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          Filippo estacionou o carro na garagem do subsolo. Abriu a porta para a área de serviço e atravessou a lavanderia em direção à cozinha. Pegou uma maçã na fruteira antes de sair, dando uma mordida tirando seus sapatos e jogando seu corpo no sofá em L na sala de estar do casarão.

Ele tinha um sorriso abobalhado no rosto, não somente por Thomas ter aceitado participar do seu plano, mas ao se dar conta de que já estava perdidamente apaixonado por aquele loirinho repleto de timidez.

Sentia-se na puberdade com a testosterona exalando pelos poros. Não tinha como ele não sentir essas sensações, e isso era o melhor em tudo isso. Nenhum outro homem em sua vida tinha lhe causado esse terremoto avassalador de emoções.

Ele não era nenhum Don Ruan, mas não tinha como esconder seus casos repletos de noites de muito sexo. No entanto, Thomas soava diferente de tudo o que já vivera. Nele, Filippo sentia a necessidade de proteção, cuidado e respeito da forma mais pura.

Para ele, amor à primeira vista não passava de um conto poético dos livros e filmes de romance açucarados, um teatro para se enganar a quem quisesse ser enganado. 

Mas agora não conseguia tirar dos seus pensamentos aqueles olhos de avelã, e a sua boca que parecia ser tão macia e suculenta ao toque de sua língua. Ele não podia ir contra e dizer que a sensação gelada em sua barriga não eram as borboletas tremulando em seu interior pela primeira vez em todos esses anos de solteirice.

Bastou apenas alguns segundos de encontro com aquele homem, para Filippo Ferretti perceber que estava irrevogavelmente apaixonado. 

O seu coração e a sua alma já tinham decretado isso.

[...]

Era loucura, sim, muita loucura! Uma grandíssima loucura… Thomas sabia disso melhor do que ninguém. Mas apesar de tudo, aquela ideia mesmo que infantil lhe parecia ser a coisa mais fascinante nesses últimos meses de completa tristeza.

Diversão, essa era a palavra chave. Então por que não jogar toda a tática do jogo contra as rainhas do tabuleiro? Xadrez sempre pareceu ser um jogo fascinante.

Sorriu.

Sua mamma não estava em casa quando ele entrou olhando cada cômodo, o que rendeu a ele um suspiro de alívio. Ele não queria ter que explicar sobre a velharia empacada na estrada, e muito menos sobre o homem que o trouxe de carro

Esse não era o momento.

Filippo… - um sorriso escapou dos seus lábios. Esse não era o momento de se ter ilusões com outro homem, mas aquele belo moreno estava sendo capaz de mudar as suas ideias de nunca mais se apaixonar. 

Ele era gentil, amável, carinhoso e absurdamente bonito. Não que a beleza fosse o seu principal objetivo em um possível futuro parceiro, mas não poderia negar que aqueles olhos azuis e o corpanzil de 1.90 escondido por trás daquela jaqueta de frio seria capaz de parar o trânsito de Roma.

O seu olhar profundo não saía da sua cabeça, e o toque dos seus dedos pareciam arder sobre a sua pele. Oh Dio - ele deslizou a mão pelo rosto, fechando os olhos e imaginando que eram os dedos dele.

Após a traição, Thomas tinha perdido qualquer esperança no amor.

Ver a quem ele considerava um amigo transando com o seu então namorado em cima da sua cama, foi o estopim para o fim de um relacionamento de três anos. A ferida ainda era recente e doía em seu coração, a mágoa que ele tinha daqueles dois canalhas moribundos não iria desaparecer tão cedo da sua alma.

No entanto, de uma forma que ele desconhecia,  Filippo Ferretti tinha amenizado um pouco essa sua dor. Fazendo-o sorrir apesar do encontro inusitado que eles tiveram e, principalmente, fazendo-o se sentir desejável outra vez.

Um homem que podia ser atraente, e que talvez pudesse novamente abrir seu coração para um novo amor.

Mas seria ele capaz de se abrir para esse reencontro com a felicidade? Thomas ainda tinha as suas dúvidas.

[...]

Pietra andava alvoroçada de um lado para o outro da pequena cozinha. Era uma cena cômica observar uma senhora loira, de baixa estatura e rechonchuda saltando entre as panelas e a bancada, dando os seus toques finais no jantar daquela noite.

Tudo tinha que correr perfeitamente. Estupendo. Como ela sempre falava para algo que era do seu agrado. Essa era uma noite decisiva para a vida do seu único filho. Tinha que ser uma noite decisiva, pois ela não sabia mais o que fazer com esse menino.

Já estava ficando velha: rugas apareciam em seu rosto e fios brancos começavam a aparecer sobre a cor dourada dos seus cabelos ondulados.

Não que aos quarenta e sete anos ela se sentisse uma senhora cheia de problemas de saúde e caquética. Mas o medo de se ir e deixar o seu amado filho sozinho no mundo a atormentava. Todas as mães estavam destinadas a ter esse doloroso sentimento no peito, ela tinha certeza disso.

Thomas era um menino tão bom, e que apesar de ter se fechado para o amor após aquele maledetto, ela sabia que um pequeno empurrão seria o suficiente para fazer ele se abrir para o mesmo novamente.

Apenas teria que ser com o homem certo. E ela esperava que agora tivesse acertado em cheio na sua escolha, e encontrado a metade da laranja do seu bambino.

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— Oh, meu São José… — exclamou Pietra. — Eles chegaram, bambino.

Thomas pulou do sofá, acompanhando com o olhar a sua mãe descer a escada em direção à porta de entrada. Então a campainha tocou segundos depois dela segurar a maçaneta, ela parecia ter cronometrado o tempo, pois desceu como um furacão vestida em um traje vinho muito elegante.

Nunca a tinha visto exalar tanta felicidade em muito tempo, e de certo a felicidade dela também era a sua. Apesar dele achar que Pietra não gostaria nada, quando soubesse o que ele e Filippo planejaram.

Ele esperava que isso trouxesse boas gargalhadas. 

— Vem cá menino. — Chamou-lhe baixinho. — E não seja rude.

— Eu não serei, mamma.

Um pouco apreensivo, Thomas colocou o corpo ao lado do dela. Mas por quê ele estava tão nervoso? Quando tudo estava perfeitamente planejado entre os dois, mas ele ainda sentia aquele friozinho irritantemente gostoso no pé da barriga. 

Aquela sensação de algo totalmente novo. Genuíno, essa era a palavra que estava buscando entre seus pensamentos. 

[...]

— Se apresse, Filippo. — Miranda Ferretti soava ameaçadora quando bem queria. — Não me faça te puxar pelas orelhas, bambino.

Filippo segurou uma risada, descendo do carro com certa dificuldade quando tinha que segurar em suas mãos o enorme buquê de rosas vermelhas e uma caixa ricamente decorada de bombons finos.

Mas a mulher na frente dele não se importava com nada disso. A figura bem apessoada dentro de um vestido azul marinho de grife, coque alto e implacáveis olhos azuis não ligava para seus poucos problemas. 

Miranda queria acelerar tudo o mais rápido possível, pois se dependesse de Filippo ele nunca iria se casar. E isso ela não podia aceitar, nem na pior das hipóteses.

O seu único filho era um bom rapaz, mas tão tonto quanto o seu falecido pai era quando mais jovem. Agora restava apenas a ela a árdua tarefa de arrumar um bom pretendente para o seu primogênito. Um homem que pudesse ser dedicado à família, sem interesses e que amasse crianças.

Pois ora, apesar das circunstâncias ela ainda queria netos, alguns para falar a verdade. Não que ele precisasse, mas agora, Miranda estava certa de ter encontrado o par perfeito, e que em todos os casos fosse capaz de colocar Filippo em um bom caminho.

— Agora preste bem atenção, Filippo. — Miranda segurou-o pelas bochechas, as apertando enquanto sorria orgulhosa da sua cria. Ela tinha feito um excelente trabalho ao parir esse belo ragazzo. — Use esses belos olhos que eu lhe dei, e encante esse gracioso rapaz, meu filho.

Filippo assentiu não escondendo seu constrangimento. Ele nunca tinha visto a sua mãe em tal grau de animação com um possível pretendente seu.

— A única coisa que eu te peço é que você o conquiste. — continuou. — E que me dêem muitos pimpolhos para amassar as bochechas. — sorriu sonhadora. — Três é um bom número para começar.

— Mamma…! — ponderou com espanto. — A senhora só pode estar ruim das ideias. 

— Mais respeito com a sua mãe, bambino. — disse sugestiva. — Mas você está certo, seis é um número mais adequado. Par é amigo da sorte.

E antes que Filippo pudesse ir contra a sua vontade, Miranda tocou a campainha, forçando-o a ficar calado quando a porta se abriu de imediato. 

Aquela noite seria realmente interessante.

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