2. Top 1 Things Jeon Jungkook Probably Shouldn't Know

Quando o sol brilhou no horizonte, Jungkook ainda estava tremendo.Tomando coragem, ele decidiu sair de dentro da casa para dar uma olhada e ver o que os animais tinham feito em seu telhado.

— Puta merda.

Seu telhado estava todo coberto de uma lama escura e pegajosa, fedida. Ela escorria e caía em grumos na grama. Não apenas isso, quando ele saiu da entrada e se afastou, Jungkook viu algo ainda pior: a alguns metros de sua casa, perto das árvores, haviam três estátuas horrendas lhe encarando.

Pareciam totens indígenas — eram feitos de galhos grossos, folhas avermelhadas, e tinham nelas uma boca horrenda e cheia de dentes. Era uma versão macabra de bonecos de neve, tinham até mesmo bracinhos esqueléticos apontados em sua direção.

Jungkook não pensou, ele pegou um pedaço de pau e foi na direção das estátuas. Gritando, ele começou a destruí-las uma por uma.

— SAIAM DAQUI. VÃO EMBORA, EU NÃO FIZ NADA DE ERRADO! ESSA É A MINHA CASA! EU NÃO MEREÇO MORRER AQUI!!

Ele bateu e bateu até que as estátuas não passassem de um monte de sujeira no chão. Jungkook largou o pedaço de pau no chão, ofegante, e se afastou.

Os cinco segundos de coragem dele se foram com um sopro, e só então o rapaz percebeu o quão apavorado estava. Jungkook olhou em volta, e quando sentiu que estava sendo observado, correu para dentro de sua casa, trancando as portas e fechando todas as janelas.

Ele pegou seu celular, tentando discar o número da polícia. Infelizmente, sem sinal.

— Não, não, não... Por que justo agora??? — ele jogou o celular de volta na cama. Olhando em volta, Jungkook viu as chaves do carro sobre o molheiro. É isso.

Ele não se deu nem o trabalho de pegar seus pertences, precisava sair rápido dali. Ele chegou ao veículo em tempo recorde. E só quando o carro ligou, ele percebeu que os pneus estavam totalmente furados.

A garganta de Jungkook travou. Ele abriu a porta do carro com cuidado, percebendo as marcas de garras nos pneus e na lataria que ele não havia notado antes. Um som de risada chegou aos seus ouvidos, mas ele nem se deu tempo para identificar de onde vinham antes de correr de volta para o abrigo.

— Eu tô ferrado, preso nesse lugar infernal... Meu deus, meu deus... — Jungkook andava de um lado para outro, roendo as unhas ansiosamente.

E então, uma batida na porta da frente tirou-o de seus pensamentos. Jungkook agarrou a faca em cima do balcão, deixando-a fixa na frente de seu peito.

— FIQUE PARADO AÍ, O-OU EU VOU CHAMAR A POLÍCIA.

Silêncio. E depois outra batida.

Jungkook engoliu em seco, a lâmina de metal tremendo em suas mãos.

Houve um suspiro pesado do outro lado da porta.

— Você vai abrir a porta ou vai ficar parado aí igual um idiota? — A voz abafada disse do outro lado.

Uma pessoa?

Não deveria ter ninguém ali, sua casa era a única da região — até onde ele sabia. Jungkook olhou em volta. Ele não tinha outra escolha, talvez a pessoa ali pudesse ajudá-lo de alguma forma, ou então, ele já teria dado sua sentença de morte, de qualquer forma.

Ele se aproximou devagar, girando a tranca inferior e deixando apenas uma fresta aberta para seus olhos.

Do outro lado, um homem estava de braços cruzados encarando-o.

Ele era apenas alguns centímetros mais baixo que Jungkook, tinha um rosto redondo e angelical, lábios rechonchudos e o cabelo pintado em um tom rosado, mas as raízes loiras já denunciavam que estava ficando desbotado. Ele usava uma espécie de poncho colorido, com franjas brancas nas mangas e vários penduricalhos no pescoço, as mãos pálidas e esguias exibiam anéis dourados e ele usava um chinelo de madeira.

— E então? Já olhou o suficiente? — O homem disse, irritado.

Jungkook não percebeu que havia ficado encarando o estranho. Muito menos percebeu que seus olhos se encheram de um brilho cintilante até então desconhecido por ele próprio. Felizmente, seu desespero e a raiva do desconhecido não deixaram que nenhum dos dois percebesse isso.

— Q-Quem é você? O que tá fazendo na minha casa?

— Park Jimin, mas é só Park para você.

— Meu nome é...

— Jeon Jungkook, todo mundo já sabe. — ele praguejou, enrugando o nariz para Jungkook.

O homem bufou e passou reto por Jungkook, fazendo seu caminho até o interior da casa.

— Santa graça, esse lugar parece um chiqueiro! Você nunca limpa isso aqui, não?? — O estranho pinçou o nariz com os dedos para tapar o cheiro ruim.

— Ei! Como você sabe meu nome? Eu nem te conheço, seu maluco, isso é invasão de propriedade, sabia?

Jimin fuzilou-o com os olhos.

— Invasão de propriedade? Há! Primeiro, seu nome não é nenhum segredo de estado e, além do mais, você não é um visitante exatamente... discreto. — ele passou a língua pela gengiva.

— Sim, você é um invasor, essa é a minha casa. Já você é um esquisitão que apareceu do nada na minha porta — num lugar onde não deveria ter mais ninguém — com informações pessoais minhas. Me dê um bom motivo para eu não chamar a polícia.

O homem pareceu ter ficado ainda mais ofendido, mas o único indício no seu rosto era uma sobrancelha levantada, desafiando-o.

— Eu vou ser bem claro com você: essa espelunca que você chama de casa pode até ser sua, mas essa floresta é minha, e você é o inconveniente causando problemas. Segundo, você não vai chamar a polícia porque seu celular não tem sinal, e porque os koboldos furaram os pneus da lata velha que você chama de carro. — Jimin puxou uma cadeira da mesa de jantar e se sentou, encarando as próprias unhas, mostrando desprezo. — E, terceiro, porque se você quiser permanecer vivo, você vai precisar de mim.

— Ko... o quê? Que merda você tá falando?

— O que foi? Vai me dizer que não percebeu que você está sendo atacado? Pela quantidade de cocô no seu telhado, achei que você tivesse entendido o quão putos eles estão com você.

— Espera, os animais??

— Querido, os animais têm sentimentos, mas nem de longe são tão vingativos como os Elementais, você pegou um peixe grande. — ele deu uma risadinha sarcástica.

— Argh, pare de falar em metáforas! Você vai desembuchar logo ou não? — Jungkook cruzou os braços, contraindo seus bíceps e fazendo sua cara mais rígida.

E no entanto, Jimin não parecia nem um pouco abalado. Do contrário, com apenas um olhar de cima a baixo em Jungkook, ele o fez sentir calafrios. Jungkook reprimiu um gemido.

— Só me diga uma única coisa: você os cumprimentou antes de entrar na casa? — Jimin estava sério.

— Eu realmente não entendo o que você quer dizer. — Jungkook engoliu em seco.

Jimin enterrou as mãos no rosto, respirando pesado antes de se virar para Jungkook e fazê-lo sentar ao seu lado.

— Ai, grande Mãe, eu achei que ele fosse te contar. — Jimin sibilou, negando com a cabeça. — Vamos ter que ir do começo, então: Jungkook, criaturas mágicas existem. Lobisomens, fadas, goblins; todos são reais e moram aqui nessa floresta em (quase) completa harmonia.

Jungkook semicerrou os olhos, se preparando para falar alguma coisa, mas o homem continuou.

— E eu sou o guardião celestial da floresta, responsável por manter as criaturas e habitantes desse lugar seguras e longe de encrenqueiros como você. Já pegou a ideia? Você ferrou com tudo.

Jungkook deu uma risadinha de lado, sem nem piscar.

— Você é ridículo, acha que eu vou acreditar nisso? — Jungkook revirou os olhos. — Eu vou te dar mais uma chance de me dizer a verdade antes de te enxotar pra fora. Chega de brincadeiras!

Jimin comprimiu os lábios numa linha fina, claramente já de saco cheio de tudo aquilo, mas ele respirou fundo e continuou.

— Jungkook, você por acaso não notou nada de esquisito aqui, ultimamente? Pertences seus desaparecendo, barulhos esquisitos no meio da noite, algo que parecesse incomum?

— Como voc... Espera um pouco, é você que anda pegando minhas coisas?! Ai meu deus, você é realmente maluco, um stalker maluco. — Jungkook se levantou, olhando para ele com exaspero, mirando sua faca em cima do balcão.

Jimin apoiou a cabeça nas mãos, e com a ponta de um dedo, apontou para a samambaia no canto da sala e a fez crescer diante dos olhos de Jungkook. O jovem parou de falar na hora, olhando atônito para Jimin.

— C-Como você fez isso?

— Eu não fiz nada, só dei uma sugestão para a planta e ela obedeceu. Chama-se respeito, mas acho que não existe isso de onde você vem...

— Você tem poderes... — Jungkook sussurrou, mais para si do que para Jimin.

— Agora acredita em mim? Por favor, diga que sim, eu já estou exausto... E se possível, poderíamos ir direto ao ponto agora?

Jungkook encarou-o por um momento. Sua cabeça estava um turbilhão, ele estava com medo, mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que queria acreditar em Park Jimin. Ele voltou a se sentar na cadeira, e Jimin esboçou um sorriso satisfeito.

Após isso, Jungkook desatou a contar a versão resumida de todas as coisas estranhas que tinham acontecido até ali: as coisas sumindo, os barulhos estranhos e o ataque. Quanto mais ele contava, mais as coisas pareciam começar a fazer sentido, agora que ele passava a considerar o fator da magia.

Jimin manteve o rosto impassível durante todo o relato, como se sua cabeça estivesse ocupada demais formando conexões e outras coisas que Jungkook não entenderia.

— Tem alguma coisa nessa história que não está fazendo sentido... — Jimin tensionou os ombros. — Por que eles estão tão nervosos? Não faz sentido tudo isso só por causa do seu barulho e péssimas maneiras, deve ter mais alguma coisa...

— Olha, eu não fazia ideia de que tinha companhia. E, como assim, você não sabe o que é?

— É por isso que eu vim aqui. Os Elementais não querem me dizer o que aconteceu, eu ouvi as flores sussurrando seu nome sem parar e os goblins reclamando da poluição do seu carro, mas só isso... Algo me diz que isso é obra de uma das faeries, os koboldos não costumam agir fora da ordem delas. Mas, ainda sim, não faz sentido: por que elas viriam aqui...? — De repente, os olhos de Jimin se arregalaram. Ele se levantou da cadeira, indo em direção à cozinha e abrindo os armários.

— Ei, o que é isso?

— Jungkook, você alimentou as faeries? — Jimin se virou. — O homem que morava aqui antes de você costumava alimentá-las com um pão de farinha de nixe, ele pode ter deixado algum saco aqui...

— Calma, as torradinhas? Eu comi algumas, mas elas estavam bem velhas e, sem ofensas, horríveis...

— Elas sentiram o cheiro e seguiram até aqui, achando que você estava oferecendo...! — Jimin sussurrou, enfim começando a entender a história. — Mas se elas chegaram até aqui, dificilmente teriam ido embora sem um agradecimento... — ele se virou para Jungkook— O que você fez com os presentes delas?

— Uhm, que presentes? — Jimin cruzou os braços, dando um olhar torto para o homem..

— Tá, tá, deixa eu recapitular. Minhas coisas começaram a sumir logo que eu cheguei. Até aí, tudo bem. Aí eu acidentalmente alimentei as faeries. Ah, no outro dia, a torneira tinha se consertado sozinha, foi bem estranho... Nesse dia, meu computador também quase quebrou depois da tigela ter caído de um jeito esquisito, poderia ter sido elas? — Jimin deu de ombros, mas fez uma careta que parecia dizer "possivelmente".

Do que Jimin tinha como experiência, as faeries jovens podiam ser absurdamente desastradas enquanto não terminavam de crescer suas asas, ele não ficaria abismado se elas tivessem quebrado algo aqui e ali na casa do rapaz.

— As faeries costumam gostar de ajudar em trabalhos domésticos, já fizeram muito por mim... — o guardião acrescentou. — Consertar o encanamento é um bom presente, eu suponho.

Mas aquilo ainda não explica por que as faeries estavam tão irritadas a ponto de atacar Jungkook no meio da noite.

— Tá, e depois... A última coisa que me lembro é de sair para fazer compras e acabar furando meu pé num ninho de bicho estranho na porta da frente. E depois eu fui atacado...

Jimin arregalou os olhos.

— Ai, Santa Mãe, você é estúpido?! Não era um ninho, Jungkook, era uma oferenda para você, e você a destruiu! E você não só a destruiu, como depois ofendeu as faeries ainda mais, apontando uma faca na cara delas! Você tem noção do que fez?!

— Elas invadiram a minha casa no meio da madrugada, o que eu deveria ter feito?! — Jungkook retrucou.

— Urgh, agora tudo faz sentido. — Jimin passou as mãos pelas mechas rosadas num ato de nervosismo — Desde que chegou, você já estava irritando todo mundo com sua baboseira de garoto da cidade, e essa sua desconsideração com as faeries foi a gota d'água para eles: você basicamente se declarou inimigo da Floresta...

Jungkook estava boquiaberto, o choque impedia que ele falasse.

— Ai minha deusa, é por isso que todos estão tão quietos: eles estão se preparando para retaliar você!

— R-Retaliação? Tipo, me m-matar? — ele engoliu em seco.

Jimin ignorou a pergunta, andando de um lado para outro, imerso em seus próprios pensamentos.

— Eu poderia fazer... não, simples demais. Mas se ele disses... ah, isso não vai funcionar também... — Jimin murmurava. — Já sei! O Festival de Primavera, como não pensei nisso? Vamos encher de flores, guirlandas por todos os cantos, música, vai ser perfeito! — Os olhos de Jimin pareceram brilhar por um instante.

— Essas criaturas estão vindo pra me matar, e você quer fazer uma festinha pra elas?! Perdeu a noção.

Jimin apenas deu de ombros.

— Não existe ódio que resista a uma boa festa. O Festival de Primavera é muito importante aqui. Se você fizer direito, talvez te considerem digno de viver.

— "talvez"? Bem, mas e se elas não gostarem? — Jungkook perguntou em choque, mas Jimin apenas deu de ombros.

— Não tem outra opção, é pegar ou largar.

Por fim, Jungkook obviamente acabou aceitando — se houvesse uma mínima chance de aquilo dar certo, ele iria pegá-la.
Jimin parecia animado, embora Jungkook não entendesse direito o porquê.

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