Prólogo
Certa vez uma abelha solitária entrou no jardim das flores e lá chorou por seu ofício de operária. "Será que um dia poderei contemplar a natureza sem me preocupar com o cansativo trabalho que me assola?", pensava consigo.
Um hibisco preocupado com as dores internas da pequena abelhinha tentou intervir em seus anseios com uma palavra amiga:
— O que te afliges, minha doce amiga?
— Ah, meu bom e velho hibisco! Como eu queria ter uma vida mais calma, longe do tumulto da colmeia. Vejo as flores não mais com prazer, mas como labuta cansativa. Perdi minha essência com o passar do tempo e a vida de abelha já não me traz mais alegria.
O hibisco se compadeceu com os relatos da operária.
— Você sabe que é importante para nós, flores, não sabe? Vivemos presas no solo e sequer conhecemos o mundo ao nosso redor. Ao mesmo tempo em que as raízes nos nutrem, também nos prendem ao chão. Precisamos sempre das medidas exatas: chuva de mais ou de menos nos mata; se as estações se estenderem por pouco tempo a mais, morremos; se o dia desaparecer pelo sol cansado de raiar, também sucumbimos. E sem você, minha amiga, como podemos nos eternizar pelos cantos da vida? Você é a responsável pela polinização. Voando de flor em flor, beijando todas em encanto e dividindo suas histórias de aventura. Quisera eu voar por aí, contudo nasci com raízes e jamais serei uma aventureira dos céus.
A pequena abelha teve seus olhos marejados pelas reminiscências de sua vida. Beijou o hibisco e voou na tarde de veraneio até a colmeia. No grande salão chamou suas irmãs para que pudesse dividir uma lição que aprendera. Diante da rainha ecoou sua voz em tom sentimental, motivada pela vida que possuía:
— Se for para entrarem no jardim das flores, que entrem como amantes de suas cores e de suas histórias. Exímias contistas, são elas a gênese das poesias românticas. Observem-nas! Até a mais singela possui o dom de atrair os corações perdidos. Vocês são apenas grãos voando ao vento, contando histórias ao cruzarem pelos portões da clemência. Tirem da terra sua lição e sejam capazes de florir em virtudes ao perceberem que não existe apenas um jardim a ser contemplado.
E assim todas as abelhas perceberam que a vida não se resume apenas ao ofício que desempenham, e que a sensibilidade é a chave para verem beleza nos lugares mais obscuros da alma.
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