1 - Hugo

O sol ainda não estava em toda sua plenitude. Hugo viu névoa dançando pelas ruas, que aos poucos acordavam para a típica vida do século XIX; o barulho mecânico dos automóveis e o trotar dos cavalos nas carruagens.

Ele carregava sua câmera com muito esforço. Parecia muito mais pesada naquela manhã, já que ele acordara muito cedo e não tinha feito a primeira refeição do dia, mas não podia deixar de aparecer na residência dos Baltimore. Ouvira dizer certa vez que pagavam bem. Sua preocupação com a vestimenta também era evidente, de vez em quando conferia algo e torcia o caminho todo para que chegasse lá o menos amassada possível. Uma jaqueta de fechamento, cardigã e calça reta de linho lhe conferiam um ar deslumbrante.

Hugo suspirou de alívio ao ver que a rua estava livre para atravessar, então apressou-se para não ter que lidar com algum automóvel vindo em sua direção. No entanto, uma visão um tanto curiosa o fez estacionar na calçada antes de seguir sua jornada. Com cautela, Hugo largou a bolsa com a câmera e observou um rapaz do outro lado da rua, encostado na parede de um prédio velho. Ele brincava com o bigode - o que fez Hugo também conferir o seu - enquanto, bem concentrado, rabiscava algo em um caderno que estava apoiado sobre suas pernas. Pelos movimentos, Hugo supôs que ele estava escrevendo e não desenhando. Seu chapéu pendia para o lado de um jeito bem desarrumado, Hugo notou, mas achou aquilo tudo uma graça. Ao seu lado, também encostada na parede do prédio, estava uma vara de bambu.

Enquanto o rapaz parecia estar perdido em seus pensamentos, rapidamente Hugo arrumou sua câmera. Quis muito fotografar alguém que deu uma pausa na rotina de despertador humano para sentar e escrever. Hugo procurou o ângulo perfeito que favorecesse o cenário e, feito isso, conseguiu o que acreditou ser uma bela fotografia.

Hugo terminou de girar o filme da câmera e olhou de novo para o rapaz. Ele estava encarando-o. Um olhar condenatório de uma pessoa algoz, indicando que teve sua paz perturbada. A tensão fez com que Hugo quase derrubasse a câmera no chão, e ele quis sair dali correndo quando o rapaz levantou-se, limpou as mãos nas roupas e colocou o caderno debaixo do braço, sem deixar de olhar. Contudo, tudo o que o rapaz fez foi pegar a vara de bambu e tomar seu rumo.

Eu devia fazer o mesmo, pensou Hugo, mas algo palpitava dentro de seu peito. Ele queria saber o nome do rapaz, saber onde morava. Quem sabe até pedir algumas informações de quais lugares ir, já que não fazia muito tempo que havia chegado da França. O rapaz do caderno com certeza saberia algum bar legal para beber e jogar conversa fora.

Hugo então colocou os dois dedos na boca e assoviou. O rapaz do caderno, que estava prestes a desaparecer na próxima rua, virou e lançou o mesmo olhar de antes para Hugo.

Ele congelou.

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