Capítulo 7 - Não deveria estar aqui!

Murmúrios desconexos me fazia ter vontade de mandar que se calassem, coloquei as mãos em minha cabeça e com isso senti o vazio. Me sentei no mesmo instante.

- Isabel? – chamei enquanto tentava clarear minha mente e encontra-la.

- Estou aqui! – e com isso senti seus bracinhos se agarrarem ao meu pescoço.

Suspirei aliviada e a puxei para o meu colo.

- Bom dia minha pequena. – Sussurrei enquanto a apertava.

- Bom dia minha... – ela se afastou me olhando – Minha o que? – disse levantando seus bracinhos.

Sorri do seu jeitinho fofo.

- Não sei minha pequena. – sorri para ela – Pensa com carinho e depois me diz. – arrumei seus cabelos em duas chuquinhas improvisadas.

Só então reparei que todos nos olhavam, a pequena estava distante, talvez pensando em como me chamar.

- Bom dia! – disse a eles e levantei pegando Isabel – Vamos?

- Bom dia! – responderem em uníssono.

Todos seguimos para fora, o cheirinho das tortas ainda estavam no ar, Carter havia pegado a sacola com pães para que comêssemos. Estávamos tão cansados ontem que cada um comeu um e apagou.

- Olá meus queridos, preparei um chá de ervas para nós. – vovó disse sorridente, e se dirigindo a mim continuou – Conseguiu descansar mais um pouco querida?

- Consegui sim vovó, obrigada. – Sorri sincera para ela.

- E essa pequena mocinha, - ela disse passando a mão nos cabelos da Isabel – tão linda! Você se parece muito com sua mãe. – ela sorriu para mim, pensei em negar, mas ai eu teria que dar alguma explicação e a possibilidade de eu falar algo que não devia é grande, então apenas sorri de volta.

Isabel me olhou com um grande sorriso e se aconchegou deitando a cabeça no meu ombro.

- Sentem-se meus queridos devem estar com fome, preparei alguns ovos para comermos. – disse vovó indo para o fogão e retornando com uma grande panela.

Carter colocou a sacola de pano aberta mostrando os pães que tinham nela.

- Vejo que não fui o primeiro lugar em que pararam. – vovó sorria animada.

- Limpamos um terrenão. – Isabel disse abrindo seus bracinhos como para mostrar o tamanho.

Todos sorriram do seu jeito animado ao contar a história de como arrumamos aquele terreno.

- Cuidado que esta quente. – disse enquanto colocava um copo de chá na frente de Isabel.

Deixei um pão para ela e apanhei um para mim, rasguei um pedaço e molhei no chá, Isabel me olhava atentamente, assoprei antes de colocar na boca e olhei para ela que estava seguindo meu exemplo, todos em total silencio enquanto comíamos.

- Quando começamos com as tortas? – tinha de ser Carter a quebrar o silencio.

- Oh! Mas elas já estão prontas meu querido. – ela sorriu para mim – Essa bela jovem me ajudou pela manha.

Todos olharam para mim e eu apenas dei de ombros.

- Foi só uma mãozinha vovó. – ela tinha feito todas as massas e eu ajudava com os recheios.

- Foi muito mais que uma mãozinha minha querida. - ela parecia gostar de nossa presença ali – Já vendi todas antes que acordassem.

- Posso deixar mais farinha pronta se a senhora quiser. – ofereci enquanto comia – Assim quando for fazer mais não terá que moer.

- É muita gentileza de sua parte, isso me ajudaria muito.

- Então antes de partirmos eu deixarei pronto para a senhora.

Terminamos de comer, e Ayla foi lavar o que sujamos enquanto isso as demais organizavam uma coisa ou outra e Isabel olhava atentamente tudo o que eu fazia, quando terminei, ela se aproximou segurando em minhas pernas, sorri para ela afagando seus cabelos.

- Já temos que ir? – seu tom me dizia que ela queria permanecer ali.

- Precisamos ir minha pequena. 

- Estou com medo. – ela sussurrou.

- Do que? – fiquei espantada e curiosa com a sua declaração.

- De acontecer de novo e você sumir. – ela continuava sussurrando.

Será que ela estava se referindo as plantas nos “atacando”? "Isso a deixou abalada e a culpa é toda minha."

- Me desculpe por ter colocado você em perigo, isso é tudo o que eu não queria. – me abaixei para ficar na sua altura – Sinto muito mesmo.

Ela se jogou em meus braços e me apertou.

- Não quero que você suma. – ela fungou e isso partiu meu coração.

- Eu não vou sumir. – levantei com ela em meus braços. – E se eu sumir vou sempre dar um jeito de voltar para você. Você acredita em mim?

- Acredito. – sua vozinha estava abafada.

- Então temos um acordo. – afaguei seus cabelos e comecei a procurar os outros.

Nos despedimos da vovó que nos fez prometer que voltaríamos para visita-la o mais breve possível e seguimos nosso caminho, eles conversavam entre si, mas eu só prestava atenção na pequena que não tinha soltado de mim e nem afrouxado seus bracinhos.

Pelo visto o mesmo amor que eu desenvolvi por ela, ela desenvolveu por mim. É curioso como isso funcionava, despretensioso, tranquilo, algo que você podia contar sem nem mesmo saber, ela depositava toda a sua confiança em mim e eu confiava nela com a mesma intensidade.

Como se só fosse completo com ela ali, por mais que tenha ficado tanto tempo sozinha desde o primeiro momento a presença dessa criança mexeu comigo e com meus instintos de proteção que eu nem sabia que existia. Sentia que por ela eu seria capaz de fazer qualquer coisa.

Será mesmo que o amor pode ser tão egoísta a ponto de você colocar uma pessoa na frente do mundo todo, porque seu mundo não é nada sem ela. Seria igualmente egoísta pensar que esse amor pode ser destruído e esquecido por um simples deslize. 

Um defeito sem nenhum precedente, um defeito incurável, um defeito que te torna tão diferente dos demais, mesmo sendo tão semelhante, acho que o amor pode ter varia faces. Assim como é facilmente mutável e esquecido. Substituido.

Nossas passadas tão ritmadas, que não me dava ao trabalho de olhar ao redor estava imersa na nossa bolha aproveitando a tranquilidade daquele abraço sincero. Meus pensamentos como sempre em um turbilhão.

Só que desta vez eu conseguia ver a tranquilidade que eu não sentia em anos, eu podia finalmente acreditar que tinha uma esperança, e que essa esperança iria germinar e daria vários frutos. Frutos esses que eu colheria com grande alegria e satisfação.

- Podemos pegar a locomoção?

Olhei para o tal veiculo, uma espécie de cargueiro o que me aliviou um pouco, eu não sentia nenhuma ameaça, Isabel ressonava tranquilo em meu ombro.

“Eles são sinceros com suas palavras.” Escutei em minha mente.

“Apesar de toda a minha relutância no fundo eu sei disso.” Não tinha o porquê mentir.

“Então porque reluta tanto?” É uma pergunta valida.

“Quando se passa pelo que passamos e se sobrevive, você duvida do ar que respira.”

“Sabe que não pode ser assim a vida toda, não sabe?”

Suspirei derrotada ele tinha razão. “Ainda é difícil.” Confessei, “Mas com o tempo...” Deixei minha frase morrer e assenti para os demais concordando.

Carter sorria de orelha a orelha, Priscila se mantinha indecifrável, é difícil entender como sua mente funciona, suas atitudes, mas quem pode culpa-la eu estava tão insegura e sendo em maior número, como ela não estaria se sentindo?

:Talvez eu deva um pedido de desculpas a ela, não facilitei muito o nosso contato." Pensei enquanto subia no veiculo.

“Você não precisa agradar a todos, mas deve reconhecer quem lhe estende a mão e no mínimo ser gentil.” Me acusou.

“Eu sei que sim. Qual seu nome?” Perguntei me dando conta de que ainda não sabia.

“Pandricky! Pode me chamar de Pan.”

“É um prazer te conhecer Pan! Me desculpe pela forma que agi.” Pedi com sinceridade.

“Está tudo bem, sei que você ainda tem suas limitações.”

“Obrigada”. Apesar de não gostar de admitir isso é verdade.

"Agora vamos para meu segundo pedido de desculpas."

Olhei para Priscila do outro lado da locomoção seria melhor que eu fizesse enquanto estamos apenas nós. Enchi meus pulmões de ar e comecei a dizer.

- Eu devo um pedido de desculpas a você. – seus olhos encontraram os meus, mas não sabia dizer o que se passava ali. – A vocês dois na verdade, - mudei o olhar para que Carter não se sentisse excluído – mas principalmente a você Priscila. Sei que não fui nenhum pouco fácil durante esses dias, não posso culpa-los pelo que eu passei e nem de longe isso seria correto, mas eu tenho certas limitações quando se trata de confiança e convívio. – olhei para todos – Afinal ninguém passa pelo inferno e sai abraçando o primeiro que vê.

O olhar de todos se mantinham em mim e Isabel se apertava cada vez mais em mim mesmo estando dormindo, retribui seu gesto com a mesma intensidade.

- Sei também que esse provavelmente é o pedido de desculpas mais estranho que vocês já ouviram, no entanto é sincero. Eu sinto muito por ter duvidado de vocês, e peço que tenham paciência comigo.

- Eu em seu lugar teria feito o mesmo, na verdade eu meio que fiz. – Priscila falava enquanto me encarava. – Também não facilitei nenhum pouco com você. Vamos tentar de novo. – sugeriu ela.

- Vamos sim e dessa vez do mesmo lado. – conclui sorrindo de leve.

Carter em momento algum falou alguma coisa, no entanto mantinha um imenso sorriso em seus lábios. Chacoalhei a cabeça, e voltei a prestar atenção pelo caminho nada bonito que passávamos.

Conforme íamos nos afastando, as casas ficavam mais caídas e o chão mais sem vida. Lá longe era possível ver uma arvore ou outra, quase uma ilusão apenas uma sombra à distância. Mas em alguns pontos é possível ver um pequeno agrupamento.

O balançar na traseira do veiculo embalou o sono de Isabel, eu estava quase me rendendo quando ouvi Pan. “Você fez bem criança, sua jornada de verdade começa hoje.” Estranhei o que ele disse. “Como assim? Isso era o quê? Brincadeira?” tentei soar divertida.

“Não diria brincadeira, mas eu sinto que as coisas vão mudar, que isso tudo foi uma passagem, um momento necessário para uma decisão futura.” Decisão?

“Que tipo de decisão?” Essa conversa estava me deixando levemente confusa.

“Decisão sobre quem e o que você vai querer ser, a decisão de deixar tudo para trás ou correr atrás.” Ele bem que poderia dar respostas que não me fizesse ter mais perguntas. “Quando for a hora tudo fará sentido.” 

Talvez ele esteja certo, quando essa hora chegar eu decido o que farei, que caminho irei seguir. Por mais que tentasse suas palavras não saiam da minha cabeça, onde estaria essa Nat? E porque eu?

Olhei distante uma fenda entre rochedos algumas arvores faziam parte do senário abandonado, mais a frente umas casas desprotegidas e amostra sofrendo os castigos do clima. Pilhas de escombros em varias partes. ,"Será que um dia o verde reinará novamente? Ou esses escombros de uma sociedade falha reinariam para sempre?" É difícil imaginar essa melhora.

- Desceremos nesse pequeno vilarejo. – Carter avisou me tirando de meus pensamentos.

Acenei a cabeça em confirmação, ajeitei a pequena em meus braços e assim que o veiculo parou me levantei. Carter prontamente me ajudou a descer, não que eu precisasse, mas é legal da parte dele essa preocupação em ajudar os outros.

Os esqueletos das casas amostra davam espaço para algumas plantas tentar nascer e se fortalecer ali, como se fosse um dependente do outro, entrelaçados, um sustentando o outro da melhor forma que conseguiam. Era uma beleza complexa, mas ainda assim bela.

“Perceba a delicadeza de todo esse contato. Se um cair leva o outro junto, mas a ideia de ficar sozinho espanta todo o possível medo.” Meus olhos estavam hipnotizados. “Mas pense bem antes de se apoiar em alguém. Pense se essa pessoa vale a sua queda.” O que?

“Como assim Pan? Você há algumas horas me disse para confiar e agora esta me dizendo pra me afastar?” Ele só pode estar querendo me deixar doida, é a única explicação plausível.

“Não criança, estou dizendo que por algumas pessoas vale a pena a queda. Mas não se deixe cair por quem não está disposto a fazer o mesmo por você. Você é uma força instável e extraordinária, muitos podem querer se aproveitar, terá de aprender a identifica-los.”

“Aonde quer chegar?”

“Quero apenas que se abra e de seu coração para os merecedores. E aos impostores que sintam o quão poderosa você é, os comandando em rédeas curtas.”

“Resumindo, amável com quem merecer e ríspida com os de má intenção?” Porque cargas d’agua ele veio com esse assunto?

“Exatamente criança, exatamente.”

- Ei Aurora está ouvindo? – Olhei para Carter que se mantinha do meu lado. Nem percebi que estávamos andando.

- Desculpa. O que? – olhei ao redor, não estávamos muito longe de onde descemos.

- Você está bem? Parece distante. – seus olhos Castanhos analisavam todo o meu rosto.

- A sim, só pensando. – respondi sem graça sem saber o tempo que ele estava me chamando.

- Isso eu pude notar. – ele deu uma risadinha – Só fiquei imaginando, às vezes nossa cabeça não é um bom refugio. – ele deu de ombros.

"Tenho que concordar com isso!"

- Ainda mais quando as perguntas são em maior numero que as respostas. – olhei para ele.

- Mas são as perguntas que movem o mundo e não as respostas. Veja, – ele olhou para cima, acompanhei seu ato – as coisas nem sempre fazem sentido, nem sempre há uma boa resposta. E às vezes as perguntas mais bobas são as melhores.

O céu estava cheio de raios laranja, nuvens brancas, azuis levemente roxas e rosas, uma bagunça linda de cores.

- Às vezes devemos apenas olhar e apreciar o inexplicado. – Ele deu uma piscadela e saiu correndo em direção a Priscila que o recebeu com um tapa na nuca.

Sorri pelo jeito desses dois. Coloquei o máximo de ar em meus pulmões e me aproximei dos demais.

O caminho que fazíamos era um monte de curvas entre escombros, até que pude ver uma pequena brecha entre algumas pedras e os primos iam para aquela direção.

- Assim que passarmos por aqui vamos estar perto daquela fenda que vocês devem ter notado lá atrás. – Priscila estava encostada na fenda. – Não precisam ter medo e deem as mãos, assim vão conseguir se guiar melhor.

Seguimos seu conselho e logo a fila estava feita, só esperando que ela nos guiasse. Expandi meus sentidos deixando a mente vazia, tudo é calmaria, nenhuma ameaça.

“Esta preparada para encontrar mais pessoas como vocês?” 

Começamos a passar pela fenda. “Acho que sim, afinal que mal pode haver nisso?” meus olhos reclamaram da falta de iluminação, pisquei algumas vezes e os estreitei para que se adaptassem mais rápido.

“O desconhecido pode assustar.” Realmente.

“Pode até ser Pan, mas dessa vez eu tenho amigos ao meu lado.”

“Olha só! Que grande passo não é mesmo, um grande e precioso bem.”

Sorri pela sua forma e ele estava certo como sempre.

“Sabe! É muito bom ter você aqui Pan, você me faz acreditar em mim. Isso me espanta na mesma proporção em que me deixa feliz.”

“É bom ouvir isso criança.”

A pouca luz no final do túnel é vista agora, iluminando as pedras soltas pelo chão. Pensando melhor talvez eu estivesse um pouco ansiosa para ver mais pessoas como nós, porem vivendo suas vidas livres e sem amarras, isso era algo inspirador e reconfortante.

Saber que a liberdade era possível para aqueles como nós, não somos bestas que necessitam ser contidas, aprisionadas e castigadas por existir. Podemos viver uma linda e saldável vida.

Esse sentimento aquece o coração, liberta a alma e acalente a mente. Respirei fundo. Há um futuro descente esperando por nós.

Passei por aquela fenda deixando que os raios de sol me tocassem e me aquecesse.

- Agora só escalar essa parede de aproximadamente 100 metros de altura, andar por volta de 8 quilômetros e descer novamente, para nadar um pequeno riacho, quando estivermos no outro lado da margem podemos descansar e amanha retomamos a caminhada. – Priscila falava com uma mão na cintura como se estivesse satisfeita.

Minha mente gritava um “Como você quer que façamos tudo isso antes de escurecer? Você é doida ou o que?”.

A gargalhada de Carter me fez olhar melhor para eles.

- Vocês tinham de ver a cara de vocês! – Como assim? – Isso foi de mais!

- Não estou entendendo o que querem dizer. – falei séria olhando para eles.

- Ela estava apenas brincando, não precisamos fazer nada disso, é só passar pela fenda. – É o que?

- Vocês acham legal tirar saro de quem passou anos trancafiados e estão a dias andando, todos completamente debilitados e ansiando por um descanso prolongado e descente?- minha voz estava carregada de amargura.

Vi o semblante de Carter mudar seus olhos apagarem o brilho. Priscila abaixou a cabeça com vergonha, olhei para as mulheres ao meu lado, Ayla foi a primeira a cair na risada. Como ela sabia minhas intenções eu não compreendia mais adorava essa sintonia.

Os primos levantaram seus olhos para nós.

- Vocês tinham de ver a cara de vocês! – repeti a frase de instantes e abri um sorriso deixando escapar uma risadinha.

- Foi simplesmente de mais. – Ayla não conseguia conter o riso.

- O que? – Carter tentou parecer ofendido.

- Você pegou pesado. – Priscila disse olhando para mim.

- Vocês mereceram. – dessa vez eu realmente cai na gargalhada e sem aviso nenhum quando puxei o ar guinchei feito um porquinho.

Tapei a boca mais não consegui conter aquele barulho que fazia com que todos rissem o mais abertamente possível.

- Que risada é essa! – Carter ria de mim sem nenhum pudor.

O clima se é que possível ficou ainda mais leve e acolhedor, até mesmo Isabel sem saber de nada acordou e caiu na risada. Me sentia tão satisfeita em poder presenciar esses momentos de leveza.

Como se a vida tomasse sentido, se colorisse com cores vivas e vibrantes como em uma festa de cores e sentimentos todos ligados com o proposito de nos fazer feliz.

- O papo está bom, entretanto temos que ir né! – Priscila tomou a frente e se direcionou para a fenda. – Não podemos chamar muita atenção apesar de que alguém já soltou os bichos, precisamos ser discretos.

- Ei! Em minha defesa não foi intencional. – tentei argumentar.

- Tudo bem! Logo à frente eu preciso que mantenham as mãos e patas dentro do carrinho. – Seus olhos brilhavam em minha direção. "Ela vai continuar nessa até quando?"

Se pensar bem, não me importo nenhum pouco, ela estava baixando as barreiras, da forma dela.

- Não prometo nada. – falei passando por ela sem quebrar o contato visual.

A fenda era bem estreita, apesar disso ela nos permitia caminhar com uma leve folga. Isabel cantarolava alguma coisa.

Eu diria que é uma musica de sua autoria pelas poucas palavras que eu entendia, algo parecido com “Nas montanhas flutuar, para então no céu tocar...”.

Parece que ela esta cantando nossa infortunada aventura de uma forma bonita, sorri em resposta a esse pensamento. 

O Sol estava bem em cima de nossas cabeças. Eu podia ouvir a respiração de Pan, ele parecia contemplar o ambiente, não quis atrapalha-lo. Uma mão em meu ombro me impediu de continuar avançando.

- É por aqui. – Carter apontava uma pequena abertura lateral próxima ao chão, por ser tão baixa eu não tinha notado. – Venha! – Ele disse passando agachado por ela.

Assim que Isabel passou a segui de perto. Rastejamos assim por alguns metros até sair em uma grande abertura. Caberiam umas 50 pessoas ali dentro.

A mão de Priscila estava acesa e para minha surpresa realmente tinha um carrinho ali.

- Vamos ter que nos separar agora, eu vou em um carrinho com Aurora, Ayla e Isabel e o Carter vai no outro com Selena e Stella. Estamos de acordo? – Ela perguntou olhando para mim.

- Sim! – respondi indo em direção ao carrinho.

- Ótimo! – ela esperou todos se acomodarem para então entrar no carrinho e abaixar uma alavanca que tinha do lado de fora.

Ao que parecia estávamos dentro de uma antiga mina abandonada, o carrinho começou a andar e aproveitei a vibração que ele fazia em contato com os trilhos para verificar se essas paredes estavam seguras, não queria correr o risco de morrer soterrada quando estávamos tão perto de nossa tão sonhada liberdade.

Aparentemente tudo estava seguro, queria poder por meus pés no chão para ampliar meu alcance com calma, o carrinho em movimento não permitia que eu fosse precisa.

Sentia uma bifurcação logo à frente, por um caminho os trilhos estavam quebrados levando a um, abismo? Era difícil ter certeza, eu conseguia sentir um espaço vazio a nossa frente e isso era extremamente real.

- Vamos cair! – deixei escapar em um sussurro que o barulho do carrinho sobre os trilhos encobriu.

Sem nenhuma amarra metálica sustentando, o carrinho estava livre no ar. Segurei Isabel com força e deixei que meus instintos me guiassem, senti a leveza passando por mim e a expandi deixando todos ao meu redor no ar, apenas os carrinhos foram para o chão.

- Por essa eu não esperava! – Priscila estava surpresa.

Aguardei pelo barulho dos carrinhos se espatifando no chão, mas não ouvia nada, trouxe todos pra perto de mim e comecei a nos descer.

- O que vocês tinham em mente com isso? – Ayla se exaltou.

- É como fazemos. – Priscila ainda me olhava impressionada – Tem uma rede lá em baixo.

- E se os carrinhos caíssem em cima de alguém? – Foi à vez de Stella ficar brava.

- Um grande imã segura eles, ninguém nunca se machucou. Pelo menos não até agora. – tinha logica.

- Foi só um susto. - falei passando a mão nos cabelos de Isabel – Temos que fazer isso qualquer hora pra você ver como é linda a vista lá do alto.

Ela concordou mais sem tirar a cabeça do meu pescoço.

- Espero não ter mais surpresas pela frente. – falei olhando para Priscila que nos olhava com certa curiosidade.

- Não vai ter! – concordei, agora estávamos mais perto do chão eu podia ver o que ela tinha falado.

- Isso é incrível! – Carter tentou sussurrar sem nenhum sucesso para a prima. – Estamos no ar! – Ele perecia uma criança.

Enquanto ele estava eufórico minha pequena nem olhava, apenas me segurava com firmeza.

- Já estamos no chão. - sussurrei assim que senti o contato com a terra. 

- Venham! Vamos por aqui. – Carter saiu todo animado nos mostrando o caminho.

Queria conseguir ser um pouco como ele, apesar de ter vivido um pouco do que vivemos ele parecia já ter esquecido, enquanto minha mente me bombardeava a cada instante com perguntas e preocupações, ali estava ele, completamente alheio a tudo isso.

“Aproveite o seu momento criança, essa vida é passageira e quando nos damos conta anos se passaram.”

“Obrigada Pan, mas isso é ligeiramente difícil, não acha?”

“Pra ser sincero? Não criança! Abra suas asas e voe.”

Pode ser que eu possa tentar! Ao menos tentar não me custa nada, e só saberei se consigo se um dia tentar. Eu realmente estava disposta a abraçar essa calmaria e seguir minha vida da melhor maneira que eu conseguir ao lado de meus amigos. Isso seria sem nenhuma duvida algo bom.

Olhando melhor aquele lugar eu podia ver e sentir varias ramificações, estávamos cercados por rochas e terra, um emaranhado de caminhos levando a distintos destinos. O que nós seguíamos ia para uma grande abertura.

- Tinha esquecido o cheiro desse lugar. – Carter olhava as paredes que para mim lembravam as da minha cela.

Estremeci com esse pensamento. "Isso não é uma prisão Aurora, apesar de parecer e cheirar como uma."

- É horrível! – Priscila falou – Mas melhora acredite. – ela olhou para mim.

Apenas continuei andando seguindo eles, o cheiro realmente ia diminuindo conforme avançamos.

Sentia a movimentação de passos correndo e podia escutar uma pequena algazarra sendo formada, respirei fundo e tentei me preparar para o que poderia acontecer em seguida.

Quando entramos em um grande e claro espaço pude ver vários rostos nos encarando, alguns paravam suas atividades, outros continuavam despreocupados, mas o que mais me chamava atenção era um trio saltitante a frente de todos.

As vibrações que eu sentia são delas.

- Conseguiram! Vocês conseguiram! Sabíamos que conseguiriam. – a energia daquele trio é de dar inveja.

Senti Isabel retirar o rosto de meu pescoço para visualizar de onde vinha aquelas vozes extremamente animadas.

- Eu não disse que conseguiria! – Priscila sorria para as crianças.

Sem mais demora elas dispararam até ela e a abraçaram.

- E eu não ganho nem oi? – Carter fazia bico para as garotinhas que sorriram e foram até ele para abraçá-lo.

- Elas são minhas não se meta. – Priscila ameaçou.

Soltei uma risada pela forma que eles agiam, as garotinhas olharam para mim e se esconderam, mas sem deixar de mostrar a curiosidade em seus olhos.

- Não vou machucar ninguém. – falei suavemente.

- Não mesmo! – alguns homens com olhares hostis se aproximavam, eles não eram os únicos a nos olhar dessa maneira.

Respire fundo e solta. Um, dois, três, repete. 

- Cala a boca! – Priscila não teve a mesma paciência que eu.

- Meça bem a forma que se dirige a mim! – o senhor retrucou.

- Ou o que? – Priscila fez uma bola de fogo em sua mão. – É! Foi o que pensei. - Ela passou por eles batendo com o ombro em seus ombros quando não obteve nenhuma resposta. – Venham! Nosso tempo é precioso para gastar com quem não vale.

Levantei minha cabeça e a segui sentindo vários pares de olhos nos fuzilando e se fosse possível já estaríamos mortos há algum tempo.

"Acho que nossa estadia será bem movimentada." Sorri internamente com esse pensamento.

Uma figura se aproximava suas passadas ecoavam no chão, firmes como pedra. Suas vibrações causavam pequenos choques nos meus pés descalços, as três garotinhas foram com toda a euforia para cima dele. Era curioso de ver os dois extremos ali, a euforia e a seriedade. 

Ele sorriu para elas que logo se agarraram a ele.

- Os outros estão em progresso. Tive que deixa-los em uma sala separada. – ele começou a falar com a Priscila sem nem ao menos nos olhar. – A quantia de pessoas estava deixando eles transtornados e os poderes sendo mostrado não ajudou muito também. Faço o mesmo com esses?

- Quero ver você tentar. – minha voz estava ríspida, mas a da Priscila acabou se sobrepondo a minha.

- Essa eu quero ver, você pode até tentar, mas duvido que consiga. – ela tinha um sorriso travesso em seus lábios.

Ele enfim olhou para cada uma de nós, seus olhos demoraram um pouco em Isabel e então ele olhou para as três meninas agarradas a ele. 

Entendi perfeitamente o que ele estava pensando, mas ignorando assim como ele fez antes comecei a andar passando por todos como se já conhecesse o lugar, o que não é mentira. Havia mapeado tudo ao meu redor e uma fonte de água corrente chamou minha atenção e é exatamente para lá que vou.

Os outros me seguiam tranquilamente, ainda não me acostumei com essa confiança toda que elas depositavam em mim. Até mesmo os primos me seguiam, Carter faltava pular para chamar atenção, mas aquelas passadas se destacavam das demais.

Nem tive tempo de contemplar o lugar, senti um braço me puxar com tudo e a água fria me recebeu prontamente. Ao chutar tentando encontrar o chão percebi o quão fundo era e meu estomago se contraiu.

"Eu não sei nadar!" 

"Não posso ficar aqui, não quando estou com Isabel junto."

Abri meus olhos e esvaziei a mente. "Vamos lá! Para cima. Rápido!"

Senti algo estranho me empurrando, totalmente diferente das outras vezes. Mantive a conexão que sentia e deixei que meu corpo agisse, a agitação em mim constante, como se eu segurasse algo viscoso e escorregadio.

Não demorou muito e senti o ar batendo em meu rosto molhado, respirei fundo, logo Carter emergiu com um grande sorriso que assim que me viu se desfez. Levantei minha mão e um jato de água o atirou para cima. Suas pernas e braços balançavam no ar até que ele caiu novamente na água. 

- A gente está em cima da água! – Isabel estava surpresa. 

Olhei para baixo e meus pés tocavam a água, porem sem afundar. Minha surpresa me fez perder o controle e afundamos de novo. É difícil controlar, para nossa sorte consegui nos empurrar para a margem.

- Você é uma caixinha de surpresa. – Carter estava ao meu lado sorrindo.

Tenho que confessar que eu também estava surpresa com isso. Aparentemente apenas eu tenho mais que um poder. Queria entender como isso é possível. Preciso conversar com a Priscila mais tarde, ela deve saber a resposta ou pelo menos ter uma noção de como isso acontece.










Oiee, como vcs estão? Eu espero de coração que estejam bem❤️
Em relação a história, até agora tudo certo? Alguma dúvida? Curiosidade? Fiquem a vontade para perguntar ❤️

Um forte abraço de urso, fiquem bem❤️
ʕっ•ᴥ•ʔっ❤️

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