Capítulo 6 - Lembranças: Parte 03

O azul dos olhos de Davi se perdia no mesmo tom de azul da imensidão de água na piscina por trás dele. Depois da noite anterior eu comecei a notar coisas nele que eu não enxergava antes. Antes, eu enxergava a beleza dele, mas não tão detalhadamente quanto depois do acontecido. Antes, eu não me sentia atraído por aqueles traços retilíneos de seu maxilar, aquela barba por fazer, aquela pele sedosa. Antes, eu não tinha tantas perguntas sem respostas em minha cabeça.

- Sério? - Falei tentando me livrar do transe causado pela proximidade ele. Tentei liberar as palavras da forma mais despretensiosa possível. - Como foi o sonho?

- Vai parecer loucura, mas foi só um sonho. - Pelo sorriso sacana dele, eu sabia que devia ser o tipo de sonho que eu estava imaginando. Só de imaginar, algo começou a criar vida própria em minha cueca. Era mais forte que eu. - Acho que foi por conta do que aconteceu ontem...

Ele foi interrompido por uma buzina, que em seguida eram duas. Nos encaramos franzindo brevemente o cenho, mas rapidamente ele e eu mudamos de expressão percebendo do que se tratava. 

- Chegaram! - Falei. Olhei por cima do meu ombro tentando enxergar os carros na parte mais alta em frente à casa, mas a vegetação não permitia. Voltei a encarar Davi e falei. - Depois tu me conta o sonho.

O modo como falei saiu de uma forma mais sensual do que eu pretendia, fazendo Davi responder com um sorriso safado. Minha curiosidade sobre tudo aquilo que estava acontecendo fez minhas emoções amarrarem a razão e dominar meu corpo. Eu me levantei e fui andando em direção ao pátio, ouvi o barulho de Davi saindo atrás de mim.Quando subi os primeiros degraus já ouvi os gritos dos meninos. Logo vi todo mundo que havia chegado. 

Guilherme e Gabriel, ou Gui e Gab os gêmeos, amigos meus desde o ensino fundamental. Sempre fui mais próximo do Gui, por termos mais gostos em comum. Antônio, ou Toninho o palhaço, entrou em nossa turma no ensino médio, mas parecia ser nosso amigo de infância. Igor, meu melhor amigo da faculdade e o cara mais pegador que eu havia conhecido na minha vida. 

Com eles cinco meninas, três delas eu não conhecia pessoalmente, as outras duas já tinha visto de passagem na faculdade. A ideia e responsabilidade de colocar umas meninas na farra foi de Igor e, embora eu preferisse que elas não tivessem ido, para evitar a possibilidade de trair Nanda, ninguém conseguia tirar isso da cabeça daquele tarado. Igor se aproximou de mim, me abraçou, barulhento como sempre, depois passou seu braço por traz do meu pescoço e saiu praticamente me arrastando pra falar no meu ouvido.

- Gabi não veio. - Pelo nome era outra menina da faculdade, outro contato dele. - Alguém vai chupar dedo e não sou eu. 

Em seguida ele parou bruscamente os passos e se virou, eu o acompanhei. Davi, que já estava do nosso lado, com uma toalha enrolada na cintura, segurou meu braço. Ele me segurou até que Igor estivesse longe o suficiente e falou baixinho:

- O que foi isso? - Notei um leve tom de ciúmes na pergunta dele. Pareceu o jeito que Nanda falava comigo quando eu dava alguma escorregada. Ele viu pelo modo que o encarei que eu tinha notado, então ele melhorou a pergunta, mais sucinto. - O que Igor tava falando?

- Faltou uma menina pra fechar a conta. - Resumi. - Ele disse que alguém vai sobrar.

- Ahhh... 

Ele riu, eu correspondi. A essa altura todo mundo estava bem próximo e Igor começou a seção de apresentações. Todos devidamente apresentados e cumprimentados, partimos para as preparações. Fui pegar as comidas com  Gui. Toninho e Davi foram levar as meninas nos quartos do chalé, para elas guardarem as bolsas e se trocarem. Gab e Igor ficaram cuidando do som.

Entre todos apenas Gab e eu tinhamos namorada e Gui me contava da preocupação dele, que é bem medroso, com o fato de as meninas terem ido e alguma foto de algo que ocorresse vazasse dali. Comentei que segundo Igor "todas as convidadas eram limpeza". Depois que tudo ficou pronto, começamos a festa. 

Gab, o medroso, depois de algumas cervejas já estava nos beijos com Sara, uma das meninas que eu não conhecia pessoalmente. De rosto ela não era nada espetacular, mas de corpo ela era sem dúvidas a mais gostosa das meninas. Considerando que todos os outros caras eram solteiros, já me considerava previamente "a sobra". E isso não me incomodava, pelo contrário, me deixava até despreocupado.

No início do meu namoro fiquei com outra menina, mas me arrependi muito. Um dia esqueci meu celular na casa de Nanda, ela leu uma conversa minha em um grupo do whatsapp, onde um dos meus amigos fez um comentário sobre o fato. Acabei contando tudo. Inicialmente serviu para tirar o peso da minha consciência, mas depois se tornou chato porque ela sempre usava isso em discussões, que geravam brigas. Eu estava bêbado e muito do que fiz foi inconscientemente, por isso sempre que eu queria sair para beber com os amigos ela usava isso como arma. Inclusive nessa festinha.

Então, ver mais três casais se formarem me aliviou. Senti uma pontinha de ciúmes quando Davi beijou uma menina, mas tentei me distrair. Curiosamente, Luana, a garota mais bonita da festa, não estava com ninguém. Então, ela se aproximou de onde estávamos Gui e eu. Já conhecia ela da faculdade, onde troquei algumas palavras com ela duas ou três vezes. Começamos a conversar, eu tentei jogar ela pra cima de Gui, mas ela claramente estava interessada em mim. Dei um jeito de tocar, de maneira discreta, na minha namorada. Ela não pareceu recuar.

Sara saiu da piscina, veio em nossa direção e chamou Luana para ir com ela ao banheiro. Imediatamente após elas saírem, Gab saiu da água e veio até nós. Ele veio dizer ao irmão que Sara tinha muita vontade de ficar com gêmeos, ao mesmo tempo. Gui ficou um pouco receoso, eu também, pois ficaria sozinho com Luana. Mas depois que Gab disse que Gui devia uma a ele, por outra vez em que ele teve que fazer a mesma coisa para o irmão, ele topou. Os dois se levantaram e foram em direção aos quartos do Chalé. 

Alguns minutos depois Luana voltou sozinha, me perguntou se aquilo que os gêmeos foram fazer era o que ela tava pensando. Rimos quando confirmei. Ela tinha uma conversa muito legal, o assunto não acabava. Para evitar os olhares dos meninos que me olhavam, principalmente Davi, esperando eu partir pra cima dela, a chamei para dentro da casa sede. 

Lá dentro expliquei pra ela minha situação. Embora ela fosse linda, eu não estava querendo nada. Ela disse que Nanda era uma garota de sorte, se abriu comigo, falou que só foi àquela festa porque tinha acabado o namoro uma semana antes e realmente queria ficar comigo, principalmente para ter um tipo de vingança com o ex, que tinha a traído. Passamos a tarde lá, conversando. 

Quando anoiteceu todos já estavam bem loucos. Gui e Gab passaram a tarde dentro do quarto com Sara, só saindo à noite. Foi o comentário entre todos durante a farra. Em seguida,Igor e Toninho entraram com seus respectivos pares, um em cada quarto do chalé. Sara, Luana e Giovana, a menina que ficou com Davi, foram deitar no quarto de visitas da casa sede. Acho que foram mais comentar o acontecido. Gui, Gab, Davi e eu levamos umas cervejas para o meu quarto e do meu irmão. Lá os meninos contaram as loucuras que fizeram durante aquela tarde.

Os gêmeos dormiriam nesse quarto, então, quando percebi que estava ficando bêbado fui para o quarto dos meus pais, sozinho. Já passava das 22:00h. Uns vinte minutos depois, Davi entrou no quarto. Eu tinha feito as contas e percebido que, depois das formações de casais, o único lugar que sobrava pra ele dormir era ali comigo, na cama de casal.

Ele entrou no banheiro pra se trocar e saiu só de cueca branca, como na última noite. Eu não falava nada, ele também. Quando ele apagou a luz, apenas a TV iluminava o quarto. Ele entrou embaixo da coberta. O álcool é um ótimo combatente contra minha insônia, sempre que eu bebia conseguia dormir mais facilmente, mas naquela situação a tensão me deixava alerta.

Desliguei a TV. Agora o quarto estava mergulhado em total escuridão e silêncio, quebrado apenas pelo barulho do aparelho de ar-condicionado. Alguns minutos e senti a mão de Davi tocar minha mão, em seguida deslizar lentamente pelo meu braço. Meu coração começou a bater tão forte que toda minha barriga mexia com as contrações.

Ele recuou. Mais uma vez escuridão e silêncio. Assim permaneceu por algum tempo. Eu encarava o teto, ou pelo menos seria isso se houvesse luz naquela penumbra, quando a voz de Davi quebrou o silêncio. 

- Theo, tá acordado?

- Humhum. 

Confirmei com o resmungo, virando meu rosto em sua direção.

- Lembra do sonho, que eu falei? 

A voz dele parecia mais próxima. Tive a impressão de sentir sua respiração. Estático, respondi mais uma vez com um resmungo.

- Humhum.

- Então... - Senti que ele estava realmente muito próximo do meu rosto. - Era bem parecido com esse momento. - Ele pausou. - Só que... - Parou mais uma vez. Senti seu nariz encostar no meu. Aquele momento parecia um delírio. - Acontecia isso. 

Nessas duas palavras senti seus lábios roçarem de leve nos meus. Então, antes de que eu formulasse a suspeita, ele pressionou com força seus lábios contra os meus. Sua língua quente invadiu desesperadamente minha boca, procurando a minha.

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