*Bônus - Meados de 2135.

Anne.

"Corre!" Minha mente gritava.

"Mais rápido!"

"Pule!"

"Não esqueça o buraco que tem mais a frente."

E eu? Eu obedecia sem questionar.

Eles tinham me visto e estavam a caminho. Tenho de ser mais rápida.

Nosso mundo já não é mais o mesmo há muito tempo, ele esta totalmente destruído, resultando a árvores secas e um negrume sobre tudo o que ousava ficar de pé. Entro correndo em minha casa, estrategicamente construída para ser um labirinto e parecer abandonada como as outras que ainda estavam de pé.

Para qualquer desavisado que olhasse em uma patrulha era um casa "normal" entre os escombros, mas ali existiam muitas saletas escondidas.

Com certa habilidade retiro a tampa da parede entre a estante caída e o sofá rasgado, era uma portinhola pequena o suficiente para que meus ombros passassem.

A estrutura ali semelhante aos antigos dutos de passagem, porem menores e feitos em madeira e com uma grossa camada de barro para abafar qualquer som que fizesse.

Para que eu pudesse fechar com eficiência a portinha, os primeiros 60 cm eram mais largos me permitindo ficar sentada e envergada. Enfio-me ali, alinhando novamente a tampa. Ouço barulhos lá fora.

"Estão próximos."

Rastejando pelos corredores cheios de encruzilhadas e caminhos que levavam a lugar nenhum. Chego ao sótão. Lá de cima posso "ver" e ouvir tudo o que acontece.

O ambiente é cheio de coisas esparramadas pelas mesas e pelo chão, livros velhos e a maioria sem capa em uma estante com algumas prateleiras caídas. Uma televisão quebrada largada em um canto qualquer do chão, um sofá sem espuma com toda sua carcaça a mostra, um tapete desbotado e quase sem pelo ficava entre as duas mesas próximo à parede, uma ponta dele estava de baixo da televisão. Com muito trabalho consegui fazer e trazes tudo aquilo pra cá.

Escuto a porta principal ser arrombada, a movimentação na sala começa.

Mal sabiam eles que eu estava sobre suas cabeças.

Minha casa era revirada sem nenhum pudor. Não que eu tivesse muito cuidado pelo que havia aqui dentro, meus pertences de valor estavam escondidos e bem longe dali.

"Droga! Encontraram minha portinhola."

"Mas como?"

O sistema do meu relógio estava acusando a passagem não autorizada. Os vários mini sensores espalhados pela casa mandam informações diretamente ao meu relógio, me oferecendo informações em tempo real de tudo.

Puxo o tapete e deixo amostra uma "porta", relativamente maior que a que eles encontraram e que com muita sorte levaria até onde eu estava. Essa, no entanto seria impossível até encontra-la, ela acompanhava o desenho do chão, cheio de brechas estratégicas para que o som chegasse a mim, por lá eles terão muito trabalho, o que me faz ganhar tempo.

Esgueiro-me para dentro, segurando em uma barra lateral, com o pé direito em um leve relevo para que possa fechar a porta sem dificuldade. O tapete acompanhando o movimento sem deixar nenhum rastro de minha existência.

Assim que fecho me solto caindo em um escorrega com uma grossa camada de barro para que as pedras embaixo não me machuquem, ele me leva direto a um andar vazio. Eu poderia dizer ao porão, mais não sei se esse termo estaria correto ainda mais nos dias de hoje.

O local parecia mais com uma masmorra do que com um porão, as paredes úmidas dando ao local um cheiro de bolor, não duvidaria se musgos estivessem crescendo ali. Foi sorte encontrar esse local e conseguir deixa-lo como esta.

Pego um dos corredores de um total de 12, 3 por parede, o primeiro da direita para a esquerda da parede leste que leva a uma casinha em estado lastimável. "Não que essa seja diferente."

Cada um dos corredores havia ramificações, o que diferenciava são o tamanho das aberturas, cada um mapeado para que eu não me perdesse em minha própria confusão. "O próximo precisaria disso bem mais que eu."

Depois de meia hora de caminhada entre os tuneis posso ver a luz avermelhada do sol, este castigava do lado de fora em seu ápice, olho novamente para meu relógio, depois de tanto procurar em vão os Soldados do Reino de Guendel ou abreviando SORG estavam saindo para averiguar os arredores.

Suas roupas eram à base de alumínio com sistema de refrigeração, o prateado fazia com que o calor fosse refletido para longe, mas nem mesmo isso era o bastante para suportar aquele calor. E eu sabia disso porque consegui apanhar um que foi descartado e concerta-lo.

No momento eu estava de preto dos pés a cabeça, para me camuflar, isso era muito vantajoso a noite, porem sair a essa hora significada ser cozida viva.

Eles me encontraram quando retornava para casa, as sombras mesmo que mínimas ainda existiam, agora por outro lado terei de esperar. "Não posso correr mais riscos."

"Eles estavam longe" minha mente me dizia "Posso ter sido confundida com um animal, talvez" seria possível. "Não! Minha sorte não me garantia isso."

"Droga! Isso foi imprudente, mas eles nunca vêm tão longe, seus uniformes não aguentavam tal distancia." Talvez aquele que eu reformei sim, mas era arriscado usa-lo. Minha cabeça trabalhava como louca querendo respostas, quase podia ouvir o som de engrenagens a todo vapor.

Minha barriga começou a fazer barulho, tirei a mochila de pele de cervo das costas, com sorte ela me ajudou a passar por um animal. Vasculhei seu interior, tinha um pequeno cantil com água, pelo seu peso estava quase vazio talvez 1/3 da sua capacidade, algumas barras de cereal que eu mesma tinha feito, enroladas em um pano limpo, minhas facas improvisadas e o coelho que tinha capturado durante a noite.

Seria um longo dia, eu poderia voltar e pegar mais suprimentos que estavam escondidos, entretanto o risco que eu correria é demasiado grande, e não valeria a pena.

O dia se arrastou e a noite chegou deixando tudo em um grande negrume, os SORG provavelmente desistiram e foram embora há muito tempo, e eu continuava ali no mesmo local.

Com os sentidos aguçados começo a sair do buraco, era uma árvore frondosa, há anos atrás deveria ser dona de uma beleza incrível, hoje era apenas uma casca morta como todas as outras.

Começo a andar em direção ao casebre destruído pelo tempo, a varanda da entrada não existia mais, as tábuas faltando no piso e alguns destroços atrapalhavam a entrada, o teto estava parcialmente caído. As janelas de vidros quebrados davam vista para o que outrora poderia ser um jardim. Minha mente desenhava absolutamente tudo, era como se eu realmente pudesse enxergar tudo que estava ali mesmo naquela escuridão toda.

Havia esculturas quebradas por toda parte, apenas umas duas ou três desafiavam e continuavam inteiras e de pé, eu sou como uma dessas esculturas. Desafiava tudo ao me manter viva e lutando.

Dei a volta e entrei pelos fundos, um sino ao lado da porta balançou levemente, agora só servia de casco para meus sensores, nada mais tinha a sua função original, tudo ou quase tudo foi modificado, em sua maioria para matar.

Ali dentro posso ver minhas ervas "boas" penduradas para secar. Sentir seu aroma na verdade. Ervas para proteção, ervas para cura, ervas que me mantinham lucida em toda essa loucura em que fui criada e vivia.

No meio da mata morta há um forno e próximos a ele moldes onde coloco as ervas de proteção e forjo bonecos de barro que me ajudam com a entrega de suprimentos e me protegem daqueles que me caçam, os SORG. "Eu sou uma renegada, faço parte da resistência."

"Foi assim que nasci e será assim que morrerei." Infelizmente esse fim está próximo, o ar é pesado demais, poluído de mais, meus pulmões não aguentam mais tanto esforço.

Deito-me ali sob minhas ervas e espero meu fim chegar, meu povo estará a salvo, quando o próximo desbravador chegar, tudo o que fiz terá seu propósito. Meus bonecos de barro irão lhe ensinar tudo o que eu sei, meus equipamentos facilitarão sua vida.

Fico feliz pelo meu povo, mesmo não os vendo há 10 anos eu os alimentei nesse tempo. Fico feliz de saber que fui à exceção, acabei poupando varias vidas com isso.

Sinto meu fim próximo, quando eu já estiver partido meus bonecos me enterrarão para meu descanso final e assim irão ao encontro do seu novo mestre.

🍁

Anton.

Lá longe meus olhos não queriam acreditar no que viam. Diferente dos outros dias o boneco não trouxe comida e sim o corpo de nossa renegada provedora. Um misto de emoções corria pelo meu corpo e meu coração se apertava. A final hoje é um dia de reencontro, um triste mais ainda sim reencontro.

Hoje enterraríamos em uma celebração alegre, repleta de cantigas e historias o corpo de nossa salvadora, ao menos da minha parte seria assim.

"Vão escolher o próximo renegado provedor dentro de poucos dias." Aqueles entre 15 e 21 anos serão separados e testados. Os com mais passavam a ser responsáveis em aumentar nossa população, cuidar da lavoura, ensinar, treinar, e todas as outras atividades.

A vida de todos sendo decidida por quem nem ao menos se importava com o que aconteceria, isso me coroe. Não poder decidir por mim o que posso ou não fazer, ter de seguir o que os mais velhos nos impõem.

"Com meus 22 anos não posso fazer nada sem ser julgado, se bem que o tratamento diferente é só para a minha família."

Afastei aqueles pensamentos da cabeça.

Olhei ao redor a grande maioria ainda eram jovens entre 5 e 12 anos, poucos adultos de 22 a 27, mais raro ainda os com 30 e poucos, o esforço diário tornava difícil chegar aos 40 e aqueles que conseguiam, morriam logo em seguida.

Tomei frente a todos, ali era minha irmã, parte da minha família, um pedaço de mim. Comecei a cantar sua cantiga preferida alegre e harmoniosa. Fazendo minha homenagem a ela e agradecendo por todo esforço que ela teve para tornar a nossa vida mais fácil, agradecendo por todos esses anos que ela cuidou de nós a distância.

"Anne descansa em paz nos braços do grande criador agora. Isso é o que me conforta."

- Saudemos Anne! - disse levantando meu punho - Aquela que nos deu alimento por tantos anos e que foi a única a retornar para nós, mesmo que sem vida, sua determinação sempre nos levou pelo caminho certo e o seu amor por todos nós nos manteve vivos. - alguns poucos ali presente repetiram o meu gesto.

Gritei a plenos pulmões liberando parte da minha dor.

Peguei a pá mais próxima que estava jogada no chão e me dirigi à árvore que ela tanto amava. Sob sua sombra comecei a cavar, logo apareceu mais um ou dois para me ajudar, o esforço e os movimentos repetitivos me impedia de pensar.

Quando a cova estava em um tamanho satisfatório, retirei o corpo imóvel de minha irmã daquele boneco de barro. Sempre temi esse momento, o momento que ela não estaria mais aqui, o momento que meus medos seriam reais.

- Como eu ti amo! - a apertei em meus braços. - Vou continuar cuidando dele pra você, assim como você cuidou de mim, não precisa se preocupar, vamos ficar bem. - a deitei ali de maneira confortável, até parecia que dormia um sono sereno.

Fui jogando a terra por cima, uma apos a outra, o monte diminuía e meu coração se quebrava.

- Tio! Porque eles morrem tão cedo? - não tinha me dado conta da sua presença ali.

- Porque o clima e o ar lá fora são muito mais agressivos do que aqui dentro.

- Como conseguiram isso?

- Isso foi obra da sua mãe. Ela era muito inteligente! - para mim era difícil aceitar, imagino para ele que nem pôde a conhecer direito. - Você herdou isso dela. - envolvi meu braço em seus ombros - Pegue uma pá e me ajude aqui.

Assim que acabamos olhei ao redor e encontrei onde estava o boneco somente um monte de terra e um relógio por cima. Me assustei. Ele havia se desintegrado?

- Quando isso aconteceu?

- Assim que o senhor a tirou de seus braços. - me respondeu.

Fui até lá e apanhei o relógio. Passei a mão por aquele monte de terra, todos já tinham voltado para suas atividades sem perceber a ausência do boneco. Ninguém nunca chegou perto e eu jurava que era um robô, se tem alguém que poderia fazer isso era Anne.

Uma algazarra começou, dava para ouvir de onde estávamos. Olhei para Ethan e comecei a correr em direção ao som, vi os jovens correndo e os mais velhos sacando suas armas improvisadas. O que encontrasse pela frente poderia ser usado. Aumentei minha velocidade indo naquela direção. Eu tinha que ajudar a defender meu povo, apesar de tudo eu também morava ali. Todos estavam parados em posição de guerra, me enfiei entre eles para ver o que acontecia.

Um grupo de pessoas distintas, desnutridas e machucadas estava a minha frente, seus olhos espantados, mas eu via determinação ali, qualquer movimento eles atacariam, mas não foi isso o que me surpreendeu e sim a figura que parecia ser a líder daquele grupo. Deve ser por isso que todos estavam parados, estavam surpresos.

- Anne! - sussurrei - Não pode ser!

Eu havia acabado de enterra-la, dei um passo à frente e somente assim notei a diferença dos traços, ela era mais alta, seus cabelos negros, Anne tinha uma coloração levemente mais claros, mas aquele verde de seus olhos somente duas pessoas que eu conheço os tem, e uma delas acaba de ser enterrada. A outra está a alguns metros daqui.

"Como isso é possível?" Dei mais um passo, ela se posicionou a frente de todos e adotou uma posição de ataque.

Levante minhas mãos deixando que minha pá caísse.

- Sou amigo! - disse alto o suficiente para que me ouvisse. - Não quero machuca-los.

Pude sentir um leve tremor da terra, aquilo me assustou, há anos esse mal não nos assombrava, virei rapidamente e gritei.

- ETHAN! - ele não estava preparado para isso - TERREMOTO! - anunciei a todos.

Mas antes de me mexer Ethan apareceu com uma determinação em seus olhos, seus dentes a mostra em uma careta feroz, nunca o vi assim e essa visão me deixou paralisado.

Todos começaram a se dispersar para se protegerem, ninguém notava aquilo.

O tremor aumentou e todos se esconderam. Todos menos nós.

Ethan bateu seu pé no chão adotando uma posição mais firme e fechou seus punhos ao mesmo tempo e o tremor sessou.

- Mas, o que... - eu não compreendia o que estava acontecendo ali diante de meus olhos.

A mulher pareceu relaxar, e logo um sorriso tímido se formou em seus lábios.

- Sinto muito! - disse ela. - Não era nossa intenção. - com o tremeluzir do ar eles sumiram.

Aos poucos me lembrei de coisas diferentes que aconteciam quando eu era criança, Anne era diferente e escondia de todos, Ethan é igual a ela!

- Não mostre isso a ninguém. - disse a ele. - Ninguém! Vamos antes que os outros cheguem.

Coloquei meu braço sobre seus ombros. Não podia deixar que fizessem com ele o que fizeram com ela quando descobrirem.

- Teremos um longo caminho para controlar isso. - disse a ele - Porem estarei sempre ao seu lado, você é minha família. - olhei em seus olhos - Ninguém fica para trás e ninguém o fara mal enquanto eu viver!

Ele apenas sorriu para mim.

Será uma tarefa árdua, porem bem sucedida! Isso seria uma dadiva ao nosso povo. Assim como a Anne ajudou muito, Ethan continuaria o seu legado e eu o auxiliarei de todas as possíveis formas. Mas ainda assim mantendo isso escondido.

Sobreviveremos a esse mundo despedaçado e levaremos conosco tantos quanto pudermos.

- Acho que terei de priorizar algumas coisas. - falei olhando para ele, não sabia distinguir o que passava pela cabeça dele. - Seus dias se tornaram mais complicados meu sobrinho.

- Por quê? - sua cabeça estava baixa.

Agachei a sua frente e o olhei minuciosamente.

- O que você fez hoje foi muito corajoso, mas acredito que você não controla e isso pode se tornar muito perigoso. - peguei em seu queixo e levantei para que ele me olhasse enquanto falava. - Você é tudo o que eu tenho de mais precioso! Minha mãe morreu quando eu nasci e meu pai quatro anos depois. Sua mãe desde que eu nasci já cuidava de mim, nosso pai estava muito mal e quando se foi, Anne com nove anos passou a ser a minha referencia de tudo, ainda mais do que já era.

- Ela era forte? - sua curiosidade me fez sorrir.

- Muito forte! Quando eu nasci ela já trabalhava com o que ela aguentasse fazer e carregar, muitas vezes eu ia junto dela e ficava só olhando, como ali - apontei nossa pequena lavoura de batatas. - você já deve ter visto algumas criancinhas ali sentadas brincando enquanto suas mães trabalham.

- Já sim! - ele olhava como se imaginasse a cena a sua frente.

- Anne sempre deu tudo o que podia. Vezes e vezes ela dormia sentada no tapete onde comíamos porque não conseguia chegar ao nosso coxão, e eu para não a deixar ali ou ficar sozinho dormia ali mesmo ao lado dela e sempre sem exceção acordava no coxão, porque ela me levava para lá e ia arrumar alguma coisa para comermos.

- Arrumar?

- Sim! Hoje nos ajudamos mais, antes de você nascer era diferente, cada um tinha de fazer sua própria comida, hoje fazemos rodízios de tarefas, mas na época ela tinha de preparar algo para mim e eu tenho certeza que ela deixava de comer para que eu tivesse mais uma ou outra refeição. - aquelas lembranças me mostrava o quão forte minha irmã era. - Quando eu passei a entender melhor eu a ajudava com o pouco que eu conseguia e o sorriso que ela me dava sempre que me via, todos os dias aquele sorriso. - sorri ao me lembrar - Aquele sorriso me mostrava o quanto ela me amava e que ela não se arrependia de nada.

- Ela sorria porque você a ajudava? - ele parecia em duvida.

- Não! Ela sorria porque me amava e queria demostrar isso, mesmo quando ela estava mal, o sorriso dela pra mim era sempre o mais puro. - passei a mão em seus cabelos - Muitas vezes eu apenas a atrapalhava achando que estava ajudando, quando eu ia dormir ela arrumava tudo e no outro dia eu estava lá tentando de novo.

- E eu? - sentei no chão em frente à cova, na sombra da árvore e o puxei comigo.

- Ela cantava pra você todas as noites assim como fazia comigo. Ela tinha um pano que enrolava você envolta dela e você ai para todo lugar ali, sempre ao lado dela, somente eu podia te pegar de lá! - lembrava muito bem do olhar feroz que ela lançava aos outros quando se aproximavam.

- Por quê?

- Ela nunca me contou detalhes, eu era muito novo. - olhei para ele - Hoje posso ver o porquê disso, os tempos eram diferentes, um dia você vai entender o que eu vou te dizer. Você não foi concebido de uma forma comum, eu diria de uma forma brutal que não vem ao caso. Mas ela te amava com todas as forças dela.

Pensar naquilo me doía na alma.

- Ela dizia ter sido fraca e que seria mais forte, por você e por mim, e ela foi! Ninguém chegava perto de nenhum de nós. Quando você completou oito meses ela foi chamada, seu coração ficou em frangalhos por ter que nos deixar. - ele tinha muito dela. - Mas ela sabia que eu cuidaria de você com a minha vida.

Deixei minha mente vagar por um tempo nas lembranças dos dias que passei com ela.

- Tio Anton?

- Sim? - olhei para ele.

- Meu pai era mal? - ele fitava as mãos.

- Sim, infelizmente. - eu não pude protegê-la, isso vai me consumir para sempre. Mas isso nos trouxe o Ethan, um doce e lindo bebê.

- Porque a mamãe não pode ficar com a gente?

- Porque na época não acreditavam muito na sua mãe e ela ser diferente contribuiu com isso, eu tenho certeza que foi armado para que ela fosse à escolhida. - suspirei - Quero ti mostrar uma coisa.

Me levantei e comecei a andar.

- Eu demorei perceber que sua mão era diferente, e de qualquer forma não contei que eu sabia nem para ela e nem para os outros, eu sabia do risco que correríamos, e se ela estivesse bem com isso ela me contaria. - ele me seguia quieto - Sua mãe tinha uma inteligência brilhante, ela fazia isso que você faz com a terra. Antes aqui tinha uma enorme abertura. - apontei lá na frente. - Esse paredão era todo aberto você até poderia ver as pedras, mas essa trepadeira tomou conta de tudo. Você pode achar estranho eu a ter enterrado aqui longe de tudo e todos. - suspirei - Esse lugar foi onde ela passou boa parte do seu tempo de descanso e eu vinha junto.

Eu a via treinando de longe, e ficava impressionado com a forca de vontade dela.

- Me lembro de ver esse paredão sempre fechando mais e mais, só que como eu era apenas uma criança eu não percebi essa grande proporção, isso diminuiu a entrada de poluentes pra cá e essas arvores e plantas aqui ajudam a purificar o nosso ar.

- E as aberturas tio?

- Elas são para que entre sol aqui dentro pra que as coisas cresçam e floresçam, foram moldadas pra ficarem assim, algumas foi a Anne que fez sem que ninguém visse. Essas plantas são tudo coisa dela.

Vivíamos em uma caverna muito escura antes, Anne deu um jeito de mudar tudo ela sempre dava.

- E nada melhor que aqui para você treinar. - olhei para ele - Agora me mostre do que é capaz.

Ethan fechou os olhos e a terra lentamente começou a tremer de uma maneira suave e uma pequena nuvem de poeira se levantou do chão para girar em torno dele, foram alguns segundos e logo tudo parou.

- Você precisa se concentrar. - olhei para ele - Senta e sinta a terra, se você a escutar antes de eu voltar, vá me procurar se não fique aqui até eu voltar.

Ele precisa de tempo pra limpar a mente e se concentrar, Anne ficaria orgulhosa do nosso pequeno, ela saberia o que fazer.

"Estou perdido!"

Olhei minhas mãos calejadas, terei de mudar meus meios. Como treinar o desconhecido?

"Me guie Anne. Agora vou precisar de você ainda mais, não quero falhar com o Ethan."









Oieeeee❤️❤️
Um pouquinho do início de tudo. Espero que tenham gostado 🥰
Os capítulos bônus vão ser sempre no passado tá!

A narração do início pode ser um pouco confusa, mas levem em conta que a Anne passou 10 anos sozinha, sem nenhum contato ou conversa, então digamos que a mente dela pode ser meio confusa. Mas assim é bom que dá pra ter uma ideia das coisas que mudaram.

Um forte abraço de urso, fiquem bem ❤️
ʕっ•ᴥ•ʔっ

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