Capítulo 9 - Resultado
Oi pessoal! Rafael Segredo aqui. A partir desse capítulo farei um teste de interação, colocando alguns vídeos de músicas durante a história. A posição do vídeo indica que a música tocaria nos próximos parágrafos. Espero que gostem. Aguardo retorno de vocês. Boa leitura!
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Abri a notificação do Whatsapp primeiro, pois não queria ocupar minha mente nem mais um segundo do meu dia pensando em Davi. Só de ler seu nome tinha vontade de vomitar. A mensagem ficou lá, junto com as outras várias, visualizadas e sem resposta. Não o bloqueava porque, além de ele também trabalhar para o meu pai, podendo eventualmente precisar falar algo sério comigo, queria também que ele pudesse ver que era ignorado por mim. Ele já deveria ter cansado de insistir, mas parecia não ter senso de humilhação.
Em seguida fui para meu e-mail. A raiva foi então tomada pela ansiedade. Se o nome de Victor estivesse naquele e-mail ele já haveria recebido um também, informando sobre o resultado. Talvez até já tivessem ligado para ele, passando o protocolo. Naquele dia dormi um pouco mais, levantando só às 9:00h. Cliquei no e-mail que tinha como assunto "Resultado da seleção de estágio".
"De: Raquel Villa
Para: Theo Santos Sá
Assunto: Resultado da seleção de estágio
Theo,
De acordo com os resultados dos currículos, entrevistas e prova, os selecionados, por ordem de pontuação foram os candidatos:
1º - Victor Costa Ferraz
2ª - Beatriz Nunes Ribeiro
Entraremos em contato com os candidatos[...]"
Nem me dei ao trabalho de ler o resto, pois meu coração queria pular pela minha boca de felicidade. Levantei da cama super feliz e fui fazer minha higiene matinal. Só pensava em como falar com Victor, como reverteria o mal entendido que ocorreu após a entrevista. Naquele dia teria algumas reuniões com fornecedores que prestariam serviços na inauguração da loja. Apenas alguns ajustes finais. Me troquei e saí.
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https://youtu.be/cKUOl4ObtwU
À tarde, entre uma reunião e outra, ouvia uma música (vídeo acima) para me distrair e resolvi abri meu Instagram. Fui até o perfil de Victor. Agora que ele havia sido selecionado teríamos, pelo menos, uma relação profissional e assim alguma intimidade que justificasse eu o seguir. Assim o fiz. O perfil dele era privado, então ele teria que aceitar a solicitação. Fui até o bebedouro encher minha squeeze e voltei para minha mesa. Ele já tinha aprovado minha solicitação para segui-lo. Soltei um sorriso bobo. Apertei o botão home do Instagarm e no canto superior à direita uma indicação de nova mensagem no Direct. Abri, era ele. Rápido.
Victor Ferraz: Olha só quem resolveu ser humilde e seguir os reles mortais... kkk.
Theo Santos Sá: Não é isso... kkkkk. Apenas não queria dar falsas esperanças a nenhum candidato.
Victor Ferraz: Então agora posso ter esperanças?
A indagação dele tinha um duplo sentido, que eu desejei com toda minhas forças ser proposital. Na dúvida, fiz algo que odeio quando fazem comigo: respondi a pergunta dele com outra.
Theo Santos Sá: Ainda não recebeu o resultado?
Victor Ferraz: Ah... esperanças sobre a vaga de estágio. Sim! Me ligaram hoje, pela manhã.
Mais uma vez ele me deixava curioso, agora com um comentário em aberto. Na curiosidade, perguntei:
Theo Santos Sá: E do que seria a esperança, senão disso?
Victor Ferraz: De merecer tua amizade. kkkkk...
Ele demorou um pouco para responder. Acho que estava procurando uma boa desculpa. Cada vez mais eu sentia que existia algum interesse dele comigo. Mesmo que fosse apenas amizade, eu acho que me contentaria. Agora era minha vez de deixar ele confuso. A resposta que ele me daria seria a comprovação de que consegui.
Theo Santos Sá: Ahhh... kkkk. Minha amizade não é difícil assim de conquistar. Inclusive, já ia esquecendo, parabéns pela conquista! Tá feliz, né?
Victor Ferraz: Qual conquista? Tua amizade ou a vaga de estágio?
Theo Santos Sá: kkk... Na verdade eu me referi à vaga, mas é bom saber que tenho meu primeiro amigo nessa cidade.
Victor Ferraz: Não se considere mais só. Sobre a vaga também tô muito feliz, ainda mais porque Bia Passou junto comigo.
Theo Santos Sá: Obrigado! Ahhh... Então, Beatriz é sua amiga?
Victor Ferraz: Minha melhor amiga. Estudo com ela desde o fundamental, passamos juntos em arquitetura, estudamos na mesma turma. Parceira de vida. Inclusive foi ela quem me falou das vagas de estágio e pegou uma ficha de inscrição pra mim.
Lembrava da entrevista de Beatriz, era uma menina bonita, extremamente extrovertida, talvez pela convivência com Victor, era uma gordinha super estilosa. Confesso que senti uma ponta de ciúmes, então não aguentei e tentei matar a curiosidade.
Theo Santos Sá: Nossa! Então, viva Beatriz! Mas é só amizade mesmo? Trabalhar com namorada deve ser barra...
Victor Ferraz: Só amiga mesmo. Uma irmã, praticamente. E não teria como rolar de jeito nenhum. Mas enfim... Acho que pior é trabalhar com a sogra... kkkkkk.
Ele dizer que "não teria como rolar" me pareceu uma indireta. Será que ele tava tentando me dizer algo? Cada mensagem trazia junto um poço de incertezas. Victor também levantou a bola pra mim sobre o assunto da minha sogra. Justamente na hora que a responsável pelo buffet da inauguração chegou. Pedi para que ela aguardasse um momento, enquanto eu escreveria a resposta. Eu tinha uma oportunidade de me explicar, ou até melhor, poderia deixar em aberto alguma proposta.
Theo Santos Sá: kkkkk... Se isso é sobre mim, aquilo que aconteceu ontem foi uma pequena confusão. Eu até explicaria, mas é uma história longa e tô um pouco ocupado resolvendo as coisas da inauguração. Poderia te resumir, mas conto pessoalmente. Inclusive, já que seremos amigos, vou te fazer uma proposta extraprofissional. Chama Beatriz e vamos sair uma noite esse fim de semana. Preciso conhecer melhor a cidade, mas não tinha quem me apresentasse. Me adiciona no Whatsapp e conversamos melhor: (83) 5555-2658.
Não tinha tempo para aguardar a resposta. Travei o celular e parti para a reunião.
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Naquela tarde recebi ainda a equipe de cerimonial, o DJ e o representante da empresa que faria a iluminação. Trabalhei noite adentro e quando fiquei finalmente livre passava das 19:00h. Mesmo curioso para pegar no celular, a fome falava mais alto. Fechei a loja, entrei no carro e fui até uma lanchonete, peguei um lanche rápido para viagem e fui para meu apartamento. Chegando lá comi e depois fui tomar um banho.
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Limpo e alimentado, fui para a sala, sentei no sofá e liguei a TV em qualquer canal, mais pra que o barulho preenchesse um pouco minha solidão do que pra assistir. Morar sozinho era algo com o que eu não tinha me acostumado ainda. Peguei meu celular, abri o Instagram e havia apenas um "OK" como resposta de Victor. Fui até o Whatsapp, ver se ele tinha falado lá. Procurei por um número não agendado que houvesse deixado uma mensagem. Encontrei, depois de descer um pouco as conversas.
Victor Ferraz: Sou eu, Victor. Quando der me chama...
Ele havia visualizado seu Whatsapp pela última vez faziam 30 minutos. Olhei o relógio, eram 20:00h. Com certeza ele estaria em aula, então deixei um recado.
Theo Santos Sá: Câmbio! kkk... Deve estar em aula. Quando acabar fala, para combinarmos.
Assim que enviei a mensagem apareceu o double check, indicando que ele estava conectado e já havia recebido a mensagem. Ele ficou online e em seguida o double check ficou azul, indicando que ele havia lido a mensagem. Então acima apareceu a mensagem "escrevendo", ele tratou de ser rápido.
Victor Ferraz: Pra que esperar? kkk...
Theo Santos Sá: Não tá na faculdade?
Victor Ferraz: Sim! Inclusive numa aula super chata de história...
Theo Santos Sá: Vai prestar atenção! Depois a gente conversa.
Victor Ferraz: Não tem como prestar atenção. A professora parece uma múmia e três frases delas causam sono profundo.
Theo Santos Sá: Rapaz...
Victor Ferraz: Jurei que tinha chegado um herói pra me salvar dessa chatice, fortalecer a amizade, mas pelo que tô vendo... Só por curiosidade, tu tem algum parentesco com a professora? Se sim, aquilo sobre a múmia foi brincadeira.
Theo Santos Sá: kkkkkkkkk... Só quis parecer responsável pra causar boas primeiras impressões.
Victor Ferraz: Já causou boas impressões o suficiente, relaxa. E é melhor eu conversando contigo do que dormindo, como a maioria da turma.
Quando ele disse que causei boas impressões o suficiente me enchi de esperança. E eu me surpreendia com o que uma gota de esperança que ele me dava era capaz de fazer comigo. Um misto de medo e alegria. Isso me fazia ser o mais legal possível, muitas vezes passando por cima de minha racionalidade para tê-lo próximo a mim.
Theo Santos Sá: Verdade, pelo menos assim a ancestral tem um ouvinte passivo.
Victor Ferraz: kkkkkkkkkkkkkkkkk... Gostei dessa! "Ancestral". Melhor que múmia. Vou falar pra o pessoal.
Theo Santos Sá: Esse sou eu naturalmente. Sem responsabilidades de causar boas impressões. Bom saber que não preciso me preocupar mais com isso.
Victor Ferraz: Só de ter aceitado minha ficha de inscrição atrasada, já me ganhou. Nem expliquei, mas faltei a aula na sexta da semana passada por uns problemas aí... Vim pra faculdade rezando pra dar tempo.
Theo Santos Sá: Acredito no destino. Se tinha que ser assim, seria. Agora você tá aí com a vaga garantida.
Victor Ferraz: Pois é... nem o babaca que fez aquilo com o ônibus conseguiu atrapalhar. Inclusive outra coisa que esqueci de comentar é que quando saí aqui pelo corredor da faculdade pra te chamar, fiquei com receio de não ser a pessoa certa ao te ver. Esperei ver um cara velho, feio... não assim como tu.
Theo Santos Sá: Como eu?
Victor Ferraz: Sim! Novinho, bonitão. Mas depois que vi teu sobrenome entendi.
"Chão? Cadê o chão?" Assim que eu me sentia depois dessa mensagem.
Theo Santos Sá: kkkkk... Nepotismo né? Meu pai gosta de dar responsabilidades pra meu irmão e eu, desde muito cedo. Diz que não sabe quando vai embora, essas coisas de pai.
Victor Ferraz: Mas tu parece ser bem desenrolado.
Theo Santos Sá: Pra os negócios sim. kkkk. Já pra outras coisas... vê só, até agora minha lista de amigos aqui em Caruaru tem o número total de um membro.
Victor Ferraz: Mas não se preocupe, você está adquirindo qualidade, que é melhor que quantidade.
Theo Santos Sá: E humildade?
Victor Ferraz: kkkkkkkkkk...
Theo Santos Sá: Mas, diz lá... o que faremos esse fim de semana?
Victor Ferraz: Tenho que saber do que tu gosta primeiro.
Theo Santos Sá: Eu me considero bem eclético. Dificilmente vou a algum lugar e não gosto. Falo tanto sobre comida, quanto música, tudo...
Victor Ferraz: Tudo mesmo?
Theo Santos Sá: Como assim tudo mesmo?
Essas indagações dele me consumiam de curiosidade. Parecia que ele não queria falar algo. Mal sabia ele que eu queria ouvir tudo sobre ele, até o que ele achasse que não poderia me contar.
Victor Ferraz: Quão mente aberta tu é?
Mais uma vez tive que me esquivar com outra pergunta. Eu precisava que ele falasse tudo que tinha pra falar, para que eu me sentisse mais a vontade para falar sobre mim.
Theo Santos Sá: Porque a pergunta?
Victor Ferraz: Porque conhecendo Beatriz... o jeito dela de influenciar nas decisões, vamos para num barzinho cheio de sapatão, pra ela poder paquerar. Mas não sei se tu quer sair pra pegação, ainda não sei teu estado civil. Eu tô neutro na situação, acabei de sair de um relacionamento. Tô só participando da logística pra te familiarizar na cidade.
Essa mensagem deixou claro o porquê ele disse que não tinha como rolar nada entre ele e Bia, mais cedo. Apesar dessa afirmação ter me dado uma esfriada, todo o conteúdo da conversa continuava me enchendo de esperanças. E volta e meia eu deixava uma ou outra indireta solta no ar.
Theo Santos Sá: Ah... Ela é lésbica?
Victor Ferraz: Sim. Por isso perguntei. Algum problema?
Theo Santos Sá: Não, nenhum problema. Sobre meu estado civil, sou solteiro. Aquilo que aconteceu na loja foi só minha ex-sogra, que ainda não aceitou o fim da relação. Explico melhor pessoalmente. Mas digamos que também estou neutro. Quero me divertir. A gente não precisa ir pra um lugar certo, podemos dar uma passeada até achar o mais legal.
Victor Ferraz: Pode ser também. Sair sem destino. Bem mais interessante.
Theo Santos Sá: Ótimo então...
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Naquele dia conversamos bastante. Até o fim da aula. E depois dela, enquanto ele ia de ônibus pra casa. E quando ele chegou em casa, também. Fomos madrugada a dentro. No outro dia nos falamos mais. E no dia seguinte se repetiu. Ele arrancava risadas bobas de mim, eu me impressionava com a sintonia entre a gente. Desenvolvemos uma intimidade rápida, que também me causava um pouco de medo.
Os assuntos com Victor não acabavam. Descobri alguns de seus gostos em comum com os meus, como Coldplay, MMA e buchada de bode. Outras particularidades como alergia a camarão, o fato de ele ser canhoto e ter medo de aranha. Ele também soube bastante sobre mim. Mas a prova de fogo de nossa afinidade, para mim, seria aquela noite em que sairia com ele e Bia. E finalmente o dia chegou.
De repente minha ida para aquela cidade começava a fazer sentido. Já havia um bom tempo que eu me sentia solitário, mesmo antes de me mudar, por um período ainda em João Pessoa, me sentia só. Por tudo que havia acontecido. Sorte minha que achei alguém, para ser pelo menos meu amigo, me distanciando de lembranças dolorosas, de acontecimentos que me fariam preferir ser solitário.
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