Pé na estrada
-O que estão esperando pra começar o plano?- perguntou Viola.
-Já que é uma viagem longa, precisamos de muito combustível e de, bem, um carro.- respondeu Jacob, coçando a cabeça.
-Vocês não tem um carro?
-Bem, tecnicamente temos.- disse ele com tom otimista na voz.- Morgan pode te mostrar ele, talvez você possa ajudar a consertar.
-É... seria bom uma ajuda extra.- diz Morgan com um sorriso sutil.
-Desde que isso nos faça começar o plano...- fala Viola estalando as costas.- vou ver o que posso fazer. Mas não prometo consertar o carro.
-Eu posso trabalhar com isso.- diz Morgan, indo para um caminho um pouco mais afastado do acampamento. Viola ia atrás, imaginando em que condições poderia estar aquele carro.
Morgan parou e mostrou uma picape vermelha, completamente amassada e, o que mais irritou Viola, suja. Ela não tinha vidro em nenhuma das janelas, e um esquilo dormia no banco da frente, que estava roído pelo mesmo.
Morgan e Viola possuíam olhares bem distintos sobre a situação do carro. Morgan olhava ele com muito orgulho, exibindo um largo e confiante sorriso no rosto, já que conseguira consertar boa parte dele sozinha. Viola olhava ele com olhar condenado.
-E aí?- perguntou Morgan esperando uma resposta positiva de Viola em relação ao carro.
-Todo o plano da antena depende dessa lata velha?- perguntou Viola, pasma. Já imaginava que o carro estivesse em péssimo estado, mas aquilo disparou contra suas expectativas.
-Ei! Está falando de um carro que eu consertei através de suor, força e muito álcool. Ele não é uma lata velha.- disse Morgan defendendo seu trabalho.
-Você concertou um pouco dele? Nossa, ele devia estar um verdadeiro Chernobyl antes...
-Acredite em mim, estava muito pior. Mas eu já tinha um pequeno conhecimento sobre mecânica, então fiz o que eu pude. -disse Morgan, indo até o para-choque do carro, encostando-se nele.
-Entendi- disse Viola olhando o carro, e parando o olhar no esquilo esquilo, logo irritando-se.- vamos começar espantando esse ser repugnante do carro.- resmunga ela, pegando uma chave de fenda e cutucando o esquilo, que saiu correndo através de pequenos e longos saltos assustados para o meio da floresta.
-
Haviam se passado quase cinco horas desde que Viola e Morgan começaram a consertar aquele carro. Surpreendentemente, grandes progressos aconteceram. O carro estava mais limpo, menos amassado, várias partes haviam voltado a funcionar... Com mais pessoas certamente ficava mais fácil se trabalhar, embora as duas já estivessem exaustas. O sol poente esquentava agradavelmente toda a paisagem, que junto com as afinadas cigarras e grilos, anunciava a chegada de uma longa noite.
-Ei... que horas são?- perguntou Morgan, apertando algumas peças do pistão com uma chave inglesa.
-Seis horas...- respondeu Viola, limpando o carro.
-Estamos a cinco horas consertando esse carro e você não me disse nada sobre você?
Viola revirou os olhos. Se viu obrigada a entrar em um diálogo novamente, já que naquele caso fosse benéfico a saúde mental das duas.
-E então? Como reagiu ao tão esperado fim do mundo?- perguntou Morgan limpando suor do rosto.
-Não o vi acontecendo. Eu estava... dormindo.- respondeu Viola, limpando a garganta desconfortavelmente ao lembrar de seu coma, e claro, do motivo dele.
-Ah, estava em coma também. Acho que todos os sobreviventes estavam no mesmo estado enquanto o maior marco da humanidade acontecia.
-Que irônico... espera, como sabe disso?- perguntou Viola, que ficou no mesmo instante desconfiada.
-Merena não te contou? Eu também estava em coma. Assim como todos os outros.
-Sério? Que estranho...
-Pois é... como você entrou em coma?
Viola nada respondeu. Com a fala de Morgan, ela começou a presenciar mentalmente o cenário que causou seu coma: o corpo de sua namorada estendido no chão do apartamento, com uma escura e assustadora poça de sangue debaixo. Isso certamente fez o mundo de Viola desabar debaixo de seus pés, a fazendo agir irracionalmente, assim se jogando da sacada do lugar.
-Hum... sinto muito. Acho que não quer falar sobre isso...- fala Morgan, interrompendo os pensamentos de Viola sem querer, interpretando o silêncio da mesma corretamente.- Enfim, você quer encerrar por hoje?
-Eu aguento mais.
-Vai dormir, pode deixar que eu termino.
-Eu nem estou cansada...
-
Uma alta buzina penetrou violentamente os ouvidos de Viola, a acordando num pulo. Ela olhou para os lados assustada, se encontrando deitada em cima do porta malas do carro. Já era de manhã, e os pássaros que normalmente cantavam naquele horário lindas melodias, se encontravam voando no céu por causa da buzina.
-Bom dia, bela adormecida! Pronta para por o pé na estrada?- perguntou Morgan, que se encontrava sorridente no banco da frente do carro, buzinando ele em tom vitorioso. -Vem! Temos uma antena pra visitar!
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