Capítulo 4
" — Já podemos contar qual dessas lindas meninas é a nossa vencedora, produção?"
Foi esta frase, dita pelo meu primo, que me veio à cabeça no exato momento em que vi a Irene na minha frente. Nossa! Quase enlouqueci.
Tenho dois motivos para me sentir assim. O primeiro deles é porque ela é a minha paixão desde a adolescência, a pessoa com quem converso todos os dias e ela nem sabe.
Rio de mim mesmo, enquanto alimento o cabritinho e olho para trás, na esperança de vê-la novamente. Mas é em vão.
O segundo motivo é um pouco mais complicado. Se ela se lembrar quem sou, pode fazer com que eu perca tudo o que conquistei. Não quero voltar para aquela vida cheia de privações e tão pouco divertida. Quero ser fotógrafo, estudar e sair com meus amigos... Tudo bem que, por enquanto, só tenho o Nícolas, mas é um amigo que vale por três.
Será que Irene me entregaria para o Dante, se lembrasse que eu sou o Duncan? O garoto que a auxiliou durante todo concurso.
Que pergunta idiota é essa, Max? Ela nem sequer se lembrou de você e, para ser bem honesto, ela até prestou mais atenção em você agora, que naquela vez. Mesmo você fazendo tudo o que podia para chamar atenção.
Se passaram muitos anos, eu mudei, ela mudou. Duvido que ela tenha lembrado de mim. Enfim, melhor assim.
— Max? — Nícolas vem todo largadão, com seu jeito meio balançado de andar e me mata de rir. Não pode ver uma mulher bonita que fica todo afetado. — Você viu como a assistente da Irene é gata? Acho lindas essas mulheres de cabelos curtos, toda deslumbrantes e com roupas descoladas. Será que ela sabe dançar?
Nick aperta os olhos e dá para perceber que ele se perdeu na imaginação. Aposto que se viu dançando com a Camila.
Sim, eu sei quem ela é. Sei quase tudo sobre a Irene, por causa do Dante. Principalmente o que não queria saber. A Irene parecia estar apaixonada pelo dono da agência dela e isso, naquela época, partiu meu coração de adolescente sonhador. Anderson é um homem muito perigoso e sem coração. A Irene merecia coisa melhor... tipo eu, modéstia à parte. Acho até que hoje eles já devam estar namorando.
Será que ela realmente conhece o homem que colocou em sua vida?
Melhor eu parar de pensar em meus problemas e focar no do meu amigo. Esse safado tem uma namorada... ou quase isso. Ai, é complicado.
— Igual a sua bailarina? — Lembro-o e recebo um olhar fatal. — Já te falei que não sou conivente com essas coisas, Nick. Se está com ela, fique apenas com ela.
— Ela terminou comigo de novo, cara...
— Mas eu sei que vão voltar. — Eles sempre voltam.
Ela se sente mal por ele e termina, mas ele sempre vai atrás dela e eles voltam. Trair a Luana ele não trai, mas a carência dele grita e isso é bem perigoso.
— Acho que dessa vez não vamos não.
— Então espere um pouco para ter certeza, respeite o seu momento e as inseguranças de sua namorada.
Tomo um tapa na nuca e lhe devolvo o carinho. Onde já se viu? Estou ajudando-o.
— Você vive dizendo que não quer voltar a ser como antes. Que não quer voltar para o lugar de onde fugiu. Mas, cara, você parece ser todo travadão até hoje! Tem ideia de quantas minas você já se recusou a ficar?
Não posso ficar, conhecer, fazer contatinhos e nada do tipo. Como alguém como eu poderia me dar ao luxo de fazer alguém se apaixonar por mim? Mentiria para a pessoa que amo e, pior que isso, enganaria outra pessoa que não merece ser enganada.
Minha vida é muito complicada.
— Tenho. — Rio, por vê-lo revirar os olhos. — Não posso fazer nada, Nick. Eu posso fugir do meu passado, mas jamais fugirei de minhas responsabilidades. Também não jogarei fora as minhas crenças e não vou desperdiçar meus dias com a pessoa errada...
Eu percebo que meu jeito evasivo e como escondo quem realmente sou irrita ao meu amigo. Imagina como deixaria uma mulher? A verdade é um bom início para a conquista da confiança e passar segurança.
— Ah, claro! E você já encontrou a certa? — Nick faz pouco caso, ao me ver confirmar. — E quem é essa mulher maravilha que te faz deixar de pegar as minas mais gatas que já vi?
Sorrio e volto a dar atenção ao meu coleguinha, que já havia terminado a mamadeira e estava apenas nos olhando.
Não posso contar sobre minha vida para ninguém, também não posso contar que sou louco pela Irene. O pior é saber que nunca poderei viver este amor, porque meus pais nunca permitiriam.
— Ow! Estou falando com você! — Nícolas bate em meu ombro e desperto de meus devaneios. — Quem é a mulher da sua vida?
Me levanto, fazendo minha melhor feição de deboche.
— Claro que é a Irene! Assim ficaremos juntos para sempre, meu amigo. Você com a Camila e eu com a modelo mais maravilhosa do mundo.
Ele gargalha, abraça meu ombro e me encara suspirando.
Às vezes a verdade é tão surpreendente que ninguém acredita. Então é melhor contá-la que mentir ou omitir.
Parece coisa de criança, apaixonar-se por uma cantora ou atriz. Então quem acreditaria que um homem como eu, se apaixonaria por um monumento como ela?
— Sabe, meu amigo. Deveríamos sonhar mais baixo, né? Com o orçamento que temos e pela casa que moramos, é mais fácil a gente se contentar com as que nos dão mole.
— Pois é! — me desvencilho de seu abraço suado e vou deixar o pequeno em seu cercadinho. — Mas eu tenho uma vantagem que dinheiro nenhum compra.
— O quê? — O maluco vai alimentar os outros bichos, porque eu só me apeguei ao Beeeh!
Eu sei, não é um nome muito original.
— Eu sou muito bonito. — E pouco modesto.
Explodo em uma gargalhada, ao vê-lo fingir vomitar. Este Nícolas é uma figura.
Eu sei que, mais cedo ou mais tarde, precisarei voltar a ser o Duncan. Mas só de pensar em perder este amigo. Só de imaginar que nunca mais poderei ver este maluco. Sinto vontade de jogar tudo para o alto e nunca mais voltar para casa.
Nunca conheci um ser humano tão iluminado. O que tem de doido, tem de bondoso e parceiro.
— Cara. Você está legal? — Me assusto com seus dedos estalando em frente aos meus olhos. — Velho. Você não está nesse planeta, né? Quer conversar? Precisa de algo?
— Estou bem, Nick. Juro! Só estou preocupado com umas coisas.
Acabo suspirando. Estou cheio de dúvidas e sem respostas.
Por que ela está aqui?
Essa pergunta se repete e me deixa maluco. Já estava esquecendo-a. Como não a vi mais, foi muito mais fácil.
Por que estou tão nervoso?
A presença dela me deixa eufórico, triste, feliz, animado, desanimado, cheio de coragem e com uma total covardia ao mesmo tempo. Ela pode me entregar... ou pode acontecer algo pior...
O que farei se eu me apaixonar?
Não posso deixar meu sentimento voltar a ser tão forte quanto antes, mas sinto que não será possível. Ainda mais por notar que ela está me dando bola.
Não sou burro, só gosto de comer capim porque é saudável.
Como farei ela perder o interesse em mim?
Impossível, porque este interesse é tudo o que mais quero. Porém... não tem porém. Não podemos e pronto!
Como eu queria ser um cafajeste em uma hora como essa...
— Está apertado de novo? — Nick me salva de mim mais uma vez. — Não tenho muito, mas você sabe que pode contar comigo, né? Nunca vou me esquecer dos dias em que eu estava na pior e você não me deixou faltar nada. Estou pobre, cara, mas onde um come pouco, dois comem mais pouco ainda, porém rindo e unidos nos roncos estomacais. Você sabe, né?
— Sei! — Não sabia se ria ou se o abraçava. — Sabe, Nick. Um dia. Só não sei dizer quanto. Serei um empresário tão rico, que você vai ficar surpreso e quando este dia chegar. — O vejo rir e rio junto, porque não dá para não rir perto deste maluquinho.
— Quando este dia chegar, você vai me pagar um dogão daqueles de duas salsichas e bacon? — Ele nunca acredita em mim, mas fazer o quê?
— Te dou uma dogaria de presente! Formou? — Imito a forma que ele fala e recebo mais um abraço. — Você está suado e grudento.
Faço uma cara de nojo e ele me imita, rindo logo em seguida.
— E você é todo seco. Parece até que foi criado por pessoas que não demonstram sentimentos.
Concordo, porque é uma verdade parcial, mas rio para fazer parecer brincadeira.
— Obrigado por me ensinar o que é amizade.
— Ih! — Ele me larga e se afasta. — O que te deu? Agora vai dizer que não pode mais viver sem mim, o Homo Sapiens da sua vida?
— Quem sabe um dia, né, amigo? Mas espero que saiba de uma coisa bem séria e espero que nunca, nunca mesmo, se esqueça do que vou te falar.
Ele até perde o sorriso, de tão sério que estou.
— Nunca esqueça do Max que você conheceu. Porque este aqui — Aponto para meu peito e ele olha para meu dedo, para depois voltar a encarar meus olhos. — é o verdadeiro. Ok?
Ele concorda, de forma lenta, junta as sobrancelhas, pende a cabeça para o lado e acaba rindo.
— Tu tá todo estranho, maluco. — Levo outro tapa na nuca e aperto os olhos, mesmo o vendo se acabando de rir. — É para ver se volta ao normal.
As horas estavam voando e me lembro que ainda teríamos que cuidar da festa de boas-vindas para as garotas. Só de ver a minha reação, Nick também olha para seu relógio, dá um pulinho e sai correndo.
— Quem chegar por último vai ter que lavar toda a louça. — Ele grita e corre como um louco, balançando os braços para o alto e fazendo as pernas ficarem meio moles.
O lado bom de ser dançarino é que seu corpo fica todo flexível como o dele. Já eu, sou mais duro que uma porta.
— Você precisa ser internado, Nícolas! — Grito e ele ri alto, expressando todo o seu descaso sobre minha afirmação. — Me espera, seu descompensado.
Pior que ele correu ainda mais. Pelo visto terei mesmo que lavar as coisas.
Até se eu tivesse que lavar os banheiros do restaurante da faculdade, todos os dias, estaria mais feliz que com a vida que eu levava.
❤️❤️❤️
Atrasei um pouco a postagem, mas está ai. Espero que tenham gostado. Beijos <3
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