Quarta Parte
— Agora, tem outra coisa que me agita — continuou Margarida, com um semblante de incógnita. — Por qual motivo é tão parecida comigo se não temos parentes em comum? Se não fosse pelo nome, julgaria ser também uma formosa margaridinha.
Daisy sorriu.
— Pois quando cheguei também percebi tamanha semelhança. Digo-lhe com certeza que somos da mesma espécie.
— Como pode? — Margarida se surpreendeu com a afirmação. — Sei das minhas parentas que vivem nas encostas da colina, de amarelo vivaz; também sei das rosadas que habitam à beira do riacho, onde as aves costumam beber água. Existem as avermelhadas, que desapareceram das redondezas, sabe-se lá para onde foram. Mas nenhuma Daisy, alva como eu. Por que acredita que somos da mesma espécie? Quando desabrochei, a roseira já estava em flor e é testemunha do que digo: nunca houve uma Daisy entre nós.
A flor novata entendia o questionamento de sua irmã, pois a mesma não portava noções extravagantes do mundo. Jamais pensou que pudesse haver outras de sua espécie sendo chamadas por nomes distintos.
Nascera naquele jardim e iria morrer ali. Sua fonte de notícias era, sobretudo, as aves que traziam um dedo de prosa todas as vezes que pousavam no cercado. Então a planta ficava sabendo da existência de sua família na colina, no rio e em qualquer outro lugar que abrangesse os perímetros daquela região.
O fato é que agora surgira uma de tão longe que jamais passara pela imaginação da nativa flor a ideia de haver outras de sua espécie além do horizonte onde o sol se põe.
— Talvez seja uma surpresa para você e todas as flores que aqui habitam — disse Daisy — saber que, além da linha onde o sol se deita, existem outros jardins com flores semelhantes a vocês. Mas que não respondem pelo mesmo nome. E que também existem espécies inimagináveis para as senhoras — falava olhando ao redor —, por jamais terem tido a oportunidade de sair do solo onde foram plantadas. Lá permanecerão cumprindo seu papel. De filhas da terra!
Margarida se emocionou. "Então existem outras?", pensava. "Como será que vivem? São elas também noticiadas pelos passarinhos da alvorada?" Olhou para si e viu seu próprio caule indo de encontro à terra. O que seria ela senão um espetáculo de curtíssimo tempo que a natureza concede aos olhos dos animais? Assim refletiu. Mas entendia que sua função estava além disso; as abelhas que o digam: se não fosse as flores, não poderiam viver. Por fim, resolveu falar:
— Fico feliz por haver outras de nós em terras longínquas de outros nomes. Que lá elas possam embelezar a natureza, como fazemos por aqui.
— Lá também reina a felicidade! A natureza é mãe para todas. E eu fico feliz de ter tido a oportunidade de trazer tais informações a vocês, minhas irmãs. O mundo é maior do que pensam! Muitos são os cânticos entoados nas brisas matinais. Fui uma felizarda de fazer tão longa viagem sem padecer. Vivi para dividir esse momento com vocês. E que as próximas gerações de flores que nascerem nesta terra saibam que existem outras desempenhando a mesma função além do horizonte.
Algumas flores estavam em prantos. Daisy abrira a imaginação das irmãs em grandes proporções. Todos os dias, quando o sol as prestigiava com sua presença, pensavam nas terras onde nasciam as semelhantes. Aquelas que antes viviam na defensiva, destruíram tal barreira abrindo caminho à beleza de suas respectivas essências. No fundo, buscavam proteção.
O fato é que o jardim não foi mais o mesmo. A informação chegara à colmeia das abelhas que certa vez foram cumprimentar a nova flor. Quanta simpatia e gratidão. Assim, as flores puderam cumprir sua missão abertas ao mundo, ainda que plantadas em um pequeno espaço de terra. Nos seus últimos dias, fizeram questão de contar as histórias aos botões prestes a desabrocharem. "Além do horizonte, existem outros jardins." E eles se alegravam por saberem que não estavam sozinhos sob o firmamento.
Havia também algo que sempre especulavam: será que Daisy conseguira perpetuar o romance que fora protagonista? Cumprira sua missão na terra, eternizando um momento de precioso entusiasmo, podendo propagar sua experiência. Os botões que surgiram da mesma muda logo se transformaram em formosas flores, que já nasceram sabendo da história: simbolizavam a eternização do carinho, do zelo e do amor para com o próximo. E o jardim seguia sua vida, sempre à espera de uma nova estação.
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