1.Você é e sempre será um problema

Law a encarava com raiva e um leve toque de ódio no olhar, ainda irritado por todo o ocorrido.

"Por que, de todas as fêmeas no mundo, tinha que ser ela? Logo a filha de Doflamingo!"

O pensamento crítico ocorrera na parte mais obscura da mente do cirurgião enquanto a observava tão entrosada com a tripulação que parecia ter crescido entre eles.

"Oito meses desde que esse problema passou a ser meu, e para completar, ela não tem utilidade nenhuma." Mais um pensamento motivado pela raiva e até mesmo ódio do pai da garota ocorreu.

— Davina, vai, diz pra mim que isso é mentira, você só pode ter roubado! — Bepo sussurrou, levando-a a rir.

— Você perdeu, Bepo, aceita! — Ikkaku comentou, encarando a morena que sorria, estendendo a mão enquanto o urso branco tirava dos bolsos do macacão o dinheiro.

— O que você vai fazer com tudo isso? Sendo a mulher do capitão, não precis...

O clima ficou tenso e o silêncio se fez presente. Por definição, Penguin estava com a razão, uma vez que, quando o imprinting acontece não é possível desfazê-lo, mesmo que o negue, como Law vem fazendo.

— Vamos desembarcar na Ilha Cristal. — Foram as únicas palavras de Law, além de um olhar frio e cruel dado a ela.

Cada tripulante assumiu seu lugar e a única que não possuía função era ela, a mulher de sangue real. Law nunca lhe deu uma função justamente por não querê-la ali. Na cabeça de Trafalgar, quanto menos ela fizesse, mais fácil seria se desfazer dela; porém, nada estava de acordo com o que ele queria.

Davina é uma ômega extremamente obediente, não só por fazer parte de sua essência a solitude e mudez, mas por não conseguir bater de frente com o alfa por causa da ligação. Sua vida sempre esteve manipulada por fios invisíveis. No castelo, Doffy não permitia que a vissem, era tratada como um tesouro e, quando houve a queda, foi escravizada e posta em um leilão à espera de um comprador. Por ser ômega, os lances eram absurdos, e talvez pelo destino ela não tenha parado nas mãos de um ser nojento e asqueroso, mas sim nas de Eustass, isso até encontrar aquele a quem infelizmente pertence.

A mulher em vestes simples caminhava pelos corredores do Polar Tang em direção à sala do capitão. Sabia que era proibida de adentrar ali, mas não aguentava mais estar sem função; precisava ocupar a mente enquanto não fabricava as pílulas supressoras com as quais estava acostumada a trabalhar. Antes de bater na porta, sentiu o corpo arrepiar, indicando que sua presença já havia sido sentida.

— O que você quer? — O capitão mencionou, abrindo a porta e a encarando furiosamente.

— Bom... — Ela lutou para não desviar o olhar, sentia-se intimidada e não compreendia o motivo de tanta raiva, pois não se recordava de ter feito algo errado para deixá-lo tão irritado. — Eu quero uma função. — Juntou os dedos na frente do corpo para conter o nervosismo de estar ali, de frente para o alfa, seu alfa.

O olhar crítico de Law percorreu cada centímetro de pele pouco exposta até a face envergonhada, a respiração chegou a pesar ao sentir o cheiro delicioso e natural dela. Davina tinha um cheiro peculiar que lembrava limão ambarado em mel, cítrico com um final adocicado. Tal percepção causou mais raiva; queria distância eterna da mulher, mas não gostaria de ver outro tocando-a.

— Não tenho função alguma para você. — A voz saiu praticamente primitiva conforme ela se afastava um pouco, notando a reação dele. Para Law, era inadmissível; seus instintos gritavam para tê-la para si e sua razão mandava abandoná-la na próxima ilha. Os dois colidiam ao notá-la ter uma reação inesperada. Assim, o capitão saiu da cabine e andou na direção dela, que foi se afastando até estar encostada na parede fria de metal.

— E-eu... E-eu só quero ajudar.

As mãos de Law foram ao redor, a prendendo, e o olhar estava tão severo que causava um certo desespero nela.

— Olha bem para mim, parece que preciso de ajuda? — Ela negou. — Então não me cause problemas. Quer fazer alguma coisa? Fique no seu quarto até o desembarque, assim não atrapalhará a tripulação com suas ideias.

Law se sentiu um verdadeiro crápula ao observar o tom e as próprias palavras. Esse não era ele falando, pelo menos é como se sentia ao notar o olhar entristecido da garota. Afastando-se e comprimindo os punhos, ele se virou de costas.

— Cuide da lavanderia. — Foi tudo o que disse antes de se trancar na cabine principal.

O olhar de Davina parecia escuro conforme olhava para os próprios pés. Os braços ainda estavam trêmulos e as lágrimas não caíam. Agora tinha uma função.

Sem pensar em mais nada, seguiu até a lavanderia e se sentou no chão após colocar toda a roupa na máquina. Não pôde deixar de lembrar de quando estava no Victoria Punk.

A espuma se espalhava por todo o convés. Killer simplesmente respirava fundo, Heat botava a culpa em Boogle, e Davina observava tudo. Eustass parou ao lado dela, encarando o mesmo local.

— Mas que porra está acontecendo aqui? — De imediato, a ômega estremeceu, e Kid deu-lhe um tapa leve na parte baixa da nuca. — Para de tremer, por acaso está resfriada?

Ela negou, sempre ficava nervosa pelo timbre de voz do ruivo.

— Agora, quem vai me responder o que aconteceu aqui ou vou ter que sair na porrada com vocês?

— A culpa foi dessa ômega estúpida que não sabe fazer nada! — Boogle acusou, e ela levantou o olhar furiosa.

— Minha culpa? Se você não sabe ler, o problema é seu! Ali dizia "sabão explosivo", você quis pagar pra ver porque a ômega, segundo VOCÊ, é burra, seu trouxa! — E assim atirou um dos esfregões no homem, que praticamente rosnou, fazendo com que ela balançasse os ombros em um sincero "dane-se". Davina não temia os betas nem todos os alfas, mas havia alguns com quem realmente não conseguia bater de frente.

— Esse não foi o barril que roubamos daquela ilha, daquele comandantezinho de merda?

— Kid, seria bom se você começasse a se recordar dos nossos inimigos. — Killer informou calmamente.

— Porra nenhuma, um fraco daquele não dá nem para a entrada. Agora limpem isso, vamos atracar na próxima ilha. — Ao sair do convés ensaboado, Kid puxou a ômega para si e a carregou para dentro da sala. Não era como se Davina tivesse muita escolha, porém, se sentia confortável o suficiente com Eustass, pois ele nunca a reduziu a um bibelô ou uma escrava pronta para satisfazê-lo. Em qualquer outra circunstância, poderia se dizer que isso é o mínimo, mas entre alfa e ômega, onde ainda tentam afirmar que o mais fraco não tem poder sobre o próprio corpo e vontade, chega a ser uma benção ver alguém tão rude agir de maneira tão sã como Kid agia com ela. Ele simplesmente gostava do cheiro dela e de como a entretia com suas histórias mirabolantes e ideias impulsivas.

A realidade bateu na face de Davina assim que encarou a roupa mais uma vez. A máquina seria responsável pela lavagem e secagem das peças e chegava a ser estranho como a tecnologia fluía por esse mundo confuso ao qual ela se encontrava. Resolveu se levantar e arrumar um pouco o local enquanto esperava o tempo passar.

Estava ali guardando os produtos de limpeza e esticando as capas que iriam para os travesseiros quando notou uma peça que ainda não tinha sido lavada, uma das camisas de Law. Os olhos brilharam ao sentir o perfume dele na peça e nem percebeu que já a abraçava.

Imprinting é um verdadeiro inferno quando recusado, pois a ligação se tornava praticamente obsessiva por parte do alfa e extremamente apaixonada pelo ômega, como se o simples ato de não querer atiçasse mais.

Como uma criminosa, Davina olhou para os lados, temendo ser pega, antes de sair abraçando a camisa e seguir até o próprio quarto. Ao adentrar e trancar a porta, sorriu feito uma criança que havia acabado de ganhar um presente, e após abraçar e cheirar mais uma vez a camisa, deixou-a dobrada e escondida embaixo do travesseiro.

[...]

Todas as roupas estavam dobradas e agora a garota seguia de quarto em quarto, batendo na porta para entregar as pilhas de lençóis e camisas, uma vez que roupas íntimas eram lavadas por cada usuário. Ikkaku, Uni e Hakugan foram os últimos a recolher suas partes. Agora, Davina encarava a porta do quarto de seu alfa um pouco conflituosa. Bateu mais de seis vezes pausadas e nada. Movida pela curiosidade e de maneira errada, ela quebrou a primeira regra que lhe foi imposta.

Davina adentrou o quarto de Law carregando os lençóis. O local possuía o cheiro intenso dele e ela desejou deitar ali e ficar absorvendo. Como não queria causar algum incômodo, ao invés de deixar a roupa em cima da cama, foi até o armário.

A ômega estava prestes a pôr as peças sobre o banco que ficava próximo ao conglomerado de gavetas e portas quando a luz foi acesa e o olhar nada amigável de Law fez com que estremecesse.

— O que faz aqui? — A voz, quase em um rosnado, fez com que ela se virasse de uma vez em silêncio. — Responda!

— Eu vim deixar as suas roupas. Como não me atendeu, eu ia colocar nesse banco.

Ela estava falando a verdade, Law podia sentir, além de ver as peças nas mãos dela, então por que não conseguia acreditar?

— Deixe aí e saia imediatamente. — Ela largou as roupas no banco e seguiu para a porta, mas quando ia passar por ela, teve o braço segurado e o olhar fulminante direcionado ao seu rosto.

— Da próxima vez, deixe na porta. Não quero que entre aqui nunca mais, entendeu?

Ela assentiu, sendo praticamente empurrada para fora do quarto. Davina se sentia mal por esse tratamento, mas o coração, apesar de magoado, insistia em dizer que era melhor do que estar no leilão.

"Se ele me odeia tanto, por que me trouxe pra cá? Eu poderia ter continuado com o Kid, ele nunca me tratou mal."

O pensamento ecoava na mente conforme andava pelos corredores até chegar à cozinha. Davina viu as bananas na fruteira e resolveu pegar algumas para preparar um bolo. Passou algumas horas cozinhando apenas para perfumar o local e notou quando o cheiro gostoso ganhou inúmeras proporções. Quando acabou, ficou um pouco enjoada devido ao movimento de tudo ao redor, lavou a louça e comeu um pedaço do bolo sorrindo. Depois, deixou-o sobre a mesa, tampado com a cúpula, e o sorriso de Shachi foi a primeira coisa que viu ao virar em um dos corredores.

— Você fez bolo de banana, Vina? — Ele perguntou empolgado, utilizando o apelido que Ikkaku e Bepo deram.

— Sim, espero que gostem. Eu já comi, vou me retirar. Com licença.

Shachi percebeu que ela estava triste, mas não tinha muito o que fazer. Foi então que se recordou do quanto ela gostava de explorar os locais:

— Se arrume bem, a Ilha Cristal é um local de turismo e especiarias incríveis! — Apesar de Davina não ter dito mais do que um simples obrigado, ele notou que ela ficou feliz pela informação.

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