(79) freedom

[P O V   P A R K  J I M I N]

Segurar um volante entre os meus dedos nunca me pareceu que fosse algo que fosse diminuir a velocidade com que o meu coração batia contra o meu peito, demonstrando o meu extremo nervosismo. 

E saber das falhas, saber que eu era o culpado em todas elas, não era o que me consumia agora.

O que me consumia era libertador, mas a liberdade sempre foi assustadora, sempre foi difícil de conquistar, e não seria diferente comigo. 

Então aquele volante não era o representante de nenhum, era o semelhante a segurança, porque quando eu o largasse eu não estaria mais seguro, eu estaria à deriva no mar sem nenhum porto por perto, sem nada que me fosse salvar de, talvez, uma das piores decisões da minha vida. 

Mas, liberdade

Os números não estariam do meu lado agora, então eu não estou realmente tentando me lembrar das minhas chances. Você sabe, você sabe que nada estaria do meu lado neste momento.

E aquela ainda era a minha casa, mas vista dali era como se não fosse. Era como se eu fosse um vizinho, era como se o meu nome não estivesse na escritura, como se eu não tivesse vivido ali por tantos anos, como se eu não tivesse construído uma família ali, que aos meus olhos, aos meus olhos de agora, aos olhos de um vizinho, vista através daquela janela, seria considerada o auge da perfeição. 

Não é incrível?

Quem fosse espreitar, por uma coisa tão frágil quanto o vidro de uma janela, veria tudo o que havia para ver, um casal que foi capaz de adotar uma criança incrível, tão inteligente, e não faltava nada. Então não é incrível que uma coisa tão fina quanto o vidro de uma janela não deixe te ver que está faltando amor? Que dentre aquelas paredes há um casal que foi capaz de adotar uma filha incrível e tão inteligente na fase iniciante da vida, que talvez eles não estivessem prontos, ou divergissem em pontos que deviam ter sido discutidos?

E agora? 

Quem fosse espreitar àquela casa veria o quê?

Aquele pedaço de vidro tão frágil o deixaria ver a destruição, causada por anos de cansaço?

Eu soltei o volante do carro, apenas uma mão, a descendo até às minhas pernas, para logo depois o agarrar de novo, com medo, quando um barulho soou do lado de fora, com algumas crianças passando de bicicleta na rua, medroso. 

Mas, de alguma forma, foi a vontade de me livrar de todo o medo que me fez soltar aquele volante, que eu abri a porta e a bati em questão de segundos, caminhando até ao passeio, e mesmo com a chave da minha casa no bolso, eu bati na porta, sem mais adiamentos. 

O jardim da casa era algo bonito, que merecia apreciação, que a minha mãe cuidava às vezes quando vinha ali, colocando luvas em Yang Mi, a deixando pensar que ela seria muito boa com flores, enchendo as duas de terra entre brincadeiras, arrancando as ervas, aparando os pequenos arbustos, e até tinham plantado a semente de um morangueiro ali, para que Yang Mi visse as frutinhas crescerem. 

Tudo bem, eu nunca mais viveria isso.

Talvez, com sorte, nós pudéssemos ter um jardim em uma outra casa. 

Taemin abriu a porta, da forma mais desleixada que eu me lembrava de o ver alguma vez, com uma camisola completamente lisa, de cor branca, e em calções largos, de desporto, o suor visível desde o pescoço até aos poucos cabelos grudados na sua testa, até ele puxar os auriculares dos ouvidos, surpreso por me ver ali. 

Eu sabia o que ele estava fazendo. 

Há uns anos atrás, em uma ideia boba de praticar desporto, Taemin tinha pendurado um saco de boxe na garagem, mas ele não tinha realmente muito jeito, no entanto era engraçado brincar com ele sobre isso, era engraçado vê-lo daquela forma, mas ele não tinha realmente raiva de muita coisa para poder descarregar isso em socos certeiros em um saco de boxe, no entanto, agora parecia que tinha, e se havia alguém que ele estava imaginando naquele saco esse alguém era eu. 

Mas tudo bem, nunca mais disso também.

''Me desculpe.'' Ele pediu de imediato, abrindo a porta para me dar passagem. ''Não estava esperando você.'' 

''A vizinha dos ovos tem vindo?'' Eu perguntei, brincalhão, mas logo engolindo em seco, no entanto Taemin deu uma risada anasalada, negando enquanto girava o pescoço, as mãos pendendo no mesmo depois de ele pousar o celular e os fones em cima da mesa de centro. 

''Veio ainda ontem.'' Contou-me. 

E era uma história engraçada, porque nós tínhamos uma vizinha que batia na nossa porta algumas vezes, e sempre pedia por ovos, e nós dávamos. Era engraçado porque nem ao menos o nome dela nós sabíamos quanto mais em qual das casas ela vivia. Tentamos algumas vezes, feitos bobos, tentar descobrir onde ela vivia, seguindo-a pela janela. 

Bom, eu não teria mais isso também, vez alguma. 

''Não seria legal sermos legais um com o outro?'' Eu murmurei, descontente com a situação, o observando enquanto pegava uma toalha ali perdida e a passava pelo suor em seu corpo, logo se sentando de forma desleixada no sofá. 

''Esqueceu alguma coisa?'' Ele perguntou, puxando as costas para a frente e me olhando. ''Onde está Yang Mi?''

''Na minha mãe.'' Eu respondi rápido, sem coragem para me sentar. ''Eu queria conversar um pouco com você.'' Admiti, e ele me olhou de sobrancelha erguida, quase esperançoso, quando eu mexi em minhas mãos e puxei a nossa aliança com cuidado, a pousando em cima da mesinha e o ouvindo suspirar. ''Tae, eu...'' Eu suspirei, esperando alguma coisa enquanto eu deixava o meu corpo cair no tapete da sala, apoiando os meus braços em cima da mesa de centro baixa, a deixando entre nós. ''Eu quero te dizer uma coisa, mas eu não quero gritos, eu não quero destruir o pouquinho de amor que há entre nós, ou talvez não haja mais, eu não sei, mas eu... eu preciso me libertar, eu estou queimando por dentro faz algum tempo, e eu não vejo um outro momento, eu só preciso...'' Eu vi minhas próprias mãos na frente do meu rosto, tentando explicar com gestos o aperto que eu sentia e que eu não conseguia pôr em palavras. 

''O que foi?'' Perguntou-me, impaciente, e eu o olhei, sem me permitir ficar com raiva sobre a sua indiferença. 

''Eu...'' Eu puxei todo o ar que eu consegui, como se eu dependesse apenas dessa lufada para viver, e então eu o soltei enquanto aquelas palavra deixavam os meus lábios. ''Eu tenho um outro alguém.'' 

''Legal.'' Ele comentou, sem me olhar, deixando as costas caírem para trás, pousando as mãos em cima da barriga. ''Seguiu em frente, foi rápido.'' 

''Não, Tae, Taemin...'' Eu murmurei, o chamando como eu achava que devia, sem me saber sobre qualquer direito, pousando a minha cabeça na mesa e puxando as minhas pernas mais para mim mesmo. ''Eu tenho alguém faz um tempo.'' Eu admiti, e pareceu fácil, sem resposta, eu subi o olhar e o vi, na mesma posição, de olhos fechados na direção do teto. 

''Eu sei.'' Ele respondeu-me, o seu pomo de Adão indo e vindo uma vez, em seco. 

''Você sabe?'' Eu questionei, perplexo, sem acreditar, e Taemin continuou sem se mexer. 

''Não sou o palerma que você pensa que eu sou.'' Respondeu-me, e eu quase achei que aquilo era só uma forma de ele sair por cima, até ele continuar. ''Não sei quem é, não sei quanto tempo faz, não sei como nem quando, mas sei que sim. Sei que vem me traindo faz um tempo.'' Ele prosseguiu, aquele pose indiferente. ''Você pensa que eu não sei, que não te conheço, que eu não cresci do seu lado e não te conheço como a palma da minha mão? O que você julgou, Jimin? Que era difícil perceber que você sabia sim de quem eram aqueles presentes chegando no seu aniversário? Que os tratava com tanto amor quanto podia?'' 

''Não era assim.'' Eu tentei, e ele se sentou, me encarando, e dessa vez era raiva no seu olhar, não desilusão. 

''Como era?'' Questionou, irónico. ''Como era quando você deixava outro cara te tocar como só eu devia?''

''Taemin, por favor.'' Eu pedi, ficando em meus joelhos, tentando ganhar alguma postura, consciente, mas ele ficou de pé na velocidade do vento, apontando na minha direção. 

''Como era quando ele estava te fodendo?'' Continuou, pousando uma mão na mesa, baixando-se até mim, o tom tão cerrado, como o maxilar, segurando a minha aliança e a batendo ali. ''Ele sabia? Sabia que você tinha alguém em casa, te esperando para jantar? Sabia sobre Yang? Como era, Jimin? Você lhe falava de nós? Você lhe dizia sobre como ele era melhor na cama? Você lhe contava sobre a forma como eu não te satisfazia mais, Jimin?'' 

''Não era assim!'' Eu gritei, batendo a mão na mesa, lhe fazendo frente, e ele riu, sacana. 

''Você não queria gritaria.'' Ele jogou as palavras na minha cara, sem se mexer. ''Me diga, Jimin.'' Ele pediu, um real pedido, me olhando nos olhos. ''Ele é melhor fodendo ou dizendo que te ama?'' 

''Pare com isso.'' Eu resmunguei, passando os dedos trémulos pelos meus olhos, afastando as lágrimas que eu não sabia estarem acumuladas para longe. 

''Não me faça de tonto.'' Ele mandou, erguendo e endireitando a postura, enfiando as mãos nos bolsos do calção de desporto. ''Ele te oferece flores, chocolates, brincos, anéis.'' Enumerou, mostrando que sabia sobre todos os presentes. ''E você os levou para o nosso quarto.'' Riu, cínico, quase inacreditado. ''Deixou a nossa filha perceber todas essas coisas, e achou que eu não perceberia?'' E ele foi andando, dando a volta na mesa, e eu fiquei de pé, sem lhe querer garantir aquele grau de superioridade que ele queria e achava que tinha. ''Porque está chorando? Você quem fez a merda.'' 

''Taemin, se você sab-'' 

''Porque eu te amo, seu bobo.'' Me interrompeu, sacudindo os ombros. ''E mesmo sabendo, se você estivesse aqui para me querer de volta, eu te aceitaria. Não é uma loucura?'' Perguntou, retórico, com risadas assustadoras. ''Isso não é atingir o nível máximo de desespero?'' Perguntou e eu neguei, sem saber o que dizer. ''Você fez isso com o outro cara também? O deixou a seus pés desse modo? Ele sabe que você está aqui? Me diz, Jimin!''

''As coisas não são como você está ditando, não são! Nunca foram.'' Eu finalmente defendi e ele riu, dando um passo em frente, quase colando o seu rosto ao meu. 

''Então me fala como foram.'' Exigiu, segurando o meu queixo, e eu o parei por ali, triste e chateado sobre a forma como as coisas estavam indo. ''Ele é do seu trabalho? Vocês transavam no escritório? Eu sempre soube que você gostava. Como era? Você o trouxe aqui? Foi na nossa cama? Iam para a casa dele? Ele te fazia gritar o nome dele? Ou eram mais sujos e faziam noutros lugares? Ah, Jimin, você sempre foi incoerente. Me fala, caralho! Ele te fodia bem ou não? Valeu a pena? Ele te fazia esquecer de mim? Fazia você se sentir a put-'' 

A minha mão acertou a cara dele e as suas palavras acertaram o meu coração, com a mira afiada, mas foi ele quem recuou, depois de tanto se aproximar. 

E eu vi na sua pele a vermilhão aparecer, e eu não me arrependi, não me mexi, e o seu olhar arregalado caiu em mim antes de eu sentir todo aquele turbilhão tomar conta de mim. 

''Você não tem o direito de falar essas coisas!'' Eu gritei, avançando sobre ele, o empurrando pelo peito até ele recuar mais. ''Você não tem o direito de falar essas coisas sobre mim, sobre quem quer que seja, Taemin! Eu fiz asneira, mas eu o fiz conscientemente e você não pode mudar isso.'' Eu gritei, os pulmões queimando sem ar antes de eu o empurrar de novo. ''Então vê se cresce, porque eu não consigo mais tentar as coisas com você, eu não consigo mais me sentir assim sobre você, porque a minha pena acabou, Taemin, acabou! Você é um manipulador de merda, você me manipula até nos cereais que eu como de manhã! E se eu esqueci você com outra pessoa, você me esqueceu com você mesmo, hipócrita!'' 

''Então a culpa é minha, Jimin?'' Perguntou-me, falsa calma. 

''A culpa é minha.'' Eu admiti. ''Mas não finja que você não me traiu também. Você traiu a minha confiança quando não soube mais me amar, quando você amou mais os outros e a sua aparência do que a sua família, Taemin. Você me traiu todo quando um Taemin diferente entrou por aquela porta, '' Eu apontei o dedo à entrada. '' e tomou conta de tudo, como se mais ninguém interessasse. Você sabe disso, não é? Sabe que traiu a nossa relação também?'' 

''Eu não fodi com um outro cara.'' 

''Você está errado.'' Eu chutei, mesmo sem razão. '' Eu te traí quando amei outro cara. E você me traiu quando trocou o nosso amor pela perfeição rasca que você idolatra.'' Eu disse e ele parecia surpreso sobre a acusação. ''Eu amo outra pessoa, mas você não ama nenhuma para além de si mesmo.'' 

''Eu amo você, Jimin.'' Foi o que ele disse, convencido de que essa era a solução. 

''Não, Taemin.'' Eu neguei, menos importado com as lágrimas escorrendo das minhas bochechas. ''Você ama você.'' Eu o disse, batendo a ponta do meu dedo no centro do seu peito, olhando em seus olhos. ''E isso nos destruiu. Nós dois nos destruímos.'' 

''Você fodeu com tudo.'' Ainda foi capaz de dizer e eu voltei a negar, porque não acreditava naquilo, desviando o olhar dele de uma vez por todas, puxando a manga da minha blusa para limpar a minha face, lhe virando as costas e caminhando um pouco para longe com calma. 

''Talvez.'' Eu murmurei, me virando de novo, parado perto da mesa de jantar. ''Mas eu o fiz por amor.'' 

♤♡♤

nop, na não, ainda não é o fim 

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