(17) i would stay one more day too

[P O V   P A R K  J I M I N]

Saber que dali a menos de doze horas eu estaria me distanciando de Jungkook mais uma vez não foi tão perturbador quanto eu pensei que fosse ser. 

Apesar de termos apenas mais uma noite até dali a um ano, Jungkook estava claramente fingindo que não, mas vivendo que sim. 

Depois de todo aquele imprevisto que acabou por durar apenas três dias, mas, infelizmente, três dias, nós praticamente ficámos na cama o dia seguinte inteiro, recuperando tempo perdido, com Jungkook se recusando a voltar a comer no restaurante do hotel, e alegando que ele mesmo iria cozinhar dali em diante se tivesse que ser. Na altura eu gargalhei, mas apenas até entender que ele iria fazer a sua palavra valer com unhas e dentes. 

Na madrugada daquele dia, do dia, estar apenas deitado ao lado de Jungkook parecia substituir todas as maravilhas do mundo em uma só. 

Perdidos no meio daqueles lençóis brancos como neve, onde a pele morena dele sobressaía, nós não tínhamos garrafas entre nós, não tínhamos nada se não a companhia um do outro. 

''Que tal no ano que vem a gente nem vir aqui?'' Ele perguntou, sentando-se na cama, puxando o lençol para cobrir as suas pernas e eu imitei-o. 

O meu olhar estreitou-se nele, sem entender o que ele queria dizer, encostando a minha cabeça na cabeceira da cama, onde a minha nuca se moldou para que eu olhasse o teto, mas fechei os olhos, deixando os meus lábios entreabertos. 

''Foi só um erro, Jungkook, toda a gente comete erros.''

Eu quase bati em mim mesmo por ter demorado tanto tempo a entender o porquê de ele sugerir aquilo. 

''Olhe o que fez com você.'' Ele mexeu-se um pouco, talvez ficando de lado para mim, pegando a minha mão e segurando-a. 

''Continuaremos aqui no ano que vem.'' Eu murmurei, ainda que cansado sem deixar transparecer, concluindo o assunto. 

Os seus dedos passeavam entre os meus, acarinhando-os com delicadeza. 

Nós dóis nunca tínhamos falado do futuro, embora soubéssemos que dali a um ano estaríamos no mesmo local, fazendo as mesmas coisas, nunca o tínhamos dito em voz alta, nunca tinha sido colocado em palavras como uma certeza. Não havia futuro para nós.

''Você só quer que eu continue cozinhando para você, não é?'' Ele riu baixinho, brincando.

Eu abri os olhos, o puxando pela mão que ele segurava, sem ele mesmo contar, fazendo-o bater a cabeça no meu peito. 

''Você cozinha bem.'' Eu declarei, deixando os meus dedos tomarem conta do seu cabelo. 

Ele ajeitou o corpo para que ficasse confortável, puxando a pele do meu quadril entre os dedos, quase me beliscando. 

''Eu quero te perguntar uma coisa.''

A minha mente saltou para exatamente 12 meses atrás, quando Jungkook estava determinado a saber mais sobre a minha vida, mas, daquela vez, não havia álcool para culpar. 

''É sobre Yang Mi?'' Eu brinquei, sendo que, ultimamente, ele parecia muito interessado sobre ela.

''Não.'' Ele ergueu o rosto, deixando a sua bochecha deslizar sobre a pele do meu peito, apenas para sorrir de lado e pousar a cabeça de novo. 

''Então?'' Eu voltei a acariciar o seu couro cabeludo, ansioso pela sua pergunta. 

Jungkook demorou um pouco para dizer alguma coisa, para se mexer, para dar algum sinal de que não tinha adormecido. 

Mas então ele deixou o ar escapar pela sua boca, fazendo cócegas na minha pele, fazendo a minha curiosidade tomar conta de mim. 

''Só um dia.'' Disse-me, solto. ''Você ficaria só mais um dia?'' 

Os meus pulmões travaram, porque era impossível travar o meu coração. 

Estava dividido entre ser racional, ou deixar o meu lado bobo e frágil, o sentimental, deixar-se expressar. 

E até os meus dedos insistentes tinham parado, esfregando-se um no outro, como saída para aquele desastre que tomava conta do meu corpo. 

Eu sou capaz de ter demorado mais tempo do que ele para falar alguma coisa. 

''Do que adiantaria?''

Eu não queria supor um porquê. Eu não queria supor o que o estava fazendo pedir aquilo. Não queria supor nada. 

''Quer dizer...'' Eu aclarei a garganta, não querendo fazer caso daquilo. ''Um dia faria a diferença?'' 

Mas a diferença em quê, Jimin?! O que você está pensando?!

''Nós não iremos ficar.'' Ele decidiu deixar claro. ''Mas ficaria?'' 

Eu tinha que admitir que estava mais aliviado, porque eu sabia que mais um dia seria só mais um dia, tanto quanto não queríamos ir embora naquele momento, também não quereríamos dali a um dia. 

Então eu ri baixinho, puxando o seu cabelo. 

''Você sabe que eu ficaria mais um , ou dois, ou três...'' Eu deixei a resposta no ar, como se a quisesse tornar infinita e ela podia ser. 

''Eu não sei...'' Ele contrapôs, referindo-se ao facto de eu achar que ele sabia. 

Eu segurei a cabeça dele, baixando-me até ficar de frente para ele, virados um para o outro, com os meus dedos correndo agora a sua face, tocando as suas pálpebras, o seu nariz, os seus lábios. 

''Essa era a sua pergunta?'' Eu sorri torto, chegando-me para mais perto dele. Ele acenou, girando a cabeça até a sua boca estar contra a minha mão, segurando-a enquanto lhe deixava um pequeno selar e aproveitando o contacto para puxar o meu braço para cima do seu corpo. Depois a sua mão segurou a minha coxa, puxando-a para cima dele também.

''Eu quero ir na varanda.'' Ele disse-me, puxando o meu corpo todo para cima dele, sentando-nos na cama. 

''Tipo... Na varanda?'' Eu perguntei, um pouco inseguro sobre aquilo. 

Ele gargalhou alto de mim, deixando as suas pernas para fora e levantando-se, forçando o seu corpo para suportar o meu em seu colo. 

''Lá é bonito.'' 

''É?''

Nós alguma vez tínhamos ido na varanda?

''Não se preocupe, Jimin.'' Ele beijou os meus lábios uma vez, encostando-me na janela grande, para puxar a mesma, abrindo-a, fazendo o ar frio da noite chocar com as minhas costas quando ele nos deixou do lado de fora. ''Eu não vou me distrair de você.'' Ele garantiu, como se eu estivesse implorando pela sua atenção. 

Eu não estava, estava? 

Eu soltei um grito exasperado quando, contra as minhas pernas nuas, eu senti o corrimão de proteção da varanda, sendo que atrás de mim tinha uma queda com muitos, muitos,  metros de altura. 

''Se acalme.'' Ele pediu, quando eu apertei os seus ombros. 

Aquilo era uma loucura, um deslize e eu caía, morria. 

Mas, no entanto, estar perto da morte com ele não parecia o fim do mundo. 

Ele rodeou o meu corpo com os braços, as mãos bem assentes nas minhas costas, quando eu fiquei de frente com o seu peito, sendo impossível não nos tocarmos naquele momento. 

''Você tem medo de altura?''

Inevitavelmente eu olhei por cima do ombro, vendo aquela distância, fazendo com que a enorme piscina do hotel parecesse apenas uma de jardim. 

''Não.'' Eu neguei, porque eu não tinha. 

Ali eu não tinha medo da altura, tinha medo do perigo, e a confiança que eu tinha em Jungkook não me podia cegar tanto assim. 

''Você...'' Ele encostou a sua testa na minha, pressionando-a e a minha coluna começava a curvar-se para trás, com ele forçando completamente as mãos na blusa dele que eu vestia. ''Não quer viver?''

Eu não sabia do que ele estava falando enquanto roçava os lábios nos meus, quando a minha bunda escorregou e eu entendi em que posição me encontrava. Estava tão distraído pelo proximidade entre nós, como se fosse uma coisa nova, tão hipnotizado, que não entendi quando me afastou da varanda e me fez baixar, trazendo o seu rosto comigo, na frente do meu. 

''Jungkook.'' Eu avisei, alertado, com medo que me soltasse, abraçando-lhe o tronco com as pernas. Ele riu de mim, como quem sabia o que fazia, mas eu não estava assustado, estava crente naquela confiança que ele nunca tinha traído. 

Ele beijou os meus lábios, enquanto eu apertava os seus bíceps, quase sem sentir o meu próprio peso. Mas tal como de todas as vezes que ele me beijava daquele jeito delicado, eu não precisava de chão, era todo um novo espaço, onde só nós dois existiamos. 

Segundos depois eu senti o choque dos meus pés com o chão, não notando que até então mantinha os meus olhos pressionados, completamente fechados, respirando fundo ao perceber que estava de novo assente em terra. 

Ele puxou-me pelos cotovelos, juntando as nossas bocas mais uma vez, e dessa vez eu deixei-me ir, subindo os braços entre nós, rodeando o seu pescoço com os dois, envolvendo sua língua na minha. 

Eu desci os dedos pelo seu abdomén, o empurrando para dentro do hotel, com as mãos prensadas mais tarde em seu peito. Quando as suas pernas estavam batendo na cama, e ele estava rindo, eu o empurrei, e ele deixou-se ir, ainda rindo meio sacana. E eu pousei os joelhos na cama, gatinhando para ficar em cima dele, deixando-o passar as mãos pelas minhas coxas e bunda, sedentas por qualquer contacto. 

As horas correram dali em diante, com a nossa despedida se aproximando, mas nós não dormimos em nenhum momento, mantendo-nos juntos pelo tempo que podíamos. 

Mas, algures no meio daquela manhã, com os nossos vôos marcados para a hora de almoço, Jungkook estava deitado na ponta da cama feita, vestido e pronto para deixar a casa, mas era cedo demais. 

''Você está com sono?'' Eu perguntei-lhe, tirando todos os brincos das minhas orelhas, para que não tivesse que o fazer no aeroporto. 

Ele ergueu o tronco, apoiando-se com os braços para trás, acenando levemente com a cabeça, quase com os olhos fechados. 

Eu caminhei na sua direção, ficando no meio das suas pernas, com as duas mãos na minha orelha esquerda, tirando o maldito piercing que sempre me dava problema. 

Jungkook puxou as minhas pernas, fazendo-me cair desajeitado sobre ele, para que nenhum dos meus joelhos acabasse o magoando. 

''Jungkook!'' Eu guinchei, saindo de cima dele, com o meu corpo indo de encontro ao chão. ''Você me fez perder!'' Eu murmurei, olhando atentamente para o chão. 

''Fiz o quê?'' Ele murmurou, encolhendo as pernas. 

''O meu piercing!'' Eu continuava a murmurar, decidido a encontrar a bolinha que segurava o maldito brinco na minha orelha. 

Jungkook tirou o celular do bolso e eu o viu colocar uma senha, apenas para mostrar um fundo azul, para o qual estreitei os olhos, pois parecia um telemóvel que nem era dele, nada de personalizações, nada de fotografias dele, ou da sua mulher. Então ele ligou o flash do aparelho, apontando-o para o chão, fuzilando o olhar para ele, procurando. 

''Desculpe, meu amor.'' Ele pediu, puxando os meus braços para cima, e eu ajoelhei-me, ficando no meio dele. ''Era importante para você?'' 

''Era o meu piercing.'' Eu sacudi os ombros, apoiando-me nos joelhos dele para me levantar, retirando o que restava da peça de bijutaria da minha orelha, colocando-a na bolsa da mala. 

''Hey.'' Ele levantou-se, apertando os meus ombros, ficando atrás de mim. Via-o pelo espelho. ''Me desculpe.''

''Está tudo bem, Jungkook.'' Eu respondi, sentindo-o beijar o meu pescoço, depois a minha bochecha. 

E, mais uma vez, o Tempo versus Jungkook & Jimin. 

Antes que eu notasse nós dóis apertávamos os passaportes entre nossos dedos e dessa vez, pela primeira vez em anos, o vôo de Jungkook seria primeiro que o meu, pois o meu estava atrasado. 

''Eu não quero deixar você aqui.'' Ele murmurou contra a minha bochecha, enquanto apertava a minha cintura, deixando-me contra ele, sem hipótese de me mexer. Eu segurei os seus ombros, porque ele devia estar indo embora naquele momento.  

''Só vá.'' Eu ri, empurrando-o de leve. 

Ele puxou-me mais uma vez, segurando a minha nuca para garantir que alcançava os meus lábios mais uma vez, deixando a sua testa na minha por uns segundos. 

''Jimin.'' Ele murmurou, mordendo o próprio lábio, encarando os meus. ''Eu ficaria mais um dia também.'' Ele confessou, como se todo aquele assunto ainda estivesse em sua mente desde a noite passada. 

Eu acenei, concordando, sentindo-o afastar-se, eu abri os olhos, ele pegava a mala, sorrindo pouco convencido, virando costas. Eu sentei-me, vendo-o ir, entregar o bilhete e o passaporte para a atendente de balcão, que logo o deixou passar e sorriu-lhe. 

Naquele momento eu não estava atento em como as costas dele pareciam perfeitamente esculpidas. 

Não. 

Eu estava naquele aeroporto sozinho e sem ele ali não fazia sentido. 

Eu apoiei os cotovelos nos joelhos, afastando os cabelos da minha testa, porque não era suposto as nossas despedidas serem difíceis. 

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