– Você não vem junto? – Pergunto para Jacobssen assim que chegamos na pequena entrada do túnel.

– Não. – Ele nega com a cabeça. – Estou velho demais para isso. Além do que, estou aleijado e não sobreviveria nesses túneis por muito tempo.... Prefiro ficar no meu confortável muro e viver meus últimos dias sozinho.

– Tudo bem então.... Obrigado novamente. – Agradeço já pela vigésima vez, e Jacobssen anui.

– Vão. – Com um aceno, pego na mão de Naomi e a coloco na entrada do túnel, entrando com muita cautela logo atrás. – Boa sorte.

***

– Josué, estou cansada. – Naomi diz, se recostando na parede fúnebre de terra batida.

– Não podemos descansar agora. – Digo a puxando para que se levante. Estamos nesse ambiente insalubre por o que parecem ser dias, tentando seguir o caminho que o velho senhor Jacobssen havia tentado explicar. – Eu também quero descansar, Naomi, mas não podemos nos dar o luxo de fazer isso agora. Você quer perder os botes? – Por um movimento na sombra, consigo ver que ela negou com a cabeça.

Sinto uma pontada de dor em minhas costas, mas ignoro. Desde ontem eu não me importo mais, pois eu sei que não há nada para ser feito. Minhas costas estão se cicatrizando, mas de uma forma totalmente errada. Não tomo banho desde que me feri, e portanto, meus ferimentos se tornaram um viveiro de bactérias e pus. Sei que deve estar horrível e que, se eu não desinfetar dentro de algumas horas, as consequências serão severas, ou mesmo fatais.... Espero que cheguemos logo nas mãos de médicos.

– Você está vendo o mesmo do que eu? – Naomi pergunta subitamente, e eu desvio minha atenção do chão para olhar para frente.

– Luz? – Indago semicerrando meus olhos para ter certeza de que isso não é apenas mais uma miragem.

– Sim! Josué! Não conseguimos! – Naomi praticamente grita, fazendo com que alguns montinhos da areia batida caiam acima de nós. – Opa...

Esfrego meus olhos com as costas das mãos e olho mais uma vez para a luz que cresce a cada passo que damos. Estamos no final do túnel, na faixa de Gaza.

– Vamos! Corra! – Digo a ela e seguro uma de suas mãozinhas, não esperando mais um segundo sequer antes de começar a correr na direção da luz.

Na direção da liberdade e da nossa salvação.