Not today, not tomorrow
A respiração ofegante e a coberta sobre seu corpo eram apenas sinais do que poderia ter acontecido depois de uma declaração inesperada e genuína. Eles ficaram deitados no chão da sala apenas ouvindo a chuva despencando torrencialmente do lado de fora. Suzan fazia desenhos aleatórios com a ponta dos dedos por todo o rosto do moreno, como se estivesse o mapeando. Seu corpo estava quente contra o dele, a sensação era a mesma de colocar fogo contra gelo. Eles não queriam parar de se queimar nenhum momento que fosse.
— A gente poderia fazer alguma coisa depois disso, né?— sugeriu o moreno com os olhos fechados, o gosto dela ainda na ponta da língua.
— O que quer dizer?— ela perguntou baixinho.
— A gente pode sair daqui, quando essa coisa com a Victoria acabar.— ele deu de ombros e Suzan se ajeitou, curiosa e interessada na proposta.
— Sair de Forks?
— É.— ele sussurrou e abriu os olhos para encará-la. Seus olhos estavam escurecendo, logo teria que ficar fora para caçar. Emmett meio que nunca foi negligente com sua alimentação, costuma ficar muito irritado quando se deixa ficar com fome.
— E ir para onde?
— Qualquer lugar.
— Qualquer lugar?— ela levantou a sobrancelha ruiva. O céu trovejou fortemente e eles ignoraram. Ela olhou para o lado e fingiu pensar, apertando os lábios.— Hm, acho que posso pensar no seu caso.
— Vê se tem uma brecha para mim na sua agenda, gatinha— ele zomba e os dois deixam escapar um riso fraco.— Mas, falando sério, o que você quer fazer depois daqui?
— Depois que o problema com Victoria estiver resolvido?
— É. O que você quer para sua vida, Su? A gente ainda não falou disso.
— Eu não quero nada extraordinário, eu diria— ela balançou a cabeça, seus cabelos estavam uma bagunça, mas aquilo era sua culpa— Uma vida simples.— ela deu de ombros e voltou a desenhar corações e estrelas nas maçãs do rosto dele— Algo que me faça pensar "nossa, isso era o que eu queria, aqui está meu suficiente".
— Suficiente?— Emmett franziu a testa— Não tinha uma palavra melhor?
— Cala a boca, suficiente não é uma palavra ruim!— ela sorriu para a provocação dele, inabalável.— É o meu "basta".
— E o que significa?
— Que eu não preciso de mais nada.
— Como é que você vai saber que não precisa de mais nada na sua vida, minha querida Su?
Ela se aproximou mais um pouco dele, os rostos estavam a centímetros de distância. Ela exalava ternura, Emmett sentia que era capaz de se afogar no amor.
— Quando eu chegar lá, eu te falo.— sussurrou como se lhe contasse um segredo.
— Isso não é justo, sabe como eu sou ansioso.
— Sinto que não estou tão longe assim, não se preocupe.
— Vai, me dá uma dica. O que tem nessa sua visão de futuro que pode vir a ser suficiente para toda uma vida?
— Eu não preciso de muitas coisas, sabe? Sou uma garota como qualquer outra, Emmett. Eu quero amor na minha vida.— ela dizia— Quero uma aventura. Quero me divertir com uns amigos e ficar com um garoto legal que me respeite e me adore de uma forma única...
— Isso você já tem.— ele levantou as sobrancelhas.
— Sim, eu tenho.— ela dá um sorriso largo— Quero ter um trabalho que goste, quero ter tempo para mim pelo menos uma vez na semana. Quero viajar e experimentar vinho em todas as vinícolas que existirem. Quero tirar um diploma, adotar um cachorro, ter uma casa legal perto da cidade e outra mais legal ainda longe da civilização. Quero me casar...— ela se interrompeu antes de completar. Suzan ia dizer que gostaria de ter filhos. Não se via tentando fazer isso agora com Emmett nem tão cedo, mas então ela reparou que isso era a única coisa que ele não poderia oferecê-la. Emmett está morto. Sequer podem fazer sexo casual. Ah.
Suzan evitou demonstrar como tal raciocínio lógico a desanimou. Foi um baque e tanto. Ela não poderia ter filhos com Emmett... O sentimento era de pura tristeza, um lamento que ela não sabia explicar. Suzan adora crianças, queria ter a sua própria algum dia mais a frente. Suzan mordeu o lábio e passou a mão nos cabelos de Emmett, pensativa.
— Uau. Você pensa muito no futuro, né?— ele brinca, mas não o incomoda de forma alguma ver a garota falar de maneira tão inspirada sobre seus sonhos. Felizmente ou não, Emmett não reparou que estava faltando algo.
— Eu ganhei uma vida, Emmett. Desde o dia que nasci é obrigação minha vivê-la.— ela fala e ele apenas a olha. Ele pensava da exata mesma forma e se sentiu estranho por ouvir ela colocando o que ele sempre sentiu em palavras tão facilmente.
— Só tem uma bala na agulha.— ele murmurou.
— Só uma mesmo.— ela parou de passar os dedos na bochecha dele e pousou a mão ali calmamente. E mais uma bolha de pensamento impertinente se grudou nela. Como se não bastasse tudo o que andava a preocupando.
— Você puxou o gatilho e acertou direto no meu coração, mulher.— ela não aguentou segurar o riso, seu rosto ferveu e ela tentou não se deixar abalar em pensar o quanto aquela conversa com ele a estava deixando remexida.— Foi a queima roupa, um golpe extremamente baixo— ele provocou enquanto ela o abraçava e escondia o rosto na curva de seu pescoço— Eu devia te denunciar.
— Ah, meu garoto bobo, Emmett Cullen, você é o meu suficiente.— ela sussurrou e distribuiu beijos no ombro e no pescoço do rapaz sem camisa. O futuro parecia uma visão distante e promissora enquanto eles se embolavam mais uma vez um no corpo do outro. O paraíso na terra. Eles o encontraram um no outro.
Bom, o paraíso bem que poderia ter espaço para mais um. Mas hoje ela não vai pensar nisso, nem amanhã.
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A situação em Seattle está começando a ficar realmente preocupante. Enquanto os vampiros assistiam o jornal em poses sérias e semblantes concentrados, Edward Cullen entrava em casa com Isabella Swan debaixo de seu braço.
Aquilo parecia apenas o começo, Suzan pensou, já estava na mansão Cullen desde cedo conversando com Carlisle sobre seu próximo passo quando o jornal chamou a atenção de todos. O Halloween já passou, mas a caçada às bruxas começaria agora. Ela não faz ideia do que está acontecendo, mas ao reparar que Carlisle estava atento demais àquilo, a dor de cabeça se fez presente junto com o receio de que eles poderiam ter mais uma preocupação.
— É sempre o que eu digo: não há nada ruim que não possa piorar!— Mackenzie disse, dramaticamente, rompendo o silêncio tenso que os rondava. Todos envolta da TV na sala de estar. Suzan e Emmett eram os únicos sentados, ela se sentia um pouco deslocada, como se estivesse desrespeitando alguém, mas a mão de Emmett em sua coxa a impedia de levantar.
— O que isso deveria querer dizer?— Bella pergunta, confusa.
— Estamos fodidos, querida, e é isso.— Mackenzie disse, nada otimista. Recebeu olhares de repreensão de todos, mas não deu a mínima.
— Por que estamos fodidos?— Suzan olhou para Emmett em busca de respostas, mas ele estava olhando para Jasper como todo o restante dos Cullen. O loiro pareceu subitamente desconfortável com a atenção, mas não recuou em responder as dúvidas silenciosas.
— Os sinais não param de mostrar que eu estou certo, Carlisle— ele ajeitou a postura e balançou a cabeça ao lado de sua esposa de cabelos espetados. Suzan sempre se admirou com a postura daqueles dois, eles pareciam ainda mais irreais do que os outros, seres que haviam saído de um livro de fantasia fundamentado em romance de época. Sabe-se lá como ela chegou nessa conclusão— Um exército de recém criados está se formando em Seattle. Há destruição demais, falta de controle, falta de pistas para a polícia se encaminhar para qualquer direção. Nada faz mais sentido.
— Um exército de recém criados?— Bella repetiu com uma pitada de descrença. Suzan estremeceu sem ter certeza do que aquilo poderia significar.
— Sim. Isso não é nada bom— Carlisle andou de um lado para o outro diante de todos, pensativo— Se continuarem a chamar atenção assim, pode ser que os Volturi se envolvam em breve.
— Como se já não fosse estranho eles não terem feito nada até agora. Devem ter espiões deles para todos os lados, eles sabem o que acontece por todo o planeta.— Rosalie pontua e balança a cabeça, sem olhar para ninguém exatamente.
— Pode ser que sim, pode ser que não. Aro trabalha de um jeito misterioso.
— Pensei que só Deus fizesse esse tipo de brincadeira.
— Cala a boca, Emmett, faz favor— Edward pediu, impaciente. O que ele mais teme é a atenção da realeza dos vampiros, daqueles que não aceitam de maneira alguma que seu segredo seja exposto. Os Cullen burlaram essa regra mais de uma vez. Os casais presentes na sala se entreolham com nervosismo. Emmett sacode a cabeça e se levanta.
— Parece que teremos que lidar com isso nós mesmos!— ele se prontificou como se eles fossem simplesmente sair de casa naquele exato instante.
— Parece que sim.— Jasper resmungou, pensativo. Emmett ficou surpreso, esperava receber uma repreensão ou algo do tipo, qualquer resistência. Estava se preparando para debater.
— Que bom.— ele sorriu para o irmão, mas eles realmente não estavam indo naquele exato instante. Todos ficam quietos por um momento, Emmett bufa e volta a se sentar no sofá com sua namorada. Suzan envolve seu braço no dele e encosta a cabeça no ombro rígido do vampiro, apenas espera a sentença— Tá bem. O que é que eu não estou vendo?!
— Calma, seu idiota, estou pensando.— Jasper fala e agora ele é quem anda de um lado para o outro no meio da sala.
— Quantos você acha que são?— Mackenzie pergunta e Emmett comprime os lábios de desgosto, realmente não tinha pensado nisso.
— Uns quinze ou mais. Esse rastro de destruição é para muita gente que não faz ideia do que é ou do que está fazendo.— o loiro passou o polegar nos lábios e olhou para o chão ainda com o pensamento distante. Ele e Mackenzie tiveram a mesma criação, mas era Jasper que cuidava da parte de se preparar para a guerra, Mackenzie sabia lutar, e era boa demais nisso.
— Espera...— Suzan pediu, atraindo todos os olhares para si como se de repente todos estivessem esperando que ela falasse algo de útil. Ela sentiu seu rosto esquentar— Está dizendo que tem alguém transformando as pessoas para criar um exército?
— Sim, exatamente.— Jasper assentiu e voltou a ignorá-la, cogitando o que aconteceria caso sua família se envolvesse em uma luta com um bando de recém-criados sem noção do risco que estavam se expondo assim como muitos outros.
— Pra que mais teria um exército sendo criado logo no nosso lado?— ela continuou, olhou ao redor, o rosto de cada vampiro— Tem mais algum clã como o seu aqui perto?— voltou-se para Carlisle, o patriarca. Ele é o mais velho, deve saber mais.
— Não. Sequer existem tantos clãs assim. Os maiores somos só nós, os Volturi e os Denali. A maioria de nossa espécie não consegue conviver em grupo por tempo demais.
— Exércitos em nosso mundo só são criados com uma finalidade: atacar tudo o que veem como ameaça.— Edward disse, balançando a cabeça e olhando para sua namorada.— Nós somos a única ameaça perto de Seattle. Esse exército só pode ser feito para nós.
— Mas quem faria algo dessa magnitude?— Esme pergunta, preocupada, é a primeira vez que se pronuncia.
— É tremendamente estúpido.— Mackenzie levanta as sobrancelhas e joga a cabeça para trás, irritadiça. Ela odeia ficar se lembrando do seu passado, mas ele parece a estar perseguindo— Quem quer que esteja fazendo isso deve estar desesperado demais para conseguir nos derrubar.
— Poderiam ser os Volturi?— Bella sugere.
— Aro não jogaria tão baixo— Carlisle respondeu— Ele ainda sequer sabe que poderia ter um motivo para nos atacar— ele lança um olhar breve na direção das irmãs Swan. Não tem como Aro saber de suas infrações à lei se os únicos vampiros com quem os Cullen entraram em contato recentemente estavam mortos... a não ser por Laurent, mas este se uniu a família de Denali meses atrás. Uma lâmpada parece se acender sobre a cabeça do doutor— Poderia ser Victoria?— ele queria afirmar, mas saiu mais como um questionamento. Todos ficam em silêncio por um momento, pensando.
— Faz sentido, não faz?— Suzan parece ser a primeira inclinada a concordar com a ideia. Talvez todos ali estivessem mesmo superestimando a inteligência de Victoria. Causar todo esse caos, com tantos recém criados mal informados soltos no mundo real é uma tremenda de uma burrice. Os Volturi viriam intervir esse show uma hora ou outra e todos sabem que quando eles querem se livrar de um problema, vão direto na raiz. Era o mesmo que cometer suicídio.
— Ela está desesperada para nos derrubar.— Emmett concordou, não se lembrava de ter feito muitos inimigos recentemente, sabe?
— Ela vai ir até o fim para se vingar por James— Alice comentou mesmo que não estivesse vendo qualquer coisa que mostrasse que todas aquelas teorias estavam certas. Não é assim que as visões funcionam.
— Mas ela não quer morrer. Não acho que está tão desesperada assim— Edward teimou contra— Essa ideia é para um suicida. Victoria não se arriscou a brigar nem com os lobos claramente inexperientes. Isso não é a cara dela. Ela não sujaria as mãos dessa forma com o risco de ser pega pelos Volturi.— se essa vampira tem muito tempo na terra, certamente sabe quem são os Volturi.
— Ela só precisa ter alguém que suje as mãos por ela.— Mackenzie resmungou e ela e Jasper se entreolharam, aquilo lhes remetia fortemente ao seu passado com Maria, onde Jasper fora o rosto da liderança enquanto quem realmente mexia os pauzinhos era Maria.
A incerteza pairou sobre todos e eles olharam para Alice, já que a querida vidente sempre podia responder todas as dúvidas, mas, pela primeira vez em muito tempo, tudo o que viram transbordar dela foi desânimo.
As coisas ficaram mais tensas e Emmett e Suzan nem sabiam como.
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