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Invisível

Eu nunca pensei que em todos esses anos alguém poderia me dar a mão, já passei por situações que ser humano nenhum deveria passar e creio que isso foi uma alavanca para que eu entendesse que certos tipos de coisas não tem explicação.

Não tenho porque tentar entender mas gostaria muito, de lembrar quem fui e porque estou aqui.

Será que fui abandonado ao nascer, ou minha mãe é uma moradora de rua também, e porque meus lapsos de memória não se refere a nenhuma dessas ruas, as quais eu conheço centímetro por centímetro.Eu poderia me revoltar, mas me revoltar com o quê e por que?

Talvez eu nunca saiba, talvez esse vazio que habita minha alma fique aqui, pra sempre até o dia em que um carro me atropelar ou o frio grosseiro e sem piedade congelar meus ossos, meus pulmões, e meu coração levando o último suspirar de vida que tenho, assim como aconteceu com o meia-noite
e com milhares de companheiros nessa maldita jornada chamada vida.

Se ela fosse justa "Vida", eu não teria perdido minha memória, meu amigo de todas as horas e muito mesmo Dayene, seja lá o que ela tenha feito não merecia ter seu corpo carbonizado vivo.

Me disseram que depois de horas e horas de tortura, seus gritos podiam ser ouvidos a muitos metros da pedra da morte ( lugar onde levam aqueles que serão julgados).

E no outro dia as autoridades a encontraram e não fizeram nada, mesmo seu pai sendo quem é, não pode passar por cima dos Scorpions, querendo ou não ele fez tudo o que pode pra salvar a vida de sua filha, infelizmente seus sonhos de fazer sua filha ser a próxima delegada da geração não se concretizou.

Mas vejam só ela se tornou aquilo que ele mais temia, ele luta contra drogados delinquentes diariamente, e exatamente sua amada filha se tornou uma delinquente drogada.

Hoje o calor queima minha pele provavelmente está uns 38° a 39° Graus, o que me fez tirar a minha blusa de moletom amarrando ela na cintura, tirar minha camisa e amarrar ela na cabeça, e ficar com a calça.

Preciso proteger minha pele de qualquer jeito, mas o que me incomoda e Lara, está extremamente quente estamos sentados em baixo da sombra de uma árvore a falta de água potável está me deixando com medo, medo que ela adoeça já perguntei para umas dez pessoas se alguém poderia me dar uma garrafinha de água.

O máximo que consegui foi um senhor me ofender de uma maneira nada educada.

"Você não tem vergonha de usar uma criança pra conseguir esmola?"

Fiquei chateado demais, mas o que poderei fazer sentar aqui não fará água cair do céu eu não tenho como dar isso a ela.

Na verdade eu não tenho como dar um futuro pra ela meu peito doi, doi tanto que parece que minha alma está sendo despedaçada, o asfalto quente o calor o suor e até a miragem me faz ter tonturas não me lembro a última vez que comi algo, com sua pequena cabeça apoiada em minha perna acaricio seus fios loiros com suor e vejo ela susprirar.

-Tio "Ivi" - pergunta baixinho.

-O que foi meu anjo azul- levemente afago um pouco mais seus cabelos.

-Se minha mamã não vai voltar, polque foi isso o que você me disse né- apenas respiro e término de ouvir o que ela tem a dizer - se ela não tá mais aqui, eu num tenhu um papa então você quer seu meu papa tio "Ivi"?

O que uma pessoa normal faria em um situação dessas?
Eu nunca fui pai, nem ao menos sei se um dia tive um.

" O que eu respondo "?

Olhando para o céu azul sem nuvens com o tempo totalmente parado ao meus olhos, o suor cai em meu olho direito fazendo com que ardência me impeça de visualizar o que quer esteja na minha frente.

Foi aí que meu coração foi tocado, a minha vida é como meus olhos e os acontecimentos como meu suor, ardem e me impedem de ver adiante mas isso não quer dizer que eu não consiga enxergar com o outro olho.

Sempre vai ter duas opções na vida e se ela está me dando uma oportunidade porque não agarrar?

"Não é o certo meu subconsciente avisa".

-Quero algua- Lara se levanta com seu vestido maior que o corpo e descalça - eu num guento num papa, quero algua- eu preciso arrumar nem que seja um copo sua boquinha esta seca, rachando pela desidratação.

-Do que você me chamou pequena?- meu coração deu um pulo de alegria, nao sei se isso e certo mas amei o jeito que as palavras saíram.

-Eu disse que quelo algua- sorri pra e ela e a puxei pra um abraço.

-Vamos o papai aqui vai conseguir arrumar água - peguei ela nos braços e a coloquei no carrinho, um boné velho e rasgado que encontrei algumas semanas antes na rua pego e coloco em sua mini cabeça para proteger dos raios de sol.

Depois disso vou para um lugar onde sempre posso ter ajuda, embaixo do sol quente e escaldante tenho que parar diversas vezes no caminho já que o cansaço e o calor não ajuda muito mas não posso parar minha caminhada, então assoviando uma canção que inventei continuo meu caminho.

Ensino a canção pra Lara e seguimos cantarolando, enquanto as ruas estão cheias de pessoas atrasadas, com pressa e com fome, fome de dinheiro, apenas tento não arranhar nenhum carro ou fazer algum tipo de trânsito.

Duas horas depois andando chego no meu destino, as paredes em pedras rústicas em cores variadas, grandes janelas com moisacos e outras janelas são grandes pois permitem a entrada de luz e a ventilação natural no ambiente.

As portas em madeira bruta e talhada em duas folhas dão um ar angelical a entrada, as escadas são feitas também em pedras o jardim com grama verde e flores coloridas, em formato de um castelo a igreja tem no topo de sua torre uma cruz grande em cor marrom envernizada.

Deixo meu carrinho na grama e pego Lara no colo, a mesma coloca sua cabeça em meu ombro e deita fechando os olhos e descansando do calor, sua roupa molhada e sua respiração lenta pela sede.

A porta da igreja está aberta subindo devagar as escadas, paro na porta respiro fundo e adentro pisando devagar no piso de madeira escuro meus olhos encontram o altar e lá está a imagem do ser onipotente, o único capaz de aliviar a minha dor e de me lembrar que por mais difícil minha caminhada, por mais pesada que minha cruz seja.

Nada no mundo foi mais pesado do que a cruz que ele carregou, os bancos de madeira enfileirados um na frente do outro deixa um corredor onde posso ir até o altar e até o confessionário.

Colocando Lara no chão retiro minha camisa da cabeça e seu boné, faço o sinal da cruz e me sento em um dos bancos.

-O papai vai rezar um pouco fica sentadinha aqui e não sai daqui ta bom - balançando a cabeça ela encosta sua cabeça e costas no banco fechando seus olhinhos pequenos sentindo o ar fresco que os ventiladores nos da.

Fico de joelhos e passo a meditar, pedir pra Deus um caminho ou algo que me ajude a prosseguir, até que uma voz rouca e fraca chega ao meus ouvidos.

Andando pelo corredor o homem de vestes negras e cabelos grisalhos com óculos de grau arredondados, de pele negra e marcada pelo tempo vem andando devagar com a sua bengala na mão direita.

-Quanto tempo meu filho, achei que havia se esquecido desse velho raquítico - sua risada baixa e seu sorriso me dão uma calma que em outro lugar não sinto.

-Jamais Padre Onofre- me levanto e assim que ele se aproxima de mim, peço a sua mão depositando um beijo em sinal de respeito.

-Que Deus nosso senhor te proteja, como era no início e será no fim- essas palavras são ditas enquanto faz o sinal da cruz em meu corpo- Pai, Filho e Espírito Santo Amém.Diga meu filho quem é essa menina linda?

-Essa Lara padre- sorrio, ela olha desconfiada para o padre - Lara esse e o padre Onofre, ele vai nos ajudar- seus olhos brilham com essas palavras.

-No que posso ajudar filho?

-Padre eu queria saber se o senhor não poderia me arrumar um copo d'agua pra ela, faz três dias que ela não bebe e não aguenta mais a sede- minha voz sai baixa, estou envergonhado de pedir tal coisa, mas sei que ele jamais me negaria.

-Vocês praticamente atravessaram a cidade apenas por um copo d'agua? - pondo sua mão desocupada em meu ombro balança a cabeça negativamente - venham comigo.

- Não vou atrapalhar o senhor- pergunto vendo o velhinho se afastar se apoiando em sua bengala.

-Nunca meu filho, venham- me chamando de costas segue pelo corredor de tapete vermelho.

O padre não só nos deu duas garrafas de água congeladas como nos deu o que comer, disse pra Lara ir assistir TV enquanto nos colocavamos o papo em dia.

-Então diga meu filho, o que lhe aflinge tanto?Seus olhos estão tristes como um céu nublado-sentando na mesa de sua cozinha pergunta.

-Eu não sei Padre - abaixo a cabeça perdido em meus pensamentos.

-Se sente melhor em ir ao confessionário?

-Sim- ainda de cabeça baixa respondo.

-Então vamos- ergo a cabeça e vejo a dificuldade que ele tem, uma de suas pernas foram amputadas, ele tem diabetes ao não cuidar da saúde teve seu preço também, ele usa uma prótese que não e muito confortável.

Sigo ele pelo mesmo caminho, ao chegar na caixa quadrada e de tom marrom com uma janelinha pequena e uma cortina de renda na cor preta, ele entra e eu me ajoelho no apoiador de madeira que tem um pouco acima do chão.

-Tudo o que aqui disser, ficara entre você e Deus, sou apenas um ouvinte das vontades do criador- dizendo essas palavras faz sua prece rápida e breve- pode começar filho.

Respirando fundo umas três quatro vezes, encaro a cortina preta e tento organizar as palavras, na verdade meus sentimentos.

-Eu Padre não sei quem sou, ando triste abatido e por mais esforços que eu faça eu me sinto cada vez mais sozinho- fecho meus olhos- a mãe daquela menina foi brutalmente assassinada, e eu não pude fazer nada, eu amava ela, ela era minha amiga e perder mais alguém não estava nos meus planos padre - meus olhos começam a arder- nessa mesma noite eu conheci alguém que me ajudou e que não me viu somente como um morador imundo de rua, alguém que não se importou se eu iria sujar seu sofá ao sentar ou não, alguém que me olhou nos olhos ao invés de cuspir em mim- as lágrimas quente escorrem pelos meus olhos.

Paro de falar tentando controlar essa dor que sinto esse vazio que nunca preenche, essa sensação de ser menos que nada.

-Diga meu filho, abra seu coração pra Deus- sua voz calma entra em meus ouvidos me trazendo a realidade.

-Esse alguém quer me ajudar a conseguir um emprego, mas eu sinto medo, medo do novo, medo de me decepcionar- seco minha lágrimas e abaixo a cabeça - nunca ninguém me ajudou nesses quatro anos Padre, seria possível alguém chegar e me ajudar duas vezes sem querer nada em troca?

Essa era a maior dúvida que eu tinha, ninguém ajuda ninguém a troco de nada o ser humano, é egoísta e maldoso.

Não gosta de ver a felicidade alheia, e quando alguém necessitado o procura ele faz de conta que não é com ele.

Muitas vezes as palavras que eles dizem doi mais, do que puxar minha carroça e fazer bolhas nas mãos e calos nos pés.

-Eu não aceitei padre, eu vi que ultimamente as coisas tem se tornado mais difíceis, quase impossíveis não consigo nada pra comer e quando vendo meus papelões, latinhas e qualquer reciclável mal da pra comer, então apenas dou pra Lara- imaginar meu pequeno unicórnio passando todos os tipos de necessidade nas ruas doi, doi tanto que uma espada no meu coração não faria cócegas alguma.- Eu me sinto um fraco, um fraco por não ser alguém, por não me lembrar de alguém e de não poder dar a única pessoa que me importo a chance de ser alguém.

-Deus nos dá uma cruz tão pesada e tão grande, que no caminho pensamos em corta-la- presto atenção em seu conselho- mas nos esquecemos filho que ao chegar no açude é ela que nos ajudará atravessar - mesmo assim não entendo o que ele quer dizer com isso- talvez você não me entenda hoje meu querido mas creio que Deus está te dando uma oportunidade, oportunidade de ser quem você quiser e de dar luz ao caminho daquele anjo loiro que está assistindo.

-Mas como padre, eu não tenho nada eu não sou ninguém! - meus punhos se fecham e sinto tanta raiva de mim mesmo.

-E se Deus te desse a oportunidade de ser quem você quiser, o que faria?- sua voz ficou tão baixa e tão reflexiva.

-Eu agarraria Padre, sem pensar sem questionar- sou firme no que digo.

-Então o que te faz pensar que alguém que quer lhe ajudar, poderia querer algo em troca de alguém como você que não tem nada a oferecer?- nada a oferecer essas palavras ecoam em minha mente me fazendo pensar em milhões de coisas- se alguém lhe estende a mão você deve segurar, se essa mesma pessoa a soltar quem tem que segurar e você meu filho.

-Acho que entendi Padre- uma alegria, uma esperança nasce no meu peito como um raio de luz iluminando o breu do meu coração.

-Talvez Deus está lhe dando a oportunidade de saber quem é de verdade, tenho certeza que você irá descobrir, seja qual for o problema vai se resolver.

-Obrigado padre, Obrigado- saio do confessionário e corro pela igreja chamando Lara par irmos embora, pego ela no colo e saio a passos largos pelo local, na saída está o padre Onofre que me olha com carinho- mas uma vez obrigado Padre,a sua bênção.

-Que Deus lhe proteja de tudo que for de ruim e do caminho mal- sorri como um pai sorriria para seu filho.- Não esqueça o caminho largo não te dará pedras mas sem elas você não construíra a ponte que te leva ao lugar certo- seus olhos brilham intensamente- o caminho estreito e pedregoso irá sangrar seus pés mas com ele e as pedras você atravessará toda a verdade. Vai em paz meu filho.

Sorrio com amor pra ele e saio quase correndo pelo gramado verde, o sol ainda está queimando mas não tanto quanto a duas horas atrás então com Lara dentro do carrinho me ajeito para seguir o meu caminho.

Duas horas depois estou onde queria estar, o suor e o cansaço impregnados em mim mas nem isso conseguiu tirar a alegria que eu sentia.

Parado na frente da porta dou duas batidas leves, porém ninguém me atende, mas uma vez duas batidas, dessa vez um pouco mais forte e nada de alguém aparecer.

Me dando por vencido volto pelo caminho de pedras brancas do jardim, e vou para a minha carroça, cabisbaixo pois minhas esperanças se foram nesse momento. Até ouvir a voz que vem me perturbando esses últimos tempos.

-Invisível - paro congelando no local, o frio na espinha novamente aparece dou duas tragadas de ar e as solto em seguida me viro e vejo sua linda presença parada na porta da entrada me olhando fixamente e com um sorriso no rosto, sem me conter sorrio de volta.

Quero pedir desculpas pela demora dos capítulos e por não poder revisar esse.

Peço desculpas pelos erros ortográficos principalmente, me perdoem.

Quero dedicar esse capítulo a leitora Patybraga1010 por não desistir de mim e nem dessa obra.

E a ducasants por me incentivar a não parar, até porque eu queria desistir.

Obrigada a vocês duas, obrigada pelas palavras de incentivo agradeço do fundo do meu coração.

Palavras são poucas para o que eu queria dizer então apenas me contentarei em dizer que sou grata pelo apoio de vocês.

#Gratidão

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