Pessoas sãs devem se ajudar

-Por que me ajudou?- perguntou Viola desconfiada, segurando uma pistola enfiada na parte de trás de suas calças. Caso algo acontecesse, estaria preparada.

-Você parecia estar com problemas.- disse Merena- e acho que pessoas como nós devêssemos nos ajudar.
-E o que seria 'pessoas como nós'?
-Sabe... pessoas sãs.
    Soltando a pistola com um suspiro, Viola pega sua mochila e sai andando pra fora do beco.

-Posso ouvir um "obrigada" pelo menos?- perguntou Merena, a seguindo.
-Não dá tempo, estou ocupada. -fala ela, ainda andando. Tentava sempre evitar qualquer comunicação com as pessoas, e aquela hora certamente não era uma exceção.
-Ocupada no fim do mundo? Tem que ir trabalhar pra pagar suas contas?- disse Merena em tom sarcástico.
    -Estou ocupada tentando chegar a um lugar.- disse Viola, apressando o passo, percebendo que dera uma oportunidade para mais perguntas no jogo da conversa. Um vacilo comum para um amador, mas para experts, isso era vergonhoso.
    -Para a antena, não?- disse Merena.

    Viola para. Seu coração volta a bater rápido, e sente um repentino frio na barriga. Não disse seu destino para ninguém. Bem, ninguém atualmente vivo. Merena venceu aquela partida do jogo da conversa deixando sua adversária sem argumentos, e Viola não aceitava perder. Se sentiu vulnerável com a fala dela, e para voltar com a sua postura de alguém controlada, sacou sua pistola e mirou na cabeça dela com olhar nervoso. O que só provou o contrário, na verdade.

    Merena, porém, não parecia surpresa com a súbita mudança do estado de Viola, e olhou pra arma com indiferença. Seu mesmo olhar sobe para o rosto de Viola, que se encontrava mais nervosa do que quando esse momento começou, já que esperava a intimidar com a pistola, mas não parecia ter funcionado.

    -Você deve estar assustada com o fato de eu saber pra onde você está indo, né?- disse Merena colocando as mãos no bolso, e acertando em cheio o que Viola sentia naquele momento.
    -Como sabe disso...?- perguntou Viola sem perder a firmeza na pistola.
    -Você não é a única com essa ideia. Eu também estou indo para lá. E outros sobreviventes estão fazendo a mesma coisa. Já passei por situações assim... onde eu "descubro" o destino deles e quase sou morta.- disse Merena, com olhar vago nas ruas desertas e deprimentes.

    -Quer ir pra lá pelo mesmo motivo que eu?- perguntou Viola, abaixando a arma aos poucos. Ela realmente não esperava uma resposta certeira para essa pergunta, já que seu plano sempre fora guardado a sete chaves. Mas, Merena mostrara novamente que já passou pela mesma situação anteriormente.
    -Contatar outros sobreviventes, não?
    -Exatamente...- disse Viola surpresa. Parece que seu plano inteligente não era tão absurdo assim.
    -Poderia se juntar a mim. Seria mais seguro.- disse Merena com certeza na voz.

Viola negou com a cabeça no mesmo instante. Não gostava de companhia em nenhuma circunstância, ainda mais quando se tratava de um plano que até então, apenas ela tinha na mente.

-Tem certeza? Tem caçadores bem mais perigosos no caminho. Eu estou com uma grupo com o mesmo destino, nós temos comida e remédios. Seria ótimo ter você conosco.- disse ela com um sorriso sutil no rosto.

A que ponto do desespero alguém pode chegar até aceitar ajuda de qualquer desconhecido? Não acho que alguém saberia dizer ao certo, mas com certeza que Viola estava bem próxima desse ponto. Estava exausta de virar esquinas e vieiras em busca de um mínimo pedaço de algo comestível, e se deparar com algum caçador, sendo obrigada a reiniciar uma fuga torturante, onde sua pouca energia esvaía-se cada vez mais.

    Foi a primeira vez que ela considerou a possibilidade de ter companhia. Escolheu o que seria melhor para sua vida, e não por seu gosto.

-Certo. -disse Viola suspirando. -eu posso ir com vocês...
-Que bom.- disse Merena sorrindo e indo para a direção oposta de Viola.- me siga.

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