Quando Alice Cullen para abruptamente no meio da sala de estar e seu olhar se torna vago, a tensão que vem a seguir é inevitável.

— Ali?— Jasper Hale chamou, correndo de encontro a esposa, imediatamente preocupado com o nervosismo que sentia vindo dela— Ali, o que foi?— perguntou. Ele lhe tocou o rosto tentando atrair o olhar confuso dela, mas falhou. O resto da família parou o que estava fazendo para observar a vidente com cautela. Emmett estava sentado no sofá. Era tarde da noite e Suzan estava dormindo a essa altura, ele está tremendamente entediado, isso sim. Mirou a irmã por cima do ombro com pouco interesse.

Edward era o único Cullen ausente, como estava virando rotina. Bella não larga o brinquedo, Mackenzie zombara uma vez. Emmett adora lembrar o telepata da piada, mesmo que tudo o que ganhe sempre seja um olhar de censura.

— Não faz sentido.— Alice murmurou distraída. Emmett se segurou para não revirar os olhos, odeia que ela nunca vá direto ao ponto de uma vez.

— O que não faz sentido?— Rosalie perguntou mas não parecia mais interessada no assunto já que rapidamente voltou a pintar as unhas dos pés.

— Ela estava vindo... mas simplesmente desapareceu.— Alice balançou a cabeça, frustrada— Isso não é normal.

— Quem estava vindo?— Jasper perguntou, confuso.

— Victoria.

A menção sussurrada àquele nome bastou para que Emmett se levantasse do sofá em um pulo. A preocupação imediata que lhe ocorreu era Suzan, a segurança dela. Ele se ligou nisso tão rápido que até se surpreendeu. Eles sabiam que uma hora Victoria viria se vingar por James, mas isso se tornou uma visão tão distante e desinteressante (já que ela estava sozinha e em clara desvantagem) que eles não pensaram muito sobre o assunto. Por dizer eles, queremos dizer Emmett. Edward e Alice não deixaram de se preocupar com Victoria nem por um momento.

— Victoria está aqui?— ele perguntou, nervoso. Ele precisa ir proteger Suzan, pensava.

— Isso que não faz sentido.— Alice respondeu unindo as sobrancelhas— Sinto como se estivesse assistindo a um programa de televisão e subitamente alguém arrancasse o cabo da tomada. Eu a vi vindo e então ela desapareceu.

— Como assim? Então ela mudou de ideia?

— Não. Não é isso, eu teria visto, mas... algo me barrou— era difícil para ela explicar porque era difícil para ela entender. Tal coisa nunca tinha lhe ocorrido antes.

— Consegue ver Suzan?— Emmett pressionou, sua atitude inquieta e tão séria surpreendia a todos. Victoria quer se vingar de Edward, então ela viria atrás de Isabella. Emmett nem se deu tempo de pensar demais como foi egoísta em ver só como isso abalaria Suzan se ela estivesse no lugar errado, na hora errada. Não queria que sobrasse para sua garota.

Alice não tinha o que ver, com a humana dormindo, não tinham decisões a serem tomadas. A vidente comprimiu os lábios em uma careta de desgosto e isso bastou para que Emmett começasse a correr sem olhar para trás.

Um uivo ecoou pela floresta no meio da noite e aqueles malditos vampiros não faziam ideia do que estavam desencadeando.

[...]

Suzan se assustou com aquele toque gelado roçando sua bochecha antes que o seu despertador tocasse. Ela arregalou os olhos e recuou, mas seu corpo se relaxou assim que reconheceu Emmett.

— Mett? O que está fazendo aqui?— bocejou a ruiva, sentando-se com preguiça. Ele sorriu ainda com a sensação estranha de nervosismo que seu coração estaria bem acelerado agora se ainda batesse. Suzan demorou um pouco para focar o olhar no seu rosto e identificar o que quer que ele estivesse pensando— Emmett, o que houve?— ela perguntou, preocupando-se.

— Nada. Tá tudo bem.— respondeu ele, ainda longe de tranquilizar a garota, Emmett finalmente se sentou na beira da cama de Suzan e ela ficou com um pressentimento ruim pesando em seu peito.

— O que está fazendo aqui então?— pressionou, ele está estranho.

Emmett deixou os ombros caírem e olhou para o chão, desconfortável. Não queria ser o tal a passar essa notícia e também não queria ser o tal que faria com que Suzan pifasse de novo. Não quer que ela surte.

— Eu só fiquei um pouquinho assustado de você estar em perigo.— ele resmungou a contra gosto.

— Por que eu estaria em perigo?— a voz dela estava um pouco rouca ainda pelo sono. Ele pousou a mão na coxa dela e a apertou com cuidado, desconcentrando-a. Evitando contato visual ele iria falar sério.

— A gente tem que conversar, pequena Su. Você tem que saber da outra pimentinha.

Tá, "conversa séria". Ainda é o Emmett Cullen.

Suzan entendeu errado e levantou as sobrancelhas com um evidente ciúme crescendo. Emmett deu um sorriso fraco, agora estava mesmo preocupado com a segurança dela.

— Quem é a outra?— a humana cruzou os braços e o fulminou com o olhar.

— Você está mesmo ignorando o fato de eu falar que você pode estar em perigo?— talvez ele tenha déficit de atenção, mas pensa que ela também tem.

— Se uma ex namorada sua tá querendo acabar comigo, manda ela vir!

— O que? Não. Victoria não é minha ex. Edward matou o namorado dela.

Suzan arregalou os olhos e sua expressão passou de raiva para choque.

— James tinha uma namorada?— ela se lembra da história do caçador que Edward lhe contou em sua semana de interrogatório. Os vampiros forasteiros com quem os Cullen se esbarraram no momento inoportuno de companhia de Isabella. James é o vampiro que quase a matou e a teria transformado se Edward não tivesse sugado o veneno da humana.

— É... esse é o problema do momento— Emmett recolheu os lábios.

— E por que eu só fico sabendo disso agora!?— ela reclama, irritando-se.

— Hã... meio que a gente pensou que você não fosse precisar se preocupar com isso tão cedo.— ele encolheu os ombros largos. Emmett é um homem grande que pode agir como um garotinho às vezes. Essas pequenas atitudes e gestos sempre parecem uma graça para Suzan. Tem uma parte inocente nele que estará conservada pela eternidade.

Suzan fez careta e deixou os ombros caírem. Tá bem, ela já acordou com um problema sendo colocado no seu colo. Arrastou-se para fora da cama e ignorou o olhar questionador de seu namorado seguindo seus movimentos.

— O que está fazendo?— Emmett perguntou, confuso por ela estar abrindo a porta do quarto. O despertador da ruiva tocou e o vampiro o desligou antes que fizesse barulho demais. Ela o olhou, sentia-se acabada. Seus cabelos estavam uma zona e seu pijama estava todo amassado. Apenas encarou Emmett como se ele não estivesse vendo algo evidente demais, mas dessa vez ele não captou o que ela queria dizer sem usar qualquer palavra.

Ela viu que ele também estava esperando uma reação e reparou que tinha que ceder.

— Preciso de um momento como humana agora.— explicou e Emmett levantou as sobrancelhas.

— Quer uma ajudinha?— propôs com um ar de ingênuo. Emmett adora escovar os cabelos dela. Suzan sorriu e balançou a cabeça.

— Eu vou tomar banho, Emmett.

— Isso era pra fazer com que eu retirasse minha proposta ou...?

— Jesus Cristo.— ela resmungou e saiu do quarto fechando Emmett ali. É. Ela não estava o convidando. Emmett se ajeitou na cama dela e soube que teria que esperar até que ela estivesse pronta para que pudessem conversar direito. O moreno encarou o quarto vazio e pensou nos últimos minutos de conversa.

— Não gostei, não.— concluiu. Bem que Suzan poderia arranjar um espaço para ele naquela banheira...

— Cara, me poupa!— Edward reclamou do quarto ao lado e Emmett sorriu. Edward sempre está ali.

— Bella nunca larga o brinquedo.— lembrou o irmão. Nenhum humano da casa foi capaz de ouvir seu sussurro. Emmett não teve qualquer resposta mas soube bem que seu irmão revirava os olhos. Passaram-se apenas alguns segundos de silêncio quando Emmett sentiu sua preocupação voltar— Vamos cuidar delas, né?— seu tom era inseguro.

— Sempre.— o telepata confirmou.

De algum jeito, isso não fez com que Emmett se sentisse melhor como normalmente faria. Por que?