Capítulo 7 - Retribuição
Medo de perder algo que nem era meu. Era exatamente esse o sentimento. Eu não queria ter nada com outro homem novamente. Eu não queria passar por aquilo mais uma vez. Eu não sabia se Victor era homossexual, ou pelo menos bi. Eu não tinha resolvido o que eu eu era. Eu não sabia se ele sentia algo por mim, pelo menos vontade de ser meu amigo. Mesmo com tantos "não saberes", ali, naquele exato momento, eu sabia apenas uma coisa. Eu estava completamente apaixonado por aquele garoto. Eu queria ele pra mim. E não tinha mais nada que eu pudesse fazer quanto a isso. Ele ergueu um pouco mais o braço, chacoalhou a mão com a caneta. Sai de mais um transe causado por ele.
- Ahhh... - Eu falei recobrando os sentidos depois de mergulhar por três segundos em milhões de pensamentos. Estendi minha mão, foi o suficiente para alcançar sua mão. - Obrigado, Victor! Tinha esquecido.
- Por nada. - Sua voz saiu seca. A boca dele se tornara uma linha reta. Isso me deixava triste e me dava esperanças. - Eu também esqueci. - Ele falou e respirou, se preparando para continuar. - Mas meus pais me ensinaram a não ficar com nada que não for meu.
Ou eu estava ficando paranóico, ou ele tinha me dado um recado. Ele não ficaria comigo, pois tinha entendido nas palavras de Raquel que eu pertencia a outra pessoa. Não consegui pensar em um modo de desfazer aquela confusão em tempo hábil. Então, ele saiu e cada passo que ele dava até a porta era uma pontada em minha barriga. Como eu poderia ter tamanho sentimento por alguém que eu mal conhecia. Jamais tinha sentido isso, nem por Nanda.
Expliquei a história da caneta rapidamente a Raquel. Ela brincou com meu jeito desastrado de ser. Nos despedimos e eu indiquei um bom restaurante onde eu havia comido outro dia, que ela poderia gostar. Com o acontecido nos últimos instantes a última coisa que eu sentiria seria fome. Fechei a loja e entrei no meu carro, pensei por alguns instantes em para onde ir. Lembrei das coisas que estavam faltando em casa e pensei em ir no shopping, lá encontraria além das lojas, a distração que estava precisando.
Embora houvesse um shopping mais próximo à loja, estava mais familiarizado com o que fica próximo à faculdade. Chegando lá fui direto ao mercado, comprei comida, material de limpeza e demais utilidades. Levei as compras para guardar no carro e voltava para ir em outras lojas e comer, pois a fome finalmente tinha chegado. O elevador chegou e quando a porta se abriu, para minha surpresa, Andreza estava dentro, com mais duas mulheres, que descobri serem professoras de arquitetura, depois de apresentados.
- Como foram as entrevistas? - Ela perguntou.
- Ótimas! Amanhã teremos o resultado. - Respondi. Então lembrei de uma coisa. - Ah... E obrigado por enviar a caneta, ela é especial para mim.
- Por nada, querido. Agradeça ao Victor. Quando ele voltou todo feliz e iluminado, para avisar que tinha o alcançado, perguntei se você estava longe, pois foi somente quando percebi que você a tinha esquecido. Mas ele se ofereceu para lhe devolver na entrevista. É um ótimo garoto.
- Ah... - Suspirei. Ela com certeza notou o sorriso que brotava em meu rosto, mas não deve ter entendido o porquê. Para confirmar, perguntei. - Então foi ideia dele levar a caneta?
- Sim. - Ela respondeu. Suas sobrancelhas se uniram em uma expressão preocupada. - Por quê? Houve algum problema?
- Não. - Falei. Seu rosto relaxou. - Pelo contrário. Realmente, ele é um ótimo garoto.
Em seguida nos despedimos. Mais um dia seguido em que eu perdia um elevador por ficar na porta conversando. Ambas as vezes por culpa de Victor, uma direta e outra indiretamente. Dessa vez o sorriso que eu soltava era maior que na noite anterior. Então quer dizer que a ideia de me entregar a caneta tinha partido de Victor, não de Andreza, como ele havia me falado. Inclusive ele usou essa desculpa para me adicionar nas redes sociais. De repente eu me via, novamente, cheio de esperanças de ter algo que eu não queria. Confuso.
• • • • •
Mais uma madrugada. Passei o dia pensando em meus sentimentos. Pensando no que Victor estaria pensando. O cheiro dele tinha ficado em minha caneta. Isso me deixava perturbado, de uma maneira boa. Já tinha imaginado inúmeras maneiras e motivos para falar com ele, mas não tinha coragem. Torcia para que o nome dele estivesse no e-mail dos selecionados, assim teria um motivo real para conversarmos.
Enquanto isso abri meu Facebook, para conferir mais uma vez e ver que ele estava online. Pela quinta ou sexta vez abria a janela do nosso bate-papo, para ler novamente a mensagem em que ele dizia "[...] te adicionei nas redes sociais pra te avisar que estou com a sua caneta. Quando voltei à sala da Professora Andreza para conta que havia o alcançado ela pediu que eu a devolvesse quando o encontrasse na entrevista.". Eu não estava imaginando coisas. Ele arranjou um motivo pra falar comigo. Minha curiosidade aumentou, então era hora de retribuir a stalkeada que ele certamente havia me dado na madrugada anterior.
Passando suas fotos do perfil pude voltar no tempo, retrocedendo a transformação de um menino em um belíssimo rapaz. Navegando entre as outras fotos descobri que seus olhos pareciam bastante com os da sua mãe, que aparentava ser bem jovem, diferente do pai que parecia ter uns 10 anos a mais que ela. Esse último foi a quem Victor puxou mais à aparência, sem sombra de dúvidas.
Mais uma foto e ele brincava com dois meninos pequenos que estavam de costas. Talvez irmãos caçulas, talvez primos. A legenda que se resumia a um coração não ajudou muito a descobrir. Em uma outra foto, onde ele aparecia com uma turma, um garoto passava a mão pelo seu pescoço, num abraço carinhoso. Senti uma ponta de ciúmes. Fechei o notebook. Já eram 03:39 da madrugada.
• • • • •
Maldito despertador. Eu parecia ter acabado de fechar os olhos. Mais uma vez iniciava minha saga para sair da cama. Depois de uns dez minutos de luta, lá estava eu sentado. Peguei meu telefone, quando acendi a tela de descanso algumas notificações apareceram, a primeira que vinha do meu e-mail me causou ansiedade e curiosidade:
E-MAIL
Raquel Villa: Resultado da seleção de estágio
A notificação acima dessa enrijeceu meu corpo. Todo resquício de sono que me sobrava sumiu, dando lugar a raiva.
WHATSAPP
Davi Santos: Saudades 💔
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