(15) Jimin?

[P O V   P A R K  J I M I N]

No terceiro dia daquela viagem, dias que já começavam a passar rápido demais, as coisas pareciam estar indo bem até eu acordar. 

Naquela manhã parecia que eu tinha levado uma pancada no estomâgo com toda a força que alguma vez alguém podia dar, mas tudo o que eu fiz foi voltar a dormir, até porque era cedo demais. 

No dia anterior eu e Jungkook tínhamos decidido descer para jantar no hotel, com plena preguiça de nos apresentarmos melhor para algum outro restaurante ou de nós mesmos arranjarmos jantar. As minhas suspeitas eram que eu tinha comido alguma coisa estragada e aquela dor de barriga infernal era o resultado. 

Mais tarde, quando eu acordei mais uma vez, eu percebi que não era uma coisa passageira. 

Jungkook ainda não tinha acordado, quando eu passei algum tempo na casa de banho achando que ia vomitar. Quando eu saí, mal me aguentando de pé, andando encolhido e com frio e dores, ele estava se mexendo na cama. Eu fiquei do meu lado, puxando os cobertores sobre mim, mesmo assim sentindo-me gelado e, ao mesmo tempo, suado. 

Alguns minutos depois, que não foram muitos, Jungkook estava se remexendo na cama, provavelmente decidindo se dormiria mais ou se se levantava agora. Quando a sua decisão foi tomada, ele levantou-se da cama e foi ao banheiro. Eu ouvia-o, percebendo o que ele fazia, desde escovar os dentes a tomar uma ducha. 

Eu estava mais encolhido quando ele voltou, porque a cada minuto que passava eu sentia que toda a situação piorava. Eu mantinha os olhos fechados, apertados, quase a ponto de implorar que aquilo parasse.

''Jimin?'' 

A voz dele até parecia que vinha do fim de um túnel, quando na verdade ele estava se aproximando, ficando perto de mim. 

''Jimin?'' Ele voltou a chamar. 

Se eu tivesse energia, porque além de tudo eu ainda estava esgotado pela noite passada, eu iria levantar-me e dizer-lhe algo, mas haviam outras coisas a ocupar a minha cabeça. 

''Está acordado?'' Ele quis se certificar. 

Eu acabei murmurando qualquer coisa que o meu cérebro não teve tempo de raciocinar, mas pareceu servir, pois ele ficou mais perto.

''Não vem tomar o café da manhã?''

Só de pensar em ingerir qualquer coisa naquele momento fazia a minha barriga dar voltas, fazendo-me engolir em seco porque afinal o meu corpo não parecia querer expelir o que lhe estava fazendo mal. 

Eu senti o peso dele sobre a cama e então os cobertores foram afastados de mim, mostrando a minha posição fragilizada. 

''Você está bem?'' Ele sorriu de canto, de joelhos na cama, apenas com uns jeans vestidos e o tronco nu. 

Eu neguei com a cabeça. As suas sobrancelhas uniram-se, estranhando aquela resposta. Eu voltei a puxar os cobertores para mim, deixando apenas a minha cabeça descoberta. Eu não sabia como é que eu aparentava naquele momento, mas certamente não estava explodindo em sorrisos graciosos e felicidade. 

''O que aconteceu?'' Ele baixou-se, tocando a minha face e acarinhando-a. ''Você está um pouco pálido.'' 

O toque gelado dele fez-me perceber que, apesar de o meu corpo estar frio, a minha cabeça estava queimando. 

Alguma coisa aconteceu dentro de mim em seguida, fazendo-me afastar o que me cobria com certa lentidão, ainda a testar terreno, tentando entender se eu deveria mesmo levantar-me ou se era falso alarme. No entanto, no segundo seguinte eu estava correndo, com apenas tempo para fechar a porta do banheiro com a ponta do pé, baixando-me perante a privada. 

Eu soube ali que eu não estava bem e que alguma coisa realmente estragada estava habitando o meu sistema. 

''Jimin?'' Ele bateu levemente na porta. ''Eu posso entrar?'' 

''Não.'' Eu murmurei, querendo ser ouvido. ''Eu já saio.''

Eu não saí. Depois de descarregar toda aquela porcaria nojenta, eu estava mais aliviado, no entanto a dor mantinha-se, mas aquela sensação inusitada de vómito tinha desaparecido. Antes de me enfiar no chuveiro, eu decidi trancar a porta do banheiro, só para o caso. 

Eu não queria estar doente naquele dia, naquele tipo de dia, naquela semana, mas o azar perseguia-me e não é que eu não o merecesse. 

Quando eu saí do banho, apoiei-me no lavabo, fazendo o resto da minha higiene, encarando o meu reflexo no espelho e notando o quão cansado eu aparentava estar. E eu não sabia se era do cansaço referente ao trabalho todo a que me tinha sujeitado antes ou se era sobre o que acontecia naquele momento. 

Jungkook tentou abrir a porta, encontrando-a trancada, e eu ouvi-o bufar do outro lado. Estiquei o meu corpo para girar a chave metálica dourada, puxando depois a maçaneta e fazendo a porta abrir-se. 

Ele tinha o braço levantado, apoiado na ombreira da porta, agora com uma camisa branca vestida, porque ele adorava essas. Ele encarou-me, sério, quase chateado, sem se mexer, enquanto eu fingia pentear os cabelos com os dedos em frente do espelho, ainda um pouco encolhido, mas dessa vez achei normal porque trajava apenas uma toalha amarrada nos meus quadris. 

''O que aconteceu?'' Ele questionou, quase a exigir. 

''Foi só-''

A minha mão, que suportava o peso do meu corpo contra o lavabo, escorregou, assustando-me e quase fazendo o meu corpo ceder.

''Jimin!'' Ele exclamou, assustado, dando um passo em frente e puxando-me para ele, segurando-me. Eu baixei o rosto, um pouco envergonhado. ''Foi só o quê?'' Dessa vez ele exigiu a resposta, com o tom duro. ''Me diga alguma coisa, eu estou quase arrancando cabelos.''

Eu dei uma risada seca, porque a meu ver aquilo não era algo que necessitasse de tanta atenção ou preocupação. 

''Está tudo bem.'' Eu afastei-me um pouco dele, passando por si e dirigindo-me à minha mala. 

''Você não parece bem.''

Eu vi através do espelho que ele estava atrás de mim, enquanto eu pegava uma camisola mais grossa e a puxava pelo tronco. 

''O que está fazendo?'' Ele uniu as sobrancelhas em confusão, encarando-me com um leve toque de choque no seu olhar. ''Está um calor desgraçado, Jimin.'' Ele aproximou-se de mim em passos grandes e rápidos, tocando os meus ombros e virando-me para ele, levando à mão a minha cabeça e prensando-a na minha testa. A expressão dele de confusão desfez-se, aproximando os seus lábios dos meus e tocando-os, sem me beijar. Depois afastou-se e eu tinha a certeza que agora os dois partilhávamos aquela expressão de desentendimento. ''Você está fervendo.'' Constatou.  

''Estou?'' Eu brinquei, descontente por ele não me ter beijado. 

Ele apressou as suas mãos a agarrar a camisola que eu tinha acabado de vestir, puxando-a para cima e atirando-a para cima da cómoda, para em seguida vasculhar a minha mala, que estava em cima desta, e puxar uma boxer, entregando-ma. 

''Vista isso e apenas isso, está me ouvindo?'' Ele ordenou, parecendo sério sobre o assunto, e se fosse em outra ocasião eu sorriria travesso. 

''Eu tenho uma criança em casa, sabe disso, não é?'' Eu atirei, puxando a boxer por baixo da toalha. ''Sei cuidar de uma febre passageira.'' 

''Você estava prestes a fazer tudo o que não pode fazer em uma situação como esta.'' Ele rebateu, afastando-se de mim. ''Você deveria ir para o sofá, porque a cama está... Suja.'' Ele completou, coçando os cabelos. ''Eu irei preparar chá.'' 

Ele saiu rapidamente, caminhando para a cozinha. 

Eu sorri para mim mesmo, incapaz de o fazer fisicamente, porque ele parecia realmente preocupado comigo. 

Quando eu já estava acomodado no sofá, dando pela primeira vez uso ao comando da televisão e à televisão em geral, Jungkook voltou com uma caneca de chá em suas mãos, caminhando com cuidado, provavelmente para não virar o conteúdo. 

''Aqui.'' Ele ficou na minha frente, em pé, e eu não sabia como é que ele não queimava as mãos naquele momento. ''Precisa beber um pouco.'' Ele instruiu, aproximando aquilo da minha boca, e eu entendi que seria impossível ele passar aquilo para as minhas mãos sem antes eu bebericar. Ele levou a chávena à minha boca e eu olhei, quase rindo, bebendo então um pouco. 

''Obrigado, Papai.'' Eu brinquei, dando-lhe espaço no sofá para que se sentasse, ainda com um cobertor até ao pescoço, deixando a minha nudez para mim mesmo. Ele riu do meu palavreado, sentando-se do meu lado, ainda sem me passar o chá. 

''Você deveria estar apenas com um lençol.'' Ele puxou as pontas do cobertor em cima de mim, sem muita força, apenas para indicar que aquilo era quente demais. Ele estava sentado de lado, virado para mim, com uma perna em cima do sofá, perto das minhas encolhidas contra o peito, e um braço pousado também. 

''Estou com frio, Jungkook.'' Eu murmurei, pegando o chá da sua mão e levando-o aos meus lábios. Parecia mais arrefecido do que água realmente fervida, o que facilitava a descida pela minha garganta, mas ainda assim ainda quente. 

''Você nem devia estar bebendo isso, eu estou facilitando.'' Ele respondeu e eu sabia que era verdade. Eu deveria estar arrefecendo o meu corpo e isso não estava acontecendo. ''Eu vou à farmácia. Só dói a sua barriga, certo?'' 

O meu coração está apertado, Jungkook, mas você não precisa de saber. 

Ele já estava para se levantar, mas estiquei a minha perna, pousando-a em cima das suas, sendo essa a única maneira que encontrara para o impedir de ir. E eu nem tinha dito que a minha barriga doía. 

''Não é preciso.'' 

''Você está ardendo em febre.'' Ele declarou. ''E isso não é normal.'' 

''Eu comi alguma coisa estragada.'' Simplifiquei, apertando a minha perna contra o seu corpo, tentando trazê-lo para mais perto. Pousei a caneca na mesa de centro. 

''Eu quero que você melhore.'' Ele afastou a minha perna, levantando-se e eu resmunguei em resposta. 

''E se eu piorar enquanto você vai?'' Eu joguei e ele sabia que eu não estava realmente sendo sincero, apenas não queria que ele fosse. 

Mas ele negou com a cabeça, caminhando para o quarto. Quando ele voltou, eu estava encolhido contra o sofá, tentando deixar de sentir aquele frio infernal. Mas Jungkook puxou o cobertor de mim, deixando-o no final no sofá, sentando-se ao meu lado e enfiando uma camisola no meu pescoço, que eu me prontifiquei a vestir, para me aperceber que era apenas uma t-shirt. Ele ajeitou o seu corpo do meu lado, pegando o meu corpo para ficar de costas para ele, deitando-se assim atrás de mim, puxando o cobertor apenas para cobrir as minhas pernas, ainda nuas. O seu braço rodeou a minha barriga, com a sua mão acariciando a mesma, por baixo da blusa fina. 

''Se você não melhorar eu irei-''

''Irá em uma farmácia, ok.'' Eu o cortei, apertando-me contra o seu corpo dessa vez. Eu tentei virar-me, mas ele não me deixou, entrelaçando as suas pernas nas minhas e apertando-me mais. 

Durante toda a manhã e um pouco da tarde nós ficámos ali, sem qualquer tipo de conversa e apenas no conforto um do outro. Ele passava o seu nariz pelos meus cabelos às vezes, beijando a minha nuca com carinho. 

Eu não sentia mais coisas estranhas na minha barriga e o meu estomâgo ainda podia estar dando voltas, mas não eram de dor. 

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