Literatura

Apaixonei-me
Simplesmente,
Cai de joelhos em frente a beleza dela,
A liberdade poética
Chorei minha paixão pelos erros
Amei o contorno das regras
A queda, o fracasso, a crise
E já não mais sofri
Lembrou isso a terapeuta

Eu gostava das palavras destrambelhadas
Porque lembravam minha própria mente
Eram uma metáfora para meu coração pulsante
Para minha metamorfa desordem
Quanta bagunça doce não esteve sobre o altar?
Ah!, naqueles anos,
De minha infantil inocência,
Os poemas choveram sobre meus cadernos
Como minhas lágrimas sobre as questões de Matemática
Quando dei por mim
Já encontrara minha segunda paixão
Quis ensinar Matemática
Erro tolo
Já não combina comigo
Sou noiva das palavras
Nunca fui adepta a poligamia
Como também a relacionar-me com outras pessoas
Beijo as folhas dos livros
Nunca precisei de lábios

Prazer e contentamento
Com o qual nunca contentei-me
Queria mais, mais
Oh!, mais, tão mais
Sedenta, curiosa, suplicante
No batente da porta da biblioteca da vida
Eu desejava alimentar-me de texto
Escrito, falado, desenhando?
Não me importava
Só almejava o texto
Contanto que o fosse
Graças a Deus,
Que em sua extrema doçura,
Nos deu texto infinito
Ele nunca esgota-se
Enquanto houver colo humano em que descansar
O texto morará em nossos braços
Braços esses
Que descobri, com 6 primaveras
Também faziam texto
Só precisava de três coisas
Papel, caneta e amor
Era rica, milionária
Tinha ganhado na loteria literária
Tinha em abundância os ingredientes
Mão, cérebro e alma
Empenhados em tornar o texto escrito
Também eterno
Quis estendê-lo, fazer parte dessa eternidade açucarada
Tornei-se escritora
Passei a dormir com poesia e acordar com prosa
Abri meus olhos: já escrevia
Era um milagre!
Deus deu-me palavras
Podia construir meu castelo e derrubá-lo
Proclamar-me fada do mundo etéreo
Quem diria que letras, quando ordenadas, travassem tantas guerras e promovessem tantas caridades
Podia chorar

Era tão triste
Tão terrivelmente triste
Era ruim, cheio daquele fracasso
Mas dum jeito feio
Não era de propósito
Tentando explicar o amargo da tinta,
O preto no branco,
Tropecei na Gramática
Toda disciplinada, professora de etiqueta,
Quase um princesa
Rígida, mas tão doce
Era gostosa, pois era respeitosa
Não brigava com o analfabeto
O acalentava com a emancipação
Tenho três mães
Minha terena
Nossa Senhora
E a Gramática
Ela é como mãe,
Muito amor, pouco carinho, muita preocupação
Ela está lá por você, sempre te apoiando
Ensinando o melhor para você
Achei o equilíbrio,
Entendi os vícios e virtudes
Aristóteles deve ter acertado em algo
Niet, também
Regulei o que queria com o que precisava
Abracei a Literatura

Pelo erro
Peguei amor
Pela regra
Pelos fracassos e vitórias
Tornei-me autora
De minha própria alegria
Ah!, alegria!
Tu habitas os livros
Gostas dos cheiros das páginas
E das doçuras das palavras
Pelos aromas e gostos
Pelas sensações ela passou
A amar o texto escrito

Quem o encontra morre de amor
De um mais forte
Que o dos romancistas
Difícil não se apaixonar
Eu, em meu cético desromantismo
Desmanchei-me em afeto por ele
Quem diria?
Sou serva dele agora

Outubro de 2023

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