So silly
Suzan estava passando mais um pouco de gloss de melancia nos lábios rosados fazendo-os brilhar quando a campainha tocou atraindo seu olhar para a porta fechada do banheiro. Ela arregalou os olhos para seu reflexo e se apressou em sair correndo. Infelizmente, não foi rápida o suficiente, e quando chegou na metade das escadas viu seu pai na porta, frente a frente com Emmett Cullen. O moreno — tecnicamente — mais novo, foi o primeiro a notar a aproximação estabanada da ruiva e ergueu o olhar de uma forma que fez com que o coração dela se acelerasse e o ar escapasse de seus pulmões. Ele vestia um casaco azul escuro de poliéster, uma camiseta branca por debaixo deste e calça jeans preta e tênis all star brancos com listras pretas. Suzan Heloise vestia tênis pretos, calça jeans num tom claro de azul, uma regata branca com um belo decote, jaqueta de couro preta justa e aberta. Seus cabelos estavam soltos caindo sobre os ombros, e de longe Emmett sente o perfume de chocolate dela.
Por uns segundos, o casal se esquece do "empecilho" entre eles, admirados um com o outro. Charlie se volta para a filha mais velha que pisca rapidamente e abre um sorriso envergonhado.
— Então...
— Outro Cullen?— Charlie pergunta sem esconder o desconforto. Não teve muito tempo para questionar a Emmett antes da sua filha chegar, ou mesmo se lembrar do nome dele. Suzan termina de descer as escadas e vai para o lado de seu pai com cautela. Nota que Emmett está com uma mão escondida nas costas, mas não dá muita atenção para isso.
— Eu ia te falar, pai— ela explica, nervosa— A gente só vai dar uma volta.
— Não podia fazer isso comigo ou com a Alice?— o pai pergunta, enciumado.
— Pai— Suzan fala em tom de censura e o olha torto. Charlie franze a testa e olha com desconfiança para o rapaz um tanto quanto mais alto que ele.
— Qual seu nome, garoto?
— Eu sou o Emmett, senhor— o moreno fala com um sorriso gentil, mas algo em seu rosto impede que cada sorriso que ele dê não pareça ao menos um pouco travesso. Charlie respira fundo e olha para cima, sabe que sua filha já tem idade para saber onde está se metendo, e considerando que não consegue controlar a mais nova, como faria isso com a mais velha?
— Se precisar de ajuda, me chame— ele fala de maneira indiscreta. Podia respeitar incondicionalmente o senhor Carlisle Cullen, mas não conseguia ir com a cara de seus filhos desde o acidente de Bella. Este caso aparentemente lhe daria dor de cabeça, mas ele sabia que se fizesse mal a Suzan, ela mesma se afastaria, ela tinha o senso de não ficar perto do que a machuca.
— Obrigada, pai— Suzan segura o ombro do mesmo e faz uma sutil pressão para baixo para que ele se curve e ela possa beijar sua bochecha.— Prometo voltar logo.
— Certo, certo— ele lança mais um olhar ameaçador na direção de Emmett que acena com a cabeça segurando o sorriso para não parecer debochado e dá um passo para o lado para que Suzan saia.— Onde vocês vão?— ele pergunta. Emmett e Suzan se entreolham e ela levanta uma sobrancelha, interrogativa. Emmett dá um sorriso ladino e se inclina para o xerife, lhe segredando a surpresa que faria para Suzan. Obviamente, o lugar não agradou muito o pai, deixando Suzan ainda mais curiosa.— Tome cuidado com o que faz, rapaz.— alertou.
— Eu vou...
— Não me diga que vai cuidar dela.— Charlie interrompe Emmett rispidamente. Passou a odiar qualquer um que insinuasse isso. Como qualquer pai, acredita fielmente que ninguém jamais cuidaria das suas filhas melhor do que ele mesmo, mas se agisse contra a vontade delas, imaginava que elas se voltariam contra ele. O melhor é estar ciente do que se passa e deixar que elas aprendam suas lições sozinhas. Bem... mais ou menos ciente.
— Está bem— Emmett balança a cabeça— Vou trazer ela para casa inteira— ele diz.
— Isso é o mínimo— Charlie resmunga e Suzan fica ansiosa para sair dali o quanto antes.
— Vamos?— ela pergunta apontando para a rua. Está escuro e ela tem pouca visibilidade do jeep cinza de Emmett na frente da entrada da garagem.
— Sim, sim. Até, senhor Swan— Emmett vai embora na frente. Suzan arregala os olhos para o pai em censura por tamanha falta de hospitalidade já que Emmett nunca lhe fizera nada e vai logo atrás do Cullen. Andando com um pequeno espaço de centímetros e mantendo suas mãos sem se tocar, Emmett lhe exibe uma rosa vermelha antes que Suzan peça desculpas pelo comportamento do xerife.— Pra você— ele diz com um sorriso charmoso. A luminosidade é pouca sobre eles, vinda da lâmpada acesa da varanda da casa dos Swan e o casal para de andar. Charlie fecha a porta mas vai espiar pela janela ignorando a censura de sua filha mais nova que estava sentada lendo no sofá esse tempo todo sem dar um pio.
— Hã, obrigada!— Suzan diz, ficando subitamente tímida por estar finalmente a sós com ele— Mas eu... sou alérgica a flores.
— Ainda bem que essa é falsa, então— ele levanta a sobrancelha e a estende mais uma vez, Suzan pega a rosa e sorri sentindo o plástico um tanto rijo na ponta dos dedos.— Imaginei que fosse gostar de algo que não morresse nunca.
Ela o olha com doçura e Emmett sente lá no fundo que seu estômago se agitara numa festa de borboletas.
— Acertou em cheio— ela elogiou. Sempre gostou de coisas duradouras. O gesto, na verdade, foi bem doce e ela ficou boba.
— Claro que sim, eu nunca erro— ele se gaba e vai na frente da garota para abrir a porta para ela. Fez uma reverência irônica e ela soltou um riso nasalado.
— Acho que terei que voltar antes da meia noite— ela entra no carro— Meu pai está nos olhando, não está?
— Vai abrir um buraco na minha têmpora em breve se continuar me encarando com tanto ódio.
— Vamos sair logo então— Suzan balançou a cabeça.
— Seu desejo é uma ordem, senhorita— Emmett respondeu antes de fechar sua porta e dar a volta no carro na velocidade humana, incrivelmente entediante, mas não é como se ele estivesse com pressa.
Esta noite, ele tem todo tempo do mundo.
— Você parecia a ponto de rir— a ruiva acusa, colocando o cinto de segurança quando ele liga o carro.
— Eu tenho um problema de querer rir nos momentos errados— ele finge lamentar só que seu sorriso entrega tudo— Acha que ele vai ficar com muita raiva de mim?
— Provavelmente, deve ser terrível ter um rapaz que não tem medo de você ao chamar sua filha para sair.
— Que filme de terror— ele concorda e os dois riem. A leveza se instaura e a sensação é gostosa. Emmett pensa que Jasper adoraria ficar perto só para se aproveitar da atmosfera que os ronda.
— Ei— ela chama assim que ele ameaça sair com o carro. Emmett freia e a olha com curiosidade.
— O que?
— E o cinto?— ela pergunta, séria. Emmett começa a rir. A ingenuidade de achar que ele vai se ferir ou sequer causar um acidente de carro lhe é cômica.
— O que?— repete, visivelmente se divertindo. Ela tem certeza que não falou nada errado e que ele ouviu direitinho.
— Coloque o cinto— Suzan diz em tom surpreendentemente autoritário e Emmett ergue as mãos se rendendo.
— Sim, senhora— ele não consegue parar de rir, mas obedece e Suzan relaxa a postura.
— Você nunca usa cinto?
— Eu não— ele balança a cabeça tirando aos poucos o pé do freio e voltando a seguir seu curso.
— Como não?— indigna a ruiva, indignada— Você acha que nada de ruim vai lhe acontecer nunca?
— Na verdade...— ele não completa a fala e a olha sugestivo, tendo noção de que ela não iria lhe compreender.
— Emmett!— ela cruza os braços. Emmett levanta a sobrancelha a olhando sem se importar com a rua— Olhe para frente!
Ele não pode deixar de ver graça por ela não saber de nada. Ele nunca tinha interagido com um humano assim, mas como Alice disse que tudo iria ocorrer bem, ele ia se soltando.
— Você é mesmo filha do xerife— ele diz fingindo prestar atenção na estrada iluminada pelos faróis. Ele poderia dirigir com os olhos vendados se quisesse, mas não tinha como se gabar que se guiaria por sua audição impecável sem a menor preocupação.— Não pretende me dar uma multa, né?
— Você não vai querer me testar.
— Me desculpe, chefia.
Será um encontro em que ele irá agir como um humano, pelo menos para ver como isso tudo se desenrola, se a visão que Alice tem algum fundamento — mesmo que nada até agora tenha se mostrado contrário à ela.
— Obrigada— responde Suzan, satisfeita, e olha para a estrada também— Para onde iremos?— a curiosidade retorna.
— Você vai ver quando chegarmos lá.
— Ser misterioso não combina com você— ela sorri de ladino e admira o perfil do moreno, mesmo que acredite que ele não está vendo, um rubor colore suas bochechas suavemente, a beleza imortal é um tanto difícil de se acostumar. Emmett abre sua janela só um pouquinho.
— Bom, hoje vai ter que combinar— ele levanta as sobrancelhas.
Quando o silêncio predomina sem incomodar ninguém, o Cullen deixa que a Swan mexa na rádio e ela coloca uma música pop suficientemente animada, sem ser romântica. O nervosismo chega, mas a viagem não é demorada e eles não tem que ficar assim para sempre. Esse é o consolo de Emmett.
A ideia veio para ver se a garota podia curtir aventuras suaves sem ficar chata. Emmett gosta de gente aventureira mesmo que ele não vá poder levá-la para algo que acha realmente divertido sem a deixar apavorada assim tão de cara, vai valer a experiência.
Quando eles deixam a estrada principal adentrando uma trilha que a humana nunca tinha reparado antes, Suzan encara o moreno a espera de qualquer pista mas não encontrou nada além de um sorrisinho de canto. O carro começa a ir mais devagar, passando sobre a terra molhada e os galhos caídos das árvores que agora estão os ladeando.
— Você sempre morou em Phoenix?— ele pergunta, de repente.
— Sim, sempre, por que?
— Quantas vezes teve a chance de admirar um céu estrelado na cidade grande?
— Poderia contar nos dedos— ela murmura, curiosa com o andar da carruagem. Emmett a olha, encantado por aquele rostinho e diminuí o farol, acabando por diminuir mais um pouco também a pouca visibilidade que a humana ainda tinha— Olha para frente, Emmett— ela pede, intimidada pela intensidade daqueles olhos âmbar.
— Nós já chegamos.— ele puxa o freio de mão e o carro todo se apaga, o som das batidas do coração dela ressoam por todo lugar. Emmett abre a porta e desce do carro quando Suzan finalmente olha para o para-brisa. Seus olhos se adaptam aos poucos e ela repara uma clareira enorme que parece ter saído diretamente de uma pintura de Van Gogh.
Antes mesmo que Emmett terminasse de dar a volta no carro para fazer mais um ato de cavalheirismo, Suzan desce por conta própria, hipnotizada pelos céus sem nuvens.
Um teto recheado de estrelas, a lua cheia ilumina o ambiente com sua palidez típica. Suzan avança para a clareira sem esperar por Emmett que a segue com o olhar e com um sorriso satisfeito no rosto. Ele vai para a parte de trás do seu Jeep para pegar as coisas do acampamento improvisado. Ao reparar no moreno vindo de encontro a ela minutos mais tarde abraçado a grandes cobertores, Suzan até tenta oferecer alguma ajuda, mas é recusada de maneira igualmente educada.
— Você vai mesmo colocar esses edredons no chão?— ela o olha com incredulidade, sentiu o tecido na ponta dos dedos e imaginava que aquilo não havia sido nada barato.
— Tudo pelo seu conforto, Zan— ele sorri mas não tem certeza se ela consegue enxergar. O moreno estende um cobertor no chão e dobra outro por cima como se este fosse ser um travesseiro.
— Meu pai sabe mesmo onde a gente está, não é?— ela pergunta, juntando as mãos de maneira ansiosa.
— Puts, será? Acho que posso ter falado o lugar errado— ele provoca, desviando do tapa que Suzan daria no seu braço de censura. Ele não precisa que ela perceba tão cedo como seu corpo é rígido. Ele corre de volta para o carro rindo, fingindo ter medo da garota— Você trouxe sua faca, não trouxe?— ele pergunta em voz alta e a clareira faz seu eco. Suzan cede à vontade e se joga nos cobertores grossos e macios. Ela pensou que poderia até ronronar de prazer.
— Hmm, nossa— ela passa as mãos pelo tecido, Emmett volta com uma lamparina acesa numa mão e uma cesta na outra. Suzan se senta, se sentindo embaraçada por ele ter visto seu momentinho simples de prazer. Ela não tinha muito contato com tecidos de alta qualidade com os preços mais altos ainda, nem se importava, mas de vez em quando pode ser bom, não é? O rapaz não consegue segurar o riso com a timidez dela. Ele se ajoelha de frente para a ruiva e coloca a cesta entre eles, a lamparina de lado, um tanto afastada dos cobertores mas suficientemente próxima para que Suzan consiga enxergar o rosto de Emmett.
Ah, que visão. Ela acha até meio ridículo pensar em como ele tem traços tão másculos, mas é a realidade. Emmett parece ter sido desenhado por um verdadeiro macho, ela pensa deixando escapar um risinho. Os olhos âmbar dele encontram os olhos azuis dela, ambos estão brilhando.
— O que foi?— ele quer saber.
— Nada não. Eu só acabei de confirmar para mim mesma que você é o tipo de cara que curte aventuras. Isso— ela aponta ao redor— é tão sua cara.
— Droga...
— Odeia ser previsível, né?— ela completa a fala por ele. Emmett balança a cabeça e seus ombros caem, apesar da frustração, ele sorri— Não repara, eu que sou boa demais lendo os outros.
— Não fode— ele se joga no chão, deitando-se de barriga para cima e Suzan o acompanha, com muita mais delicadeza. Emmett sente sua garganta arder, foi como se ele tivesse se deitado sobre as flores mais cheirosas do mundo e todo seu viciante néctar tivesse se levantado numa névoa venenosa. Ela não repara quando ele fica todo tenso, distraída pela visão das estrelas.
— Você traz muitas garotas aqui?— ela puxa assunto cruzando as mãos sobre a barriga. Emmett a olha, indiferente ao céu, encantado com a beleza dela.
— Na verdade, não— ele admite piscando rapidamente como se na sua memória estivesse a fotografando daquele ângulo. Céus, quando ela vira o rosto na sua direção as "fotos" ficam melhores ainda— Gostaria de ir para outro lugar?— ele pergunta, curioso consigo mesmo por ter perdido o sorriso. Se sente meio perdido olhando para o rosto dela. Isso é normal? Ele não quer parar não.
— Aqui está ótimo pra mim— ela faz uma careta adorável e volta a encarar o céu noturno.— Então você vem muito aqui?
— Só quando quero ficar um pouco longe da minha irmã que não gosta de perder pra mim.
— A Mackenzie?
— A Mackenzie— ele ri e se obriga a desviar o olhar da ruiva e suas sardas. Ela tem uma constelação própria desenhada no rosto. Emmett acha estranho que ela queira omitir isso com maquiagem— Sabe, como eu vivo ganhando, ela vive me infernizando, então é, eu venho muito para cá.
— O que você faz quando está aqui sozinho?— ela rola para ficar de bruços, apoiada nos cotovelos, se sente bem melhor em poder olhar para ele enquanto conversam. Emmett mal consegue conter o sorrisinho de mais puro deleite.
— Eu corro ao redor da clareira, ouço música ou um jogo qualquer que esteja passando no rádio na hora. Tento ler um livro chato e antigo para absorver conhecimento como meu irmão vive me incentivando, fico entediado na décima página e vou jogar no celular— algo dentro dele se remexe de prazer quando ela ri. A sensação é intensa, porém ele resiste começando a contar as estrelas no céu.
Suzan relaxa e se deita, a cabeça no antebraço. Emmett cerra os punhos com um estranho nervosismo percorrendo sua espinha por saber que ela está prestando atenção somente nele.
— Você gosta de ficar sozinho?— ela pergunta baixinho.
— Às vezes— ele admite, unindo as sobrancelhas— Às vezes é muito bom, às vezes é muito estranho. Parece errado.
— Acho que entendo— ela franze o cenho— Gostamos de estar sozinhos, não de nos sentir sozinhos.
— Pode parar de me adivinhar, princesa? Isso não é legal.
— Não é minha culpa se você é fácil.
— Nossa, sua grossa.
— Desculpa— ela faz beicinho. Emmett a olha de soslaio.
— Tem sorte de ser linda— ele finge resmungar. Suzan esconde o rosto por entre as cobertas e se encolhe sentindo um frio na barriga.
— Você é muito bobo, Emmett Cullen.— ela murmura.
Emmett deita de lado e se apoia no cotovelo para a encarar com deboche.
— Admite que você já me adora.
— De jeito nenhum!
— Ah, mas relaxa, eu sei que adora— ele a tranquiliza. Suzan revira os olhos, se seguirem nesse curso a noite será beeeem longa.
Ela realmente não vê nenhum problema nisso.
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