Capítulo 2
Ao abrir os olhos a escuridão ainda tomava a maior parte da caverna, a anos Aurora não dormia tão bem assim, aquela sensação de liberdade a deixava cheia de energia. Se levantou sentindo leves fisgadas pelo corpo, aquelas fisgadas eram muito bem vindas, lhe lembrava que tudo o que viveu no dia anterior foi real. Seguindo para fora o sol alto praticamente a cegou, a brisa leve fazia cócega em seu rosto.
Aquelas sensações, pensava que nunca mais sentiria os raios de sol aquecendo sua pele, a brisa soprando seus cabelos, a chuva molhando a pele, o cheiro da natureza entrando em seus pulmões. As arvores balançavam suavemente como em uma dança embalada pela brisa, iluminada e aquecida pelo sol, uma linda sinfonia.
Seu corpo queria se movimentar junto daquela dança silenciosa, queria deitar no chão e sentir cada pedacinho dele, se sentir parte dele como quando criança, no entanto ela não tinha esse tempo e nem mesmo era mais uma criança. O tempo corria.
Aproveitando a calmaria do momento sentou-se no chão para analisar seu estado e ferimentos, concentrando parte de sua atenção em estender seus poderes para a terra e verificar se estavam seguros, nesse momento percebeu que dez dos seus companheiros estavam se distanciando, suspirou aliviada por não ter que cuidar deles, mas frustrada por não saber se eles ficariam bem.
Para aqueles dez eles só queriam se afastar da ameaça que ela se mostrou ser, eles estavam presos em seus traumas e mesmo sabendo que toda a ajuda dela foi essencial para que todos saíssem daquele terrível lugar, eles não queriam se manter perto dela e nem daquela criança que estava longe de agir como uma criança normal.
O destino se encarregaria de cruzar seus caminhos novamente se assim o quisesse, pensando assim Aurora parou de bloquear suas dores para saber a gravidade de seus ferimentos, assim que o incomodo se fez presente ela identificou a origem de cada dor, podia sentir sua coxa queimando, seus pés feridos pelos chutes descontrolados que deu em busca de apoio quando quase caiu, sentia seu tornozelo que agora tinha ainda mais arranhados por causa dos galhos e plantas de mata.
Todo o seu corpo protestava e por incrível que pareça ela apreciava cada uma daquelas dores, cada uma delas era de uma etapa concluída para atingir sua liberdade, aquilo trazia esperança e força para continuar levantando e lutando. Seu corpo ou sua mente não sabia qual deles já estava tão acostumado em lidar com as dores que aquelas pareciam um simples arranhão.
Sorriu levemente ao encarar o sangue seco em sua coxa, seu maior medo não era o ferimento e sim o rastro que ele poderia deixar para trás, ou até mesmo a fraqueza extra que ele causaria se ela perdesse muito sangue, aquela criança tinha ajudado muito ao pegar aquela camiseta se fosse por Aurora ela nem teria considerado essa ideia.
Teria que se lembrar de agradecer novamente a ela por isso.
O barulho alto do roncar de sua barriga quase a assustou, teriam de encontrar alimento o quanto antes, aquele exercício todo e mais os dias que passavam sem comer não ajudaria em nada no seu progreso. Uma coisa era lidar com a fome sem fazer esforço outra totalmente diferente era passas dias sem comer e depois se esforçar ao máximo.
Sem mover um único musculo mapeou toda a área em busca de uma saída segura, chegando a mesma conclusão que o dia anterior, ou era descer pelo desfiladeiro ou era descer pelo paredão e se subir já foi trabalhoso e perigoso descer seria ainda mais. O desfiladeiro parecia a melhor opção do momento. Decidida apoiou suas mãos no chão para ter apoio e se levantar.
As quatro respirações suaves atraíram sua atenção para dentro da caverna, ela não poderia simplesmente sair e deixa-las ali, isso era contra tudo o que acreditava, se elas estavam ali significava que de alguma forma confiavam nela, por mais que não quisesse se responsabilizar por mais ninguém, isso era quase o mesmo que as prender a si, deixar cada uma daquelas pessoas dependente de si não era algo que ela gostaria, seria uma prisão em liberdade para cada um deles. No entanto abandonar não era uma opção, nunca seria.
Só em pensar na possibilidade daquelas pessoas sendo pegas novamente e o castigo que receberiam por isso causava um estado de pânico permanente, era estranho como em algumas horas tudo havia mudado, ela nem se quer sabia da existência daquelas pessoas e agora se preocupava com elas.
Era hora de voltar a sua jornada, não podiam ficar mais ali, corriam o risco de serem descobertas a qualquer momento ainda mais que o sol esta alto no céu dando assim maior visão. Entrando na caverna caminhou para a criança que dormia muito perto de onde antes ela estava, colocou sua mão no ombro dela e quando sacudiu levemente a criança se sentou com tudo rosnando alto.
O barulho assustou todos ali, o susto levou Aurora a cair sentada no chão, ela até poderia rir disso, no entanto se recompôs indicou a saída e foi para fora. Os instintos daquela criança tinha poupado tempo, assim ela não precisaria acordar uma por uma. Podia sentir os passos dos quatro a seguindo.
Pela primeira vez Isabel ficou com vergonha, ela se assustou com o contato achando que fosse um dos homens maus, porem ela não queria ter assustado aquela mulher, ela poderia a deixar pra trás e em seu coraçãozinho ela sabia que se aquela mulher não a quisesse ela não poderia fazer nada.
Estava decidida a não desapontar aquela mulher, faria tudo o possível para que isso não acontecesse.
Mal sabia ela que sua atitude havia causado curiosidade em Aurora e que ela havia apreciado a ajuda inesperada.
Sem falar nada do que pretendia fazer Aurora se encaminhou para o desfiladeiro, sabia que quem quisesse a seguiria, não iria impor sua vontade a ninguém. Entendendo o recado as mulheres olharam para o caminho a frente e para a criança que já acompanhava a mulher.
Nenhuma delas tinha duvidas do que queriam e iriam fazer, elas apenas admiravam a forma que aquela mulher lidava com tudo, parecia que ela sabia exatamente para onde estava indo como se absolutamente tudo o que passaram já estivesse apagado de sua memoria. Enquanto Aurora só queria deixar o maior espaço de chão entre elas e o pessoal daquele lugar, isso sem duvida era o que tomava a maior parte de seus pensamentos.
O caminho que tinham de fazer necessitava muita atenção e cautela, pois além de estreito e íngreme a queda seria terrível. Mantendo as costas sempre colada a parede para conseguir um pedaço maior de chão sob seus pés Aurora seguia focada na descida.
Isabel atenta a tudo o que acontecia ao redor sentiu um cheiro diferente sendo trazido pela brisa, isso despertou sua curiosidade e na euforia de descobrir se aquele cheiro levemente parecido com o do lugar onde ela costumava ficar antes, era de uma ameaça ou um fugitivo, esticou seu pescoço na direção, seu ato repentino fez seus pés escorregarem e sem ter nem tempo para pensar seu corpo já estava em queda livre.
O raspar das pedras atraiu a atenção de Aurora, seu sangue gelou e instintivamente levou seu braço, sabia que era um ato inútil, tinha de ser justo a criança que ainda tinha tanto o que ver e viver, seu corpo estremeceu enquanto assistia os metros aumentarem, seu estomago parecia que tinha criado um vazio e foi nesse instante que ela sentiu a criança desacelerar.
Como se ela estivesse sentindo o desespero dela em si, não sabia dizer se o coração que batia acelerado era dela ou da criança, ela apenas sentia, com delicadeza foi puxando a mão em direção ao peito, era clara a visão dos olhos arregalados da criança, assim como era claro para as outras mulheres que assistiam que Aurora estava suando frio, ela temia por aquela criança.
Em meio ao mar de confusão ela sentia aquela criança em si, como se tivesse se tornado uma extensão de seu próprio corpo, sem duvida essa sensação a assustou, suas mãos tremiam conforme a criança subia vagarosamente, tão logo ela atingiu a altura adequada Aurora agarrou a criança levando de encontro a seu peito.
O ar saiu pesado de seus pulmões e o alivio a encheu, a pequena criança se agarrou a ela com a mesma força, poucos segundos se passaram enquanto elas acalmavam suas respirações e mente.
Sem mais delongas Aurora depositou a criança ao seu lado, se virou de frente ao paredão e encolheu um joelho para servir de suporte para a criança.
- Segura! - ela indicou com a cabeça, sua voz saindo menos arranhada do que antes.
Ainda tremula a criança passou para suas costas e se agarrou a ela como um pequeno coala, suas mãos seguravam firme e sua cabeça apoiada no ombro lhe trazia conforto. Com cuidado redobrado a mulher segui com a descida. Sua mente girando em torno de uma única prece "Que isso não aconteça de novo."
Quando ainda nova ela sabia que poderia confiar em si, mas agora, depois de tantos anos ela não saberia dizer do que ela era capaz, ela estava tão assustada com o que estava acontecendo. Ela tinha medo de ser aquele monstro que tanto diziam que ela era.
Será mesmo que isso era possível?
Ela seria capaz de machucar alguém?
Só de pensar nessa possibilidade seu estomago se retraiu, se ela fosse um monstro não teria se preocupado com aquelas pessoas ou até mesmo com a criança em suas costas.
O peso extra começou a afetar seu desempenho, era como se os músculos queimassem em protesto, eles davam varias fisgadas lembrando constantemente seu desgaste, a atenção que ela tinha que dar para o caminho e o medo que a consumia a impedia de alcançar seu lugar calmo além da dor. As mãos sempre tateando pelas pedras como uma medida preventiva caso escorregasse.
As outras mulheres estavam chegando a seu limite também, sempre que possível uma delas se agarrava a uma pedra mais firme e se esticavam com cuidado ficando na ponta dos pés para ver a distancia que ainda faltava.
Todas estavam apreensivas desde a queda da criança, não queriam dar trabalho e a maneira que a mulher a frente estava seria difícil alcançar qualquer uma delas, não que elas fossem arriscar, cada uma sabia que seus poderes eram instáveis, não podiam contar com isso, até mesmo as que mais usaram e aprenderam sobre si tinham suas dificuldades depois dos longos anos de tortura.
Quando o piso aos seus pés se ampliou e suas mãos se soltaram da parede Aurora deu três passos para abrir caminho para que as outras passassem e deixou seu corpo ir ao chão, primeiro seus joelhos depois suas mãos, sua cabeça pendeu pressionando levemente o rosto da criança contra o seu, ela poderia até mesmo beijar o chão aos seus pés, no entanto o ronco alto acima de seus ombros soou como um aviso.
Elas precisavam de comida!
Como para reafirmar o fato seu próprio estomago roncou, respirando fundo e tentando estabilizar seu corpo, ainda era estranho sentir aquela criança, não por ela ainda estar agarrada em suas costas como se sua vida dependesse disso, mas pelo fato que ela realmente sentia aquela criança, assim como sentia as formigas que marchavam para seu formigueiro, e isso era totalmente diferente da forma que ela sentia as outras.
Sacudiu a cabeça para livrar a mente em seguida deu suaves batidinhas na perna da criança para que a mesma descesse de suas costas. Ainda com receio de soltar a mulher a criança desceu com cautela, aproveitando suas mãos no chão e o alivio de seu corpo, ela apenas se deixou levar pela brincadeira de expandir seus "horizontes" era possível sentir tudo a sua volta, as arvores se conectavam com suas raízes esparramadas por todos os lados.
Em meio a sua busca silenciosa ela se sentia como uma criança de novo em sua brincadeira favorita, seu corpo protestou diante a lembrança, fora isso que a levou para aquele lugar. "A aberração tem que ser controlada." Foi o que disseram a ela.
"Não isso não é verdade!"
Com todo o autocontrole que poderia ter empurrou aquelas lembranças para o fundo de sua mente.
"Precisamos de comida!"
Uma arvore se destacou em sua mente, era quase como se ela realmente estivesse a sua frente, ela podia até sentir o cheiro dela, aquele cheiro doce e tão característico, sem que percebesse abriu um pequeno sorriso verdadeiro. O primeiro em dezoito anos. Manga! E não estava tão longe, mesmo se estivesse seria um desvio muito bem vindo.
Pegou a criança pela mão e indicou o caminho a frente apontando em seguida para a barriga dela, um pequeno sorriso brotou no rostinho sujo. Com sorte aquela criança se esqueceria das atrocidades que passou. Aurora desejava isso intensamente.
Desta vez com mais calma, deixando seus músculos doloridos se esticarem ela segui o caminho que estava em sua mente.
As outras mulheres a olharam incrédula como se ela estivesse louca de ainda continuar em pé e andando, talvez ela realmente estivesse, mas o medo de parar era muito maior que suas dores.
Admirada com a natureza a sua volta ela ia nomeando cada uma das plantas que encontrava, cada um dos pássaros que lhe dava a alegria de ser visto e ouvido, sua mente reconhecia aquele canto.
Ao chegar ficou surpresa, a arvore era tão frondosa quanto ela havia imaginado, anos seriam necessários para ela chegar aquele porte, a quantidade de frutos maduros, crescendo e ainda por nascer. Era uma verdadeira obra divina.
A tanto havia se apegado em memorias que ao ver em sua frente era como um sonho, sonho o qual ela não gostaria de acordar nunca.
Os galhos estavam altos para que em um simples pulo ela pudesse alcançar, olhou para criança ao seu lado e apontou para as frutas no alto, a criança negou fervorosamente se agarrando as pernas dela.
Altura! Aurora se deu conta do quanto aquilo havia sido traumático para ela. Alguns frutos estavam abertos pelo chão com abelhas ao seu redor, elas poderiam comer aquelas sem nenhum problema, mas sua criança interior não queria aquilo, ela ansiava por aventura. Em uma breve avaliação ela reparou o quando suas companheiras estavam desgastadas.
Se desvencilhou da criança agarrada a ela e se afastou para pegar impulso, colocou toda sua energia naquela pequena corrida, quando chegou perto o suficiente bateu com o pé no tronco e com o impulso se jogou para cima agarrando o galho acima de sua cabeça.
A possibilidade de tentar usar seus poderes passou por sua cabeça, no entanto o receio que isso fizesse com que a arvore explodisse igual a ultima era ainda maior. Não valia o risco.
Içou seu corpo e quando envolveu um tornozelo no outro o protesto foi tão rápido quanto sua careta de dor, rapidamente se apoiou no tronco para que pudesse passar as duas pernas para um lado e assim subir, com um pouco de dificuldade se viu sentada no galho. Suspirou satisfeita consigo mesma.
Um passo de cada vez e isso já a deixava confortável, não sentia ninguém próximo a elas, sem duvida isso é uma imensa vitória, esperava que os outros estivessem tendo a mesma sorte que elas.
Colheu alguns frutos ao alcance e foi depositando dentro da camiseta dobrada deixando a barriga inexistente a mostra. Seu olhar vagueou para baixo e encontrou a criança a olhando cheia de expectativa. Segurou um fruto e mostrou a ela soltando logo em seguida.
Surpresa a criança pulou para trás, mas logo entendeu o que a mulher queria e se esforçou ao máximo para pegar sem deixar que caíssem no chão, uma pilha foi se formando aos seus pés, as mulheres aguardavam pacientemente, a criança olhou para elas e deduziu que talvez sua fome fosse igual, com um leve acenar ela apontou para o monte e então foi apanhar a outra sequencia de mangas que caiam.
As mulheres se sentaram ali e começaram a comer sem nem se preocupar se descascavam ou não o fruto, até mesmo se fosse apenas as cascas elas comeriam com imenso prazer.
O barulho dos pés de Aurora chamou a atenção delas, apenas um levantar de cabeça. Os machucados todos protestaram com o impacto, nem de longe seriam um impedimento ela se sentou ao lado da criança que a esperava e notou as outras mulheres comendo, o caldo escorrendo por seus braços.
Ao pegar e morder um dos frutos vermelhos sua vontade era fazer igual as demais, no entanto se controlou e puxou a casca, o sabor adocicado invadiu sua boca, aquilo era muito melhor do que ela se lembrava, ao terminar entregou o fruto descascado para a criança e pegou um para si.
Isabel nunca tinha visto aquilo em sua vida, seus olhos vigiavam cada movimento da mulher ao seu lado, quando pensou em reproduzi-los viu o fruto descascado em frente aos seus olhos, com cuidado apanhou e ficou analisando como deveria comer aquela coisa escorregadia, quando levou a boca se surpreendeu com o sabor.
Ambas entendiam o desespero das mulheres ao lado ao comer com tamanha gula, essas nem se importavam apenas queriam colocar o máximo de comida que pudesse em seus estômagos, não tinham ideia de quando seria agraciadas com uma nova refeição para se dar ao luxo de não aproveitar.
De estomago cheio Aurora deixou seu corpo exausto descansar apoiado ao tronco, sentiu quando a criança se aproximou sem se encostar de fato nela.
Isabel tinha medo que a mulher pudesse se afastar então não quis arriscar tamanha aproximação.
Embaladas pelos pássaros e pelo peso em seus estômagos as cinco adormeceram.
Seu sono não durou muito, mas foi o suficiente para que a energia voltasse, elas tinham de aproveitar a claridade para andar e encontrar esconderijo. Sem contar que Aurora poderia jurar ter ouvido um estalo diferente. Com certa pena de atrapalhar o sono tranquilo da criança a empurrou gentilmente, aquilo era preciso.
Os instintos de Isabel novamente agiram com o movimento e um rosnado saiu de seus lábios acordando a todas.
Pelo jeito esse seria o novo despertador delas.
A caminhada silenciosa acalmava os nervos da mulher a frente, a criança sempre ao seu lado. As mulheres iam logo atrás carregando tantas mangas quanto foi possível até mesmo Isabel fazia seu melhor para carregar uma quantia que lhe sustentasse pelo menos por mais uma refeição.
Quando o sol começou a abaixar todas olhavam em busca de onde se esconderem, sem muitas opção de camuflagem se amontoaram em qualquer lugar mesmo. Assim que o sol aparecesse elas se levantariam com ele de novo.
🐾
"O que foi que eu fiz de errado?" Seus olhos assustados buscavam por ajuda no rosto da mãe.
"Esse lugar é assustador, estou com muito medo." Ela queria poder dizer, mas sabia que não podia.
- Mamãe eu não quero mais ficar aqui! Eu vou me comportar, eu prometo! Vou ficar quietinha mamãe. Por favor! Me leva de volta? - a criança suplicava, seus olhos marejados imploravam por compreensão e acalento.
- Aqui é o melhor lugar pra você Grace! Você sabe disso. Já conversamos! - a mulher nem se quer olhava para ela.
"Esse não é o meu nome, porque me chama assim?" Em sua mente o furação de emoções e desespero quebrava tudo que encontrava.
A mulher se levanta e sem nem olhar para trás se afasta, indo embora.
"Por favor, não vai!" Ela queria gritar, mas seria inútil a mulher já não a ouvia, foi largada ali.
"Ela não me quer!" Sua mente concluiu tristemente.
🐾
Seu corpo se sentou em um supetão, a respiração alterada e lembranças dolorosas ainda passavam por sua mente, ela se recordava muito bem daquele dia e de como seu inferno em terra começou. O dia que nunca mais veria sua mãe e o dia de sua primeira surra.
As chibatadas que levou estavam marcadas em sua pele para sempre. O suor gelado escorria por seu corpo.
"É apenas um pesadelo!" Ela tentava se convencer disso, mas a sensação ainda estava em seu corpo, como se estivesse revivendo.
- Feliz um ano! - foi tudo o que escutou antes que o chicote a atingisse, carregado com toda força e ódio, a pancada queimou e ela sentiu suas costas sendo rasgada do ombro ao quadril, o grito de dor encheu a cela, sem nem tempo de administrar aquela dor outra veio e depois dela mais oito. Era inútil tentar se encolher só fazia com que doesse ainda mais. Quando a pancada em sua cabeça lhe tirou os sentidos sua mente finalmente pode se livrar da dor.
Seu corpo estremeceu em aversão. As imagens ainda rodopiavam a sua frente e a sensação de que algo ruim estava prestes a acontecer a dominou. As batidas frenéticas de seus coração a impediam de se focar e pensar com clareza. Com aquela sensação de perigo martelando junto de seu coração Aurora se levantou e acordou a Criança ao seu lado.
Rapidamente apanharam sua coisas e voltaram a andar. Era o segundo dia que estavam nessa jornada e mesmo que fosse alarme falso quanto mais elas andassem melhor.
Estranhamente nenhuma daquelas mulheres tentara falar, Isso perturbou Aurora, não que ela tivesse tentado dizer algo também.
Deixou sua mente vagar em sua infância para tentar acalmar seus nervos.
Lembrava perfeitamente de passar tanto tempo quanto podia perto das arvores, ali ela se sentia verdadeiramente em casa, podia acompanhar o movimento dos insetos, a mudança das estações, podia dançar com o vento assim como as arvores.
Ela entendi a função e importância de cada animal e inseto em seu imenso habitat, sempre que possível estava se informando dos mais diversos assuntos, qualquer livro surrado que encontrasse era lido, sua curiosidade não tinha limites.
Quanto mais aprendia mais se sentia conectada a natureza, era uma ligação simples e magnifica, ela amava a natureza e sentia que a mesma também a amava na mesma proporção.
Aos seis anos descobriu que podia sentir as arvores ao seu redor, isso se tornou sua brincadeira favorita. Com sete estabeleceu seu primeiro contato com a terra, enquanto corria com o vento soprando seus cabelos e vestido em meio a um rodopio perdeu o equilíbrio. Como em câmera lenta viu a terra se aproximar e a grama crescer para amparar sua queda, tão macia como se fosse um fofo abraço e então tudo voltou ao normal como se nada tivesse acontecido.
Felizmente ela estava sozinha nesse momento. Ela cogitou estar louca, no entanto era uma loucura tão boa que a fez aprender ainda mais sobre as particularidades dos elementos. Aos oito estava tão concentrada olhando as formigas trabalhando que de repente o chão vibrou sob seu corpo, ela pode ver o momento exato em que uma pequena bolinha de terra desceu o pequeno morro onde estava. Ficou maravilhada aos se dar conta do que tinha feito.
Somente no ano seguinte consegui reproduzir o ato e foi feliz da vida mostrar a mãe sua pequena façanha. "Apenas para no dia seguinte ser mandada para aquele lugar." Pensou com amargura.
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