The other option
O som da TV estava alto e a família se espremia no sofá pequeno. O mais velho estava entre as suas filhas e tinha que segurar o sorriso vez ou outra para não se sentir um homem muito bobo. Estava confortável e quente debaixo das cobertas, o filme de comédia besteirol e a pipoca tornavam aquele momento mais íntimo e memorável. Suzan quis ficar ali para sempre, mas logo eles sairiam para a reserva. A janta seria casual na casa dos Black como sempre foi, mas agora, Suzan e Bella conheceriam oficialmente quem eram os homens além daqueles lobos enormes. Ela estava ansiosa, claro. Estava prestes a ver mais uma faceta do sobrenatural e tinha certeza que seria no mínimo interessante.
Os avanços são bons com relação ao acordo de paz entre os lobos e os vampiros considerando que ninguém arrancou o pedaço de ninguém ainda, o que preocupa é que eles não têm previsão do retorno de Victória. A vampira parece ter muitas coisas para resolver além de simplesmente atacá-los de uma vez e acabar com o suspense. Isso é estressante, mas todos estão perfeitamente confiantes de que podem acabar com aquilo no momento que Victoria pôr os pés em suas terras.
Mais dias se passaram, então um mês veio e foi embora sem que eles sequer vissem a sombra dela — não que isso fosse incômodo ao todo. Novembro havia começado com uma faísca mínima de esperança, ainda que esta viesse com receio. Eles não tem certeza do que esperar já que Alice alega não conseguir ver os planejamentos de Victoria. Edward teme que a mulher aprendeu com James e está usando dos pontos cegos da vidente para se locomover contra eles, mas com uma vigilância constante, eles apenas reafirmam que ela não aparece em Forks há um bom tempo. O cheiro dela abandonou a terra, restando apenas a maresia. Emmett era o único que via aquilo como um bom sinal. Às vezes, ele é otimista demais.
O rapaz não tem cabeça para viver se preocupando e tenta escapar da realidade com Suzan para relaxar. Embora tivesse progredido muito na forma como luta e crescido um pouco mais em questão de maturidade, ele ainda queria agir como um garoto. Não queria se separar de quem era por completo, como se um meio termo não existisse nessa conta.
Em saídas noturnas, ele a levava para seu lugar na clareira e eles dançavam e tinham conversas frívolas sobre o futuro, coisas que queriam fazer, mas não fariam por pura preguiça. Eles se conhecem, sabem que não vão ler tantos livros até o final do ano, nem viajarão para todos os lugares exóticos ao redor do mundo nos dias de folga dela.
Quando estavam um com o outro, parecia surreal a forma como se entendiam. Se sintonizavam cada dia mais e Emmett zombava que logo, logo nem precisariam mais falar, pois já estariam dividindo o mesmo neurônio. Não importa se falta assunto, quando não falam, eles dançam, e quando não dançam, jogam. Emmett é terrível quando ganha, o que é frequente já que ele usa dos seus poderes vampirescos. Suzan queria o estrangular por isso.
As horas passavam mais rápido quando ficavam sozinhos, como se o universo tivesse se cansado de ouvir tanto suas risadas repetidas. Ficavam em paz um com o outro e os problemas eram esquecidos, simples como um estalar de dedos. Como poderia ser real? Definir como um sonho seria muito mais cabível.
— Acha que será apaixonado por mim dessa mesma forma para sempre, querido?— ela perguntou em uma de suas muitas danças lentas, ambos muito bem vestidos contra o frio mesmo que só ela o sentisse. Elvis Presley cantava no Mp3 largado sobre o cobertor no porta-malas do jeep de Emmett. O vampiro a balançava e esboçou um sorriso divertido.
— Não sei. Sou do tipo que tem que ver para crer. Mas assim, acho que não vou enjoar de você pelo próximo mês não...— ele debocha e ela faz uma careta engraçada de quem diz: não-era-essa-resposta-que-eu-queria.
— É difícil gostar de você, Mett— bufou.
— Minha querida, se não fosse por mim e meu espetacular senso de humor, você estaria morrendo de tédio nesse exato momento.— ele se gabou e ela revirou os olhos.
— Menos, Emmett. Bem menos.
— Exagerei no narcisismo?
— Você acha?— Suzan tentou segurar a risada e o abraçou. Ele erra com as palavras, se embola muitas vezes em situações complicadas, mas está sempre aprendendo. Emmett é uma constante revolução.
— Desculpa.— ele fez beicinho. Não respondeu a pergunta dela pois sabia que ela sabia a resposta. Eles deixaram o assunto de lado.
E, quando não estavam juntos, ela se ocupava com o trabalho e ele, com a patrulha canina — assim nomeou os lobos. A vigilância virou rotina, a fronteira continuava mantendo uma divisa, mas ainda facilitava o contato com os lobos para os chamar (sempre que todos estavam livres) para treinarem.
Os vampiros se surpreenderam ao ver que os lobos também pegam as coisas rapidamente. Mais ainda em descobrir que eles podem compartilhar o pensamento, facilitando sua comunicação. Edward já sabia disso do primeiro encontro, mas estava mais preocupado com Victoria do que em passar a informação para a sua família. Eles estavam se tolerando, mas as irmãs Swan não participavam das reuniões onde as espécies se conheciam já que ainda tinham que ir pra escola, pro trabalho, ainda tinham que arranjar um tempo em sua agenda para seu pai e tinham que descansar. A vida está agitada.
Suzan acordava, ia trabalhar, passava um tempo com Emmett checando diariamente algum avanço com os lobos e só recebendo boas notícias, passava um tempo com sua família e... puf! Passaram-se horas. Ela tinha que ir para cama por conta de seus bocejos, e Emmett, às vezes, a fazia companhia. Às vezes, a deixava com uns hematomas porque eles viam que ela não estava com tanto sono assim. Eles não iam muito além das preliminares e, até o momento, mais do que bastava para Emmett ver Suzan revirando os olhos de prazer por conta de seus dedos estarem tocando o ponto certo.
Ela é meio barulhenta. Edward não suporta ficar perto de Emmett ainda mais do que antes... Céus, coisas demais aconteceram em apenas um mês.
— Su, acorda.— a humana sente um toque firme em seu ombro e seu corpo balança para frente e para trás. Ela abre os olhos no susto, e encara seu pai— Vamos, está na hora, ou você quer ficar em casa? Se estiver cansada demais...
— Não. Eu tô bem.— Suzan se levantou e limpou o canto dos lábios. Dormiu no meio do filme, parecia que estava sonhando com os lobos haviam horas.
Voltando um pouco a fita, eles tinham um encontro, ela pegou um energético na geladeira e se preparou.
O fim da tarde trazia uma brisa fresca para abraçá-la, Suzan segurou a mão de Bella, que mancava ao se dirigirem ao carro patrulha de Charlie e em poucos minutos a família estava a caminho de La Push. Agora a poucos minutos de sua terceira família.
Suzan se sentou no banco de trás e encostou a testa no vidro do carro. Talvez sua rotina esteja a desgastando um pouquinho. Querendo ou não, ela é apenas humana. O cochilo não é inesperado. Tem que aproveitar cada hora.
— Chegamos.— e ela acordou com uma parada abrupta. Suzan sacudiu a cabeça tentando espantar a fadiga.
— Eu só pisquei!— reclamou, descendo do carro.
— Pai, acha que Billy se incomodaria se Suzan dormisse no sofá?— Bella perguntou enquanto seu pai ia lhe oferecer ajuda para andar.
— Mas é claro que não.— Charlie balançou a cabeça e os dois olharam preocupados para a ruiva.— Vá se deitar, querida. Ninguém aqui vai te julgar.— Suzan encolheu os ombros e fez careta.
— Eu estou bem. Não se preocupem.
— Suzan.— Charlie chamou em tom autoritário e a lançou um olhar severo— Vá dormir. Quero te ver bem descansada.
— Está tudo bem, pai— ela teimou.
— Não seja teimosa, Su— Bella disse, esticando a mão para a mais velha que a aceitou com relutância. Elas entrelaçaram as mãos e Suzan bocejou.
— Eu não posso dormir.— reclamou a ruiva— Você sabe porquê.— sussurrou para sua irmã que apenas lhe ofereceu um sorriso.
— Deixa que eu tomo conta disso. Agora você irá descansar.
━━━━━━━ • ━━━━━━━
Após muitos empurrões e insistência de todos, Suzan cedeu para ir dormir no quarto de Jacob enquanto todos aproveitavam de um churrasco saboroso e boa companhia.
Sua mente veio regada de sonhos, Suzan dormia e se remexia na cama. Os sonhos talvez não fossem bons, mas não havia coerência, ela apenas sentia medo.
Estava escuro demais do lado de fora quando ela abriu os olhos puxando o ar com força como se tivessem lhe sufocado com o travesseiro. Suzan se sentou abruptamente e pôde sentir seu corpo se arrepiar de cima a baixo. Ela tentou se agarrar àquilo que a assustou, mas a memória já havia escapado. Frustrada, Suzan esfregou o rosto e tentou dispersar o cansaço. Ela abraçou as próprias pernas e controlou a respiração encarando fixamente um canto qualquer.
Estava com um pressentimento ruim deixando um gosto amargo nos lábios.
Não tinha o que fazer se não deixar aquilo passar. Está apenas estressada com tudo e confia que isso vai passar logo. Uma vez que desliza para fora da cama e a sensação não vai embora, Suzan fica pessimista.
A luz acesa da cozinha cegou a garota e ela franziu a testa querendo se esconder no escuro. Exatamente como uma vampira, pensou com ironia e acabou sorrindo. Quando seus olhos se adaptam à claridade, Suzan identifica Billy Black e sua irmã naquela cozinha diminuta. Os dois conversavam na presença de um outro rapaz que ela não reconheceu e pararam para a encarar enquanto ela se aproximava.
Ela se lembrou do que tinha ido fazer ali.
— Oi.— ela sorriu para Billy e foi para o lado de Bella, encostando-se também na bancada. Seus olhos se focaram no rapaz à sua frente, a pele parda, os olhos escuros e a máscara rígida. Suzan se sentiu intimidada e não o encarou de volta.
— Descansou?— Bella quer saber.
— Sim. Obrigada por ter me cedido o quarto de Jake, por sinal.— ela falou diretamente com Billy, tentava ignorar o olhar penetrante do rapaz ao lado do homem, mas era difícil. Ela se obrigou a encará-lo de volta.
— Pode usar sempre que quiser.— disse Billy e eles se calaram. Mergulharam de cabeça em um silêncio desconfortável.
— Olá?— Suzan cruzou os braços, irritando-se pela forma como era observado, como um bichinho sob uma lupa. O rapaz sério a mediu de cima a baixo e refletiu seu movimento de cruzar os braços.
— Su, este é o Paul.— Bella apresentou já que Billy não parecia inclinado a fazê-lo.— Um dos lobos que conhecemos.
— Não se incomode com Paul— Billy disse, tocando o braço do rapaz— Ele não gosta muito de falar com estranhos.
— Hm...— Suzan mediu o rapaz de cima a baixo e ele apenas rolou os olhos. Estava ali apenas para fazer companhia a Billy e, se fosse preciso, protegê-lo. Estava morrendo de tédio— Tá bem. Então, do que falavam?
— Coisas que não deveriam ser da conta de vocês.— Paul disse, acabando por contrariar o que Billy acabou de dizer sobre ele. Sua voz era grave e alta. Quase que poderosa.
— Mas agora são, não?— Suzan respondeu, incomodada com a forma que aquele rapaz agia. Ele não parecia ser muito mais velho do que ela, embora sua altura tentasse lhe passar outra imagem.
— Que idiotice.— resmungou Paul. A cozinha era pequena demais para os quatro e o rapaz era quase do tamanho de Emmett, ou seja, quando passou pelo pequeno espaço disponível, praticamente chutou os pés das Swan, indignando-as. Suzan o seguiu com o olhar, carrancuda, até que ele saísse batendo a porta e olhou para Billy como se esperasse que o mais velho fizesse algo. Billy apenas balançou a cabeça.
— Falávamos sobre a reunião em volta da fogueira.— Black continuou— Um dia no qual nos encontramos para contar as lendas sobre a tribo. Quero que apareçam um dia desses.
— Bem, se condizem com a realidade, talvez não devesse chamá-las de "lendas" mais.— Bella comentou, Billy não pôde conter o sorriso.
— Ainda estou me acostumando.— admitiu. Suzan cerrou os olhos e inclinou a cabeça para o lado.
— Como assim se acostumando? Os lobisomens não viveram sempre aqui?
— Não sempre. Houve uma época que eles se foram, todos eles.
— Como?— Suzan ficou cada vez mais curiosa.
— Tem uma coisa no nosso sangue, Su. Da maioria aqui da reserva. O gene do lobo não se ativa, a menos que haja necessidade.
Ele deixou o silêncio se seguir, criando um clima de suspense.
— Nós só viramos lobos quando nossos inimigos naturais estão por perto.— concluiu e as irmãs se entreolharam sem saber se aquilo era a acusação que parecia.
— Está dizendo... está dizendo que é por causa dos Cullen que vocês se transformam?
— Exatamente. Então nos perdoem se nós demonstramos muita raiva ou desprezo por aquelas coisas que vocês tem tanto apreço, mas...— ele respirou fundo e balançou a cabeça— Nem todos gostam de ser arrancados de uma vida normal.
Suzan baixou a cabeça. Ela não tem culpa disso, ela sabe, mas o sentimento veio do mesmo jeito. Foi como se Billy tivesse lhe falado que ela está feliz demais com algo que os rapazes da reserva desejariam nunca ter se envolvido.
Também não foi escolha dela.
— Eu sinto muito por eles.— Bella foi quem falou.
— Eles também.— Billy fez careta e forçou um sorriso como se estivesse cansado daquele assunto.
Em silêncio, Suzan determinou que nunca mais pediria ajuda aos lobos nem a ninguém. Ela não quer que ninguém sofra para ficar salvando ela. É a primeira vez que ela pensa na outra opção que tem.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top