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          Quando a porta abriu, Thomas segurou a risada, mas assim que Filippo entrou acompanhado da senhora elegante e muito parecida com ele, os seus olhos se voltaram com admiração para aquela figura estupidamente máscula dentro do terno preto.

O tecido acetinado se moldava no dorso largo e musculoso de Felippo descendo por seus ombros e ajustando-se com precisão à estrutura óssea do seu corpo.

E da mesma maneira, se não mais fascinado, Felippo olhava para Thomas com um brilho sedutor nos olhos.

Com ele vestido em uma camisa de seda azul marinho, cardigan de lã na cor creme e calça jeans escura que se agarrava às curvas das suas pernas esguias e torneadas. E com essa bela visão, o frio da noite evaporou do seu corpo que agora ardia em chamas.

Em cumprimento, Filippo entregou o buquê de rosas para a mãe de Thomas, não se demorando muito a voltar sua atenção para a figura deslumbrante do homem que estava a sua frente.

— Esses são para você… — Thomas tomou o presente com as mãos trêmulas.

As matriarcas estreitaram os olhos sussurrando palavras e admirando a cena com os corações palpitando. Tentando manter as emoções sob controle, quando já começavam a imaginar o casamento em um ensolarado e perfumado dia de primavera.

— Dio, não precisava. — E novamente aquele gelado na barriga, enquanto procurava as palavras conforme seu coração batia acelerado no peito. — Mas agradeço a sua gentileza.

Não era de todo verdade, "Pois é claro que precisava…" Thomas admitiu para si mesmo. Como Felippo soube o quanto ele amava aquela marca de chocolates suíços? Mesmo que eles pudessem lhe custar uma boa parcela do seu salário a cada aquisição gastronômica.

Mas não demorou para que ele soubesse a resposta, quando pousou os olhos nas duas mulheres que cochichavam os seus segredos.

— Nós iremos deixá-los a sós... — expôs Pietra com um piscar de olhos para sua cúmplice. — Miranda e eu temos muito o que conversar antes do jantar. 

— Isso mesmo. — acrescentou Miranda, com os lábios se retorcendo em uma risada. — Fiquem à vontade. E não se importem com a nossa presença. 

Filippo fingiu não entender quando era clara a intenção das suas mamas. Ele não deixou de sorrir quando sua mãe desapareceu no corredor em direção à cozinha, sabendo melhor do que ninguém o significado por trás daquele gesto.

— Então… — Thomas engoliu em seco, não sabendo como prosseguir com aquela situação que tinha se instalado entre os dois.

Filippo era capaz de deixá-lo sem palavras. Abobalhado era uma palavra que caía perfeitamente bem em como ele se sentia. Um bobalhão apaixonado.

— Então? — devolveu Filippo, considerando o momento em que envolveria Thomas em seus braços.

Thomas olhou para os lados e, sem Filippo esperar ele o agarrou pelo braço e o puxou em direção à escada. Já parados em frente a porta do seu quarto no corredor parcialmente iluminado, ele cambaleou um passo para trás com a proximidade perigosa com a que ele e Filippo agora se encontravam, mas impetuoso como era, o moreno o puxou com suavidade pela cintura.

Assustado com o agarre, Thomas deslizou a ponta dos seus dedos pelo peitoral de Filippo, sentindo a textura rígida dos músculos embrulhada na textura suave do tecido fino.

Ele arfou de desejo.

Há quanto tempo ele não se sentia vivo como agora nos braços fortes de outro homem? Thomas não tinha a resposta para essa pergunta, porque ele nunca havia tido sentimento igual a esse antes. O que sentia por Marcello não se comparava em nada a esses novos sentimentos.

Era magnético e muito perigoso também. Principalmente quando se levava em consideração que eles ainda não passavam de estranhos um para o outro.

— Nós não podemos continuar com essa brincadeira. — disse por fim. — É muita loucura da nossa parte.

Filippo deixou o aperto em volta da sua cintura ainda mais forte, com isso deixando claro que não iria soltá-lo por nada no mundo. O toque delicado em seu peito e o perfume suave da pele de Thomas estavam deixando-o fora de si.

Ele aproximou seus rostos com as bocas a centímetros de distância. O corpo de Thomas estremeceu em seus braços e a caixa de bombons caiu no chão. Filippo deu a volta em seu corpo prendendo Thomas contra a parede, certo de que agora ele não escaparia do aperto firme dos seus braços.

— Quem disse que é somente uma brincadeira? — prosseguiu. — Amore mio.

Thomas espremeu os olhos segurando o gemido de sair da sua boca quando o frescor morno dos lábios de Filippo deslizou como uma brisa em seu pescoço desprotegido de qualquer tecido. A textura áspera da barba em sua pele lisa provocou uma sessão de arrepios, enquanto o aperto possessivo sobre a sua cintura trazia uma descarga diretamente ao seu membro.

— Por favor, não faça isso comigo, Filippo, eu te imploro. — pediu. — Isso é demais para mim.

— Perché no? (Por que não?) — manifestou sua indignação. — Não me venha dizer que não sente o que eu sinto.

Sim. Poderia ser insanidade da sua parte querer assumir tamanho sentimento por alguém que você tinha tão pouco conhecido. No entanto, esperar mais tanto tempo não era o que Filippo buscava mais a ter em sua vida, não quando ele tinha absoluta certeza de ter encontrado a pessoa que ele sabia ser a certa para se viver.

Pouco lhe importavam as críticas, e Filippo pouco se importava também se poderiam julgá-lo por ter se deixado levar pelo que ele considerava ser o verdadeiro amor da sua vida. Ele apenas queria ter a certeza de que Thomas era seu.

— Filippo…

— Apenas seu, meu Thomas. — confessou com os olhos injetados de paixão. — Basta dizer-me para não desistir de ti.

Alguns meses haviam se passado desde aquele desastroso dia, mas o passado parecia não querer deixar Thomas em paz, pois sempre estava o atormentando com as suas lembranças, até um dia atrás, o dia em que ele tinha conhecido o homem que o segurava em seus braços como se tivesse medo de soltá-lo e nunca mais vê-lo em sua vida.

A insegurança e o medo sempre foram seus mais cruéis inimigos, mas agora eles se tornaram um abismo ainda maior entre o que poderia significar ou não a sua felicidade.

Como poderia entregar seu coração a alguém que ele nem ao menos conhecia direito? A resposta era clara, ele apenas tinha que se abrir para que isso acontecesse. Porém, Thomas não tinha certeza se estava realmente preparado para essa nova jornada.

— Eu preciso falar.

.

.

.

Os minutos seguintes foram definitivos para Filippo ter a certeza de que não iria desistir com facilidade. Thomas não poderia simplesmente decidir em não aceitar o seu carinho e o seu amor por causa de uma maledetto filho de uma puta.

Ele limpou a lágrima que desceu pelo belo rosto de Thomas e beijou delicadamente a bochecha úmida e salgada. Nenhuma lágrima deveria ser derramada pelo seu menino, mas sabia que Thomas apenas chorava por relembrar de toda a maldita traição que tinha sofrido.

Independentemente de ser em um relacionamento entre familiares ou até no ambiente de trabalho, não existia nada mais asqueroso do que a traição para Filippo. A verdade sempre era a melhor das escolhas em todas as áreas da vida, independente do sofrimento que ela pudesse causar.

Esse era apenas mais um dos traços que herdara do seu saudoso pai.

— Não chore. — continuou. — O passado não merece a sua dor.

Os dois ainda continuavam na mesma posição de minutos antes, sendo que agora Thomas se sentia mais calmo ao corpo de Filippo. Contar toda a "história" para ele pareceu ter tirado de uma vez por todas, aquele fardo das suas costas.

Mas, ainda assim, ele ainda sentia aquela persistente insegurança.

— Temos que descer para o jantar. — ele soltou-se dos braços de Filippo. — Já passamos muito tempo aqui em cima.

Thomas fez menção de descer as escadas, mas novamente Filippo o impediu segurando gentilmente em seu braço.

— Não sem antes me dar uma resposta. — disse com firmeza. — E agora. —

Thomas o olhou magoado.

— Eu não posso me ver outra vez na mesma situação, Filippo.

— O que? — Filippo disse tenso. — Você realmente está me comparando àquele puto?

— E por que não? — a voz dele saiu quebrada — Eu nem ao menos o conheço.

No mesmo instante Thomas se arrependeu do que tinha falado. Filippo agarrou seu corpo outra vez, a diferença de que agora com um ar totalmente ameaçador. Thomas prendeu a respiração ouvindo apenas o arfar pesado da respiração de Filippo contra o seu rosto.

— Nunca mais me compare a esse maledetto. — ele sussurou, ordenando a si mesmo que mataria o homem que enganou seu amado se o tivesse em suas mãos. — Eu sou a porra de um homem, Thomas, e não um moleque que ainda fede a mijo.

Thomas olhou para o olhar de Filippo totalmente seguro de suas palavras. Então Filippo avançou sobre ele, sem direito a resposta, invadiu a sua boca em um beijo faminto e necessitado. Um suspiro saiu de seus lábios, seus pés saíram do chão e as suas pernas cambaleram quando suas nádegas foram suspensas pelas mãos fortes de Filippo. 

Thomas finalmente abriu os olhos quando o beijo terminou em pequenos estalos molhados por todo seu rosto. Com os lábios inchados e a cueca molhada de uma maneira insana.

— O que foi tudo isso? — Thomas acariciou seu rosto.

Filippo inalou profundamente. 

— Apenas uma amostra do que te espera, bello mio.

Thomas sorriu.

— Apenas não me faça sofrer.

— Não se prenda ao passado. — Filippo não hesitou em responder. — Não quando o futuro bate à sua porta.

[...]

Horas depois...

Filippo balançou a cabeça olhando para ele com um sorriso arteiro. Thomas assentiu mudamente comendo mais um pedaço do pudim de ameixas e tomando um generoso gole do vinho branco.

A imagem de Miranda e sua mamma preenchiam seus olhares. O encontro das duas poderia ser definido como um evento espalhafatoso, enquanto os olhares que Filippo lhe direcionava, poderiam ser lidos como incandescentes e vorazes. Thomas se sentia completamente nu diante daqueles olhos azuis, essa era a verdade.

— Eu creio que não é segredo para ninguém nessa mesa o motivo desse jantar. — Filippo dirigiu-se para as mulheres. — Mas eu receio que o que eu tenho a contar tenha colocado por água abaixo o plano das duas belas senhoras.

Um arrepio correu ligeiramente sobre a coluna de Thomas, havia chegado o momento tão esperado da noite. As duas mulheres pararam de conversar deixando suas mãos caírem sobre as pernas. Filippo o olhou mais uma vez e finalmente Thomas concordou.

— Bambino… — Miranda pigarreou várias vezes antes de continuar. — O que você está querendo dizer com isso?

— Thomas e eu estamos namorando. — disse Filippo, lançando mais um olhar divertido a Thomas. — Pelo menos até que ele aceite a minha proposta de casamento.

— Mas… — As mulheres levantaram as vozes juntas. — Tão rápido?

Filippo levantou-se da mesa se aproximando de Thomas, ele sentiu um sorriso tomar seus lábios ao se levantar e ter a sua cintura agarrada.

Thomas limpou a garganta.

— Não era isso que as senhoras queriam, afinal? — disse Thomas, pondo a mão sobre o peito de Filippo. — Pelo que me consta, as senhoras vinham planejando esse encontro há semanas.

— Exatamente. — diante da afirmação de Thomas, Filippo acrescentou. — Apenas não esperavam que o destino nos colocasse juntos antes desse jantar.

Pietra tomou um generoso gole do vinho em sua taça, acompanhada de Miranda que que se abanava com o guardanapo de tecido. As mulheres se olharam, entreabrindo os lábios para a peça que o destino as havia pregado.

— E como isso aconteceu? — perguntou Pietra após um longo suspiro de surpresa.

No fim, Thomas começou a narrar toda a "história". Desde o salvamento à beira da árvore ao primeiro beijo apaixonado que o fez se entregar de vez aquele italiano, não poupando as suas mães de nenhum detalhe, sendo capaz de deixá-las rubras de vergonha.

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