🍁01🍁


Andando pelas ruas de Los Angeles me pego pensando como tudo poderia ter sido diferente, sinto uma sensação de que deveria voltar a procurar e até tentar entender o que se passa comigo.

Morar nas ruas não é uma tarefa fácil você é um Zé ninguém, ninguém te nota ninguém se preocupa afinal você é só mais um no meio de milhões de pedintes que existem apenas para acabar com a paisagem da cidade ou com a paz das pessoas que tem o direito de ir e vir como cidadãos que pagam seus impostos devidamente em dia.

Sinto que falta algo em mim mas não sei o que é, sempre tenho esse buraco negro no peito uma dor como se eu estivesse esquecendo de algo importante, ou talvez eu nunca tenha vivido essa parte importante a qual eu sinto tanta falta não sei dizer bem o que é mas se puderem me entender me digam, me digam o que é essa tristeza, essa melancolia que consome a minha alma a minha vida dia a pós dia minutos, segundos, a cada passo.

Porque eu não consigo me lembrar?

—Deus se você realmente existe como o padre Onofre disse por favor, me diga quem sou—olho o céu tentando achar respostas as quais nunca vieram.

Elas nunca vem a única coisa que sei sobre mim é que fui encontrado em uma estrada jogado, acordei em um hospital sem nome sem dinheiro sem sentido nenhum pra viver, afinal o que é um homem sem nome?

Um ser invisível e é assim que me chamo não sei quem fui se nasci nas ruas se tenho mãe ou familiares, mas também não importa muito se alguém sentisse minha falta, com toda certeza viriam atrás de mim.

Olhando o vai e vem das pessoas os carros de um lado para o outro, tudo é tão apressado as pessoas sentem fome de tempo. Alguns em seus como se chama?

Ah lembrei, celulares outros em sua postura ereta como se fossem o dono mundo e eu aqui.

—Por favor senhora uma moedinha pra ajudar uma pobre alma —estendo minha mão em forma de concha em sua direção.

—Trabalhar ninguém quer,acha que não sei que vai comprar bebidas?—me olha com nojo—vai trabalhar vagab★undo.

Sigo meu caminho andando e sempre com a mesma frase :

Uma esmola por caridade.
Ajude esse homem que não tem o que comer.
Uma moeda pra ajudar essa pobre alma.

Essa é minha vida olho pro céu e sei que essa noite será difícil o vento frio passa por mim fazendo com que eu comece a tremer tenho que voltar pro meu cantinho rápido antes que comece a chover.

O inverno se aproxima e é uma das estações mais difíceis o frio castiga ele é tao rigoroso que a paisagem fica branca e com isso muitos companheiros de jornada tem sua vida levada pelo fio da morte, não são todos que aguentam as geadas e as chuvas a única coisa que nos fazem nos manter aquecido é a água ardente e fogueira.

Muitos preferem o esquentar do álcool nas veias do que comer outros preferem ficar em seu mundo das "alucinações".

Isso não é algo com que eu compactue mas, também não me envolvo cada um sabe o que lhe faz bem.

O dia já está se findando e tudo o que quero é algo pra comer e ir pro meu lugar quando a oficina do Sr Dirceu fecha é ali meu refúgio, faz alguns dias que estou ali. Ele me deixou ficar depois que um companheiro meu morreu atropelado.

Ele é um senhor baixinho roliço bochechudo, tem um bigode engraçado e me deixa ficar lá durante a noite é um cara legal mas não gosto de abusar da sua boa vontade.

Andar o dia todo procurando latinha e papelão me da um desgaste físico grande por isso prefiro comer do que beber bebida alcoólica, não faz bem para corpo.

"Hora de ir para casa a noite já está chegando e preciso descansar."

Pego meu carrinho improvisado de matérias recicláveis que vendo para me manter.

E sigo rumo a uma padaria que tem próximo a oficina não tenho muito dinheiro mais creio que de pra uns dois pães e uma garrafinha d'agua.

Deixo meu carrinho do outro lado da rua pra não chamar a atenção dos clientes de lá, e entro na padaria o cheiro de pães saindo do forno faz com que meu estômago ronque de fome.

Mas antes de chegar no balcão sou interceptado por um homem alto e de semblante cansado e mal humorado.

—O senhor precisa se retirar —cospe as palavras e segura no meu braço apertando.

—Só vim comprar dois pães senhor— tranco a mandíbula de raiva, é sempre assim.

—Aqui é um lugar de respeito se o senhor não se retirar eu vou ser obrigado a tira-lo a força o senhor decide— me encara sério.

—Eu só quero dois pães eu tenho dinheiro olha —ponho a mão direita no bolso e retiro as moedas e mostro a ele —viu eu só quero dois pães.

Dou uma olhada em volta e todos estão nos olhando uns no balcão de mármore preto outros em suas mesas e alguns próximo ao caixa.

—Você ta querendo arranjar briga seu imundo saia agora ou vou te dar uma surra e te por no seu lugar.—Diz levantando a mão em sinal de que vai me bater.

Se não fosse o capuz que uso todos estariam vendo o meu rosto, ainda bem que eu tenho esse moletom velho.

Encaro ele com os olhos queimando em ódio e o vejo engolir em seco e perder toda a sua pose, não vou perder meu tempo resolvo ir embora puxando meu braço com força fazendo com que saia do seu aperto, abaixo a cabeça indo em direção a saída. Assim que atravesso as portas de vidro chegando na calçada uma mão me segura me viro bruscamente em posição de ataque com os punhos fechados.

A raiva saindo dos meus poros e transpassando meu olhar.

Até que encontro olhos cor de mel com verde os mais bonitos que já vi na vida chega até ser mais belo do que os da minha Angel.

Quem é Angel?

Lapsos de memórias começam a surgir na minha frente as cenas se repetindo por várias e várias vezes.



—Angel —um homem grita alto— cuidado para não cair no lago, o gelo pode se romper— uma mulher com uma vez melódica tão suave e doce fala algo mas não escuto, vejo botas de couro preta, uma calça jeans de lavagem escura e um sobretudo bege a mulher se vira para me olhar.



E tudo volta ao normal, é sempre assim começou com sonhos mas nunca consegui ver ou ouvir nada só que dessa vez foi diferente foi uma lembrança e não um sonho.

Será que posso ter esperanças de me lembrar de tudo?

Acabo me dando conta da realidade, estou de frente para a desconhecida que tem os olhos arregalados e assustados me encarando eles são tão tristes tão tristes quanto os meus, me repreendo mentalmente por ter causado assombro nela e o silêncio entre nos dois chega a ser desconfortável a sensação de que tudo está em câmera lenta e que o ar ficou pesado é tao forte que tenho que respirar profundamente.

—Pois não—digo quebrando o silêncio e olhando onde suas mãos está, ela olha pra sua mão em meu braço e cora violentamente.

—O..sen..hor — pigarreia e respira fundo — O senhor queria pão não é?—Levanta a mão e mostra uma sacola com um pacote cheio de pães.—Eu comprei e são muitos para mim se não se importar eu quero que os aceite.

Olho pra suas feições e vejo que existe sinceridade em seus olhos resolvo aceitar com apenas um balanço de cabeça.

—Não me entenda mal por favor sempre que precisar pode me procurar eu moro a alguns metros daqui. — Sorri um mini sorriso mais que não chega ao seus olhos.—Na rua...— a interrompo.

— Obrigado— pego a sacola que ela me estende ponho a mão em meu bolso e retiro as moedas de lá.—Aceite como agradecimento não é muito eu sei mais é o único que tenho.

—Eu não posso aceitar me desculpe eu faria isso novamente por qualquer um não precisa use seu dinheiro pra comprar água sei que é difícil conseguir ainda mais com o inverno. —Abro e fecho a boca diversas vezes tentando entender.

Como ela sabe disso olho de cima a baixo pra ela se veste com uma camisa branca e uma calça social preta, uma mochila rosa em seu ombro direito em seus pés sapatilhas pretas seus cabelos são pretos com um tom castanho, amarrados em um rabo de cavalo uma franja transversal em seu rosto sua pele é bem clara parece bem suave e delicada. Ela percebe a minha avaliação e abaixa os olhos.

Olha para o céu, suas sombrancelhas se unem em expressão de confusão.

—Bem agora tenho que ir parece que vai chover —arruma sua bolsa no ombro, sorri-—Fique bem senhor e vá antes que chova.

Fico parado com a sacola na mão olhando a direção que ela segue anda a passos rápidos em uma certa distância se vira e acena com a mão, faço um movimento com a cabeça e saio desse transe não sei o que aconteceu aqui e nem se quero saber.

Um homem como eu não pode se dar o luxo de se sentir bem com uma atitude tão humana, porém confesso que essa atitude mexeu comigo.

Ai menos terei o que comer hoje e posso levar para Lara também, acho que aquele anjo loiro vai gostar.

Atravesso a rua pego meu carrinho e sigo direto para oficina do senhor Dirceu.





Os próximos serão maiores, invisível conta a história de um morador de rua que tem um passado obscuro.

Acompanhem e me digam o que vão achar,será que tem como voltar a lembrar de quem um dia já foi?

É importante para mim saber os comentários de vocês e se puderem votem também.

Obrigado de coração, beijokas gordas e boa leitura.😍😘💋

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