Segunda Parte
— Vocês estão vendo o que eu vejo? Ela parece ser minha irmã! Não, não... É impossível. Não possui parentesco comigo. Nenhuma gota de sangue, ou melhor, de clorofila pode ser compartilhada entre a gente. Não mesmo!
Mas o deboche entre as flores já estava armado. Risadas vinham das amigas de Margarida seguidas de especulações. Foi uma verdadeira balbúrdia no pequeno jardim, já que as moradoras não faziam outra coisa senão prosearem ao longo das horas.
Violeta estava entre elas, como uma plantinha comportada que tentava dar um basta em todos os comentários maldosos.
— Ora, agora deram para usar gírias animais — afirmava — entre nós, meras florezinhas, dando a entender que não somos dignas de confiança?! O que tem demais nossa amiga Margarida ser parecida com a nova vizinha? Isso não coloca em risco suas origens. Dona Rosa mesmo viu a menina nascer das estranhas da terra junto às suas irmãs. Viu também quando era apenas um botão esperando o orvalho da manhã secar para poder desabrochar suas pétalas esbranquiçadas.
As outras ficaram em silêncio e Margarida logo se mostrou solicita com os comentários da amiga. Violeta, então prosseguiu:
— Não acho que seja fácil para alguém estar em algum lugar desconhecido e não ser bem recepcionada. Quem vê vocês embelezando a paisagem com suas cores estonteantes não sabem os sentimentos que cultivam dentro de si. Por isso, minha linda amiga, Margarida, fale com sua suposta parenta e diga que a desejamos boas-vindas.
As outras não gostaram muito das palavras de Violeta, mas quando a florzinha do crepúsculo sem luar utilizou o termo "cultivar", lembraram que também eram cultivadas na terra e que o mínimo que poderiam fazer era cumprir os seus papeis de expressar beleza externa e, é claro, interna também.
Assim concordaram em dar uma chance à moça que já estava percebendo um burburinho sobre sua presença.
Olhava suspeita para aquela aglomeração de plantas e suspirava exaurida.
O que Violeta falara era a mais pura verdade, embora ela não tenha escutado. Só percebeu que sua atenção era solicitada quando, mais uma vez, Margarida tornou a olhar em sua direção e, forçando um sorriso trémulo, tentou expressar ternura.
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