Capítulo 15 - Paciência
Victor me encarava. Eu estava confuso, não sabia o que estava acontecendo ali.
- Olha ele aí! - Disse Bia. Em sua voz alívio. - Vem! - Ela exclamou para mim, como uma ordem. Nem parecia que eu era seu futuro patrão.
- O que foi? - Perguntei curioso.
Victor esticou o braço dele, segurando meu pulso e me puxou para fora da boate. Ele começou a andar sem falar nada e eu o seguia. Bia atrás de mim. Passei por Sophia, que olhou bastante constrangida para mim.
https://youtu.be/H9NZgi1PC-A
- Espera aí! - Praticamente gritei, forçando Victor a parar. Bia esbarrou em mim sem esperar a brecada. Já estávamos um pouco distantes da CXC. Ele me encarou. - Dá pra me explicar o que está acontecendo?
Ele encarou Bia, mais uma vez. Aquilo estava começando a mexer com minha paciência. Eles pareciam conversar com o olhar. Eu ia falar sobre isso, quando ele fez outra coisa que não gosto: respondeu com outra pergunta.
- Tu não foi pegar o celular? - Odeio quem responde uma pergunta com outra, mas eu tinha usado esse artifício com ele dias antes. Ignorei.
- Sim, fui. - Falei. - Mas o que isso tem a ver com o que estava acontecendo na porta da boate?
- E o que você estava fazendo lá? - Victor perguntou. Dessa vez não consegui me conter.
- Você vai me explicar ou vai ficar me respondendo sempre com outra pergunta? - Minha voz soou mais rude do que eu esperava. Notei pela expressão de espanto na cara deles dois.
- Porque você não atendeu o celular? - Mais uma pergunta. Ele só podia estar de brincadeira. Semicerrei os olhos e apertei os lábios em desaprovação. Ele percebeu o que tinha feito e, sacudindo a cabeça, reformulou sua fala. - Eu me estressei. - Sua voz saiu bem mais calma. - Te liguei, você não atendia, vim te chamar e não me deixaram entrar.
- E como você sabia que eu estava na boate? - Perguntei surpreso. Victor olhou para Bia e eu perdi a paciência com aquele joguinho.
- Que merda é essa? - Berrei . Eles arregalaram os olhos. - A noite inteira isso. Vocês se encarando a cada pergunta, a cada situação. Eu fico por fora, nada é explicado. Eu não...
- Desculpa! - Victor falou, com a voz embargada. - Desculpa! - Seus olhos enxeram de lágrimas. Meu coração se esmigalhou. Esqueci porque eu estava tão chateado e tudo que eu queria era abraçá-lo e tentar desfazer aquilo. - Eu não queria te deixar assim Theo. Por favor, me desculpa...
- Calma Victor! - Bia falou, o abraçando. As lágrimas caíram. Queria tomar o lugar dela. Ela me encarou. - Desculpa Theo! Não foi nossa intenção te deixar, assim. Pelo contrário, a gente queria justamente...
- Não! - Silenciei Bia levando meu dedo em riste à sua boca. Minha voz era bem mais calma, eu estava quase envergonhado. - Eu que peço desculpas. Estou um pouco alterado. Ver Victor ali na porta nervoso, vocês devem ter as razões de vocês... Eu também passei por um pequeno mal entendido la na boate...
- O que foi? - Victor perguntou, com as sobrancelhas se unindo. Sua expressão ainda bem triste. Que vontade de beijar aquele menino, ali, consolar ele, perguntar o que afligia seu coração, procurar uma solução para aquilo.
- Nada! - Respondi. - Por favor, vocês dois me desculpem. - Olhei para o rosto de Victor e minha voz embargou. - Acho que eu estraguei a noite. Melhor a gente ir...
- Não! - Victor deu um salto enxugando as lágrimas. - Eu prometi uma noite animada. - Ele segurou meus ombros. Seu toque, mesmo por cima da camisa, me fez esquecer onde eu estava, o que fazia. Faria o que ele quisesse. Ele não tinha noção do poder que tinha sobre mim. E eu sentia medo disso tudo. - Não vou quebrar uma promessa fácil desse jeito. Vamos fazer assim: esquecemos esse mal entendido, depois a gente conversa sobre isso, calmos e sóbrios. Afinal a noite é pra ser divertida.
- Você tem... - Iniciei.
- Tenho! - Ele me interrompeu. - Tenho certeza.
- Certo. - Respondi meio contrariado.
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https://youtu.be/RnBT9uUYb1w
Eu pensei que aquele climão na saída da CXC acabaria com nossa noite, mas eu não sabia que ela estava apenas começando. Acabamos deixando a comida de lado e focamos mesmo nas bebidas alcoólicas. Entramos em um barzinho, os drinks eram ótimos, mas a música não estava muito legal. Resolvemos mudar de ambiente.
Entramos em outro barzinho, a música estava bem melhor e qualquer coisa que colocassem para nós bebermos seria uma delícia. Já estávamos mais pra lá do que pra cá. Embora a bebida me tivesse feito esquecer os problemas daquela noite, lembrei que eu estava dirigindo e parei de beber. A medida que o tempo passava eu ficava mais sóbrio ou menos bêbado e passei a admirar Victor, dançando.
Em um dado momento eu estava sentado, com os cotovelos apoiados em uma mesa bistrô e meu queixo sendo segurado por minhas mão. Victor dançava com Bia quando, de repente, ele me olhou, esticou o braço em minha direção e começou a esticar e flexionar o indicador, me chamando para dançar com ele. Fiz uma careta exagerada, me negando. Ele veio até mim e me puxou à força.
Segurando minhas mãos ele começou a nos girar. Eu de frente para ele. De repente apenas eu e ele existiam os ali. Havia um tipo de magia no ar. Fui tomado por uma vontade incontrolável de rir. Nós ríamos nos encarando aos rodopios. Completo. Era isso que ele fazia eu me sentir. Paramos de rodar, tontos. Ele fazia uns passos e eu destrambelhado tentava imitar, era motivo pra mais risadas. Não lembrava a última vez que eu me divertira tanto com algo tão bobo.
Nós sentamos um pouco. Victor estava muito bêbado, apoiou sua testa no antebraço, quase deitado na mesa. A outra mão estava esticada e eu coloquei a minha sobre a dele, fazendo um carinho de leve. Ele me olhou e sorriu. De repente ele deu um salto, seu rosto pálido. Saiu correndo em direção ao banheiro, fui atrás. Cheguei a tempo de ver ele vomitando. Eu passava a mão em suas costas enquanto seu corpo tinha contrações involuntárias.
Quando terminou voltamos ao bar, Bia nos esperava apreensiva. Victor vinha pendurado em meu ombro, dizendo que me amava. Eu tava me sentindo especial, até que ele abraçou Bia e começou a dizer que a amava. Depois que ele disse que amava o barman, que vendo a situação dele ofereceu um copo de água, cheguei à conclusão de que era apenas papo de bêbado. Decidimos ir embora.
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- Mas você não pode chegar assim em casa. Teus pais não vão gostar nada disso. - Dizia Bia, enquanto íamos pra o carro, tentando convencer Victor a não ir pra casa, por conta do estado em que ele se encontrava.
- E pra onde eu vou? - Ele retrucava com a voz embolando.
- Tu não pode levar ele pra tua casa? - Intervi, perguntando a Bia.
- Não! - Bia respondeu. - Divido apartamento com mais três meninas e a primeira regra é: nada de levar meninos para dormir lá.
Lembrei que Victor contou que ela era lésbica. Fiquei curioso, mas não perguntei se a regra se aplicava só a rapazes ou se abrangia "parceiros" no sentido mais amplo da palavra. Percebi que Bia era bastante esperta, bem capaz de ter inventado a regra para meninos, sabendo que não seria afetada. Chacoalhei a cabeça, voltando à conversa.
- Ahhh... Pensei que tu morava com teus pais. - Falei.
- É que eu não sou daqui de Caruaru. - Começou a explicar Bia. - Sou de Bezerros, cidade vizinha. Quando eu estava na escola ia e voltava todos os dias, mas depois que entrei na faculdade me mudei pra cá.
- Então... - Iniciei, sem saber ao certo se a ideia que eu apresentaria seria uma boa solução. - tu pode dormir no meu apartamento Victor.
- Ótimo! - Bia exclamou.
- Não precisa, eu já disse. - Falou Victor. Em seguida correu para o meio fio da calçada e vomitou mais uma vez. Em seguida me encarou. - Talvez eu precise. - Nós três rimos.
Chegamos ao carro e assim que entramos Victor já foi deitando o banco. Bia me guiou até o apartamento onde ela morava, que era bem próximo à Rua da Má Fama. Daria até para ir a pé, não fosse o perigo das ruas vazias. Ela se despediu de nós, pedindo perdão por não ter como ajudar mais com a situação. Eu disse que me virava.
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Quando chegamos à garagem do prédio onde ficava meu apartamento, tive que lidar com a situação de Victor querendo mijar ali, no carro vizinho ao meu. Depois ele queria mijar dentro do elevador. Não sei como consegui fazer com que ele chegasse ao banheiro do meu quarto, sem que ele tivesse mijado em algum lugar não destinado a este fim.
Não sei também de onde tirei tanta paciência. No geral odiava cuidar dos meus amigos bêbados, embora geralmente eu estivesse mais bêbado que eles, quando eu estava sóbrio e tinha que cuidar de um deles, era bastante bruto. Ali eu era paciência pura, achava até graça das atitudes loucas dele.
O convenci a entrar no chuveiro. Ajudei ele a tirar a camisa e a calça. O corpo dele tinha um tom claro de castanho, como quem se bronzeou numa tarde de sol. Seu corpo era esguio, como eu imaginava. Barriga seca, alguns músculos protuberantes nos braços e principalmente no peitoral. As pernas eram extremamente definidas, com uma pelugem fina e rala. No geral de tinha poucos pelos.
Saí do banheiro, para tentar tirar alguns pensamentos da cabeça e dar privacidade a ele. Fui até o closet para pegar uma toalha. Quando voltei ele estava sentado dentro do box, com o chuveiro ligado e ainda de cueca. Fui até lá. Levantei ele, passei um shampoo em sua cabeça e desliguei a água. A cueca branca molhada revelava demais, tirando a minha concentração. Ajudei-o a se enxugar. Ele permaneceu de cueca e enrolou a toalha por cima.
Ele soltava alguns agradecimentos e insistia no "eu te amo". Dentro de mim, eu sabia o desejo que tinha de ouvir essas três palavras saindo daquela boca direcionadas a mim. Mas nenhuma das hipóteses considerava uma situação como aquela. Eu apenas concordava com o que ele falava. Discordar de um bêbado nunca é uma boa ideia.
- Onde eu deito? - Ele perguntou ao voltarmos pro quarto.
- Bem... - Eu falei, pensando. Ainda não tinha definido isso. - eu só tenho essa cama, o outro quarto tá vazio. Tem o sofá na sala também. - Apresentei as possibilidades.
- Essa cama é grande. - Ele falava como se pensasse em voz alta. - Nós dois cabemos aí...
- Por mim não tem problema. - Falei. Meu coração já acelerava com as possibilidades que passaram em minha mente. - Mas eu vou logo dizer: eu me mexo muito. - Ele me encarou, levantou uma mão até a altura do meu rosto e pressionou minhas bochechas.
- Você é tão lindo!
Ele falou e eu senti meu rosto aquecer sob seus dedos gelados. Se ele não tivesse tão bêbado ia perceber que eu tinha cotado. Em seguida ele sentou na beira da cama. Me virei e fui até o guarda roupas, pegar alguma coisa seca que ele pudesse vestir. Peguei um short de seda e quando girei de volta à cama ele já estava deitado, com os olhos fechados e ressonava.
Sentei do seu lado, para decidir se eu tirava a cueca molhada dele, que estava por baixo da toalha ou se deixava ele do jeito que estava. Meu medo era que ele acordasse e entendesse errado o que estava acontecendo. Uma de suas pernas estava praticamente toda exposta, pendurada para fora da cama, ajeitei melhor a posição para que ele ficasse mais confortável, ele não acordou.
Percebi que sua pele estava arrepiada, certamente pelo frio do ar-condicionado, o que fez com que meu corpo tremesse. A tensão era enorme e a cada movimento que eu fazia meu corpo contraía involuntariamente. Meu pau começou a endurecer, ver aquele corpo de alguém que eu tanto desejava seminu em minha cama. Até dormindo ele era lindo.
Coloquei minha mão em seu joelho, delicadamente e fui subindo pela abertura da toalha, fazendo carinho. Sentia a textura macia de sua pele arrepiada, a rigidez dos músculos por baixo dela. Quando mais eu subia em direção à sua virilha, mais meu corpo esquentava. Sentia minhas orelhas em chamas. Cheguei até a cueca dele, pressionei meus dedos, fazendo com que eles passassem entre o tecido e sua coxa.
Meu celular vibrou em meu bolso, me fazendo saltar do susto. Puxei minha mão muito rápido e Victor se mexeu, mas continuou dormindo profundamente. Levei as mãos ao meu peito e parecia que meu coração ia saltar pela minha boca. Peguei o celular e olhei a tela que mostrava uma notificação. Davi falando no Whatsapp.Pelo jeito mais alguém ainda estava acordado. Tinha que ser ele. Até parece que sentiu o que estava prestes a acontecer.
Vi que se tratava de um link do YouTube. Procurei com os olhos meus fones e os vi sobre um dos criados-mudos, o que estava do lado oposto da cama ocupado por Victor. Levantei e fui até lá pegar. Então, abri a conversa e toquei no link.
https://youtu.be/5hnSlCygsTs
Cada frase daquela música era uma mensagem clara de Davi para mim, me levando ao passado. Olhei por cima do meu ombro e me dei conta da besteira que estava prestes a fazer com Victor, me senti mal. Eu não devia ter pensado na hipótese de tentar algo assim. Devia ter paciência para que, se fosse acontecer algo, ocorresse de forma natural. Levantei e fui caminhado pela casa, ouvindo a canção. Deitei no sofá da sala, mergulhando nas lembranças de tudo que tinha ocorrido em João Pessoa, até que cochilei.
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