Olá!

Atlanta, 27 de agosto de 2009

Olá, Harry

Pela primeira vez em um longo tempo, não estou sentada em frente ao computador para fantasiar sobre você.

Hoje, o Niall, aquele meu melhor amigo por quem eu era apaixonada, se declarou para mim no meio de uma praça lotada e a única coisa que eu pude fazer foi dizer que o seu amor não era correspondido, que eu já estou apaixonada por outra pessoa.

Foi difícil fazer isso. Foi difícil negar algo a alguém que eu conheço desde a infância e sempre foi meu melhor amigo, mas não poderia dizer que era recíproco e permitir que ele vivesse uma ilusão, como eu vivo.

Ele provavelmente me odeia agora, mas prefiro que me odeie por tentar tomar alguma decisão sã do que por desmoronar sua vida com minha insanidade. Niall disse que estou maluca por estar apaixonada por você. Por estar apaixonada por uma pessoa que só existe nos papéis de um livro arruinado e em minha mente. E eu sei que é verdade.

Foi natural no início, ingênuo até. Em um dia, eu estava escrevendo a história, seguindo à risca o planejamento, deixando as palavras se tornarem tangíveis e no outro você surgiu e eu me vi totalmente conectada a esse novo personagem.

Você é lindo. Compreensivo. Amável. Amigável. Você é a junção mais harmônica possível de todos os meus desejos.

O problema começou quando notei que a história não era mais sobre Natalie e seus problemas fúteis, e sim sobre você, como tudo em minha vida é agora. Foi como quando você ganha uma boneca nova. Você se esquece das outras bonecas e passa a brincar somente com a nova. Mas você não é minha boneca, é o amor da minha vida...

Harry, você existe, sim, desde o momento em que digitei seu nome no computador. Pode ser que essa afirmação seja apenas eu negando mais uma vez a minha infeliz condição, mas eu sei que você não é real e isso vem me destruindo.

Eu quero receber seus beijos e abraços todas as noites e ser esquentado pelo seu calor vívido, mas sempre me encontro sozinha no quarto frio. Eu quero entregar meu corpo a você, sentir minha pele queimar a cada toque seu para entramos juntos em combustão, mas os meus sonhos me mostram apenas os teus olhos verdes, exatamente como eu descrevi no livro, e me levam à beira da insanidade. Você sabe o vazio que eu sinto quando acordo no meio da noite e vejo que tudo aquilo era só um sonho? Ouço até o som de meu coração sendo despedaçado. Não, você não sabe, pois você não é real e se fosse eu estaria sempre à sua disposição, como sempre estou, mas você não vai estar aqui para mim. Nunca.

E é por isso que eu concordo com o Niall. Eu estou enlouquecendo. Às vezes até posso ouvir sua rouca voz me chamando ou cantarolando pela casa e isso me faz duvidar se você é real ou não, mesmo que eu já tenha várias provas disso. Já fui pega várias vezes com expectativas verdadeiras de te ver sentado no sofá enquanto eu virava a chave para destrancar a posta da minha casa. Por um lado é até engraçado: a melhor coisa que criei em minha vida é o que está me destruindo.

Não sei se já te contei, mas você iria morrer no final do livro. Eu poderia te manter na história sem grandes alterações contanto que você não mais existisse ao final dela. E por saber que eu não conseguiria fazer isso eu apenas desisti. Por que consegui desistir tão fácil da história, mas insisto em amar você? Achei que você deveria saber disso antes de tudo acabar. Te matar seria tão ruim quanto o rumo desta carta, que deixa meus olhos inchados de tanto chorar e meus dedos tremendo incontrolavelmente, mas eu prometo me manter calma como estou até agora. Você não precisa me ver desesperada, do mesmo jeito que eu não aguentaria dizer tais palavras em sua face. Mas isso não é possível, de qualquer modo.

Você já deve ter percebido onde quero (ou tenho que) chegar com isso. Eu te amo, Harry, mas eu não aguento mais. A dor é insuportável e o sofrimento vai continuar se eu não acabar logo com isso. Dói tanto, tanto! Me perdoe! Eu sei que nada disso teria acontecido se eu não fosse fraca o suficiente para me apaixonar por você. A culpa é toda minha. Eu estraguei a sua vida e a minha, e me perdoe novamente por parecer egoísta, mas a briga com Niall me fez perceber que a minha vida ainda tem salvação, e essa é uma oportunidade para sair dessa loucura. Você, por me amar, deve querer que eu a agarre com todas as minhas forças.

E é exatamente isso o que eu vou fazer, mesmo que eu não mereça, mesmo que eu seja culpada por nós estarmos presos nesta confusão.

Meu coração me diz que isso não vai dar certo e que em menos de um dia voltarei rastejando para você, mas eu tenho que tentar, mesmo não sabendo se o meu amor por você seu esvairá ou se tornará mil vezes mais forte. Vou fazer isso por nós. Então, eu prometo a mim mesma que essa é a última vez que vou escrever algo sobre você, que vou continuar a alimentar esse amor impossível. Pois você não é real e nunca vai ser. Já passou da hora de aceitar isso.

Deposito aqui minhas mais sinceras esperanças de que um dia possamos sentir o contato de nossas almas se entrelaçando. Sei que precisaremos de mais vidas para isso, mas por você espero a eternidade inteira.

Me perdoe por tudo, meu amor

Meredith G. Davenport