Capítulo 5 - Carter

Retirando algumas caixas do compartimento de carga, Carter não aguentou mais esperar para saber o que tinha de comida ali, então se abaixou com uma caixa em mãos e ao invés de deixá-la ali a abriu.

No mesmo instante sua expressão mudou para uma repulsa contida.

- Sério isso? - perguntou na esperança que tivesse algo diferente escondido em algum lugar.

- Eu coloquei essa carga ai sem saber o que precisaria ou quanto tempo levaria, então é claro que optei pelos duráveis.

- Com toda certeza é melhor do que o que nos davam. - ponderou antes de continuar - Mas eu me lembro que isso - sacudiu um punhado de tiras de carne desidratada - não é bom igual a fresca.

- Cala a boca e come! - ela estava começando a se irritar de verdade, como poderia saber quanto tempo duraria essa busca e ainda mais quantas pessoas iriam encontrar, seu método era eficaz. - Como vamos convencê-los? - penguntou se sentando no chão e programando o helicóptero pelo relógio.

- Vamos falar nossas intenções, deixar a comida e ir embora, caso não queiram nos acompanhar. - respondeu simplesmente.

- Você sabe que essa opção não é viável né! - ela tentou disfarçar o medo em sua voz.

- Como não! - Carter nem ao menos percebeu o tom dela. - Eles têm direitos. - estava revoltado ele não queria ser aquele que impõe sua vontade sobre o outro. Isso era exatamente o que faziam com eles antes. Não poderia permitir isso.

- Você sabe que não estou falando disso. - Priscila coçou os olhos tentando espantar as imagens que passavam por sua cabeça, ela sabia o que o primo sentia e mesmo sem ter vivido nada daquilo não era difícil de imaginar - Estou dizendo que precisamos garantir a segurança deles, não sabemos de todos os envolvidos nesse plano, não quero que voltem a ser aprisionados. - desabafou.

- As pesquisas não deram certo? - antes de ser mandado para o Instituto ELI, várias teorias e pequenos rastros tinham sido levantados. Se perguntava o que teria dado errado?

- Algumas até deram e conseguimos interceptar o transporte de algumas crianças que foram mandadas pra lá, na desculpa do suporte ser maior. - fechou suas mãos ao lembrar as condições que as crianças eram transportadas, todas amontoadas em gaiolas de ferro. - Demos jeito nessas pequenas instituições, mas creio que tenha muito mais, isso sem contar nos pais que trancam seus filhos nos porões por serem "aberrações". Me pergunto quem são as aberrações! - seu suspiro frustrado mostrava o quanto aquilo tudo mexia com ela.

Infelizmente ainda é inevitável que o diferente seja ridicularizado e maltratado.

Mas em seus corações eles tinham esperança e sonhavam com um mundo melhor. Ou pelo menos um cantinho melhor onde pudessem viver em paz, sem precisar se esconder de ninguém e nem ser explorado para ser "aceito'.

- Ei! - ele gritou olhando para o grupo - Vocês não são monstros e eu também não sou. Nenhum de nós somos! Monstros são aqueles que nos manipularam, nos maltrataram e nos aterrorizavam! - procurava usar palavras brandas para não assustar eles e nem mesmo sua prima que o encarava. - Se eu quisesse eu teria empurrado todos vocês ai de cima, mas eu preferi que vocês confiassem em mim, então... - encheu seus pulmões de ar - DESCE AGORA DAI!

- Você vai assustar eles! - Priscila protestou irritada com a atitude dele.

- Aqui tem comida. - prosseguiu ignorando ela - Sei que todos vocês estão com fome, então venham aqui que eu já cansei de esperar e eu estou faminto. - ninguém se mexeu, ainda estavam com receio apesar de saber que ele estava certo, ele poderia ter empurrado todos, e eles nem dariam conta da sua presença - Eu juro que se vocês não descerem eu vou ai e empurro um por um. DESCE JÁ!

Aos poucos eles se aproximaram da parte mais baixa da pedra e se posicionaram para descer. Sentindo o orgulho tomar conta de si Carter estufou o peito admirando a cena que se desenrolava.

- Iiiii! Vai ficar se achando agora. - colocou a mão na testa e sacudiu a cabeça de forma dramática.

Os dois ficaram ali olhando um a um descer, e depois timidamente se aproximar, Carter se sentou no chão e apanhou algumas latas de feijão para abrir, após abrir a primeira estendeu a Priscila que ainda se mantinha pé. Sem entender nada ela apenas continuava sustentando seu olhar.

- Esquenta! - esclareceu.

- Athaaa! Só me faltava essa. Agora eu sou o seu fogão portátil! - sua falsa ofensa quase o fez rir.

- Por favor! Feijão quente é muito melhor que frio. - entrou no jogo com a melhor expressão de coitadinho que conseguia.

- Tudo bem! - estendeu a mão se rendendo ao pedido.

- Só não vai queimar! - se fosse possível seus olhos teriam queimado ele devido a provocação.

- Cala a boca ou eu jogo essa lata em você. - o sorriso ameaçador apareceu em seus lábios.

- Só se voc... - sua fala se cortou ao perceber que havia deixado algo passar.

- Ainda bem que você sabe. - seu sorriso aumentou ao ver a confusão estampada no rosto dele.

- Você me deve explicações. - acusou.

- Pra ser sincera não lhe devo nada. Entretanto por gentileza e para poupar minha saúde mental vou falar. - ela já esperava por isso, no entanto não deixaria as provocações barato.

- Ai! Essa doeu. - Carter levou a mão ao coração, como se realmente tivesse doído. Mas a verdade era que ele sentia falta desse humor distorcido que só ela tinha.

- Quer saber ou não? Alias cala a boca e escuta! - seus olhos e sua expressão impossibilitava qualquer brincadeira. - Eu sou adepta ao calor, tudo que emana calor eu sinto ou "vejo" - ela colocou as latas no chão para fazer aspas no ar, e então apanhou mais duas. - Por isso sou excelente nas caças noturnas, na realidade em qualquer forma de caça, por isso te encontre rapidamente. - ela falava calmante, até mudar para um tom de aviso - E nem ouse em dizer que não foi rápido porque eu tinha outras coisas para resolver antes de sair a sua busca e você deve saber muito bem disso.

- Certo, mas como você não percebeu eles na pedra? - se ela é adepta ao calor deveria ter percebido.

- Pra ser franca? Acredito que me distrai com você, e como aquela pedra pegou uma grande quantia de calor do sol e eles estavam agrupados eu meio que pensei que fosse só a pedra mesmo. - deu de ombros.

- Mas você nem olhou?

- Com você de gracinha eu tive tempo?

- Okay. Quando saímos em busca dos outros?

- Não demora muito e os rastreadores devem chegar aqui. Deixamos eles - ela apontou para o grupo que estava ali tentando parecer invisíveis. - e partimos em busca dos outros que estão para aquele lado. - ela apontou o lado totalmente oposto ao que ele estava planejando continuar. Ainda contrariado resolveu deixar pra lá.

Ficaram alguns minutos conversando sobre as crianças e qual a notícia que ela recebeu quando cancelaram a visita, tentando ao máximo não assustar ninguém.

- Estão chegando. - Priscila falou do nada se levantando - Me ajuda a juntar esse lixo. - ela apontou para as latas e cantis pelo chão.

Quase no automático foram juntando tudo e colocaram no helicóptero, quando voltava para onde estava uma sensação estranha dominou Carter, agindo por instinto com uma mão empurrou Priscila e com a outra arrancou uma faca do suporte que ficava na perna dela, antes mesmo dela atingir o chão algo passou zunindo pela orelha direita dele, não precisava olhar para saber que era uma flecha.

Em um movimento rápido atirou a faca o mais forte possível na direção que a flecha veio. O barrulho de algo atingindo o chão chegou logo em seguida, impulsionando seu corpo saiu em disparada.

Não precisou ir muito longe para chegar ao destino, o corpo no chão estava a uns sessenta metros de onde estavam, e a julgar sua posição havia caído da árvore ao seu lado. Empurrando com o pé para virar o corpo encontrou a faca cravada em seu peito. Apenas por garantia checou os batimentos.

- O que aconteceu? Como eu não... - sua fala morreu ao notar que ele não emanava calor algum, aquilo era impossível. Mexendo no manto coberto de folhas percebeu que ele bloqueava as ondas de calor que deveriam ter sido sentidas por ela.

- Eles tem muitas informações sobre nós e são precavidos, deve ser um dos que fugiu.

- Você tem razão vamos voltar para onde estão os outros. - mal falou e já se pões a correr de volta ao encontro dos outros.

Carter ainda analisava o corpo imóvel, procurando qualquer coisa que identificasse o contato com outra pessoa, estava limpo, se abaixou e retirou a faca a limpando na camisa do homem. Aquele manto o intrigava de mais, se dando por vencido retirou o manto do homem para tentar descobrir algo a respeito.

Com todos seus sentidos em alerta refez o caminho até a clareira.

- Os garotos chegaram. - Priscila gritou enquanto ria, Carter juntou as sobrancelhas sem entender nada, que garotos seriam esses?

Enquanto se aproximava do grupo reparou em três garotos desconhecidos, antes mesmo que pudesse dar maior atenção em suas feições, os garotos começaram a encolher e três garotinhas loiras se puseram a pular em animação.

- É a gente tia! Enganamos ela! Conseguimos! - disseram as três juntas.

- Não acredito! - Priscila se fazia de surpresa - Ashley, Britany e Tiffany! Meu trio preferido, o que fazem aqui? - a animação em sua voz era genuína, não tinha nenhum vestígio da pessoa séria de minutos atrás. Era impressionante ver essa mudança.

- Hoje é dia do trabalho com o papai! - disseram juntas - E nossos narizinhos são melhores que o dele. - elas pulavam de alegria.

- Mas meus ouvidos ainda são melhores. - uma figura altiva foi se aproximando, vestindo pele animal, Carter juntou as sobrancelhas achando aquilo curioso.

Por mais que forçasse a memória, não se lembrava de nenhum deles. E seria impossível esquecer qualquer um.

- Carter, essas são as trigêmeas de nariz mais aguçado que conheço e aquele é Esteban o pai delas. Eles se juntaram a nós um mês depois de... Você sabe. E nos ajudaram muito desde então.

Agora as coisas faziam sentindo  para ele e sendo assim, estendeu a mão  para o homem.

- Obrigada por tudo. - agradeceu.

- Eu é que agradeço o acolhimento de todos. - Esteban deu de ombros apertando a mão estendida de Carter.

Seu jeito imponente passava certa confiança e se Priscila confiava nele,  ele também  confiaria.

- Desculpa não podermos ficar e conversar mais. Porem temos mais algumas pessoas a procurar. - Carter tratou de seexplicar.

- São cinco! - disseram as meninas fungando o ar - Daquele lado! - apontaram o mesmo lado que a Priscila tinha dito - Estão comendo manga! - elas saltitavam e batiam palminhas. - Papai, papai! Podemos pegar mangas?- Carter se surpreendeu tanto pela informação  quanto como aquelas crianças podiam ser agitadas.

- Vocês se importam se formos juntos e apanharmos algumas mangas?

- Estamos em dezesseis pessoas vamos chamar muita atenção. - ponderou Carter antes de dar uma resposta final.

- Não vamos não! - elas o olharam seus olhos na melhor expressão de cachorrinho pidoncho - Elas estão longe da mangueira. Estão em um rio, o vento está trazendo o cheiro de sangue molhado para cá. E o de manga! - disseram felizes.

- Pode me dizer quantos deles estão feridos? - Carter hesitou ao perguntar.

- Todas! - elas farejam o ar. - Apenas uma está mais ferida, as outras são leves escoriações.

Ele olhou para Priscila.

- O quanto disso tudo pode ser verdade? - perguntou sem conter sua curiosidade.

- Considerando o quanto já as vi em ação? - ela o olhou significativamente como se estivesse calculando. - Tudo!

Elas começaram a pular e bater palminhas novamente, uma onda de alegria quase contagiante, não se surpreenderia se mais alguém começasse a pular com elas.

- Vamos apanhar algumas mangas então! - disse sorrindo, não  tinha como não  se afetar.

- Ebaa! - se possível  a euforia foi ainda maior, tão logo seus pés pousaram no chão  após o salto, elas desataram a correr uma atrás da outra em uma brincadeira incansável.

Antes do anoitecer estavam parados em frente a mangueira. As garotinhas tomaram uma forma maior e se organizaram para que duas servissem de apoio e a terceira pudesse subir, Priscila e Carter  se despediram com um breve acenar e continuaram rumo ao riacho, na direção  que as três indicaram.

Aproveitando dos instintos de Priscila para avançar, sempre que possível  ambos corriam. No ritmo que estavam não  demorou muito para chegarem no riacho. Carter estava praticamente  esgotado e assim que as margens do rio apareceu, seus pés  o guiaram para dentro, apreciando o frescor gelado que subia por seu corpo, o renovando.

- Vamos dar uma pausa? Meu corpo está me matando. - soltou esperando a aprovação da prima.

- Não podemos demorar! Estamos mais próximos deles, eu sinto isso. - sua voz estava contida, ela tinha noção  do quanto estava pedindo dele, no entanto sua vontade de encontrar aquelas pessoas a faziam esquecer que ele estava fora de forma.

- Tudo bem! Só uma pausa. - Carter encheu as mãos de água e jogou na nuca. - Estou fora de forma. - disse rindo como se lesse os pensamentos dela.

- Não o culpo! Eu também estou cansada. Mas quero parar apenas quando os encontra. - sua atenção  não deixava nem por um segundo o caminho que ela sabia que os outros tinham pego. - Vamos só diminuir o ritmo. Eles devem estar dormindo, já é noite. - se deu conta disso ao olhar o escuro do riacho.

A passos lentos e precisos, voltaram a avançar,  ela esperava que fosse o suficiente para Carter descansar e que depois pudessem tomar um ritmo mais ligeiro.

Carter sabia que essa mudança drástica era por causa dele, após alguns metros mesmo cansado acelerou um pouco suas passadas, tinha de manter o corpo quente ou então o cansaço o venceria.

Para facilitar o avanço de Carter, Priscila mantinha uma bola de fogo acesa em sua mão, um azul vibrante iluminava o caminho.

Tão inerte ao silêncio e a chama hipnótica, Carter não  percebeu o emaranhado de raízes a sua frente, seu corpo despencou sem que pudesse interferir, o som seco da queda preencheu todo o ambiente.

- Não acredito nisso! - Priscila falou baixo, seu tom carregado de reprovação, suas feições  não muito diferente disso. - Quem achou que três garotinhas atrapalhariam o processo acaba de cair de cara e nos denunciar! - sua vontade era de estapear o primo, no entanto o estrago já havia sido feito.

- Eu não fiz porque quis! - protestou se levantando - E como assim nos denunciar? - ele estava confuso, não  era pra menos.

- Eles estão em movimento, de novo! Graças a você. - por mais que tentasse ela não  consegui deixar a raiva de lado.

- Mas você cogitou a hipótese de que a noite não é a melhor hora de abordar os outros? Ainda mais quando estão fugindo? - Ele sabia que estava errado, mas estava cansado o que mais poderia ter feito?

- Sim eu pensei nisso. Minha intenção era parar alguns metros mais afrente, porem você se espatifou no chão. - Priscila diminuiu o tom, não  adiantava discutir.

- Nossa chance de descansar acabou? - Carter sussurrou temendo a resposta.

- Você quer que eu realmente responda? - o olhar ameaçador dela dizia tudo.

- Não! - suspirou aceitando a punição.

"Como pode? O que tem de pequena tem de mandona." Pensou enquanto se obrigava a continuar andando.

Dessa vez a chama que iluminava o caminho era vermelha, denunciando o humor de sua dona.

- Deveríamos correr porque é isso que estão fazendo, mas você está um caco. - Priscila  comentou após alguns minutos andando - Vamos parar, dar vantagem e aparecer quando estiver claro. - aceitou a derrota do momento, eles não  estavam em condições de continuar.

- Obrigada! - Carter ignorou toda a carranca dela e a abraçou, antes de soltar deixou um beijo em sua testa - Exercícios de mais em tão pouco tempo, e sem nenhum preparo. - já estava procurando a melhor posição  no chão, o cansaço  que vinha ignorando o atingiu em cheio.

Ao acordar seu corpo todo protestava pela correria do dia anterior. Se esticou sobre o chão ouvindo cada junta estalar, sem mais delongas se pões de pé.

- Bom que acordou, temos de continuar. - Priscila apenas esperava por ele.

- Então vamos! - Carter sacudiu o corpo em um breve aquecimento e começou uma corrida leve.

Nenhuma palavra foi dita, sempre que se acostuma com a velocidade Carter tratava de acelerar mais um pouco. A cada passada menos dores sentia.

A mente trabalhando cautelosa e a todo vapor para captar qualquer pista que tivesse por ali.

- Diminui o ritmo, estão logo à frente. - Priscila disse baixo, como se conectado ao comando o corpo de Carter diminuiu a velocidade antes mesmo que sua mente captasse o que tinha sido dito. - Isso! Todo cuidado agora. - Priscila estava novamente no comando.

Com cuidado avançaram meio agachados para ter uma visão melhor do que vinha pela frente, não queriam assustar ninguém.

Antes mesmo que a proteção das árvores acabasse, uma voz  doce, porém cortante se pronunciou.

- Parem onde estão!

Carter ergueu  as mãos e deu mais alguns passos  para que pudesse ter seu corpo a mostra, queria deixar claro que não  estava escondendo nada. Talvez pelo lugar onde estavam ou talvez pela forma que os encontraram, no entanto pela primeira  vez Carter notou o estado deplorável de cada um ali. Poderia ser pela mulher a frente de todos também, além de seu corpo magro, uma grande mancha vermelha no meio da coxa chamava atenção.  A determinação estampada no rosto das cinco.

Diferente dos outros, aquelas cinco fariam qualquer coisa para se manterem livres. Elas lutariam por si e sua liberdade.

Carter se preparou para avançar, mas antes que pudesse dar um passo as cinco desapareceram como se nunca estivessem ali.

- Mas o queeeeeeee! - a perplexidade nítida em sua voz.

- Eu falei cautela! - Priscila ficou na sua frente como uma expressão apavorante. - O que tem de errado que você não me escuta? Porque não ficou parado? - ela pegava fogo, não apenas suas mãos .

- Eu não fiz nada! - Carter praticamente  gritou. - Estou tão perplexo quanto você, mas tem uma diferença eu sei me controlar, não tinha como prever o que ia acontecer aqui!

- Não me venha com essa.

Carter virou as costas ignorando o ataque de fúria. Estava surpreso, elas nem ao menos deram o benefício da dúvida, seus olhos fixos no ponto onde antes elas estavam. De todas as possibilidades que poderia pensar, nunca passou por sua cabeça que pudessem simplesmente desaparecer.

Totalmente focado a sua frente só voltou a atenção quando uma bola de fogo passou sapecando sua perna. Se virou para ela e gritou irritado.

- DEU! - passou a mão na perna chamuscada, não  teve tempo de falar mais nada quando um rugido o travou no lugar.

Lentamente olhou por sobre o ombro, praticamente dando de cara com um tigre branco, instintivamente  seu corpo começou a recuar. O tigre estava a frente da mulher, como se a protegesse, essa por sua vez tinha a mão  nas costas do animal como se o mantivesse no lugar. Assim como sumiram, apareceram, do nada. A mulher a frente das outras deixava claro em sua postura que qualquer sinal de ameaça  ela não se conteria.

Infelizmente Priscila não agiu igual, na verdade estava com tanta raiva de si por perder elas de novo, que estava descontando no primo e nem se quer notou que elas estavam ali novamente.

Ao ver a figura em chamas avançando, Aurora puxou delicadamente Isabel, que ao sentir seu toque entendeu recuando e voltando a sua forma de criança. Quando já segura, Isabel pensou em se agarrar a Aurora, no entanto não teve nem tempo quando a viu bater um pé no chão e puxar o outro para trás, desenhando um meio círculo no chão, suas mãos em punhos, soltando um grunhido pela força que fazia. No mesmo instante a terra começou a tremer e uma parede de terra se formou na frente delas.

Apesar da surpresa Carter conseguiu se manter em pé, mas Priscila não teve a mesma sorte, seus pés escorregaram e sem querer acabou soltando uma bola de fogo.

- Apaga! - Carter gritou, porém a bola já tinha deixado seus dedos, não havia mais nada que ela pudesse fazer a não ser ver a consequência de sua imprudência.

A bola de fogo foi direto para a parede de pedra a derrubando no chão e expondo elas, que permaneciam na mesma posição. Ao sentir o choque quente em seu escudo Aurora não precisava nem olhar para saber de onde vinha, mas mesmo assim dirigiu um olhar severo para Priscila que se encolheu minimamente.

Apesar de toda a sua determinação Aurora não tinha domínio nenhum sobre seus poderes, mas isso não a impediria de tentar, ela não se deixaria cair por tão pouco.

Isso poderia ser muito perigoso para os primos.

A terra voltou a tremer dessa vez ainda mais forte, Aurora estava disposta a defender aquelas mulheres e principalmente Isabel. Com um pouco mais de força, sustentando aquela pressão em sua barriga ela sentiu a terra se desprender e vir com força em sua direção fazendo um novo escudo a sua frente, desta vez ainda mais espeço. 

Os chacoalhões que a terra dava impedia que os primos se mantivessem em pé.

Com muita dificuldade Carter se levantou e desviou por pouco de uma pedra que quase o atingiu na cabeça.

- Eu também estava lá. - gritou para ser ouvido, mas foi inútil - Eu sei o que vocês passaram. - tentou novamente.

Sem conseguir se conter Aurora soltou uma risada amarga, nem de longe ele saberia pelo que elas haviam passado.

Tal atitude fez Carter duvidar de suas próprias palavras.

Assim que o escudo ficou pronto as pedras diminuíram seu ritmo.

- Encontramos os outros dez! Estão nesse momento indo em segurança para onde poderão ser livres. - Priscila chamou a atenção de todos pra si.

- APAGA! - Carter totalmente irritado se virou para ela dando as costas para as outras mulheres.

- Para que? Para ela nos atingir? Não abrigada. - ela tinha noção da ameaça que aquela mulher poderia ser.

- Apaga a droga do seu fogo AGORA! - cansado da situação Carter se pões a falar - Cada aspecto de poder que fosse mostrado era motivo de surra. Cada dia uma pior que a outra, você era punido até por respirar, porque nem isso você merecia naquele lugar. É como se fosse um favor que faziam para nós em nos manter vivos, você não viu as condições em que essas pessoas estavam. - ele só queria que aquilo acabasse logo e pudesse esquecer - Você nesse instante é uma ameaça! Eu sou uma ameaça. - apontou para elas sem nem olhar - Elas estão com medo! Você consegue imaginar o quão difícil deve estar sendo para elas fazer isso? Soltar o que era abominável para se proteger?

As palavras dele acertaram Aurora em cheio, seria possível ele saber daquilo tudo sem ter presenciado? Deixou romper a pressão que sentia a ligando a terra e no mesmo instante tudo parou, seu corpo estava sem força e sua respiração pesada.

Notando que suas palavras surtiram efeito Carter continuou olhando para elas.

- Não queremos fazer mal. Somos todos iguais! Nos escondemos em uma sociedade anônima para podermos ser nós mesmos. - deu de ombros - Não é o melhor mais é o que podemos ter no momento.

Ambos perceberam que se convencesse a mulher a frente as outras viriam sem nenhum problema.

- Estávamos em busca de crianças desaparecidas, e as buscas nos levaram para aquele lugar onde passei dez meses tentando aprender o que acontecia ali, para poder libertar todos. - foi sincero em cada palavra, de alguma forma sabia que somente assim ela confiaria nele, sem nenhum eufemismos apenas a verdade - Mas você ou uma de vocês foi mais rápida do que eu, e escaparam antes que pudéssemos mostrar nossas intenções. - concluiu.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top