Cores no Encontro Urbano

Sam estava em êxtase, agarrado a suas pernas, sentado na cama, ele revivia aquele dito pesadelo que se baseava em sua vida. As marcas de queimaduras leves em suas mãos o lembrava do grande ocorrido e das memórias assustadoras daquela noite. Sua casa estava em chamas, ajoelhado no meio fio ele encarava toda destruição dos sonhos que ele havia construído durante tempo. 

Foi em uma das noites antes do natal, a neve ainda não havia caído, mais já dava para sentir o frio que se aproximava ainda mais. Em seus pensamentos daquele dia, só permanecia preocupações, com o casamento em crise, Sam queria poder recomeçar tudo, enquanto pegava no sono durante as suas escritas noturnas sobre sentimentos e sua desilusão com seu casamento, ele acordou inalando fumaças. A brasa da lareira da sala principal estava queimando as cortinas, a linda árvore de natal já estava no chão ajudando a alastrar as chamas para os comôdos restantes. Sam não pensou nem duas vezes em fugir pelas janelas. Ethan, seu marido, havia de sair prometendo resoluções no dia seguinte.

Não demorou muito para que os bombeiros chegassem, vizinhos estavam ao redor da casa, enquanto Sam permanecia em choque. Um dos bombeiros disse que ouviu gritos de pedidos de socorro vindo de dentro da casa, Sam não fazia ideia que Ethan havia voltado, mas já era tarde demais. As chamas tomaram conta de toda casa e da vida de Sam, o deixando somente em cinzas. 

Agora, num quarto sozinho, onde ele deixava as janelas abertas, entram os ventos do outono, e Sam encarando sua realidade tentando se acalmar e recompor seu desespero diário. Aquilo era o que te atormentava.

Não muito longe dalí, na noite agitada cidade de Nova York, onde a arte e a paixão se entrelaçavam nas ruas iluminadas pelos arranha-céus, Damien estava mais uma vez perdido em seu mundo criativo. O estúdio, com suas paredes cobertas de telas incompletas e pincéis manchados de tinta, era seu refúgio do caos da cidade. Ele esculpia suas emoções em cada traço, cada pincelada, e ali, em seu trabalho, encontrava a liberdade que tanto ansiava.

Com cabelos escuros e olhos expressivos, Damien possuía um magnetismo que atraía todos que ousavam cruzar seu caminho. No entanto, o artista mantinha um muro emocional impenetrável, protegendo-se das cicatrizes do passado, o que havia sido construido desde sua infância conturbada. Damien presenciava com frequência os espancamentos de seu pai bêbado e a depressão agravante e o isolamento que sua mãe manteve anos. Ele havia aprendido a transformar sua dor em obras de arte que conquistaram críticos e admiradores, mas, no fundo, seu coração ansiava por algo mais.

No entanto, naquela noite, havia um brilho especial nos olhos de Damien, uma chama que transcendia o habitual fervor criativo. A proximidade da inauguração de sua galeria de arte acrescentava uma pitada de expectativa ao ar carregado de tintas. Cada obra pendurada nas paredes esperava para contar sua história, e Damien, o arquiteto de cada narrativa, sentia a emoção pulsar em seu peito. Suas telas eram preenchida de vermelho ambar, um preto, laranja e traços marcantes.

A alegria, no entanto, não era apenas pela vitrine de suas conquistas; era também por algo mais profundo e pessoal. A presença da sua mãe naquele momento significava mais do que palavras poderiam expressar. Ela, que testemunhou cada pincelada da sua infância, cada sonho que ganhava vida nas telas improvisadas do passado. A jornada desde as ruas modestas da sua infância até as galerias brilhantes de Nova York era, para Damien, uma vitória compartilhada. O estúdio, antes um esconderijo das agruras, transformou-se agora em um palco onde as histórias de sua vida eram contadas, e sua mãe estava lá para testemunhar a vitória de um filho que transformou a dor em arte.

No coração da cidade que nunca dorme, Damien não só encontrava a liberdade na expressão artística, mas também celebrava a vitória sobre as sombras do passado, pintando o caminho para um futuro que prometia ainda mais cores e realizações.

~*~

No tranquilo bairro residencial onde Sam reside, distante do frenesi dos arranha-céus que ornamentam o horizonte de Nova York, seu dia se desenrola em uma cadência diferente. Cada manhã, ele desperta afim de esquecer tudo. O apartamento, adornado com estantes repletas de livros e a luz suave que permeia através das cortinas, proporciona um refúgio acolhedor.

Suas manhãs eram marcadas pelo aroma  de café fresco, uma tradição diária que prepara Sam para enfrentar as exigências do mundo exterior. O silêncio da manhã é quebrado pelo som suave das páginas de um livro virando, enquanto ele mergulha nas palavras de autores que há muito tempo se tornaram companheiros de alma.

Naquela manhã, Sam começou seu dia como todos os outros, o café de sempre, as leituras de seu livro preferido, e as aulas tranquilas com os alunos da universidade as vezes se tornam maçantes pelo preconceito de alguns alunos. Em um dia como qualquer outro, enquanto discutia sobre uma obra clássica da literatura britânica com seus alunos, Sam sentiu o ambiente tenso com a chegada de uma piada maldosa. Um estudante, cujo semblante debochado carregava a ignorância e a intolerância, soltou uma risada acompanhada de um comentário insensível.

"Ei, professor, falando nisso, você já leu sobre Oscar Wilde? Acho que ele entenderia bem o seu gosto peculiar por literatura."

A sala de aula, tornou-se repentinamente um campo de batalha de alunos irritantes. Sam, com serenidade, olhou para o estudante e respondeu:

"Oscar Wilde, um homem brilhante e notável, sem dúvida. Sua contribuição para a literatura é inegável. E sobre meu 'gosto peculiar', a diversidade é o que enriquece a experiência literária, não acha? Creio que saíba bem disso."

O aluno se surpreendeu com a resposta, ele sabia o que Sam queria dizer. O garoto tentou desconversar, a sala se manteve em silêncio e Sam voltou a leitura do texto.

Durante a tarde, ele buscava  escrever suas próprias histórias e reflexões. As palavras fluem, uma extensão natural do seu amor pela literatura, tornando-se uma forma de processar o passado doloroso que ainda deixa cicatrizes em sua alma. Os passaros faziam companhia a ele, assim como as donas de casa e seus cachorros corriam pelo parque.

Naquela tarde, Damien estava em sua galeria de arte favorita, onde uma exposição de suas obras estava prestes a abrir. O nervosismo e a excitação fervilhavam em seu interior enquanto ele ajustava os quadros e se certificava de que tudo estivesse perfeito. Ele olhava para cada peça como se fossem partes de sua alma expostas ao mundo.

Através das paredes de vidro da galeria, Damien podia ver a cidade, com seus habitantes apressados, cada um com sua própria história e destino. O que ele não esperava era que uma daquelas histórias fosse prestes a colidir com a sua.

Enquanto Damien estava absorto em seus pensamentos, a porta da galeria se abriu com um tilintar de sinos. Ele levantou os olhos para ver um homem alto e esguio entrando, com uma mochila a tiracolo e uma expressão curiosa nos olhos castanhos. Sam,  estava explorando a cidade em busca de inspiração para suas aulas e destração dos pensamentos.

A primeira coisa que notou foi a beleza das obras de Damien. Os quadros eram eram escuros e cheio de dor, uma melancolia que acompanhava Sam, da qual ele entendia bem.  Ele se aproximou de um dos quadros, completamente absorvido por sua intensidade.

Damien, sentindo um olhar sobre si, virou-se e viu Sam parado diante de uma de suas obras. Seus olhos se encontraram, e um instante de reconhecimento silencioso passou entre eles. Damien reparava nos cabelos bagunçados proposital de Sam.

"Você é o artista?", perguntou Sam, finalmente quebrando o silêncio.

Damien assentiu, surpreso com a simplicidade da pergunta, mas também cativado pela sinceridade nos olhos de Sam. "Sim, sou Damien."

A conversa que se seguiu foi como uma sinfonia de palavras, uma troca de histórias e ideias que preencheu o ar da galeria. Damien e Sam compartilhavam da mesma paixão pela arte e pela literatura.

Sam examina atentamente uma das obras de Damien, contemplando as complexidades das cores e a emoção transmitida.

"É notável, Damien. Cada tela parece contar uma história única, uma narrativa visual que desperta a curiosidade."

Damien, percebendo o interesse de Sam, aproxima-se com um sorriso cordial.

"Agradeço, Sam. Tento infundir cada obra com uma autenticidade que ressoe. Como vê, a arte é a minha forma de comunicação."

Sam assente, mostrando apreciação.

"Com certeza transmite uma sinceridade palpável. Tem dor, sentimento.", disse gesticulando.

Damien sorri, percebendo a recíproca curiosidade.

"Cada pincelada é uma parte de mim. Mas estou intrigado, o que motiva um apreciador de literatura como você a explorar uma galeria?"

Sam ri de maneira respeitosa, indicando uma obra em particular. Como aquele homem era observador, e prestava atenção em cada palavra que Sam dizia, era obvio que Damien dotou os livros nas mãos.

"Interessante como esta me lembra um trecho de Oscar Wilde. Uma dança entre palavras e cores, algo assim."

Damien, agora ainda mais intrigado, convida Sam para um diálogo mais aprofundado.

Enquanto a tarde se transformava em noite, a galeria se encheu de admiradores e curiosos, mas Damien e Sam permaneceram focados um no outro. 

Damien era um homem de beleza intrigante. Seu cabelo escuro caía em mechas rebeldes sobre a testa, contrastando com a pele pálida que destacava seus olhos intensos. Seus olhos, profundos e misteriosos, como pensava Sam, eram de um azul vívido, que pareciam capazes de revelar segredos do universo.

Ele tinha uma presença magnética, que atraía as pessoas para perto, não apenas pela sua aparência cativante, mas também pela aura de mistério que o cercava, com uma figura esbelta.

O espaço logo começava a encher, uma agitação crescente preenchendo as paredes decoradas com suas criações. Familiares, amigos e apreciadores de arte se misturavam em um mar de expectativas. A presença da família de Damien acrescentava um toque especial à atmosfera, como uma manifestação tangível do apoio que sempre esteve ao seu lado. Seus olhos encontravam os de sua mãe, refletindo orgulho e amor, enquanto ela admirava cada obra que capturava a essência do filho.

Contudo, em meio ao burburinho, Damien notou Sam em segundo plano, observando as obras com admiração genuína. A cena transmitia uma mistura de emoções para Damien; a excitação pela inauguração de sua exposição competia com uma pontada de desapontamento ao perceber que Sam estava prestes a partir. Um aceno de despedida sutil ecoou na multidão movimentada.

Damien, dividido entre o dever de receber seus convidados e o desejo de abordar Sam, sentiu o peso de uma escolha. Contudo, a realidade da galeria lotada e a celebração em andamento o prenderam ao papel de anfitrião, enquanto Sam se afastava, perdendo-se na paisagem noturna da cidade.

Assim, a noite continuou, marcada pelo sucesso da exposição e pelo calor daqueles que compartilhavam a paixão de Damien pela arte. No entanto, a presença fugaz de Sam deixou uma ressonância, um enigma não resolvido que pairava na atmosfera da galeria, assim como na mente de Damien.

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