Dois Minutos

Quando chegamos na mansão, vemos as paredes congeladas, mamãe realmente deve estar preocupada...
— Aposto que ela esta esperando você. — meu pai diz se virando, provavelmente com medo da esposa — Acho que vou voltar para a agência, pegar alguns vilões... Sabe como é.
— Você é uma inspiração como herói, mas quando se trata da mamãe foge? Tsk.
— Não me julgue, ela pode ser implacável quando quer...
— Me deixe adivinhar, ele esta  com medo da mamãe? — ouvimos uma voz atrás de nós.
Sorrio ao ver o rapaz extremamente parecido comigo saindo do carro junto com Dazai.
— Cara, vocês estão ferrados! — Dazai observa a casa. — Rei, sem treinamento hoje. Vou buscar o Juuzo, não fiquem o dia todo ai na frente, ela pode sentir vocês.
Ele sai depois de nos lembrar que minha mãe provavelmente sabe que estamos aqui desde que chegamos...
— Quem vai na frente? Eu não me candidato a ser o primeiro a morrer! — papai diz.
Eu olho pro meu irmão e ele coça a nuca.
— Eto... Hahaha você sempre foi melhor em resolver conflitos, água-viva.
— Tsk... Presa com dois covardes.
Abro a porta e caminho para dentro, a casa que parece um freezer, tudo esta congelado. Meu irmão se apoia em mim tremendo de medo, e me pai faz o mesmo com ele.
Encontramos nossa mãe na sala de jantar, andando de um lado pro outro até que nos vê.
— Vieram brincar de trenzinho? Ou só colocaram a menor de vocês na frente por que sabem que não vou bater nela? — ela se aproxima e me segura pelos ombros, analisa meu corpo todo, sinto uma fina camada de agua morna passando por minha pele, sem molhar minhas roupas.

Ela sorri em alivio ao ver e sentir que não me machuquei, mas logo adiciona:

— Você esta um pouco desidratada, minha pequena Hime....— diz passando a mão no meu rosto.

— Posso me aproveitar do que fez com a casa então?— digo sorrindo, ela sorri de volta.

— Claro, antes que os empregados congelem... — ela diz e se afasta um pouco.

Abro bem as mão sentindo toda a fina camada de água congelada que cobre a casa, começo descongelando a água e as juntando no ar pra que não leve bronca de Terumi depois por molhar o carpete caro, quando toda a água aparece na sala de jantar, olho para mamãe com as sobrancelhas erguidas e ela dá de ombros.

— Você sabe que me preocupo com meus filhos, não me julgue, água-viva...

— Jamais mamãe... 

A água se junta em uma esfera enorme, ergo as mãos viradas para ela e começo a absorver tudo, não leva mais do que alguns segundos. Terumi aparece tremendo da porta que leva até a cozinha.

— Kami-sama, achei que ia congelar— ela vem até mim e me analisa da mesma forma que minha mãe fez e também suspira em alivio.— Estava tão preocupada minha pequena.

— Estou bem gente, não precisam se preocupar... E nem fazer com que Tak viesse de Tokyo...

— Eu vim por conta própria, Rei-chan, estava tão preocupado que tranquei o resto do ano e vou pra U.A com você.— me viro pra ele com os olhos arregalados.

— Você o quê? — depois de deixar suas palavras serem processadas pelo meu cérebro, faço uma carranca e digo — Não preciso de um guarda costas, Takeshi.

— Calma ai, maninha, quero experimentar um pouco do mundo dos heróis antes de me dedicar totalmente à empresa. — ele diz abanando as mãos freneticamente na frente do corpo.

Ouvimos a porta abrir e bater e alguém que sei bem quem é correndo, Juuzo corre até mim sem nem prestar atenção nos outros, ele me agarra e sinto correntes nos pendendo um ao outro. Percebo seus olhos vermelhos por provavelmente chorar o caminho todo da escola até a mansão.

— Hey pequeno, olhe para mim, estou bem— ele nega e afunda mais a cabeça em meu uniforme— Juuzo, olhe pra mim.

Ele devagar ergue a cabeça e me olha nos olhos, dou-lhe um sorriso reconfortante, sinto as correntes se soltando do meu corpo e voltando para as mão de meu irmão caçula.

— Eu estava tão preocupado Nee-san, todos vimos a noticia na escola. — ele fala ainda segurando minha mão, como se eu fosse sumir a qualquer momento.

— Chotto, você não confia que sua irmã dá conta de alguns vilões de becos? — sorrio maliciosamente para ele — Agora vá cumprimentar seu irmão mais velho...

Juuzo parece então perceber que a sala de jantar está cheia com a família e Terumi.

— NII-SAN!!! — Ele corre até Tak, que se agacha e o pega no colo. — Voltou pra ficar com a gente? Estaremos completos de novo?   

Sinto a esperança de Juuzo enquanto fala com Tak, que o afasta um pouco o menor e bagunça seu cabelo.

— Vai ter que me aguentar pelo resto do ano, seu pequeno encrenqueiro...

— A cena é comovente, mas agora que sabemos que ela está bem, todos para o banho, e você, Satoru venha comigo. — mamãe diz voltando ao seu modo sério normal.

— Hai. — papai vai atrás dela como um cão com o rabo entre as pernas.

Subimos os três pela escada central e cada um vai pro seu quarto. Aproveito o momento de privacidade e me deixo cair na cama, estou exausta. Usar tanto do meu poder hoje me faz pensar que preciso treinar muito mais se quiser me tornar uma pro hero. Chacoalho a cabeça e me levanto indo direto para a banheira e sua convidativa água quente.
Depois de 40 minutos aproveitando o banho, coloco roupas limpas e confortáveis e desço para a sala de jantar, onde todos me esperam.

— Não precisavam me esperar... — digo me sentando no lugar de sempre.

Juuzo se senta ao meu lado, enquanto Takeshi se senta ao lado de nossa mãe.

— Rei, eu e seu pai conversamos e se você quiser sair da U.A. vamos respeitar sua decisão. — mamãe diz séria. — Você poderia trabalhar na empresa com seu irmão.

— Hã? Eu não quero sair da U.A. mãe, hoje foi um dia difícil mas também serviu de treinamento para o que nos espera no mundo real. — digo para ela — Sem contar que foi muito divertido.

— Divertido? Você está parecendo seu pai quando estudávamos, sempre entusiasmado com lutas... — ela diz com seriedade — Mas me preocupo com você, minha menininha...

— Mamãe... É pra isso que treino com Dazai, para melhorar cada vez mais e atingir os 100%.

— Tudo bem, respeito sua decisão, mas me prometa que terá cuidado...

— Eu sempre tenho, mamãe... — digo me lembrando da queda de quase 30 metros para a água na luta de mais cedo.

Jantamos e conversamos até que a sobremesa acabasse, Tak nos contou como foi sua estadia em Tokyo e em como a escola é rígida. Ainda não acredito que ele vai pra U.A. comigo, o que me faz lembrar.

— Nii-san, você se matriculou na U.A.? — pergunto ao meu gêmeo.

— Eu e sua mãe resolvemos isso com o diretor Nezu mais cedo, não se preocupe pequena. — papai diz.

— Sokka... Estou exausta, vou me deitar. Boa noite família. — digo já me levantando e seguindo para a cozinha.

— Ah minha pequena, fiquei tão preocupada — Terumi me abraça com um pouco de força.

— Estou bem, sério. Parece que o único que não se preocupou foi Dazai...— digo me sentando na bancada.

— Muito pelo contrário — diz Terumi — Ele chegou a dizer que ajudaria sua mãe a destruir a escola se algo tivesse acontecido com você. Ele se preocupa bastante com você, pequena.

— Não quero nem imaginar o que Dazai e mamãe poderiam fazer juntos, seria uma catástrofe... — digo dando risada — Esse cheiro, são sakura mochis?????

— Fiz especialmente para você... — Terumi coloca o prato com três mochis cor de rosa, meus preferidos, na minha frente.

— O que eu faria sem você na minha vida?? — digo com a boca cheia para a mais velha.

— Provavelmente passaria fome, agora vá se deitar, você parece exausta.

— É exatamente assim que me sinto, boa noite... — digo caminhando até ela e dou um beijo em sua bochecha.

Vou para o meu quarto e me deito na cama enorme, penso na luta de hoje, e o quão intensa foi, se aquilo foi só uma demonstração de poder, podemos esperar que Shigaraki volte no futuro. Algo me tira dos meus pensamentos e sinto duas pessoas na minha porta.

— Podem entrar. — digo alto o suficiente para meus irmãos que entram rapidamente e fecham a porta.

— Nee-san, podemos dormir com você? — Juuzo me olha com olhos pidões.

— Claro que sim — digo abrindo os braços, ele corre e pula na cama, caindo em cima de mim.

Ele me abraça e da risada, o que eu faria se algo acontecesse com esse pequeno encrenqueiro? O pensamento passa pela minha cabeça, e eu o espanto com a mesma rapidez com que ele veio.
Takeshi se deita na cama, com Juuzo entre nós dois, o menor se agarra em mim e logo dorme.

—Sabe, eu fiquei meio desesperado quando a mamãe  me ligou, arrumei minhas malas e corri para o aeroporto. — meu irmão diz com a mesma seriedade que ele puxou de nossa mãe — O que eu faria sem a minha melhor metade? Não acho que conseguiria suportar se algo acontecesse com você, ou com Juuzo.

— Melhor metade, né?! — digo sorrindo — Você realmente não precisa ir para a U.A., você tem o seu caminho para seguir, não quero que se desvie dele por minha causa...

— Não foi só por sua causa Nee-chan, esse pensamento tem estado na minha cabeça há algum tempo já, quero experimentar o lado heroico da família. — ele diz, tirando o cabelo do rosto de Juuzo. — E como irmão mais velho, está no meu DNA querer te proteger...

— Irmão mais velho por dois minutos, Tak, dois!!! — digo levantando a mão com dois dedos e balançando na sua cara.

— Mesmo assim, já está tudo arranjado mesmo. — ele diz. — Vamos dormir, temos três dias até as aulas voltarem e quero treinar um pouco com Dazai-san, estou meio enferrujado...

— Meio? Hahaha — dou risada — Você parece ter virado um robô, vai precisar de mais que três dias para voltar a ser quase tão bom quanto eu. Boa noite, Tak.

— Boa noite, Rei.

E assim caio no sono rapidamente, sonhando com pedaços da luta, e inusitadamente com o rosto de Bakugo Katsuki.

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