Capítulo 17 - Irene
Passei vários dias cuidando da Camila, que desmaiou e não acordou desde que ouviu a situação do Andy pela televisão.
Os médicos falam que foi por causa do acidente, que um treco inchou no cérebro dela e eles até a operaram para tirar o coágulo que se formou, mas tenho certeza de que todo o nervoso que ela passou contribuiu bastante para que aquilo acontecesse.
Posso até parecer ruim ao falar isso, mas acredito que ela não esteja acordada porque iria ajudar ao homem que tanto a humilhou. Vai ter um momento certo para que ela faça isso, porque tenho certeza de que esses dois vão se casar e ter muitos filhos fofinhos, mas ainda não chegou a hora dela ser a heroína do Anderson.
Não sou dada a acreditar que as pessoas mudem facilmente, mas como sei que o caso do Anderson é patológico, se ele aceitar se tratar, poderá ser uma pessoa como qualquer um de nós... ainda meio merda, mas um pouco menos fedida...
Durante este período, não tive notícias do Nick, do Max, mas acabei ouvindo algumas coisas sobre o Anderson. As enfermeiras daqui são muito atualizadas...
O mais estranho é que, mesmo não dando satisfação alguma de meu sumiço, porque não voltei mais a empresa, ainda continuo recebendo das campanhas e tudo mais. Agora o que me deixou realmente perplexa é o fato de eu não ser demitida e, pelo contrário, ser nomeada a cara da nova empresa.
Parece que mudaram todos os grandões e até o nome da agência foi mudada para Debbouze, que até onde eu sabia só mexia com joias estravagantes, mas não estou me importando muito com isso tudo, sabe? Agora a Camila é a minha prioridade.
Um tal de Duncan me mandou uma mensagem, avisando que meus pais estavam abastecidos e que eu poderia ficar sossegada, que nada faltaria para eles em minha ausência. Ele também mandou trocar a Camila para a melhor suíte do hospital, me dando uma cama e um banheiro só para mim. Acredita que até recebo refeições em bandejas chiques? Gente Coisa é outra Rica, né não?
Lembro-me deste nome... Duncan... acho que era o priminho do Dante que me olhava cheio de interesses e eu nunca o correspondi, mas com tanta coisa em minha cabeça, não estou com tempo para me importar com isso. Pelo visto o Dante contratou o primo para ser meu assessor ou agente, mas se ele está cuidando dos meus pais e da Camila com tanto afinco, já ganhou meu coração.
— Senhorita Irina? — Ouço a doce voz da enfermeira, seguido de duas batidas na porta.
Me levanto, largando um livro que já não lia fazia tempo e vou abrir a porta sem entender por que ela não entrou. Me impressiono com um homem que a acompanhava e que não tinha uma cara muito boa.
Parecia um buldogue raivoso, com as pelanquinhas e tudo... creio-em-deus-pai!
— Irene Campos? — Confirmo e ele me entrega um envelope pardo. — A senhora foi intimada a depor no julgamento de Anderson Souza.
— EU? — Fico surpresa, enquanto o homem continuava com aquela cara de porta velha: dura, fria e torta. — Estou sendo acusada de quê?
— A senhora foi chamada pela acusação.
O negócio só piorava e eu preciso me segurar para não gargalhar. Vou acusar o Anderson de quê? Que ele é meio pangué por ter tido uma infância ruim e tem uma visão totalmente deturpada da realidade, já estou careca de saber, mas isso não faz dele um ser tão abominável. Faz...
Ok, ele precisa de um tratamento bem-feito, mas cadeia? E ainda pedir para eu ajudar?
O homem perdeu tudo o que acreditava ser a razão de sua vida, acham que ele estaria como? Obvio que piraria e eu não consigo o julgar, porque choro em posição fetal por bem menos que isso.
— Amigo... por mais sem noção que meu patrão seja, eu nunca acusaria o Andy de nada. — Sou sincera, mas fico surpresa com a feição chocada da enfermeira.
O que ela sabe que eu não sei?
— Mas nos altos consta um vídeo da senhora falando na porta de sua casa que ele a perseguia.
Puxo em minha memória o dia em que Max estava ao meu lado e Andy chegou. Eu o acusei de várias coisas, apenas para defender o meu fotografo lindo, mas como assim isso foi parar no processo... AH, a secretária stalker.
— Quem me convocou? — Balanço o papel, mas não abro nada porque estou me tremendo toda.
Aquela mulher sabe onde eu moro e isso me assusta.
— Está no documento. — Como disse, este homem é um poço de frieza.
Olho para o envelope em minhas mãos, lanço um sorriso amarelo para o homem e reviro os olhos para não falar o que me veio na garganta.
— Pode deixar, estarei lá.
Fecho a porta com a mesma classe que ele me tratou, mas claro que pisquei para a enfermeira antes.
Óbvio que sou contra o machismo do nosso Brasil, mas mulheres como estas dão respaldo para que alguns machos mal resolvidos ajam desta forma. Não sei qual das partes que odeio mais, sabiam? Porque ninguém poderia usar uma coisa dessa como respaldo para nada, como homem também não poderia julgar as mulheres como se elas fossem menores. Ai... nem sei o que dizer, só o que sentir e estou muito brava neste momento.
Vejo meu celular acender e novamente o tal do Duncan me manda uma mensagem. Esse menino não tem o que fazer?
Duncan: Irene, foi-me informado que você precisará comparecer ao julgamento do Anderson Souza. Já contactamos um advogado para que você não precise passar por isso e entramos com o pedido de impugnação da prova. Você não permitiu a gravação e ela está sendo usada de maneira indevida.
Hum... cada dia gosto mais desse menino. Cuidado Max... o chatinho que dava em cima de mim está se saindo melhor que você, hein! Vai me perder... Só que não.
Meus dedos deslizam pela tela, enquanto respondo ao meu assessor fofinho e inteligente, mas muito mala.
Eu: Quero ir, Duncan. Mas pode cancelar este vídeo, por favor? Não quero que o Max, o homem que estava comigo neste dia, seja prejudicado. O Anderson o acusava de coisas horríveis e não quero que isso venha a público.
Envio a mensagem e vou olhar o rosto pacífico da minha amiga. Se ela soubesse o que está acontecendo, já estaria de pé e lutando para que o Andy seja solto. Acho que não poderia impedi-la, porque, muito provavelmente, no lugar dela eu faria o mesmo. Meu Max sumiu e ainda assim estou esperando por esse idiota sem coração.
Ele pediu para que eu esperasse, né? Falou que tinha que resolver um trem complicado... então fico eu aqui nessa estação...
Suspiro e volto a me focar no Anderson... Pelo menos ele tem faculdade e, não sei pelas mãos de que grandão que está o ajudando, ainda não foi para o presídio. Está em uma cela da polícia civil local.
Meu celular vibra e a mensagem que aparece me faz ferver de raiva...
Duncan: Está preocupada com o fotografo?
Eu: Vai me dizer que você também olha as pessoas pelo que elas têm e não pelo que são? Se for assim, pode sumir daí que vou pedir um outro assessor. Não estou nem aí de você ser o primo do Dante!
Espumo pela boca, enquanto vejo que ele está digitando algo.
Duncan: Então você se lembra?
Eu: Que você está sendo favorecido pelo parentesco com o dono para ter um emprego? LEMBRO SIM! E saiba que se fosse cargo público seria nepotismo... Fala mal do meu Max de novo e vou te mostrar o que faço com seu sobrenome! Falow?
Onde já se viu? Que problema tem em ele ser fotografo? Eu era filha de catadores antes de ser o que sou e esse bestinha só é o que é por causa do primo. Pensa num ódio... olha, ele está digitando.
Duncan: E quem falou que eu estou falando mal do senhor Max? Ele trabalha aqui... sabia?
A é? Não consigo ver, mas sinto que meu sorriso está rasgando minha cara. Vou ter meu gatinho por perto? Ui...
Eu: Quando terei sessões de foto?
Duncan: Isso tudo é saudade do namoradinho?
Eu: Ah, quem me dera... Eu acho que estou pagando pelo mal que fiz em te ignorar quando você era novo, viu? Agora ele me ignora e me faz sofrer. Não sou namorada dele, estou mais para iludida... sabe aquela faze da adolescência que você namora com alguém, mas esquece de contar a ele? Pois bem, essa sou eu.
Quando enviei a mensagem, percebi a merda que fiz, mas tremia tanto que não consegui apagar. Ai Jesus, ele leu! Está me respondendo! SOCORRO. Quero me esconder.
O que vai adiantar, sua louca? Ele não está aqui de todo jeito.
Duncan: É uma pena que você o prefira e não a mim, mas o que posso fazer, o Max é realmente uma versão muito melhor.
Versão?
Versão de quê?
De homem?
Esse menino não bate muito bem, tadinho.
Vou responder algo, vai que ele fica impaciente e fala mais besteira, né?
Eu: Meu Max é um amor... seja lá o que você quis dizer com versão, mas é a versão de homem que eu quero. Mas aposto que você já é casado e não vai se importar com isso, não é? Não desconte em meus pais e não tire a minha Mila deste quarto legal.
Acredita que ele teve a cara de pau de me mandar aquele emoji do menino batendo no rosto? Quem ele pensa que é? Cara abusado.
Duncan: Sou completamente apaixonado por uma mulher que é tão maravilhosa, que você morreria de inveja dela. Às vezes ela é um pouco lenta, tem uma memória um pouco seletiva, mas sou capaz de comprar o mundo só para que ela seja feliz nele. Então não se preocupe...
Ai... agora fiquei com inveja.
Vai, sua metida. Queria dispensar o menino, né? Tá vendo? Poderia estar com alguém que compra o mundo para você e não ficar esperando por um garoto que arrumou um emprego e nem te contou.
To tisti... e muito braba.
Estava desolada quando meu celular acende novamente e vibra em minha mão.
Duncan: Posso dar seu número novo ao Max? Ou você esqueceu que trocou de telefone por causa das inúmeras ligações dos repórteres e assessores das empresas que te patrocinavam? Seu chip antigo está com a equipe do telemarketing...
Eis que agora fiz a cena do emoji que o nepotismado me mandou. Como eu sou lerda!
Eu: Ficarei muito grata... mas avisa que ele tem que me mandar mensagem, ou, ou, ou...
Enviei, suspirei e não mandei mais nada
Ele deve ter me esquecido... isso se algum dia realmente se interessou por mim.
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