Capítulo 9 - Estou pronta!

Antes que eu pudesse pensar ela estava a minha frente me empurrando em direção à parede, suas mãos em volta do meu pescoço apertando. Isabel era tudo o que vinha a minha mente. Finquei meus pés no chão e tentei segurar as mãos dela, no entanto minhas mãos passavam sem tocar em nada.

O aperto se intensificava cada vez mais.

Escutei o barulho dos outros lutando, mas não  podia fazer nada para ajudá-los, meus pés eram arrastados pelo chão como se não tivesse nenhum impedimento ou peso. Minha vista começou a escurecer. Senti um leve movimento seguido de uma respiração em meus cabelos.

Minha mente voltou ao foco no mesmo instante.

Mamãe me protegeu e eu protegeria a minha menina! Com o máximo de força que consegui reunir travei meus pés no chão, levantando rachaduras por toda sua extensão e atirei aquela criatura longe com o vento.

Minha atitude levou meus amigos a caírem no chão junto de todos. Vi uma bola de fogo de Priscila atingir o peito da criatura por acidente antes que ela atravessasse a parede e a ouvi guinchar.

Então é isso! Ela tem um ponto fraco!

A criatura voltou em minha direção como se nada estivesse acontecido. Agora eu sei como agir.

Me deixei levar pelo impulso libertando minha mente e corpo de qualquer pensamento.

Priscila se preparava para atingir um dos soldados e eu desviei a direção de sua bola de fogo com uma rajada de vento em seu braço, assim que ela a lançou pude sentir a vibração que emanava e senti meus dedos se esquentarem como se aquele fogo viesse de mim, e talvez pudesse vir. Tudo parecia em câmera lenta.

Apenas sinta! Livrei minha mente de qualquer barreira e pensamento, sentia meus instintos se aflorando aos poucos, quando olhei para baixo minhas mãos se acendessem e meu corpo saiu do chão, à bola de Priscila atingiu a criatura que urrou e nem teve tempo de pensar em reagir, com força impulsiono meu corpo em cima dela a atingindo de toda forma que eu podia.

Senti minhas mãos atravessarem seu corpo, mas dessa vez foi diferente. Como se eu colocasse a mão em um balde com água, a cada golpe um urro diferente, eu podia sentir o dano que estava causando naquela criatura. O cheiro de sua carne podre queimada queimava minhas narinas me deixando extremamente enjoada.

Em um movimento surpresa suas mãos me lançou ao chão, poucos centímetros antes de atingi-lo diminui minha velocidade evitando a queda. Endireitei meu corpo, levantei a cabeça e com o grito que estava preso em minha garganta libertei indo em sua direção. Minhas pernas ganhavam o ar e cada vez mais velocidade.

Joguei várias rajadas de vento desestabilizando todos daquela sala, e mantendo aquela criatura imobilizada. Ela se debatia querendo escapar sem conseguir nenhum resultado favorável, abri uma pequena brecha e passei minhas mãos por ela atingindo a criatura em cheio. 

Abri as mãos e intensifiquei o fogo que lutava para ficar aceso por causa do vento, as chamas cada vez mais brilhantes e fortes até que em um último urro a criatura desapareceu. Ficando apenas uma poça gosmenta no chão. Morreu. 

Deixei que meu corpo exausto caísse no chão, meu estômago se contraiu jogando para fora tudo o que eu havia comido.

Aquela tortura parecia enfim ter acabado, mexi minha mão e uma lufada de ar limpo entrou renovando aquele nojento deixando meus pulmões mais leves, em outro gesto enterrei o que tinha posto para fora e os restos da criatura.

- Isso foi uma loucura! - Carter disse segurando meu braço e me levantando do chão.

Não falei nada só tirei as amarás que seguravam Isabel e a trouxe para meus braços, minha pequena estava trêmula eu tenho que acalma- lá, só que eu também estava abalada com tudo aquilo.

- Eu estou aqui minha pequena, tudo vai ficar bem. - afastei meus receios e repeti o que mamãe me dizia sempre que eu me machucava, parecia certo falar o mesmo nesse momento.

Senti braços me agarrarem em um forte abraço e um suspiro aliviado, depois de segundos assim uma Ayla esbaforida me olhava ameaçadoramente.

- Nunca mais faça isso! - depois sua feição se suavizou - Você está bem? Seu pescoço está vermelho! Você tem ideia do susto que me deu? 

Não pude evitar sorrir, tirei um braço que estava em Isabel e a abracei como podia.

- Eu disse que não prometeria nada! Desculpa não ter ajudado vocês...

- Não ter nos ajudado! Você tem noção do que você enfrentou? – ela me cortou, seus olhos estavam arregalados - E aquelas rajadas de vento com certeza nos ajudaram.

Apenas sorri e olhei a nossa volta, todos estavam no chão, a maioria mortos, mas não foi isso que me fez levantar. Eu conhecia aquela energia que se afastava e ele pagaria pelo seu mal.

Meu corpo me obedecia sem eu nem dar o comando, estava em disparada para fora daquele lugar, pude ver uma silhueta lá longe correndo. Respirei fundo e fiz um caminho mental, senti o momento da passada em falso caindo no buraco e empurrei com toda minha força. Desta vez ao invés de ficar em pé a minha frente, o prendi ao meio.

Contornei seu corpo e vi a surpresa passando por seus olhos em um lapso. Me abaixei ficando a sua nova altura.

- Vejo que ainda está viva. - ele olhou para Isabel.

- Vejo que a situação mudou. - falei entre dentes.

- Estou onde eu queria estar. - seu sorriso sínico destacava uma cicatriz em sua bochecha.

Aquela frase me despertou curiosidade, no entanto não me deixei abalar.

- Bom saber! - girei meus dedos e uma bolha de ar envolveu seu corpo.

Me levantei e segurei na mão de Isabel indo para dentro daquele lugar novamente, a bolha nos seguindo de perto.

Assim que entrei todos nos olhavam curiosos, não tinha mais ninguém escondido, ao menos eu não sentia nada. 

- Vai se arrepender de me prender. - Aquela ameaça foi tão fora de contesto que nem me importei em falar alguma coisa.

- Vocês estão bem? - Carter tinha um semblante preocupado.

Eu podia entender, afinal sai igual uma maluca correndo sem dizer nada, não sei como não derrubei Isabel. 

Olhei para aquele homem atrás de mim, o mesmo dos meus sonhos, não esqueceria aquela voz nem em mil anos. Olhei para Carter e fui em sua direção, dei um tapinha em seu ombro. Deixei Isabel ao seu lado e fui para trás de uma bancada, ou o que restou dela.

Por incrível que pareça uma única gaveta estava intacta, mas não era a que eu queria, bati nela e seu mecanismo abriu automaticamente. Retirei a arma que tinha ali e uma imensa seringa de metal, empurrei alguns entulhos e encontrei o que eu queria.

- Você não pode fazer isso. - sua voz era rígida, irada.

- Não posso? - abri um imenso sorriso - Acho que posso sim!

Caminhei em sua direção.

- Direito ou esquerdo? Qual você escolhe? - perguntei inserindo a seringa no frasquinho e puxando o líquido verde.

- Você não sabe com o que está mexendo!

- Muito pelo contrário, eu sei sim! - estreitei os olhos o encarando - Okay! - dei de ombros - Eu escolho por você. - puxei seu braço esquerdo com força e arregacei a manga.

- A qualquer momento sua pose vai cair. - ele sorria - Vai saber com quem está lidando de verdade.

É claro! Como não percebi isso antes. Ele está esperando que aquela criatura nos pegue de surpresa, mal sabe ele que ela não existe mais.

- Deixe me lembrar. - coloquei a mão em meu queixo de forma dramática - Ah sim! Isso deve despertar o lado animal e ti deixar no comando, mas como você não tem um lado animal e serei eu quem você vai ver, acredito que isso me de total controle sobre você.

Seus olhos se arregalaram.

- Ou talvez você sinta dor. Vamos descobrir juntos. - sem dar nenhuma chance de esquiva apliquei todo o conteúdo da seringa.

Não tinha ideia do que realmente aconteceria e nem se a dose estava correta, mesmo se fosse uma dose letal eu não me importaria de ser a responsável por sua morte. Estaria livrando o mundo de uma criatura repugnante igual àquela senhora macabra.

Meus olhos não deixavam os dele, queria captar qualquer mudança. Suas pupilas se contraíram para então se dilatar, ele começou a convulsionar dentro da bolha, senti passos se distanciando e agradeci mentalmente por Carter estar levando Isabel para longe.

Os espasmos diminuíram até acabar, ele estava imóvel, mas eu sentia sua respiração mínima, seu coração estava disparado. Seus olhos abriram totalmente negros e ele me encarava, tentou se levantar e eu o impedi com uma rajada mais forte.

- Não se mova. - avisei. - Quem é você? - arrisquei perguntar.

Ele continuava em silêncio.

- Me responda! - alterei minha voz.

- Castiel.

- Há mais sedes como esta?

- Não, apenas boatos e alguns aproveitadores! 

Isso quer dizer que pegamos todos os responsáveis pelo instituto, será que isso não seria uma mentira?

- Quem está no comando?

- Morgana. 

- Quem é Morgana? - estava ficando irritada com isso, ele não pode falar tudo de uma única vez.

- Um espectro.

Então era isso aquela criatura.

- Qual o objetivo do instituto? Não esconda nada.

- Você vai se arre... - ele fez uma careta, e prosseguiu a contra gosto - Fazer experiência para criar soldados com força e determinação animal, ampliando assim nosso domínio e acabando com todos igual a você que não nos for útil.

Meu sangue ferveu, fechei o punho e com toda força desferi um soco no seu nariz, pude sentir a cartilagem se deslocando com o impacto, assim que meu punho deixou seu rosto o sangue escorreu livre por suas narinas.

- Sua... 

Ele não podia me responder, a cada instante o soro fazia efeito e ele perdia a capacidade de se opor a mim.

- Quero que me conte o que cada um faz aqui e onde estão.

Ele começou a falar a localização e a função de cada um, conforme ele ia falando eu fazia uma varredura confirmando o que ele dizia e garantindo que tínhamos pego todos.

- E Matteo o cientista genético que está no subterrâneo.

Procurei ainda mais abaixo de nós.

Pensei que isto fossem tubulações de esgoto ou sei lá o que, mas na verdade era uma passagem estreita, segui todo o caminho até sentir um ambiente maior, bem distante de onde estamos.

Refiz o caminho para achar a entrada que nos levaria para aquele lugar. Estava no corredor a nossa frente. 

Meus instintos estavam ao máximo, poderia ouvir até se uma formiga estivesse andando por aqui, olhei a direita e Isabel estava sentada no chão abraçando seus joelhos. Carter ao seu lado com um olhar preocupado.

- Venha minha pequena. - sua cabeça levantou assim que comecei a falar, seus olhos brilhavam e ela veio correndo pra mim abraçando minhas pernas. - Logo saímos daqui. - a confortei.

Ela concordou e a coloquei novamente em minhas costas. Iniciei a descida, todos me acompanhavam de perto, meus sentidos me permitiram escutava duas respirações na sala à frente. Castiel estava mentindo, ou no caso omitindo. Afastei esse pensamento deixando para depois.

Uma porta de aço estava ficando mais próxima, isto seria um grande empecilho. Não têm como arrombar aquela porta. Não tenho força bruta para isto! Acredito que nem mesmo a Priscila com minha ajuda conseguiria derreter facilmente.

Um botão amarelo ao lado chamou minha atenção, tinha uma caixinha em volta, acredito que é uma espécie de interfone, respirei fundo e fui em direção ao botão.

- Abra! - Falei firme pressionando o botão.

Não demorou muito e um ruído alto seguido de um rangido indicava que a porta estava abrindo.

Eu realmente pensei que teria que derrubar esta porta, a atitude de quem estava ali me surpreendeu, no entanto não me deixei levar, poderia ser uma grande armadilha. Uma forma de nos ludibriar.

Minha surpresa foi ver o rapaz dos meus sonhos, ou melhor, dos sonhos de Isabel parado a nossa frente com as mãos ao lado do corpo. Além das roupas brancas um óculos de armação preta fazia parte do visual desta vez.

- Vocês são quem eu acho q... 

O rapaz começou a dizer e quando senti Isabel em alerta parei de ouvir. Ela estava procurando uma posição melhor para ver e ser vista.

- TITIO! - a pequena gritou assim que reconheceu o rapaz.

Os olhos dele demonstravam surpresa e começou a procurar de onde vinha à voz, quando seus olhos pousaram em Isabel eu pude ver aquele brilho de felicidade estampado neles e em seu imenso sorriso. Coloquei a pequena no chão e no mesmo instante ela se atirou nos braços dele.

Não podia negar que eu estava apreensiva com isso, mas pelas lembranças dela ele sempre foi uma boa pessoa e eu não poderia negar isso a ela.

A figura atrás dele nos olhava curiosa, era uma linda mulher, mas as olheiras e o semblante triste a deixavam abatida, algo me parecia familiar, no entanto minha mente não conseguia identificar o que.

Todos estavam tensos, podia sentir o olhar incrédulo de Carter e Ayla em mim, a final ninguém chegava perto da minha menina e pra conseguir isto tinha que ter minha total confiança.

Ele era a exceção. Eu devia muito a ele e ele a mim, mas as explicação que eu necessitava ouvir dele não se igualava a ele proteger e amparar minha menina por esses anos, tentando a proteger do mal, mesmo sendo ele a fazer certar coisas. Com ele era diferente!

Sempre era.

- O que você faz aqui minha pequena? - sua voz estava cheia de alegria com um misto de surpresa e ressentimento.

- Mamãe veio brigar com o homem mau e eu vim junto! - ela respondeu prontamente com um imenso sorriso. - Senti saudade. - ela concluiu se aconchegando ainda mais nele.

- Eu também senti sua falta. - ele acariciou o topo da cabeça dela. - Mas me explica essa conversa de mãe? Eu não entendi. Onde você estava? O que aconteceu? Te machucaram?

- Não, não! Estou bem titio. - ela desceu de seu colo e o segurou pela mão o conduzindo. - Esta é minha mamãe! - ela disse toda orgulhosa, ao se agarrar as minhas pernas, mas sem soltar a mão dele. - Foi ela que me tirou da jaula de pedra, eu não sabia no início, mas agora eu sei que ela é minha mamãe, e eu também me lembrei de você. - o sorriso que estava em seu rosto, os olhos brilhando, gostaria de poder gravar em uma linda pintura o sorriso da minha menininha.

Ele finalmente olhou para mim e arfou assim que aparentemente me reconheceu. Seus olhos transmitiam uma vasta quantidade de sentimentos, eu via ali, arrependimento, dor, culpa, medo e acima de todos admiração. Esse último eu não conseguia entender o motivo.

- Eu sinto muito! - a dor dominou seu rosto. - Eu não queria. Nunca planejei isso! Eu queria apenas fazer uma cura e foi isso que me jogou aqui, que me fez fazer coisas terríveis, eu não podia sair. - do que ele estava falando? 

- Não estou entendendo! – mal terminei de dizer e uma vaga memória me atingiu em cheio.

Estava amarrada a um lugar duro, pela textura em minhas mãos sabia que era madeira, correntes prendiam meus pulsos, pernas, pescoço. Era impossível se mexer e mesmo assim me debatia querendo sair dali. A cinta que prendia meu quadril no lugar estava machucando minha barriga. Assim que olhei para baixo notei seu tamanho.

Eles não podiam fazer isso! Isto é desumano, minha vontade é fazer tudo aquilo explodir e cuidar desta criança que estava ali, eu sentia leves investidas dela contra minha barriga. Eu não posso deixar que façam um bebê de cobaia, esse bebe é meu! Esse sentimento me deu a força que eu precisava.

Senti tudo começar a vibrar e os potes ao redor caiam no chão, não estava lutando exatamente por mim, mas sim por aquela criança que ainda nem nascida é. 

Senti uma picada em meu braço que instantaneamente começou a queimar e as coisas começaram a ficar em câmera lenta. Um rosto apareceu antes que a escuridão me levasse.

- Vou cuidar dela com a minha vida! 

Fechei meus punhos, não estava preparada para isso, levantei a cabeça e olhei em seus olhos. Era impossível afogar todos aqueles sentimentos que lutavam por ar, eu não podia simplesmente fingir que não sentia. Meu corpo agiu com rapidez, meus olhos encheram-se de lágrimas que faziam seu caminho pelo meu rosto enquanto meu punho fechado ia de encontro ao rosto dele.

Ouvi o arfar surpreso de todos e ele se estatelar no chão.

Isabel me olhava surpresa, mas não recuou. Assim que meu corpo já cansado fraquejou me levando ao chão, ali estava ela pra me amparar com seus diminutos bracinhos.

Me permiti naquele momento chorar, antes eu não podia me dar ao luxo desse capricho, eu tinha de ser forte, outras pessoas dependiam de mim e estávamos em meio a uma fuga, eu tinha de "crescer", mas nesse momento eu me sentia uma criança querendo o colo da mãe. No entanto era amparada por minha própria filha. 

A puxei mais para mim como se pudesse nos fundir. Ela passou por tanta coisa e por minha culpa, por eu ser fraca! Eu poderia ter acabado com tudo aquilo assim que me dei conta do que acontecia. Só que sempre algo me impedia, é como se eu não tivesse pleno controle de mim. 

Senti um toque em minhas costas, mas nem me dei ao trabalho de identificar a quem pertencia. Isabel se remexeu em meus braços, suas mãozinhas no meu rosto me fez encarar seus olhos, ela parecia entender o meu sofrimento.

- Agora estamos juntas. - ela sussurrou enquanto acariciava meu rosto.

Uma cena que parecia se repetir apenas para mim.

Mamãe costumava apoiar sua cabeça na minha acariciar minha bochecha e dizer: "Seremos sempre nós duas juntas!" E ali estava eu sentindo a presença dela com a lembrança. Sentindo da minha filha o mesmo carinho que sentia da minha mãe. 

Preciso me recompor, depois disso conversar com Ayla e descobrir o que aconteceu. Preciso entender e chegar ao fim dessa história toda.

Sorri para minha menina e me levantei com ela em meus braços, Carter segurava Ayla pela cintura impedindo que ela viesse até mim. Agradeci mentalmente por isso, tenho que me lembrar de fazer isso de verdade depois.

Olhei para trás vendo Priscila encarar os dois, sua mão ainda estava em meu ombro como se me oferecesse força e ao mesmo tempo dissesse "estou aqui!".

Eu realmente tinha feito amigos de verdade, pessoas que eu me importava e que se importavam comigo. 

- Você nos deve muitas explicações. - falei tentando disfarçar o ressentimento em minha voz embargada, eu sentia como se ele tivesse me traído e ainda ficou com meu bem mais precioso, sequei minhas lágrimas com rapidez. Nem mesmo a gratidão que eu sentia no início não tinha espaço para esse novo sentimento.

- Quando quiserem. - sua voz estava abafada pela mão que ele mantinha no rosto. - É só me dizer por onde quer que eu comece!

- Que tal do início! - falei seca.

Um movimento atraiu minha atenção, chequei todos os caminhos por precaução e então voltei meu olhar para a bolha.

- Quer acrescentar algo? - perguntei antes que Matteo começasse a falar. 

Talvez o soro estivesse perdendo o efeito.

- Aproveite enquanto pode! - disse ele de forma prepotente.

- Acho que você ainda não percebeu que ninguém vai vir ao seu resgate. 

Manter ele naquela bolha esta me deixando ainda mais cansada, abri um buraco ali mesmo e o prendi. Agora eu posso baixar minhas barreiras com segurança e me concentrar nas demais coisas por ali.

- Continue! - olhei para Matteo - Ele não vai fazer nada. – assegurei.

Vi surpresa e certo alívio no rosto da mulher que até agora não disse uma única palavra. Seus traços apesar de delicados são muito semelhantes a aquele homem. Isto me deixou desconfortável e em alerta.

- Eu tenho um irmão com paralisia cerebral. - Matteo começou. - Por causa dele me dediquei à ciência, a medicina, queria entender a genética e molda-la, assim eu poderia ajudar meu irmão e outros em situações parecidas. Meus estudos estavam chegando a bons resultados, estava pronto para testar de verdade em meu irmão quando ele, - o rapaz apontou Castiel com a cabeça. - o sequestrou e fez de refém para conseguir a mim e meu conhecimento. Minhas pesquisas se tornaram sujas e sem propósito. É assim que me sinto. Fui ameaçado e até mesmo torturado quando me rebelava as suas vontades, meu irmão também sofria o que para mim era ainda pior e me destruía cada vez mais.

O rapaz olhou para Isabel em meu colo.

- Ela é minha filha também! - Como? Seu olhar encontrou o meu - Fui obrigado a fazer o que fiz com você, mas eu te prometi que cuidaria dela com a minha vida e assim eu fiz. - era muita informação. Sua voz estava com um tom de desespero. - Eu tinha que proteger ela até de mim, cada vez eu me matava mais por dentro por saber o que a esperava, você consegui imaginar o que é isso?

- Você poderia se rebelar. - Falei - Você tinha escolha e sabia o que acontecia.

- Se eu fizesse isso me tirariam ela e tudo seria ainda pior, pelo menos eu podia ficar com ela e cuidar dela o máximo que eu podia, mas sem deixar transparecer porque poderiam usar ela contra mim, e eu não suportaria ver minha pequena sendo torturada.

Estremeci com esse pensamento.

- Assim que descobri que pessoas estavam procurando por crianças especiais desaparecidas eu encontrei minha oportunidade, tinha que ser discreto e levaria certo tempo para isso, não poderia ser pego e arriscar ela. - ele olhou Isabel com carinho - Só que aí veio aquele teste. Fazer dela um verdadeiro animal sem controle e atacar a própria mãe! Só pra mostrar que vocês eram descartáveis. Eu tentei impedir, eu tentei, mas acabei sendo atingido e quando acordei levei uma surra que me fez acordar dias depois e sem saber onde ela estava sem poder sair desse lugar ou ela sofreria as consequências.

Eu sabia bem o que era aquilo.

- Alguns realmente trabalham para ele por prazer, por poder, mas também tem aqueles que foram obrigados a agir assim, nos somos vítimas dele. - ele olhou para a moça atrás dele.

- Qual sua história? - perguntei a ela.

- Esta é meu maior desgosto! Uma inútil. - a voz carregada de ódio de Castiel me fez olhar para ele, sem mais demora acertei qualquer objeto em sua nuca, deixando o corpo mole e inconsciente envergado para a esquerda.

- Pode continuar. - murmurei e olhei Isabel que estava pensativa.

A pequena estava passando por muitas emoções nesses dias. Seu semblante sério lhe deixava com um biquinho muito fofo, sem perceber eu estava sorrindo e assim que ela levantou seus olhos para mim retribuiu o gesto e se aconchegou mais em mim.

- Tudo vai ficar bem. - sussurrei para ela.

Voltei minha atenção para a mulher que ainda não tinha dito nada. Matteo nos analisava com cuidado, parecia imerso, eu sabia que ele resumiu a história, no entanto não queria pensar nisso agora. Mas como uma imensa pedra sendo atirada em minha cabeça uma dúvida me surgiu.

- Você... Você não... - eu não sabia como perguntar aquilo e as pessoas ao redor deixava ainda mais difícil. - Comigo? Quer dizer... A força?

Seus olhos em dúvida passaram para horrorizado e aquilo me trouxe grande conforto.

- Não! Nunca! - ele passou a mão com força em seu rosto e gemeu de dor - Posso ter feito coisas ruins e que me arrependo, mas fui obrigado, não sou um monstro para fazer isso. Conheço outra forma e foi assim que fiz.

Concordei com a cabeça, um pouco da minha tensão diminuiu.

- Obrigada! - sussurrei. 

Ele apenas abaixou a cabeça.

O silêncio ali era quebrado apenas pela respiração de todos.

- Ele é meu pai. - disse a mulher tão baixo que se eu não estivesse com os sentidos aguçados não teria ouvido. - Mas eu nunca quis fazer parte disso, não sou como ele.

Ela levantou minimamente a cabeça, apenas para ver se eu estava ouvindo, concordei incentivando ela a continuar.

- Minha família fazia parte da antiga realeza e quando a coroa foi passada para a filha mais velha, apesar dos esforços da minha bisavó para impedir que isso acontecesse, ela ficou furiosa e fugiu pra elaborar uma vingança já que não conseguiu o trono e assim meu pai nasceu. - ela olhou para o homem ali. - Alguns anos depois foi anunciado o nascimento da princesa e minha bisavó sabendo todas as entradas do Castelo sequestrou a criança e nunca mais voltou. Seu marido quando descobriu que ela havia morrido, com a ajuda e domínio de algumas técnicas de magia negra conseguiu evoca-la como um espectro.

Senti um arrepio na espinha. Era aquela criatura.

- Como você sabe tudo isso? - a interrompi.

Seus olhos se fixaram em mim e seu corpo adquiriu minha fisionomia. Eu estava olhando para mim mesma.

- Porque eu não acreditei quando disseram que fomos expulsos e fui procurar respostas. - arregalei os olhos em surpresa, sua voz também era igual a minha. - Não entendia porque eles faziam maldades. Então descobri a verdade e me passei por algumas pessoas para conseguir isso. Só que acabei sendo pega e isso - ela apontou pra si voltando ao normal. - me fez ser presa e ajudar eles a convencer as pessoas, ou simplesmente sequestrar as crianças.

- Sequestrar? - Priscila perguntou.

- Sim! Como eu era muito nova eu me passava pelos pais e levava as crianças ao Instituto, mas sempre tinha alguém que fazia elas dormirem porque eu não tinha controle por muito tempo e acabava voltando ao normal.

Arfei e dei um passo atrás, agora tudo fazia sentido, mamãe nunca me levaria para lá. Continuei andando para trás até sentir alguém me segurar.

- Foi você! - falei baixo.

Minha voz trazia a dor que eu sentia. Aquela mulher fria que vinha me ver não era minha mãe, aquela que me tirou do meu pequeno jardim para me jogar naquele lugar não era minha mãe. 

- Sinto muito! Foi eu. - ela suspirou.  - Quando estava em uma busca acabei encontrando uma pessoa muito especial que com o tempo me ajudou a escapar. Consegui ficar longe disso aqui por 4 anos. - ela olhou para as paredes do local. - Fui pega em um dia frio, estava pegando lenha para aquecer minhas filhas que dormiam seguras longe de onde eu estava. E aqui estou novamente desde então. - ela abriu os braços derrotada.

- Há quanto tempo isso? - perguntei.

- Três anos! Três longos anos longe das minhas meninas. - eu estava completamente perplexa e machucada com tudo.

- Você acha que podemos confiar neles? - a voz de Ayla veio do meu lado. 

Olhei para ela e vi as irmãs se aproximar da gente. Carter que estava atrás de Ayla olhava sério para os dois a nossa frente. Priscila mantinha as mãos em punhos e olhava fixo para Matteo, acredito que isso tudo era uma surpresa para todos.

- Quando isso acabar eu preciso falar com você. - falei para que somente Ayla ouvisse.

Ela concordou sem entrar em detalhes.

"Vejo que você vez sua escolha." Olhei ao redor, desde que chegamos à mina onde todos moravam eu não tinha mais visto Pan. "Estou muito orgulhoso de você."

"Onde você estava? Você sumiu!" 

"Eu estava em casa contando as descobertas a Nat, ela espera por você em breve."

"Eu ainda não consigo entender isso." Confessei.

"Tenha calma criança, tudo vai se encaixar."

"Cadê você?"

"Aqui em baixo." Olhei por todo o chão até encontrar.

Ele vinha saltitando pelo caminho para que eu pudesse sentir suas pequenas vibrações.

"De onde você veio?" Fui a seu encontro.

"Lá de cima! Da um pouco de trabalho, onde tem natureza eu consigo chegar mais rápido. Mas aqui!" Ele olhou ao redor. "Preciso andar e isso não é nada fácil com esse tamanho."

Sorri é o apanhei do chão. "Obrigada Pan." Passei a mão em sua cabeça e voltei minha atenção a todos que esperavam uma resposta minha.

- Eles estão falando a verdade. - olhei para os dois. - No entanto isso não significa que vamos facilitar as coisas com vocês, ainda há muito a ser explicado.

Virei às costas e comecei a refazer o caminho de volta.

- Eu posso dar mais um abraço nela? - Matteo perguntou me fazendo parar. 

Olhei para ele e olhei para Isabel que estava quieta esse tempo todo, seus braços firmes me segurando.

- Não!

Retomei meu caminho em silêncio.

Estava tudo da mesma forma que eu havia deixado. Priscila tomou a frente e começou o interrogatório, mas eu nem prestava atenção, minha cabeça tinha coisas de mais lutando para ver quem tomava a frente e me fazia pensar sobre aquilo. 

O que aconteceu com minha mãe? 

Essa é a pergunta que grita mais alto em minha mente, ganhava de todas as outras sem muito esforço e é sem dúvida a que mais me corroía.

Será que ela ainda está viva? Qual seria a reação dela a me ver de novo? Mas e se ela estiver morta? Será que ela procurou por mim?

Chega Aurora! Me repreendi e olhei Isabel. 

- O que você tanto pensa minha pequena?

- Titio é meu pai? - conseguia entender bem sua confusão.

- Acredito que sim querida, ele não iria mentir sobre isso.

- Você bateu nele porque não gostou dele ser meu pai? 

- Não querida! Não foi por isso. É complicado de mais pra você entender. - afaguei seus cabelos.

- Eu ainda vou ficar com você mamãe?

Me assustei  com essa pergunta.

- Onde quer que eu vá você sempre vai estar comigo querida. Eu te prometo isso.

Apertei-a em meus braços. Podia sentir um olhar cravado em nós, me deixei indiferente a isto.

- Você pode soltar eles? - Priscila apareceu na minha frente perguntando.

- Claro! - dei uma batidinha com o pé no chão e o incentivei a relaxar e voltar ao normal.

- Obrigada. Agora pode prender a todos com alguma coisa daqui? - olhei curiosa para ela.

- Aqui não tem nada que eu possa... - olhei o chicote ao meu lado. - Quem sabe? - soltei Isabel, peguei o chicote e desenrolei suas ramas entrelaçadas, testei sua resistência, pareciam fortes.

Me direcione a eles e um a um enrolei em seus pulsos e os mantive em um aperto firme.

Isabel me olhava atentamente sua curiosidade e seu jeito de agir fazia com que eu me lembrasse de minha infância, ela se parece muito comigo. 

- Como funciona esse experimento? - perguntei a Matteo.

- Eu separei alguns genes de animais variados e apliquei, foram vários embriões até que deu certo com Isabel. Por que... Bem... Somos da mesma espécie. - Ele olhou para mim com vergonha em continuar.

- Ela é a única?

- Sim! Me recusei a continuar enquanto não  me devolvessem ela. - atitude um pouco tardia, mas isso me deu a oportunidade de conhecer ela.

- Sempre foi comigo?

- Até tentamos com outras, mas os seus eram os mais fortes, sempre iam mais longe. - Ele estava desconfortável.

Eu é que teria que estar desconfortável com isso tudo, afinal quem foi usada nisso foi eu.

Respirei fundo, o poder dela não bate com o que a Priscila me explicou, essa experiência deve ter bagunçado tudo.

- Vamos? - Carter se aproximou cortando a possibilidade de continuar com a conversa.

- Vamos! Isabel? - ela veio saltitante entre as coisas jogadas no chão.

- Você vai nos ajudar com as informações que coletamos hoje. - Carter me olhava como se realmente dependesse de mim para entender alguma coisa.

- Desculpa, mas eu não prestei atenção em nada do que foi dito. - olhei para o chão onde uma pequena vibração chamava minha atenção.

Pan estava todo elétrico, é tão  fofinho olhar para ele desse jeito.

“Eu não sou fofo!" 

- Me desculpe Pan, mas você é fofo sim! - Carter olhou para onde eu olhava e sorriu.

- Você deveria sorrir mais. - Ele me deu um empurrão e saiu correndo.

Devo ou não devo? 

Azar! Ele provocou. 

Levei a mão esquerda rapidamente para a direita e uma mesa entrou em seu caminho, ele tropeçou rolou por cima e se estatelou no chão. Olhou para todos os lados até que seus olhos pousaram em mim acusadores e divertidos.

- Isso é trapaça! - Ele tentava esconder o sorriso de seu rosto.

- Não sei do que você está falando. - me fiz de desentendida e com outro gesto o coloquei de pé.

Ele investiu em minha direção ficando invisível. Dava na mesma que se estivesse normal, quando ele se atirou em minha direção desviei para a esquerda fazendo com que ele saltasse para o chão. A poucos centímetros eu o parei e então soltei.

- Tente de novo outra hora. - disse saindo de seu alcance.

Isabel subiu em uma mesa e pulou em mim querendo entrar na brincadeira. Minhas mãos passaram por seu corpo sem conseguir segurar e um grande tigre branco caiu em cima de mim.

Não consegui segurar a risada, isso sim foi inesperado. Ela começou a me lamber.

- Não! - tentei me livrar dela, mais a dana é esperta.

- Acho que alguém conseguiu te pegar. - Carter ria descaradamente da minha cara.

Abracei o pescoço de Isabel tirando meu rosto do alcance de suas lambidas e com toda a força que consegui juntar nos levantei, suas patas agarraram meu pescoço para não cair.

- Você é bem mais pesada assim. - disse tentando segurar ela de melhor forma. 

Seu corpo voltou ao normal e sua gargalhada encheu a sala.

- Te peguei! - seus olhinhos brilhavam.

- Acho que EU te peguei, olha só! - a sacudi em meus braços.

- Mas eu peguei primeiro. - ela disse orgulhosa de si.

- Pegou mesmo que eu vi. - Carter a tirou dos meus braços e seguiu andando. - Você precisa me ensinar como faz isso, foi incrível!

Carter tinha esse jeito descontraído de quebrar qualquer clima tenso, é uma qualidade admirável. Ele seguia conversando com Isabel sobre como virar um tigre, senti o olhar de todos em nós e apenas os segui sem dizer nada.

- Eu vou querer apostar uma corrida com você, o que acha? 

- Então se concentra. - Isabel disse indo para o chão e dando espaço para Carter.

Ela o olhava com grande expectativa. Ele se sentou no chão fechou os olhos e ficou imóvel.

- Já sou um grande elefante? - Carter perguntou abrindo um olho.

- Não! Tenta mais forte. - Isabel o incentivo e eu apenas olhava querendo rir.

- Acho que a orelha está crescendo. - falei fingindo surpresa.

Carter rapidamente colocou as mãos nas orelhas e ao notar que estavam normais me deu um olhar acusador.

- Será? Deixa eu ver! - em sua inocência Isabel foi olhar as orelhas dele. - Talvez seja difícil. - ela se afastou um pouco pensativa.

Logo seu corpo se moldou e um elefante estava ali a nossa frente, foram poucos segundos e ela voltou ao normal.

- É muito difícil! - Ela concluiu ofegante.

- Venha querida temos que ir. - a chamei.

Ela veio até mim e segurou minha mão seguindo andando ao meu lado. As irmãs tinham ajudado bastante com os feridos e a nos defender, todos lutaram bravamente e agora poderiam descansar. Sentia-me mal por impedir que Ayla tivesse o seu descanso, só que eu precisava por fim nessa história.

- Realmente é muito difícil. - Isabel falava baixinho. - Tigre é mais fácil e eu até consigo ficar mais tempo agora.

Olhei para trás e estávamos bem à frente dos outros, não tinha percebido que eles tinham parado e não estava com ânimo para voltar até eles.

- Como funciona querida? - perguntei a Isabel enquanto parava.

Seus olhos brilhavam olhando para mim.

- Você tem que se concentrar bastante. - ela disse animadamente. - Pensa num elefante bem grandão, imagina que você é ele. - ela incentivou.

Fiz como o Carter antes e me sentei no chão de olhos fechados, senti todas as coisas ao meu redor, cada um deles mais afastado de nós. Pensei no grande elefante com todo seu tamanho e glória, grandes marfins pontudos e afiados como uma lança bem feita. Enquanto pensava em cada detalhe que um elefante poderia ter sentia meu corpo ficar dormente e pesado, mas nem prestei atenção, palminhas alegres me fizeram abrir os olhos.

Isabel estava com um sorriso radiante e estranhamente eu estava no alto, devo ter flutuando sem perceber, tentei abaixar e mover minhas pernas, no entanto meu corpo estava pesado diferente de quando estou flutuando.

Olhei para baixo e me deparei com grandes patas cinza. Arregalei os olhos sem acreditar que tinha dado certo.

Como muito esforço consegui me levantar.

- Você conseguiu mamãe! - ela praticamente gritou e com a agilidade de um verdadeiro felino subiu em minhas costas se apoiando nos marfins para isso.

Não acredito! Tentei dizer, no entanto apenas um Foooooonm saiu fazendo Isabel gargalhar, ela estava tão animada, comecei a correr com ela, no início com dificuldade, tropecei algumas vezes, mas logo peguei o jeito.

Fui correndo na direção dos outros com as orelhas abertas para assusta-los, ainda mais do que já estavam é claro, era curioso sentir suas emoções, e as vibrações que eu fazia no chão me permitia ter um acesso ainda maior que antes. Isso me fez parar a poucos centímetros da Priscila.

Algo em grande número corria a nossa direção, aquela vibração me fez lembrar meu teste. Com a ajuda da minha tromba retirei Isabel das minhas costas e a coloquei nos braços de Ayla. Ambas estranharam meu ato, com cuidado empurrei Carter e Priscila nos colocando a frente de todos.

Quem sabe com esse tamanho todo eu não consiga um efeito maior. Sai correndo em disparada ao encontro daquelas bestas selvagens. Ayla cuidaria de Isabel por mim.

Assim que vi meu alvo tentei usar a natureza ao meu redor, preguiçosamente ela se manifestou. Tudo nessa forma era diferente, mais lento, fiquei desapontada ao constatar isso. Antes de colidir com a grande matilha pensei em um tigre, um tigre com grandes garras e um tamanho fora do normal, senti meu corpo diminuir e ganhar mais velocidade à medida que corria.

Saltei de braços abertos para o meio daqueles cachorros descomunalmente grandes e ferozes, senti os dentes de alguns perfurarem minha carne enquanto eu atacava ferozmente outros, e com a ajuda da terra abatia outros, pude ver alguns saindo correndo com seus pelos pegando fogo.

Talvez fosse isso que Castiel estava insinuando, em algum momento seus lacaios devem ter libertado esses animais.

Senti uma grande dor no pescoço me fazendo cair, não sei dizer como, mas consegui morder a pata daquele cachorro e o joguei longe atingindo outros no processo, com estrema raiva misturada com dor soltei um grito que saiu como um grande rugido. Os poucos que ainda restavam saíram correndo derrotados para seu canil ou sei lá onde ficavam.

Olhei ao redor os inúmeros corpos caídos sem vida, Carter tinha alguns arranhões, Priscila estava toda descabelada, mas bem, tentei voltar a minha forma, mas a dor que senti me impediu de continuar, era como se ao querer voltar ao normal meus músculos se rasgassem e aumentassem os ferimentos, ao olhar para o meu estado onde tinha uma grande mancha de sangue fresco comprovou minha teoria.

Droga! Olhei a pelagem branca manchada. Isabel vai ficar apavorada. 

Tentei falar para que eles trouxessem Stella aqui, mas apenas um ganido dolorido saiu e eles não me entenderam. Relutante comecei a andar, assim que coloquei o peso na pata esquerda de trás senti uma imensa dor, a encolhi como pude e fui mancando para fora daquele lugar, seria ainda pior se Isabel visse aquela cena.

Os primos me acompanhavam analisando o lugar, seus batimentos me mostravam sua aflição, não dei muita importância afinal eu tinha feito o mesmo segundos antes de começa a retornar.

Assim que notaram nossa volta pude ver o espanto de todos. "Não olhe pra mim desse jeito querida." Pensei e vi Isabel esconder o rosto em Ayla, Stella veio correndo ao meu encontro e hesitante de por onde começar, ou onde relar ficou me olhando, fui até ela e coloquei minha cabeça em suas mãos me deitando logo em seguida.

Seu toque transmitia calor para o meu corpo e meus músculos iam se moldando e se reparando conforme esse calor ia fluindo, logo que me senti bem de novo tentei voltar ao normal. Minha cabeça estava no colo de Stella e suas mãos afastaram o cabelo que caiu no meu rosto.

- O que foi que aconteceu? - ela perguntou ainda segurando meu rosto. - Escutamos vários barulhos e rosnados.

- Mais um ataque surpresa. - respondi olhando em seus olhos. - Você pode ver os outros? - pedi enquanto me levantava.

- Claro! - ela se levantou e foi até os primos enquanto eu ia ao encontro da minha menina.

- Você não consegue ficar longe de encrenca não é! - Ayla estava um misto que emoções, mas o alívio era o mais presente.

- Desculpa! - pedi sem jeito pegando Isabel. - Você viu, consegui um tigre igualzinho você, obrigada por me ensinar. - fiz cócegas nela que relutante acabou soltando um sorrisinho. - Agora eu vou ti ensinar a mover a terra e as plantas o que acha?

- Jura! - sua euforia voltou me animando.

- Claro que sim! - sorri abertamente para ela. - Mas me diga uma coisa. - seus olhinhos brilhantes me encarava – Você me ouviu pedindo para que você não olhasse para mim?  - fiquei com certa curiosidade.

- Sim! - ela respondeu animada - Aqui! - ela colocou a mão na cabeça.

- E enquanto elefante não?

- Não! - ela pareceu ficar decepcionada.

- Acho que é porque você tem mais controle do tigre. - sugeri tentando anima-la novamente.

- Sim! - e lá estava o imenso sorriso de novo.

- Você não deveria prometer o que não pode cumprir Aurora. - Ayla me repreendeu baixinho.

Mas se minha teoria estivesse certa isso era uma promessa que eu com certeza iria cumprir.

- Não estou. - a tranquilizei.

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