Capítulo 6 - Andy
Caminho até meus pés cansarem e me sento em um banco, perto de um lago, tão escuro quanto minha mente, tentando descobrir o que farei de minha vida.
A Irene não me quer. Estou cansado de saber disso, mas não consigo aceitar.
Agora a Camila parece estar indo pelo mesmo caminho e o que farei se perdê-la?
Por que não consigo esquecer o sorriso dela ao receber aquela flor amassada e feia? Sempre mando rosas para ela, das mais caras e bonitas, mas nunca vi aquele sorriso e nem aquele olhar de gratidão. Já achei doces e coisas que dei a ela no lixo e... como ela pode gostar mais daquela flor murcha?
Olho para trás, na esperança de ela ter me seguido, mas não seguiu. O que está acontecendo com a Camila? Será que deixei de ser interessante? Será que ela nunca gostou de mim, mas gostava do fato de estar com um homem que gostava da Irene?
Não... a Mila não é assim.
Nem sei por que pensei algo tão baixo sobre alguém tão doce e fiel quanto a Mila. Ela realmente tem um bom coração e, por mais que pareça ter, não tem um pingo de inveja da Irene. As duas se amam como irmãs e vivem para se apoiar em tudo o que fazem.
Não posso perder as duas. Não quero perder as duas e não vou. Jamais admitirei que a Camila deixe de me amar, nem que para isso eu precise aprender a amá-la. Ninguém nunca me amou pelo meu eu e não por minha aparência ou dinheiro, ela foi a primeira e preciso dela, preciso sim.
Me ouvindo, me sinto um egoísta, idiota e insensível, mas o que posso fazer? Não fui amado por meus irmãos, minha mãe sempre falou para quem quisesse ouvir que eu fui seu pior erro. Porque ela tentou segurar meu pai com a barriga e, no fim, ela se arrependeu, porque meu pai se entregou à bebida e começou a bater nela.
Só eu sei como é difícil crescer carregando a culpa de algo que não fiz. Toda vez que minha mãe aparecia com um novo roxo, era para mim que ela olhava com ódio. Ela me culpava por cada surra que levava, mesmo sabendo que eu sou apenas o resultado de seu erro.
Mas, como diz a Camila: "Se a culpa é minha, eu jogo em quem eu quiser." Ela sempre dizia isso quando me encontrava preso a memorias que me atormentavam. Mila é mais que uma amiga para mim, é meu refúgio, remédio, colo... Por que é tão difícil amá-la, se ela é mais necessária para mim que a própria Irene?
Não sei, juro que não sei. Mas, sinceramente, estou disposto a descobrir.
Honestamente, Irene não passa de um capricho. Ela me disse não, quando todo o resto do mundo me dizia sim. Ela me trata como um qualquer, quando todas as mulheres me veneram. Sempre me faz voltar ao meu lugar, quando tudo o que quero é continuar a subir e reinar. Estou começando a achar que ela é uma obsessão...
Será que estou obcecado pela Irene, como minha mãe era pelo meu pai?
Não duvido, até porque eu me tornei violento e sem coração como meu pai. Já fiz de tudo para mudar, até em psicólogos já fui, mas, quando dou por mim, já estou machucando alguém...
Fujo dos pensamentos que me fazem sofrer, pego uma pedrinha e jogo no lago. Lembro dos olhos doces da Camila e sorrio, mas foi a lembrança do seu sorriso que me fez encarar seu reflexo no lago. Ela é tão jovem e tão linda...
— Eu preciso de você, Camila. Por que não consegue me entender? Por que, simplesmente, não aceita o que estou te oferecendo e fica ao meu lado? — Acabo externando, enquanto jogo mais uma pedra no reflexo do sorriso que me faz fraquejar.
Por que fraquejar? Acho que se eu reconhecer que amo a Camila, desistirei da Irene e se eu desistir da Irene, admitirei derrota... não quero e não vou voltar a ser um perdedor... Não quero voltar a ser o Anderson que matei para virar o Andy Star.
Jogo três pedrinhas no lago, rindo de mim. Como posso ser tão confuso? Minha mente está uma bagunça danada e só tem uma pessoa que conseguiria arrumar toda essa bagunça: Camila.
Cara. Já sou um perdedor... mesmo morando no apartamento mais caro da cidade, mesmo tendo o carro mais estravagante e uma vida de sonhos... sou perdedor. Porque não sei o principal: amora e ser amado.
Não consigo amar a única mulher que, verdadeiramente, me faz muito bem.
É difícil admitir que, depois de anos lutando para ser autossuficiente, não sei viver sem o olhar de apoio e o sorriso encantador da minha novinha. E o cabelo? Não sei por que a Mila sempre corta curtinho, mas fica ainda mais charmosa assim...
MEU DEUS! Será que eu realmente gosto da Camila?
Olho para trás novamente e, ao longe, consigo ver os garotos dançando e pulando. Juro que arranco a mão daquele ruivo se ele ousar tocar na minha Camila.
Ela é minha! Acho que sempre foi e eu nunca percebi.
Meu celular toca e um sorriso cruel vem aos meus lábios. Por que o reitor me ligaria agora? Alguma coisa essa cobra quer e, certamente, é para favorecer sua amada e insuportável filha.
Lívia é uma modelo medíocre e só está na minha agência porque o pai dela é muito bom em abrir a mão para mim. Não é nada ruim ter um homem influente como ele nas mãos, não é? Sempre me uso de idiotas assim para ter tudo o que quero.
— Pronto? — Atendo indiferente, fazendo parecer que não tenho o número salvo.
Eles precisam saber que não passam de um nada para mim, porque assim é mais fácil mantê-los sob meu comando. Estão sempre fazendo tudo o que podem para me conquistar... Ser o agente de três modelos poderosas dá nisso e, querendo ou não, a Irene é um cartão de visitas e tanto, já que é a número um.
— Sou eu, Petrônio Estefan. — Sua voz chateada não me comove. Acho que nada me comoveria hoje. — Fiquei sabendo que você mandou outra modelo para a campanha da universidade que promovi, exclusivamente, para a minha filha. Onde está com a cabeça, Anderson? Era para a minha Lívia estar neste jornal, não essa tal de Irene. Fiz tudo direitinho, para não parecer que foi tudo de caso pensado e, no fim, você levou essa desclassificada.
Escuto sons de batida e imagino que ele está batendo na capa do Correio de Nova Esperança. A Irene nem sabe, mas o nome dela está na boca do povo, só por ter se disponibilizado para ajudar estudantes. Contei ao repórter que a nossa Top Model não aceitou pagamento algum pelo serviço e que aceitou dormir em uma sala de aula transformada em camarim. Ah, claro. Acrescentei o fato dela não fazer exigência alguma e ainda levar suas coisas de casa.
Como sei disso tudo? Ela leva uma coberta velha e seu travesseiro até para hotéis cinco estrela. Irene gosta das coisas dela, do jeito dela e que, no caso, é tudo o mais simples o possível.
— Senhor Estefan... Sua filha tem uma campanha importantíssima amanhã. — Menti? Claro! Mas já vou arrumar algo para aquela chatinha fazer...
Ah! Posso mandá-la para a campanha da joalheria Debbouze.
Eles me pediram para enviar a Irene para um teste, mas vou mandar a Lívia. Sei que ela não chegará aos pés da nossa Pocahontas, mas me livrarei de um enrosco e ainda posso me usar disso para conseguir alguns favores... hum... por que não pensei nisso antes!?
Ah, Anderson. Você é um gênio. Não sei como as pessoas só conseguem ver a sua beleza exterior e não percebem quão maravilhoso é o seu cérebro. Ou quando percebem, já é tarde demais.
— Estou esperando, Anderson. O que pode ser tão maravilhoso, a ponto de você ter mandado esta favelada no lugar da minha filha? Não entendo o que as pessoas acham de tão maravilhoso nesta tal de Irene. Minha filha é branca, tem olhos azuis e é...
Meu Deus! Este homem tem noção de que está falando esse monte de besteira com um negro? Só não o mato agora, porque preciso dele para colocar meu plano em prática.
Prioridades...
— Senhor Estefan... não sei se o senhor se lembra, mas está pedindo que um negro e ex favelado faça a sua filha branca dos olhos azuis ter uma carreira como modelo. — É, não aguentei... agora vou esperar ele desengasgar com o próprio veneno para voltar a falar. — Sua filha pode ser mandada para algo grande, mas você terá que me fazer algo antes.
Amo esse silêncio. Ele está antecipando meu pedido e aposto estar checando sua conta bancária. Não, meu querido, não vou pedir um estúdio novo como da outra vez...
— Quão grande, senhor Stern?
Por que quando esse homem fala meu sobrenome meu estômago embrulha? Queria ouvi-lo me chamando pelo nome real: Anderson Souza. Para saber que é com um homem que cresceu na vida que ele está falando.
— O que o senhor sabe sobre os Debbouze? — Claro que ele conhece este sobrenome.
Uma família que veio de Dubai e abriu uma joalheria maravilhosa aqui. Além de trazer a fábrica para cá. Nossa cidade só se tornou famosa por causa deles, agora todo mundo quer vir para cá e trabalhar para o marido de nossa antiga fotógrafa, a Marcela.
O dono é uma águia. O senhor Debbouze é tão poderoso e cruel, que dizem que o filho dele fugiu de casa e foi morar fora do país, porque não suportava a ideia de ser treinado pelas mãos de ferro do pai. O garoto já era ourives antes de aprender a escrever.
Como sei disso? Dante, meu parceiro no programa Beleza da Favela, é sobrinho do senhor Debbouze, mas foi criado como filho. Ele saiu de casa assim que arrumou um emprego, porque já sentia na pele a fixação que o velhote tinha por suas joias.
Duncan seguiu seus passos e, do dia para a noite, o menino simplesmente desapareceu. Dizem até que o senhor Debbouze desistiu de encontrá-lo. Pois não admite a rebeldia de seu primogênito.
Sou louco para conhecer este tal Duncan e tentar tirar o máximo de informações dele. Podem ser úteis em algumas negociações com aquela águia velha. Pena que nem o Dante tem notícia do primo e sabe que não presto, então não dá mole perto de mim... Intimidade é tão boa quanto prejudicial.
— Está me dizendo que minha filha vai fazer uma campanha para aquela joalheria de Dubai?
O peixe mordeu a isca, agora é hora de girar o molinete.
Tadinho, mal sabe que vou mandar a Lívia, só para ser a base ruim. Quando a Irene chegar, seu trabalho e pareça impecável vão mostrar quem é realmente a cara da Andystar. Como Lívia é o ser mais intragável que já vi, no momento que Irene e sua simplicidade iluminarem o estúdio, vão esquecer de cada grosseria e estrelismo da primeira modelo.
— Sim... mas preciso que me faça um favor antes. Já que posso mandar qualquer outra menina. Até mesmo a Irene.
— De jeito nenhum! — Nossa! Quase fico surdo com esse berro. Se controla, pai do ano... — O que você quer?
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