Velho Amigo

[Este capítulo tem conexão com a obra My Pleasure, se você não tiver lido ela, não tem problema, isso não irá interferir em sua leitura. Porém para quem leu, o capítulo pode ser mais interessante e mais emocionante.]





         Acordei de manhã vendo que ainda eram 09:00, Ethan estava deitado de bruços com seu braço sobre minha cintura. Me levantei devagar sem querer acorda-lo e pedi o café da manhã pelo tablet da suite. Coloquei o roupão e me sentei na beira da piscina colocando meus pés a água sentindo todo meu corpo se aquecer. Acendi um cigarro e fiquei observando o céu através do teto solar, o dia estava nublado, senti meu corpo todo se arrepiar como se algo fosse acontecer. Tive um mal pressentimento mas pensei que talvez pudesse ser coisa da minha cabeça.

     — Eu te disse no meu escritório, sabia que você iria cair nos meus encantos. — Ele se sentou ao meu lado me olhando vitorioso.

    — Deixa de ser ridículo que quem já estava caidinho por mim era você. — Eu dei um sorriso que logo se fechou, algo não estava certo.

      — Está tudo bem? — Ele me olhou apreensivo e eu apenas continuei fitando o tempo vendo algumas gotas de chuva começarem à cair sobre o teto.

      — É... Acho que sim. — Resolvi não dar muita atenção aquele sentimento e apenas terminei meu cigarro. Minutos depois o café da manhã chegou e nós comemos em silêncio. Ethan tentava soltar uma palavra ou outra mas eu não estava muito animada. Pedi à ele para que me deixasse em casa e assim ele o fez, insistindo para entrar no apartamento e me fazer companhia, mas eu neguei. Queria ficar sozinha. Deitei um pouco no sofá para descansar os olhos mas logo meu celular tocou e vi que era um número ao qual eu não conhecia.

      — Alô? — Geralmente eu não atendia ligações de números desconhecidos, mas já estava sentindo que algo de errado estava por vir.

     — Jennifer? Sou eu, Minna. — Precisei pensar por uns segundos até me lembrar quem era. Ela nunca gostou de mim, não haviam motivos para ela estar me ligando.

     — Oi Minna, quanto tempo. Algum problema?

     — Na verdade, sim. Estou te ligando porque... — Pude sentir sua voz falhar antes que ela pudesse terminar a frase. — É sobre o Jared, ele... Ele morreu. — Nesse momento senti todo o meu corpo estremecer, não consegui responder, fiquei imóvel tentando processar aquela informação. — Como eu sei que vocês eram bons amigos, que decidi que era justo te avisar, o velório será hoje.

      — Aonde? — Não consegui dizer muito mais do que aquilo, ainda não estava acreditando no que havia acabado de ouvir.

      — Nós viemos para a casa da filha dele na Pensilvânia, ele morreu com a esposa dele no Brasil mas nós pedimos para que os corpos fossem tragos para cá.

      — Tudo bem. Estou em Manhattan, vou tentar chegar aí o quanto antes. — Minna disse que me mandaria o endereço por aplicativo de mensagens e desligou. Não me dei tempo de desabar no sofá como eu queria e fui rapidamente até a garagem pegar o carro para sair o quanto antes, seriam em torno de três horas de viagem e eu não queria perder tempo. Jared havia sido uma das pessoas mais importantes da minha vida, inclusive, o primeiro e único homem pelo qual eu me apaixonei, mesmo que tenha sido uma paixão rápida e passageira. Eu tinha 22 anos e naquela época, eu ainda era um pouco ingênua.

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    — E aquele cara da balada que vive te pagando drinks e te chamando para sair? — Aisha me questionou, curiosa e eu senti minhas bochechas corarem.

      — Quem? O Jared? — Me fiz de desentendida sabendo que ela estava falando dele.

     — Claro né, amiga. E quem mais seria? — Ela riu batendo em meu ombro.

      — Ontem ele me mandou flores e esse cartão, olha só. — Entreguei o papel para que Aisha pudesse ler.


       "Tive vontade de enviar flores. Motivo? Não há. Até sem motivo é bom pensar em você."


         — Ai que fofo. Além de gato ele é romântico. — Nós não pudemos segurar o riso e logo eu peguei meu celular virando-o para ela.

        — Olha, depois que eu passei meu número para ele não tem um dia que a gente não converse. — Passei as mensagens, enquanto pensava se eu não estava sendo muito ingênua. — Mas não sei, eu acho que ele só faz isso porque quer transar.

       — E não é o que você quer? — Ela me fez pensar por um instante, de fato eu também queria, mas não era só isso.

       — Eu quero, mas também queria que com ele fosse diferente, sabe?

      — Você está apaixonada! — Ela dizia empolgada, batendo palminhas.

     — Claro que não! Você está louca! — Neguei com a cabeça, cruzando os braços.

      — Claro que sim! — Ela acabou arrancando um riso meu com aquela reação exagerada. — Toma cuidado, ele tem cara de cafajeste.

    — Eu sei, por isso estou com medo. — Me encolhi um pouco em pensar na rejeição.

     — Amiga. — Aisha virou meu rosto para ela com as duas mãos me encarando com um olhar animador. — Quem não arrisca, não petisca.

      — Você tem razão! Eu vou sair com ele. — Falei confiante enquanto terminavamos nosso almoço, pedindo a conta do restaurante.

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       A viagem parecia ser infinita, sentia como se não fosse chegar lá nunca. Algumas lágrimas rolaram durante o caminho com as lembranças. Após uns meses de volta aos Estados Unidos, ele me mandava mensagens contando o quão feliz estava que ia ser pai de novo e que estava perto de sua filha. Eu realmente não podia acreditar que isso estava acontecendo com ele no momento mais sublime da vida dele.

      Cheguei ao endereço que Minna havia me passado, a porta da casa estava aberta e haviam poucas pessoas. Quando entrei, pude ver dois caixões no centro da sala, um deles, estava semi aberto e havia uma mulher nele, que eu logo deduzi que fosse a sua esposa. Apesar de estar pálida e extremamente magra, dava para ver o quão bonita ela era. Ao lado, o caixão de Jared estava fechado, havia apenas uma foto dele em cima junto de muitas flores. Ele estava tão lindo e radiante na foto, era impossível acreditar que eu jamais o veria novamente. Vi Minna e Marina na cozinha e me dirigi até lá, fazendo com que a atenção de ambas se virassem para mim.

     — Eu sinto muito. — Foi a única coisa que minha boca pode proferir naquele momento. Sua filha parecia inconsolável enquanto Minna dava à ela toda a assistência possível.

      — Eu vou ficar mais um pouco ao lado do caixão antes que a funerária leve. — A garota falava entre soluços enquanto saia da cozinha.

      — Você quer tomar alguma coisa? Uma água, um café. A viagem deve ter sido cansativa. — Ela me oferecia, segurando a voz tentando ser forte.

      — Não, obrigada. Eu estou bem. — Ficamos em silêncio por alguns segundos até que eu o quebrasse. — O que aconteceu?

       — É uma história muito complexa. Tudo começou quando, pouco tempo depois que os gêmeos nasceram, Jared descobriu que haviam sequestrado o Alexander. Ele decidiu então que voltaria ao Brasil para ajudar o filho e Eva decidiu ir com ele. Quando eles saíram, eles já sabiam que não iriam voltar. — Os olhos dela se encheram de lágrimas e ela as secou rapidamente tentando se manter firme. — Quando eles chegaram lá, era uma emboscada, Jared percebeu que o carro ia explodir e empurrou Eva para fora na tentativa de salva-la. O que não adiantou, já que ela foi baleada logo em seguida. — Quando ela acabou de falar foi minha vez de segurar as lágrimas, imaginar tudo que eles passaram era doloso demais. — Eu vou ficar ao lado da Marina agora, o carro da funerária chegou.

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      Quando minha última gota de suor caiu sobre o corpo de Jared, eu me permiti descansar sobre seu corpo nu enquanto ele acariciava meus cabelos.

      — Está tudo bem? — O encarei vendo sua expressão seria. — Você parece distante.

      —  Já faz algumas semanas que estamos nos vendo, saindo juntos e dormindo juntos. E eu queria ter uma conversa com você. — Fiquei apreensiva mas não quis interromper ele. — A verdade é que, eu já amo uma mulher e não quero acabar te magoando com isso. Você é incrível, mas meu coração tem dona.

      — Se você já tem compromisso com alguém, por que quis que eu saísse com você? — Me levantei rapidamente da cama, incrédula.

     — Não, não me entenda mal, eu não sou casado. — O olhei confusa e esperei que ele terminasse sua explicação. — Eu amo uma mulher mas nós não temos mais nada. Eu só estou te contando isso porque não quero que você espere de mim um amor que eu nuca vou poder te dar. Eu adoro sair com você, e gostaria de continuar saindo, mas quero ser transparente com você, e que se decidir continuar dormindo comigo, que seja sabendo da verdade.

      — Quem sabe eu não possa fazer você esquecer ela. — Me sentei à sua frente acariciando sua nuca.

      — Isso é impossível, ninguém pode me fazer esquecer ela. Eu quero continuar saindo com você, mas não quero te dar falsas esperanças.

     — Sair juntos mas sem compromisso, é isso? — Falei um pouco desapontada.

     — E sendo bons amigos. Se você quiser, é claro. — Ele pegou minha outra mão beijando-a e a colocando em seu rosto.

      — Tudo bem, acho que posso lidar com isso. — O respondi colando nossas bocas.

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      Depois daquele dia, Jared e eu saiamos casualmente e criamos uma amizade muito forte. Ele acabou me contando sobre seus negócios e eu o contei que era uma assassina, nem é preciso dizer que o trabalho também fluía bem entre nós dois. Naquela época ele estava deixando sua filha nós estados unidos e me convidou para ir para o Japão com ele, como eu já estava sendo procurada, decidi que estava na hora de sair do país um pouco e aceitei sua proposta. Ao longo do tempo, começamos a transar menos e a amizade começou a prevalecer mais, até o ponto em que já nem dormimos mais juntos, mas contávamos sobre tudo um para o outro e meus serviços prestados para ele eram excepcionais, não havia nenhum inimigo seu aí qual eu não pudesse abater. Ao sair dos meus devaneios, vi os caixões começarem a descer, a dor que se formou em meu peito era inigualável, só havia sentido isso quando Helen morreu. Ali, naquele momento, eu realmente entendi que Jared não estava simplesmente morto, alguém havia o assassinado.

     — Minna, espera! — Falei ao final do enterro antes que ela fosse embora. Ela olhou para trás esperando que eu me manifestasse. — Quem foi que fez isso com eles? — Pude ver ela exitar por um momento, até que enfim ela pronunciou aquele maldito nome.

      — O Gael. — Ela abaixou o olhar e eu me lembrei de todas as vezes que Jared havia me dito o quanto esse cara estava atrapalhando ele.

     — Obrigada. Por tudo. — Eu sabia que Minna nunca gostou de mim porque sentia ciúmes da minha relação com Jared, mas o fato dela ter me contado o que aconteceu me deixava muito grata. Aproximei-me da lápide de Jared, me abaixando ao seu lado.

     — Eu te prometo que vou vingar a sua morte, Jared. O que o Gael fez com vocês, eu vou fazer muito pior com ele. Descanse em paz meu amigo. — Deixei uma última lágrima cair, não iria ficar chorando pelos cantos, agora era hora de agir. Os dias do Gael estão contados. Eu partiria para o Brasil no fim de semana.

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