Lar doce lar

Solto um suspiro quando passo pela porta de entrada, o cansaço mental depois da conversa com Dazai me faz sentir uma dor de cabeça eminente chegando, deixo minha mochila na mesa perto da escada e vou em direção a cozinha. Terumi esta de costas para a entrada, ocupada demais para notar minha presença. Chego por trás dela e apoio minha cabeça em seu ombro, sondando o que ela está preparando, ela da um pulo se assustando e eu sorrio.

— Yaah, garota — ela coloca uma das mãos no peito, se virando para mim ela olha em meus olhos e franze o cenho — você ainda vai me matar do coração, Rei. Por que seus olhos estão escuros? Aconteceu algo na escola? Eu preciso ameaçar alguém? Quem foi que mexeu com a minha princesinha? 

— Acalme-se Terumi, nada aconteceu na escola. Tive aquela conversa com Dazai-san novamente, ele está cada vez mais insistente — suspiro e controlo melhor o mau humor para que meu olhos voltem a sua cor "normal", dou um largo sorriso para ela — Sinto cheiro de doce, o que você fez?

Tento ver o que está atrás dela, mas tem um pano por cima do prato me impedindo de saber exatamente o que é.

— Achei que precisar de algo para animá-la depois do primeiro dia de aula — ela se vira e pega o prato entregando para mim. Quando pego o prato ela tira o pano de cima, revelando alguns hanabi dangos. 

— Hanabi dango — encaro os doces na minha frente sem piscar, minha boca formando um O — Parecem deliciosos.

— Não coma muitos, você tem que treinar e jantar com seus pais. Sente-se, sente-se, vou começar a preparar o jantar — ela diz já se movendo pela cozinha, sento-me na bancada e pego um dos palitos de doce — Como foi seu primeiro dia?

— Entediante... — observo a senhora andando pela cozinha com destreza, sei que qualquer coisa que ela preparar será maravilhoso — Você não vai acreditar em quem...

Um barulho alto vem do quintal, me interrompendo. Terumi suspira e eu me seguro para não rir da senhora que lentamente se vira para a porta que dá nos fundos da propriedade e o olhar mortal que ela carrega me impede de fazer qualquer comentário.A porta é aberta em uma explosão que quase arranca ela dos trincos e uma figura esguia de cabelos brancos aparece com um largo sorriso psicótico no rosto angelical.

SUMIMASEN, Obaa-san preciso de uma nova... — Juuzo para de falar quando me vê na cozinha NEE-SAN, você chegoooou!!! 

Ele corre até mim e abro os braços para receber ele que me abraça apertado. Ele levanta a cabeça e seus grandes olhos vermelhos me observam com atenção, ele me da um pequeno sorriso e me solta. Bagunço seus cabelos e ele pega um dos meus dangos.

— Garoto, o que foi que você fez? — Terumi pergunta indo para a porta ver qual destruição meu irmãozinho causou dessa vez — Pelo amor de Kami, seu pestinha!! Eu vou ficar louca nessa casa sem o Takashi, só ele para colocar você na linha.

— Nee-san, nee-san!! Eu consegui cortar uma árvore enooooorme — Juuzo gira no banco com grande excitação e se levanta pegando minha mão, me puxando para fora. — Vem ver, vem ver!

Quando olho para o jardim atrás da casa fico surpresa, ele cortou um dos pinheiros gigantes que fica na floresta ao fundo do terreno da mansão. 

— Wow, você se superou! Qual delas usou? — Pergunto para o menor ao meu lado que balança para frente e para trás animado.

— Usei a Jason, estou ficando muito bom com ela — ele diz com brilho nos olhos e então me olha — Vamos lutar?

— Não posso, pequeno. Estou indo treinar com o Dazai-san — bagunço novamente seus cabelos enquanto ele faz um biquinho — Não faça essa cara de cãozinho abandonado, você sabe que não funciona comigo. Quem sabe no fim de semana, ok?

Pego outro dango e saio para o jardim, escutando Terumi ralhar com Juuzo. Ela se vira para mim e diz.

— Bom treino, princesa. — aceno sem me virar para eles e escuto ela falando com Juuzo — E você mocinho, vai pegar sua foice e cortar aquela árvore inteira como castigo. Pelo menos teremos lenha para as lareiras. Se continuar assim vai acabar com todas as árvores da cidade.

Depois de quase três horas meus joelhos falham e eu caio no chão, meu peito queima com minha respiração pesada e o ar quente ao nosso redor. Sinto tudo girar e apoio minhas mãos no chão, solto um grunhido mostrando os dentes para Dazai que olha para mim sério.

— Mantenha sua quirk ativada, mais alguns minutos e será o suficiente por hoje. — ele anda até sua garrafa de água e olha para mim sorrindo ~miserável~ — Você deve estar com sede mas como disse antes, nada de aguá até o fim do treino de hoje.

Ele abre a garrafa e aproxima ela de sua boca, sinto minha boca seca e tento engolir a saliva inexistente o que faz a sensação ser ainda pior, como se tivesse engolindo areia. Já perdi o controle da fachada que sempre mostro para o mundo, escondendo a parte mais ácida da minha personalidade e com isso rosno para o moreno na minha frente, fecho minha mão em um punho e a água da garrafa explode na cara de Dazai molhando todo seu rosto.

— Merda, Rei. — começamos a rir e ele chacoalha a cabeça como um cachorro molhado — Eu estava com sede.

— Jura? Não imagino como seja isso. — dou um sorriso sarcástico.

— Yare, yare. Acho que podemos encerrar por hoje, imagino que o jantar está quase pronto e seus pais ja tenham chegado, ou sua mãe pelo menos.

Minha mente de repente nubla e a pressão na minha cabeça beira o insuportável, aperto minha mandibula, soltanto o ar por entre os dentes. Dazai me observa com uma expressão indecifrável e anda até a tela que fica ao lado da porta, desligando o simulador. A temperatura na sala diminui instantaneamente, ele anda até mim e se agaixa na minha frente.

— Consegue desativar? — ele me olha nos olhos e consigo me ver refletida em seus olhos chocolate, meu olhos brilham no mais vivo escarlate.

Tento reunir força o sufiente para controlar a onda de poder que ameaça transbordar, falho miseravelmente e sinto o sangue escorrer do meu nariz e pingar, mas antes que atinja o chão as gotas começam a flutuar. Alguns minutos se passam enquanto tento sem sucesso desativar minha quirk, me curvo encostando a testa no chão agora frio, lembranças que bloqueei anos atrás dançam em minha mente, olho para Dazai que ainda está agachado na minha frente e nego com a cabeça ele estende a mão para mim e a pego com dedos tremulos. Minha individualidade é desativada no segundo que Dazai me toca, anulada pela individualidade dele.

O sangue que flutuava ao meu redor cai no chão em pequenas poças e a dor de cabeça começa imediatamente, Dazai me ajuda a levantar e me coloca em suas costas, apoio minha cabeça em seu ombro e ele sai da sala, andando pelo jardim em direção a entrada da cozinha. Assim que ele abre a porta as empregadas que ajudam Terumi arregalam os olhos. 

— Por que estão paradas ai? Terminem de colocar a mesa, a comida já está praticamente pronta. — então ela olha em nossa direção e arregala os olhos assim como as outras. — Por Kami, o que você está fazendo com minha pobre garotinha? E sugiro que você me uma resposta que eu goste, Osamu.

Todas as empregadas correram para a sala de jantar tanto para cumprir a ordem de sua superior quanto por medo dela, a aura ao redor de Terumi é negra e posso ver o ar ondulando, alguns utensílios na bancada próxima a ela se agitam, enchendo a cozinha com o leve tilintar.

— Você sabe muito bem, Terumi. Ela precisa controlar isso e se não for eu treinando ela, os velhos vão escolher alguém muito pior, acha que gosto de deixá-la assim? — sinto Dazai suspirando e dou um tapinha em seu braço.

— Não comecem com isso de novo, minha cabeça vai explodir. Já falei que estou disposta a dominar meu poder, me leve para cima sensei.

Fecho os olhos e não escuto mais nada dos dois até Dazai começar a andar novamente, ouço passos se aproximarem e sinto Dazai balançando a cabeça para os lados. Logo estamos subindo os dois lances de escadas, ele abre a porta do meu quarto e ruma para o banheiro.

— Banheira?

— Sim.

Ele me coloca no chão e se vira me ajudando a entrar na banheira com roupa e tudo, ele tira meu tênis e abre o registro regulando a temperatura da água.

— Está cada vez mais frequente, você também notou, né? 

— Sim.

Ele suspira.

— Eu estive conversando com seu pai e tenho uma teoria. Antes que comece a reclamar, me escute. Acho que você deveria usar essa parte da individualidade ao invés de bloqueá-la, o bloqueio pode esta te sobrecarregando, é como tentar encher um copo que ja está cheio. De uma chance, sei o que isso quer dizer para você e sei as lembranças que traz, mas creio que só assim poderá superar o que aconteceu. — ele se levanta e bagunça meu cabelo — Boa noite, água-viva. 

Ele sai do banheiro e fecha a porta me deixando sozinha com meus pensamentos, tiro minhas roupas de treino agora molhadas e levo meu tempo me limpando, coloco roupas confortáveis e vou para a sala de jantar, preciso comer pelo menos alguma coisa apesar do meu estmago embrulhado.

— Boa noite.

Meus pais e Juuzo já estão comendo, me sento em meu lugar e começo a colocar um pouquinho disso e daquilo no meu prato. Mantenho meu olhar baixo, evitando o rosto dos meus pais.

— Boa noite, querida. Como foi o primeiro dia de aula? — mamãe quebra o silencio e sinto os olhos de todos em mim e solto um longo suspiro.

— Melhor do que eu esperava.

— Rei — papai diz suavemente, nada de seu habitual tom brincalhão transparece em sua voz — olhe para mim, minha pequena.

Ele pega em minha mão em cima da mesa, me incentivando.

Levanto meus olhos para meu pai, que me encara preocupado assim como minha mãe. Juuzo se agita ao meu lado, tentando ver o que chamou tanto a atenção de nossos pais, olho para ele que chega mais perto, observando meus olhos com atenção.

— Waaa, que lindos nee-san!!!! — ele me olha meravilhado, sei que ele sabe o que isso significa e também sei que está tentando me animar, então sorrio para ele e bagunço seus cabelos.

Conversamos por um bom tempo enquanto aproveitamos a comida maravilhosa da Terumi, meus pais apesar de cansados prestam atenção em cada palavra animada de Juuzo. Depois do que parecem horas, dou boa noite para todos e vou pro meu quarto e me jogo em minha cama. O dia foi mais longo do que pensei que seria quando me levantei, o cansaço toma conta e não me preocupo em me cobrir, apenas deixo a escuridão me abraçar. 

Acordo com a sensação de que estou sendo observada e olho ao redor buscando no escuro, a porta esta um pouco aberta e logo vejo grandes olhos vermelhos brilhando na semiluz.

— Tive um pesadelo, posso dormir com você? — Juuzo coça os olhos ainda com sono e eu abro meus braços para ele se deitar entre eles.

Noto que tem um cobertor grosso em cima de mim, provavelmente meu pai veio aqui. Abraço o mais novo e sinto ele relaxar, logo sua respiração fica mais calma e sei que ele dormiu, passo a mão em seus cabelos bagunçados e pego no sono novamente.

Yo minna!

Autora tava inspirada hoje kkkkkkk 

Até a próxima!!

*SUMIMASEN: com licença

*OBAA-SAN: vovó

*NEE-SAN: irmã mais velha

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