Vida Dupla

      — Jenny? Hey, acorde! — Cobri a cabeça com o travesseiro ao ouvir a voz de Brandon ecoar em minha cobertura. Sentia minha cabeça zunir e latejar, de certo devido a bebedeira da noite anterior. — Outro porre?

       — E isso é da sua conta? — Tirei o travesseiro abrindo os olhos lentamente tentando acostumar-me com a claridade que entrava pela parede de vidro que dava vista para a cidade. Ah, como eu havia me arrependido de alugar aquela cobertura. — E como você entrou aqui?

          —  Quando eu te encontro nesse estado após ter-lhe pedido para cumprir um serviço para mim, então sim, é da minha conta. — Ele encarava a extensão do meu corpo nú ainda de bruços na cama, cercado por garrafas de vinho. — E entrar não foi difícil, você deixou a porta aberta com o cartão caído do lado de fora.

        —  Droga! — Murmurei me levantando, pegando um roupão vermelho de seda usando-o para cobrir meu corpo. Acendi um cigarro enquanto ia até a máquina de expresso, colocando uma cápsula nela. — Bom, quanto ao serviço, você não precisa se preocupar. Aquele imbecil já está fora do seu caminho, aqui está o que você queria. — Caminhei até o criado mudo, abrindo a gaveta tirando um pen drive dali, esticando a mão enquanto ele pegava o olhando com cobiça.

       — Você é incrível Jennifer Claim, nós poderíamos, sabe, sair um dia desses para comemorar. — Toda sua luxúria pousou sobre meu corpo, fazendo-me morder o lábio. Segurei seu queixo com o indicador olhando aquele seu rosto angelical, quem o visse nem imaginaria que é uns dos maiores mafiosos da cidade.

       — Quem sabe. — Soltei seu queixo voltando minha atenção ao expresso que exalava seu cheiro por todo o ambiente. Tomei um gole da bebida vendo Brandon sair do local enquanto eu admirava seu físico. Alto, loiro dos olhos azuis, corpo escultural, aquele homem era o desejo de muitas mulheres, mas não era o meu foco. Apaixonar-me não estava nos meus planos e só iria me atrapalhar. Além do mais, não me imaginava junto à Brandon tendo que aturar a insuportável da irmã dele, uma mulher mimada que agia como uma criança quando não conseguia o que queria. Sai de meus devaneios quando ouvi o toque do meu iPhone e caminhei em sua direção vendo o nome de Aisha na tela.

       — Bom dia, flor do dia. — Ouvi sua voz após atender a ligação sem muito entusiasmo.

        — Você e sua animação diária me encantam. — Respondi irônica. Já não era de hoje que eu estava incomodada com a pressão que Aisha fazia em cima de mim para saber o que eu escondia dela. Ela era minha melhor amiga, conheci ela na faculdade de biomedicina e desde então, ela era como uma irmã para mim. Contudo, não podia me permitir contar tudo o que assolava minha vida para ela. O problema é que Aisha é uma mulher esperta, astuta, e começou a perceber minha vida dupla, seu interesse em saber o que eu fazia quando não estava com ela começou a me deixar apreensiva e até mesmo, desestabilizou um pouco a nossa amizade.

        — Olha... Eu sei que você está magoada comigo por estar te pressionando. — Sua voz soava receosa mas ainda calma, aquele seu timbre doce poderia convencer qualquer um à fazer o que ela quisesse. — Eu só estou preocupada com você. Sabe que sou sua amiga e que pode me contar qualquer coisa, não sabe?

         — Eu sei disso, Aisha. Mas também quero que você saiba que eu não gosto que me sufoquem. Preciso que você confie em mim, está tudo bem, entendeu? — Pude ouvi-la fungar do outro lado da linha e depois de alguns segundo de silêncio ela finalmente assentiu.

      — Tudo bem, você venceu, não vou mais tocar nesse assunto. Mas sei que um dia você ainda vai confiar em mim para contar. — Revirei os olhos com sua insistência. — Até lá, eu terei paciência.

       — Assim espero. — Dei um sorriso de lado lembrando-me que tinha a agenda cheia para o dia. — Agora eu preciso desligar. Nos vemos à noite na boate de sempre?

      — Sem dúvidas, amiga. Até mais.

         Pude enfim ir preparar um banho, ligando a hidromassagem e preparando alguns sais de banho que me ajudavam a relaxar. Afundei meu corpo naquela água quente sentindo meus músculos aliviarem. O cheiro de eucalipto das velas aromáticas também me ajudavam a clarear meus pensamentos me deixando totalmente à vontade naquele momento. Após perder a noção do tempo ali, levantei-me lembrando que precisava encontrar com Ethan em seu escritório. Ele havia marcado comigo dizendo que precisava falar algo urgente, o que era estranho vindo dele já que, nada era tão urgente que pudesse tirar sua paz ou mudar seu jeito irônico e arrogante.

       Não demorei muito à me arrumar, colocando uma sandália preta simples com um salto fino porém pequeno, acompanhado de uma saia também preta, justa e um pouco abaixo do joelho com uma fenda lateral, seguido por um cropped mostarda de gola alta. Prendi meu cabelo com um coque, deixando duas mechas frontais soltas, coloquei um brinco de argola e um óculos escuro para disfarçar o frizz. Não sei nem se pode se chamar isso de maquiagem, mas passei apenas um batom vermelho escuro e um rímel, nem todo dia eu tinha disposição para fazer uma maquiagem completa e nem ligava muito para isso.

         Peguei a chave do carro e o cartão da porta e saí, ao me encontrar saindo da garagem não pude deixar de novamente notar todo aquele caos novaiorquino. Era incrível como as pessoas estavam sempre apressadas e atarefadas, muitas andando com suas pastas abarrotadas de papéis e seus expressos transbordando de seus copos. Ninguém olhava para a cara de ninguém, ninguém cumprimentava ninguém, apenas andavam apressadamente olhando em seus celulares esbarrando com tudo que estava à sua frente. Eu não conseguia imaginar como as pessoas conseguiam viver daquela forma, felizmente eu tinha meus privilégios, meu tempo que fazia era eu mesma. Nunca gostei de me apressar e nem que me apressassem e era isso que me fazia ter maestria em 100% das minhas missões, tudo era muito bem articulado, muito bem calculado e executado de forma sublime, não importava o tempo que demorasse.

          Não demorou muito até que eu chegasse naquela enorme construção com um chafariz em sua fachada. Sua pintura como nova e as plantas devidamente regadas. Entrei com o carro no estacionamento chegando até o porteiro, que já tinha autorização para deixar meu carro passar e foi o que ele fez recebendo um singelo sorriso meu. Desci do veículo indo em direção ao elevador apertado o botão do último andar. Caminhei pelo corredor indo até aquela enorme porta, que ao lado tinha a mesa da secretaria.

      — O senhor Ethan já está à sua espera. — Ela se levantou indo até a porta, abrindo-a para mim.

        Ethan estava sentado em sua cadeira de costas para mim, seu reflexo entregava seus olhos verdes brilhantes encarando a vista da cidade. Ao se dar conta de minha presença, ele levantou-se vindo em minha direção.

       — Jenny, que prazer te ver novamente. — Ele pegou minha mão, beijando-a suavemente. Era tão galanteador quanto arrogante.

       — O prazer é meu. Mas não faz tanto tempo assim que não nos vemos. — Dei-lhe um sorriso irônico vendo-o retribuir.

          — Você tem razão, mas eu nunca enjôo da sua companhia. E é justamente por isso que lhe chamei aqui hoje. — Ele deu a volta por trás do meu corpo, se aproximando do meu ouvido. — Quero que saia comigo está noite.

        — Sair com você? — Ethan e eu já havíamos saído outras vezes, mas nunca fui afundo com ele, nada além de uns drinks e umas besteiras ao pé do ouvido. Ethan era um homem perigoso, fazia qualquer mulher se apaixonar rapidamente por ele, e era justamente o tipo de cara que eu queria bem longe mim. — Quer dizer que você me chamou aqui dizendo ser urgente, só para me convidar para sair com você?

        — Exatamente. — Ele falava ainda próximo do meu ouvindo me causando leves arrepios.

         — Você é louco, sabia? — Soltei uma leve gargalhada me virando, ficando frente à frente com ele.

         — Sou louco por você, Jennifer. — Ele pousava sua mão no meu queixo enquanto piscava para mim.

        — Sem chance, Ethan. Já te falei que não dariamos certo. Aliás, hoje eu já marquei de sair com uma amiga.

        — Você sabe que uma hora ou outra vai acabar cedendo aos meus encantos... — Ele aproximou sua boca da minha, olhando profundamente em meus olhos. — Não sabe?

         — Isso... — Colei nossos lábios ainda mantendo o contato visual com ele. — É o que nós vamos ver. — Me afastei dele indo em direção a porta, piscando para ele antes de ir embora.

        Já em meu carro eu ainda não acreditava que ele havia me chamado aqui apenas para isso. Eu realmente deveria tomar cuidado com esse homem, ou ele poderia acabar virando minha cabeça.

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