Capítulo 14 - Lembranças: Parte 07
Voltei aos poucos a ouvir. Os sons que se passavam no ambiente começavam a ser compreensíveis, ainda com um eco suave.
- Theo?
Eo... eo... eo... Eu ouvi depois que Davi pronunciou meu nome. O sorriso em seu rosto começava a se desfazer. Nanda já franzia o cenho, me encarando. De repente, medo. Eu não podia dar margem para que surgisse qualquer suspeita de desentendimento entre eu e Davi. Como me explicaria? Talvez eu tivesse que combinar algo com ele depois, mas assim do nada, tive que agir normalmente. Sacudi a cabeça, espalhando os pensamento.
- Oi! - Repondi. - Tava distraído.
- Pra variar! - Nanda falou e deu uma leve risada.
- Então... - Davi disse. - Tudo bem? - O tom de sua voz era aquele, de quando já repetimos várias vezes a mesma pergunta.
- Tudo sim. - Respondi, com um sorriso amarelo no rosto. Não fiz questão de perguntar como ele estava.
- Eu tava falando com Davi que nunca mais tinha o visto. - Falou Nanda. E continuou. - Aliás, nunca mais vi vocês juntos. O que é bem estranho. - Comecei a ficar nervoso com a direção da fala dela. Davi não parecia se abalar. - Porque vocês são tão grudados que me dá até ciúmes. - Ela olhou pra Davi. - Tu parece mais namorada dele que eu.
Eles riram. Meu estômago embrulhou. Não sabia de onde Davi tirava tanta frieza. Quando Nanda me olhou soltei um leve sorriso, para não dar tanto na cara.
- Pois é! - Concordou Davi. - Theo sumiu. - Deixou a bomba pra mim.
- É a faculdade. - Minha desculpa já estava na ponta da língua. - Tô correndo pra adiantar o máximo que eu puder. Esse ano vai ser corrido. - Olhei pra Davi. - E eu não posso perder tempo com besteira.
Eles riram. Fui propositalmente ácido. Seria uma brincadeira normal que eu faria com Davi, mas ele deve ter notado que o que falei tinha um sentido a mais. Parando de rir, ele apertou seus lábios e estreitou os olhos.
- Quem escolheu essa trilha sonora? - Ele perguntou, balançando negativamente a cabeça. Em seguida foi até o iPad conectado ao sistema de som. Depois de alguns toques a música mudou.
https://youtu.be/CfihYWRWRTQ
Ele me encarou sorrindo. Desviei meu olhar.Segurei a mão de Nanda, a puxando para a sala de estar, onde estavam meus amigos. Ficaríamos por ali, para ter um pouco mais de privacidade. Pelo menos teriam mais pessoas para conversar e eu poderia ter a possibilidade de trocar menos palavras com Davi.
● ● ● ● ●
Cada dose de uísque que Davi bebia, fazia minha preocupação aumentar. Tinha medo de que ele ficasse bêbado e soltasse alguma coisa comprometedora ali, para todo mundo ouvir. Sentia um arrepio dominar meu corpo a cada toque que ele me dava durante os diálogos, por mais banais que fossem. As vezes me pegava admirando seu corpo, quando acontecia me fazia mil acusações mentais e tentava me distrair com outra coisa.
As horas foram passando, as pessoas começavam pouco a pouco a se despedir e nós fomos para a área da piscina, onde a festa ocorreu. Davi e Gui estavam em pé, próximos à borda da piscina. Volta e meia meu olhar cruzava com o de Davi e ele piscava para mim. Cada vez que ele fazia isso meu coração queria saltar pela boca. Eu fazia uma cara séria, na tentativa de repreendê-lo, mas não tinha sucesso.
Pensei num plano rápido, para conseguir sair dali a sós com ele. Em um momento ele entregou seu celular para que Gui visse algo engraçado, foi quando, usando a desculpa de ir ao banheiro, me levantei bruscamente, fingi perder o equilíbrio e esbarrei em Davi. Ele já estava bêbado e perdeu o pouco equilíbrio que ainda o mantinha em pé. Caiu de costas na piscina.
Davi emergiu rapidamente à superfície da água, me encarando sem entender o que tinha acontecido. Simulei muito bem estar chocado com o pequeno "acidente". Os poucos convidados que restavam olharam a cena. Minha mão levou as mãos à cabeça, com um leve sorriso de incredulidade no rosto. Meus amigos e Nanda riam da situação.
Pedi desculpas, dei a mão em apoio para que ele saísse da água e fiz todo o teatro. Então chamei-o para ir até meu quarto, vestir uma roupa seca. Antes de entrar em casa ele pediu que eu esperasse, para que ele tirasse a roupa encharcada. Para não precisar ber a cena dei alguns passos até o iPad e passei uma música chata que tocava, outra iniciou.
https://youtu.be/bpOSxM0rNPM
Quando me virei me deparei com a imagem de Davi com uma cueca preta, molhada, grudada ao seu corpo. Sua roupa pendurada em uma cadeira ao seu lado. Ele dava alguns saltinhos para que a água em seu corpo escorresse. Seus músculos tremiam, principalmente aquele dentro da cueca. Seu corpo estava arrepiado pelo frio, o meu pelo tesão naquela cena. Respirei fundo, sentindo meu corpo tremer um pouco.
Ele me olhou e veio em minha direção. Um leve olhar malicioso agora estava presente em seu rosto. Ele tinha a impressão errada das minhas intenções com aquele espetáculo cômico. Deixei que ele passasse em minha frente. Subimos a escada, aquela cueca colada em seu corpo desenhava perfeitamente a bunda dele. A cada degrau as nádegas contraíam e relaxavam, me hipnotizando. Chegamos ao quarto e eu já fui falando:
- Tu só pode tá louco!
- O que foi? - Davi perguntou, surpreso com meu tom de voz agressivo. Realmente ele esperava algo diferente.
- O que foi? - Repeti a pergunta dele, incrédulo. - Sério? O que tu pretendia com aquelas piscadas pra mim? - Para minha surpresa, ele riu. - Qual a graça?
- Eu tava piscando pra tu. - Ele parou um pouco. - Mas tava piscando pra Toninho e pra Nanda também. - De repente seu rosto ficou sério. - Porque eu ia fazer com Gui o que tu fez comigo. Jogar ele na piscina. - Senti meu rosto corar instantaneamente. - Na hora em que eu arranjei uma desculpa pra pedir o celular dele...
- Puta merda! - Falei, realmente envergonhado. Levei minhas mãos ao rosto, sem querer olhar pra ele. - Desculpa.
- Tu achou o que? - Ele perguntou. Eu fiquei mudo. - Tu acha que eu sou doido? - Mais uma seção de silêncio. Tirei minhas mãos do rosto, mas ainda encarava o chão. - Eu posso tá bêbado Theo, Mas louco eu não sou. - Vi seus pés andando em minha direção. Meus batimentos aceleraram. - Olha pra mim. - Ele me alcançou, prendeu meu queixo entre o indicador e o polegar da mão direita, ergueu minha cabeça. O encarei. Uma mistura de tensão, vergonha, tesão. - Só nós estando sozinhos... - Ele aproximou seu rosto do meu. Eu não conseguia me mexer. - ...para eu fazer isso...
Ele me beijou. Ele estava gelado, me deixei levar por alguns segundos, então me dei conta de onde eu estava e de tudo o que já tinha passado em minha cabeça. Ele mordia meu lábio inferior, quando dei um passo pra trás me desvencilhando dele. O movimento machucou minha boca e eu corri para o meu banheiro, preocupado, para olhar no espelho se tinha ficado alguma marca.
- Desculpa! - Ele falou, pelo reflexo do espelho via seu rosto. Meneei levemente a cabeça.
- Tu é mesmo louco. - Falei. - Já pensou se entra alguém aqui?
- Desculpa! - Ele repetiu. - É que...
Ele não completou. Ficou em silêncio por alguns instantes. Eu o encarava pelo espelho. Seu rosto era odiosamente lindo. Eu sabia que a minha real vontade era de me virar, agarrá-lo e cair na cama atrás dele. Mas travava uma luta dentro de mim para resistir. Depois de um respiro profundo ele falou.
- Theo, precisamos conversar... - Mais uma breve pausa. - sobre o que aconteceu na chácara.
- E o que aconteceu lá?
Reconheceria aquela voz até debaixo d'água. Era a vozde Nanda que fazia a pergunta, vindo do quarto. Davi olhou para o lado, num sobressalto. No reflexo do espelho vi meu rosto perder a cor.
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