Jennifer Claim


     Meu nome é Jennifer Claim, nasci em uma cidadezinha na Dakota do Norte. Fui criada lá por meus avós após a morte da minha mãe. Meu pai à matou. Aos doze anos tive que fugir de lá abandonando meus avós e tudo para trás. O motivo? Cometi o meu primeiro assassinato.

     Estava andando por aquelas ruas escuras sentindo o vento gélido tocar levemente meu rosto. Meus avós estavam doentes e eu precisava cuidar deles, aquele foi apenas mais um dos dias ao qual eu saia para comprar seus remédios em uma farmácia no centro da cidade. Na volta, eu tive aquela sensação. Sim. Aquela sensação. Senti aquele homem andando atrás de mim, me perseguindo há alguns minutos. Comecei a correr desajeitada tentando me livrar — em vão — daquele ser desprezível que corria ainda mais rápido que eu. Suas pernas compridas lhe davam vantagem visto o meu pequeno tamanho e porte físico magro.

     Na tentativa de escapar, entrei em um beco sem ver que era sem saída. Aquele homem começou a andar em minha direção e senti minha voz embargar. Não conseguia dizer uma só palavra e um nó se formou em minha garganta. Travei, não consegui gritar, não conseguia pedir ajuda, estava apavorada demais. Quando perto o suficiente ele me derrubou no chão subindo em cima de mim, senti o desespero percorrer meu corpo.

     — Não, por favor, não faça isso. — Eu implorava ouvindo-o rir do meu medo. — Socorro! Alguém me ajuda! — Algumas pessoas olhavam pelas frestas das janelas de seus apartamentos mas ninguém se atreveu a ajudar. As pessoas eram podres, não ajudavam, não queriam "se meter nos problemas alheios".  A feroz criminalidade daquela cidade tornou as pessoas frias, não se importavam umas com as outras desde que a situação não as envolvessem.

      Olhei para a minha direita e vi um tijolo ali caído. Peguei-o acertando com toda a minha força na cabeça daquele individuo sentindo o peso de seu corpo despencar sobre o meu. Empurrei ele para o lado levantando desesperada. O buraco aberto em sua cabeça fazia seu sangue escorrer pelo beco e sem pensar muito, usei meu casaco na tentativa de limpar aquilo.

      — Meu deus, aquela garota matou um cara. — Eu pude ouvir de uma das janelas. Com as lágrimas escorrendo meus olhos e aquele sangue que manchava meu casaco e minhas mãos, eu olhei para cima vendo aquelas pessoas que fecharam a janela para me ajudar, agora abrindo-as de novo me olhando como se eu fosse a grande culpada do acontecido. — Liga para a polícia! — Mais uma gritou de sua janela. O desespero tomou ainda mais conta do meu ser, eu apenas tentei me defender mas as pessoas me olhavam como uma assassina. Me levantei pegando meu casaco e o saco com os remédios dos meus avós correndo o mais rápido possível.

    Eu corri, corri, corri mas parecia que nunca chegava em lugar algum. Com muito esforço e com o coração acelerado, cheguei até o pequeno casebre que eu morava, deixei os remédios em cima da mesa da cozinha correndo até o quarto.

      — O que foi minha filha? — Pude ouvir minha avó gritar e com a voz embargada apenas disse que estava cansada.

      — O que eu faço agora? — Perguntava à mim mesma. Uma onda de ansiedade percorria meu corpo enquanto sentia o ar faltar em meus pulmões, o desespero me fez não pensar racionalmente e, no momento, para mim a única saída seria fugir.

     Peguei uma mochila em cima de um guarda roupas velho e abanei para tirar o excesso de pó. Enchi com algumas roupas, apenas o essencial. Mesmo que eu não possuísse muitos pertences eles não caberiam todos na mochila. Peguei uma caneta e um papel e com a mão trêmula e os olhos ensopados comecei a escrever um bilhete para os meus avós.

    "Me perdoem por ir embora assim. Juro que não fiz por mal, eu só queria me defender e agora vou ter que ir embora. Nunca se esqueçam o quanto eu os amo."

      Não me atrevi a pegar mantimentos na cozinha já que eles tinham poucos, apenas sequei meu rosto, abrindo a janela do quarto e pulando-a.

     O casebre ficava próximo à uma estrada que ligava as cidades então decidi que era para lá que eu ia. Caminhei por alguns minutos até chegar a estrada, esfregando os braços para conter o frio. Comecei a sinalizar para os carros na esperança de que algum parasse, mas eles passavam direto. Ali não era muito movimentado então fiquei ali por algumas horas até sentir a noite cair. O medo voltou a tomar conta do meu ser e eu rezava implorando para que deus mandasse uma boa alma que me acolhesse. Com muita sorte, uma moça parou o carro para mim e eu entrei.

     — O que uma criança como você está fazendo na estrada à essa hora? É muito perigoso menina. — Ela me olhava com os olhos de preocupação e com muito custo eu contei-lhe o ocorrido. — Mas que horror, por que você não contou à polícia?

     — A polícia de lá é diferente moça, pobre não tem vez, não tem chance e não é ouvido. — Ainda sentia seu olhar sobre mim mas evitei o contato visual.

     — Entendo... — Um silêncio incessante se perdurou por alguns minutos até que eu voltasse a ouvir sua voz. — E você tem onde ficar? — Acenei negativamente com a cabeça sentindo a pena emanando de sua feição sobre mim. — Bom, eu tenho dois filhos e estava procurando uma babá para eles. Você pode morar e comer lá em casa e em troca você cuida dos meus filhos. — A princípio eu fiquei apreensiva mas eu não tinha mais nenhuma opção então o que fiz foi aceitar vendo o olhar de aprovação dela.

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      — E o que houve depois disso? — A doutora Margot me encarava enquanto eu me endireitava no divã, respirando pesadamente.

      — Depois disso eu passei os melhores anos da minha vida, eu vivia confortávelmente e a Hellen me tratava como filha, seus outros filhos, Noah de 8 anos e Aron de 6 anos também passaram a ver-me como sua própria irmã. Eu me senti acolhida, senti um carinho de mãe que eu já não sentia há muito tempo. — Fiz uma pausa dramática vendo Margot anotar algo em seu bloco. — Até o dia que Hellen morreu em um tiroteio. Ela era bancária e um ladrão visivelmente drogado tentou assaltar o banco. Todos entregaram o dinheiro sem exitar e mesmo assim ele atirou nas pessoas que estavam ali.

        — E como você se sentiu em relação à isso? — Novamente ela voltava sua atenção para mim.

        — Eu senti ódio, raiva, rancor e precisava externar isso. Foi quando o Albert, marido da Hellen, me levou à um estande de tiros. Eu peguei gosto pela coisa e comecei a querer cada vez mais.

       — Isso foi quando, exatamente? — Pensei um pouco e fechei meus olhos antes de responder.

       — Eu tinha uns 16 anos. Foi aí então que aconteceu o segundo assassinato. — Eu me lembrava como se houvesse sido ontem. Ainda podia sentir o cheiro da chuva, podia ouvir aqueles gritos. — Eu não sei se foi ironia do destino ou se coincidência existe. Talvez eu estivesse no lugar certo na hora certa. Por algum motivo, justo naquele dia eu estava andando com uma das armas de Albert, o dia era chuvoso e eu andava apressadamente para não me molhar muito. Foi quando eu ouvi alguns gritos femininos e quando fui atrás, vi uma garota, aproximadamente da idade que eu tinha quando fugi. Ela pedia por socorro enquanto aquele cara ia para cima dela. — Margot à essa altura havia largado seu bloco em cima de sua mesa e virava toda sua atenção para mim. — Eu me vi ali, me vi naquela garota, não podia permitir que acontecesse com ela o mesmo que comigo. Então aquele estrondo ecoou por todo o quarteirão e a garota estava ali parada me encarando. Eu fiz um gesto com minha cabeça para que a garota corresse de lá e foi o que ela fez. Já eu, fiquei ali esperando a polícia chegar. Eles me levaram para a delegacia e chamaram o Albert lá, e felizmente eu rapidamente fui solta.

       — E como ele conseguiu te soltar? Como ele tinha todas aquelas armas que você mencionou? Ele tinha alguma influência. — Ela me perguntava gesticulando com a mão e eu não pude deixar de soltar um riso irônico com sua inocência. A Dr.Margot já era minha terapeuta há um tempo mas eu nunca havia contado à ela sobre meu passado e como eu cheguei aonde estou hoje em dia.

        — Bom, isso fica para a próxima sessão, Doutora. Eu preciso ir agora. — Me levantei do divã pegando minha jaqueta de couro vendo ela se levantar junto à mim.

       — Certo, então até a próxima. — Eu apertei sua mão e quando tentei solta-la ela continuou me segurando. — Você não pensa em parar com isso?

        — Ah, Doutora. Eu preciso mesmo ir. — Ela acentiu soltando minha mão e eu pude sair de seu consultório em um prédio comercial no centro de Nova York. Mal pisei na calçada e já podia ouvir o barulho ensurdecedor dos carros e suas buzinas, as conversas alheias e toda aquela bagunça que os centros de cidade carregam. Acendi um cigarro, desbloqueando a tela do meu celular vendo algumas mensagens ainda não lidas.

      “Te espero hoje à noite gata, não me desaponte."

      — Você mal perde por esperar, otário. — Abri um sorriso enquanto entrava no meu Porsche, arrancando pelas ruas movimentadas colocando Sunny do Boney M. para tocar.

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