Capítulo 22 - Lembranças: Parte 11
Embora eu tivesse medo do que eu pudesse ouvir, queria extrair o máximo possível daquela situação. Os dias que eu tinha passado estavam me deixando maluco. Mesmo que eu houvesse pesquisado um pouco para tentar entender todos os pensamentos que giravam em torno da minha cabeça, achava que aquele diálogo poderia esclarecer muito mais coisas. A música mudou, assim que Davi começou a falar.
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- Eu não vou mentir, dizendo que não queria que aquilo acontecesse. - Disse Davi, ainda encarando o teto. A conversa tomava exatamente o rumo que eu imaginava, mesmo assim a sinceridade dele me surpreendia. - Mas eu não queria que ocorresse daquela maneira. - Ele levou uma mão aos olhos, os fechando. Como se evitar me olhar não fosse suficiente. Percebi que a tentativa dele de ser direto também não estava sendo fácil
- Se tu...
Eu o interrompi para tentar dizer que ele podia fazer no tempo dele. Se quisesse adiar a conversa. Mas ele levantou a outra mão me pedindo pra esperar. Alguns instantes depois ele tirou a mão dos olhos e continuou.
- A gente sempre foi unha e carne. Como irmãos. Antes desse episódio com Gustavo eu nunca te olhei com outros olhos. Mesmo já entendendo bem minha cabeça. Mas depois disso tudo se intensificou muito. E eu não consigo lembrar o momento em que a admiração que eu sentia por tu virou desejo. - A última frase dele me fez levar uma mão à cabeça. Ele deve ter visto de relance e fechou os olhos.
- Davi, será que tu não misturou as coisas aí na tua cabeça? - Tentei amenizar, desejando fazer aquelas palavras voltarem para dentro de sua boca.
- Calma! - Ele falou. Seus olhos abriram e mais uma vez o teto era seu ponto focal. - Eu não passava o dia te desejando. - Senti um misto de alívio e tristeza. Essas novas situações trouxeram pra mim uma montanha-russa de emoções.
- Eu não disse isso. - Falei, um pouco envergonhado.
- Mas pensou. - Ele me encarou pela primeira vez depois que começou a desabafar sobre mim. Meu coração acelerou ao ver aqueles olhos azuis, que naquele momento pareciam mais brilhantes que o normal. - Eu te conheço. - Ele completou. E estava certo.
- Então... - Eu disse, um pouco desconfortável, tentando trazer o assunto de volta. Ele voltou a olhar pra cima e continuou.
- Depois do que aconteceu com Gustavo, passei a sentir uma necessidade mais forte. Passei a olhar para alguns caras de uma maneira ainda mais intensa... - Ele pausou. - Contigo não foi diferente. Embora tu não aceite, eu já te disse que é só te olhar no espelho pra ver esse rosto teu. Com ele tu consegue qualquer coisa. Aí pra ajudar tem um corpo que... - Ele parou a frase. E não completou. - Sem contar algumas atitudes...
- Que atitudes? - Perguntei surpreso.
- Ficar de cueca mostrando os resultados do treino pra mim, no vestiário da academia. - Ele levantou uma mão fechada e esticou o dedo polegar. - Apertar minha bunda de brincadeira. - Esticou o indicador. - Mandar uma foto da virilha, para me mostrar o corte que levou aparando os pelos. - Levantou o dedo médio. - Ficar pegando...
- Entendi! - Interrompi ele, encabulado. Ele parecia ter uma lista e saber ela de cabeça. - Mas eu não fazia isso...
- Propositalmente. - Mais uma vez ele completava minha frase. - Eu sei. Mas eram coisas que eu não podia evitar. E isso foi criando uma curiosidade em mim. Quando eu arranjo alguém pra ficar, as coisas se acalmam. Mas faziam quase dois meses que eu não pegava nem menina. Na primeira noite lá na chácara eu já estava bem tenso com o clima, nos dois sozinhos, álcool... Aí justo quando eu tava batendo uma punheta pra relaxar, ouço o barulho de vidro quebrando...
- Tu não tava dormindo? - Perguntei pasmo.
- Tava tentando. - Ele respondeu. - Rolando de um lado pra o outro da cama, cheio de pensamentos incontroláveis. Aí quando saio me deparo contigo sem camisa, naquela penumbra. Perdi o controle total das minhas ações. - Sentia meu coração pulsar mais forte. As lembranças daquela noite faziam meu pau começar a crescer dentro da sunga.
- O resto eu já sei. - Tentei encurtar a história.
- Pois é. - Ele pareceu sair de um transe. - Eu observei teus olhares, teu comportamento. Passei o outro dia pensando em tudo aquilo. Aí a noite com ainda mais álcool na cabeça do que na noite anterior, surge mais uma oportunidade.
- E agora aqui estamos. - Resumi. Precisava controlar os desejos que começavam a me dominar.
- Aqui estamos. - Ele repetiu, virando a cabeça de lado e olhando pra mim.
- Então o veredicto é que eu tô fudido? - Perguntei tentando dar um sorriso que não saiu muito bem.
- Depende. - Ele respondeu. E continuou. - Se tu realmente gostou, as coisas vão ser bem complicadas. Mas acho que não dá pra tu ter uma noção muito abrangente baseado naquela noite. Principalmente porque tinha álcool envolvido. É normal, também, que tu esteja cheio de dúvidas. Toda novidade causa isso. Mas só tu e o tempo vão conseguir responder se tu realmente gosta ou não de ficar com homens.
A franqueza da última afirmativa de Davi me atingiu como um soco na barriga. Ouvir essa frase em voz alta era altamente incomodo pra mim. Dentro de mim estava travada uma batalha entre o "eu que achava que era tudo loucura de minha cabeça" contra o "eu que era um poço de desejos por esse novo mundo". Ele continuou:
- Comigo foi tudo diferente. Eu já sabia da minha atração, aí veio Gustavo e puxou o gatilho. Mas eu só entendi completamente as coisas depois, com Diego. - Ele percebeu que falou demais, deixando claro com os olhos arregalados após falar o nome que não devia.
- Diego? - Perguntei chocado.
Diego era um amigo de infância nosso que, por volta de um ano antes daquela nossa conversa, se mudou para fora do país. Foi ele quem protagonizou o tal ménage à trois, com Davi e uma menina. Episódio esse que meu primo usou para potencializar a minha excitação na primeira noite na chácara.
O que me deixou mais estarrecido na revelação foi o fato de que, mesmo tendo namorada, Diego só perdia o título de rei da pegação para Igor e era de longe o cara mais homofóbico que eu conhecia. Até para os meus parâmetros, que àquela época não ligava tanto para isso.
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