas partes afiadas, ainda que sua visão estivesse nublada por lágrimas.
- Ai! - ele fungou, erguendo o dedo indicador na altura dos olhos. Uma gota de sangue, sem dúvidas. Jimin levou o dedo à boca para parar o fluxo de sangue.
- Idiota. - Ele se culpou.
Aquele vaso de plantas não era qualquer um, era a última peça de porcelana feita por sua mãe antes de morrer, a peça havia sido um presente. E agora estava totalmente destruído. Uma nova onda de lágrimas jorrou de Jimin.
Dois verões atrás, Jimin a perdera para uma metástase óssea, estágio 3. Ela segurou o tratamento por algum tempo, mas o corpo ficou debilitado demais e, presa numa tempestade típica daquela época do ano, foi acometida por uma terrível tuberculose. O corpo rejeitou os antibióticos, a intubação pareceu deixá-la ainda pior, a despedida foi uma bagunça de lágrimas, lençóis brancos e cheiro de morte.
- Jimin, querido, o que é isso? - Minha gritou do primeiro andar. O corpo de sua mãe mal tinha esfriado no momento em que o pai resolvera se casar de novo. Uma garota 8 anos mais velha que ele, era uma palhaçada.
- Nada! - ele gritou.
Com cuidado, Jimin foi reunindo os cacos, determinado a recuperar o vaso de alguma forma. Era impossível, ele sabia, mas se ele assumisse a derrota, tinha certeza de que enlouqueceria ali mesmo.
O quarto de Jimin era quase como um organismo vivo, Da porta até a janela que guardava a cabeceira da cama, tudo tinha sua cara. Tapetes felpudos, posters de divas pop pela parede e muitas almofadas, todos os objetos em tons pastéis ou cheios de glitter. Tudo remetia à personalidade alegre e extrovertida de Jimin, sim, mas também à imagem que tinha de si na sua infância, cheio de sonhos e fantasias. De uma forma meio absurda, Jimin acreditava que manter essa parte lúdica de si era também preservar um momento da vida em que as coisas eram mais simples, um momento em que só existiam sorvetes e dias ensolarado no parque, um momento no qual sua mãe ainda estivesse viva.
Jimin esticou o braço até o cabideiro preto e alcançou uma de suas várias ecobags. Não era o lugar ideal para guardar cacos, mas teria que servir até que ele arranjasse um lugar ideal.
- Me perdoe, omma.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos tingidos.
Seu olhar disparou para a segunda gaveta da escrivaninha. Era uma boa hora.
De uma vez, Jimin colocou na boca três grandes chicletes de tutti-frutti. Engoliu todos de uma vez só.
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